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3 OS GÊNEROS ORAIS: CONCEITUAÇÃO, CARACTERIZAÇÃO E ENSINO

3.3 O ensino da exposição oral nas aulas de língua portuguesa

3.3.2 O roteiro em ação

Nessa fase o roteiro construído no planejamento é colocado em ação, ou seja, torna-se público e sujeito a determinadas reações. De acordo com Gomes-Santos (2012, p.89), “ a tarefa é ampliar o diálogo construído entre o expositor e os textos do acervo ao longo do planejamento”. Vale ressaltar que o sucesso dessa exposição não se fundamenta na qualidade do planejamento realizado. Nota-se, inicialmente, a predominância da leitura oral, seguindo-se pela memorização e, posteriormente, associa-se a fala espontânea.

Um cuidado que o professor deve atentar-se ao ensinar o aluno a realizar a exposição oral é identificar aquilo que ele já conhece acerca de oralidade em situações formais públicas.

Schneuwly e Dolz (2004) juntamente com Pietro e Zahnd, sugerem, em estudos relacionados à exposição oral no ambiente escolar, a seguinte ordenação das fases:

Quadro 3 - Organização global da exposição

FASES AÇÃO DO ALUNO EXPOSITOR

Abertura O aluno assume o papel de

expositor/especialista e instaura o intercâmbio com seus colegas, que assumem o papel de auditório.

Introdução ao tema O expositor anuncia o tema e os aspectos que focalizará e justifica sua relevância.

Apresentação do plano da exposição O expositor apresenta ao auditório os passos que procurará seguir na exposição, conforme o roteiro planejado.

O desenvolvimento e o

encadeamento dos diferentes temas

O expositor passa a explanar os conteúdos roteirizados.

Uma fase de recapitulação e síntese O expositor sumariza o conjunto de conteúdos expostos.

A conclusão O expositor finaliza a explanação do conjunto de conteúdos expostos.

O encerramento O expositor anuncia o final da

exposição, agradece pela atenção do auditório e dispõe-se a responder às suas eventuais perguntas.

Fonte: (SCHNEUWLY; DOLZ; PIETRO; ZAND, 2004, p. 220-221).

Em se tratando de exposição oral, o professor pode pautar-se nessa proposta de ensino sempre respeitando os conhecimentos prévios dos alunos, os recursos materiais que dispõe para o ensino e também seus objetivos de trabalho.

Para Gomes-Santos (2012), a exposição representa um momento importante da aprendizagem e também do desenvolvimento do aluno, visto que ele deverá transformar o roteiro elaborado em um objeto a ser compartilhado, o que exige dele mobilizar um conjunto de estratégias que darão corpo à exposição, além de criar sua textualidade. As estratégias de reformulação textual, divididas entre os integrantes do grupo, articulam o desenvolvimento da exposição. São elas:

I.estratégias de gestão interacional de exposição, incidindo sobre a distribuição e a ordenação das intervenções dos expositores de uma fase ou outra da exposição e sobre o contato com o auditório.

II.estratégias de progressão do tema da exposição, incidindo sobre o desenvolvimento de seu roteiro temático, ou seja, sobre o modo com que os conteúdos são contextualizados e topicalizados (GOMES-SANTOS, 2012, p.100).

As estratégias de gestão interacional podem definir ou influenciar o desenvolvimento ou a progressão do tema. Da mesma maneira, a evolução do tema pode redefinir o modo de envolvimento dos expositores. A sequência e distribuição das intervenções dos expositores constituem a progressão da exposição oral, tanto internamente em relação às fases, como também na transição de uma fase a outra. Inicialmente, não é considerada uma tarefa fácil para os aprendizes, muitas vezes sendo realizadas por gestos, direcionamento de olhar, mímicas faciais, entre outros meios. Com o avanço da aprendizagem, é possível ao aluno aperfeiçoar sua exposição, utilizando recursos que a tornem mais articulada e receptiva pelo público alvo.

Em se tratando da progressão do tema da exposição, segundo Gomes-Santos, diversas estratégias auxiliam na contextualização, em manter a atenção do auditório e também na divisão do conjunto de informações a serem apresentadas. São elas: a exemplificação, a reformulação, a narrativização e o comentário.

A primeira estratégia, exemplificação, permite detalhar os conteúdos apresentados em tópicos, por meio de ilustrações ou explicações. A segunda, reformulação, apresenta uma característica mais didática, com o intuito de explicitar o conteúdo topicalizado, ou seja, o expositor tem o objetivo de saber se o auditório compreendeu o conteúdo exposto. Já, a estratégia da narrativização, possibilita que a evolução do roteiro temático da exposição ocorra indiretamente. De modo contrário ocorre com as estratégias de exemplificação e reformulação, as quais tornam mais claros os conteúdos exibidos. Segundo Gomes-Santos (2012, p.108), na narrativização “a exposição é mediada pelo relato de fatos reais ou imaginários. Podendo atuar tanto na contextualização do tema da exposição quanto na topicalização dos conteúdos do roteiro”. Por último, o comentário é outra estratégia que permite ao expositor a evolução do tema da exposição, por meio de posicionamentos relacionados ao conteúdo.

Trata-se, talvez, da estratégia que permite o maior grau de distanciamento do expositor com relação ao roteiro temático da exposição, uma vez que busca não exatamente topicalizar seus diferentes conteúdos, mas submeter à

apreciação do auditório uma determinada verdade sobre eles, ou seja, o valor de verdade desses conteúdos. O comentário tem, portanto, um caráter altamente argumentativo (GOMES-SANTOS, 2012, p.110).

Assim sendo, o mesmo autor ressalta que o comentário é considerado a estratégia mais próxima à individualidade do expositor, pois é o momento em que ele complementa, do seu jeito, os conteúdos apresentados, de acordo com seus saberes prévios.

Vale ressaltar que as estratégias de gestão interacional da exposição e de progressão de seu conteúdo temático foram aqui apresentadas separadamente apenas para um melhor entendimento, no entanto elas são interdependentes. Para Gomes-Santos (2012, p.111), as estratégias de gestão interacional da exposição são essenciais na “busca de adesão do auditório ao tema e na manutenção dessa adesão”, isso ocorre por meio do uso de recursos como antecipação do tema e articulação dos conteúdos no decorrer da exposição. Já, em relação às estratégias de progressão do tema, o expositor tem o objetivo de fazer com que o público compreenda os conteúdos, se interesse por eles e, dessa forma, aceite a exposição. Assim, com o objetivo de instrumentalizar os falantes para o uso da língua oral em contextos formais, sem privilégio de uma ou outra modalidade, fica evidente a real função da escola. Dolz, Scheneuwly e Haller (2004) afirmam: “Já que o papel da escola é sobretudo o de instruir, mais do que o de educar, em vez de abordarmos os gêneros da vida privada cotidiana, é preciso que nos concentremos no ensino dos gêneros da comunicação pública formal (DOLZ; SCHENEUWLY; HALLER, 2004).

Pelo fato de cada discurso cumprir uma finalidade comunicativa específica e também estar voltado à realidade, o aluno precisa ser ciente da importância do que, por que, para quem falar.

Assim, ao longo do ensino fundamental, o aprendiz poderia fazer novas descobertas a respeito desse objeto que manipula constantemente e utilizá- lo em contextos que não lhe são ainda familiares. Para fazê-lo numa perspectiva didática de um procedimento sistemático de intervenções ao longo do ensino fundamental, é necessário definir claramente as características do oral a ser ensinado. É somente com essa condição que se pode promovê-lo de simples objeto de aprendizagem ao estatuto de objeto de ensino reconhecido pela instituição escolar, como o são a produção escrita, a gramática ou a literatura (DOLZ; SCHENEUWLY; HALLER, 2004, p. 150-151).