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48 Como se trata de uma pesquisa que precisou intervir na realidade estudada, o método utilizado foi a pesquisa-ação - PA. Conforme aponta Engel (2000, p. 182), pesquisa-ação é uma especíe de pesquisa “participante, engajada, independente e objetiva”, que vincula a pesquisa à ação, ou seja, desenvolve o conhecimento e a compreensão como partes da prática.

Thiollent (2011, p. 20), define a PA como:

um tipo de pesquisa social que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação da realidade a ser investigada estão envolvidos de modo cooperativo e participativo.

Acrescenta ainda que é possível estudar dinamicamente os problemas, decisões, ações, negociações, conflitos e tomadas de consciência que ocorrem entre os agentes durante o processo de transformação da situação (Thiollent, 2011, p. 21). O autor sinaliza alguns dos principais aspectos da PA - (pp. 22-23), assim:

“a) há uma ampla e explícita interação entre pesquisadores e pessoas implicadas na situação investigada;

b) desta interação resulta a ordem de prioridade dos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta; c) o objeto de investigação não é constituído pelas pessoas e sim pela situação social e pelos problemas a serem pesquisados e das soluções a serem encaminhadas sob forma de ação concreta;

d) o objeto da pesquisa-ação consiste em resolver ou, pelo menos, em esclarecer os problemas da situação observada;

e) há, durante o processo, um acompanhamento das decisões, das ações e de toda a atividade intencional dos atores da situação;

f) a pesquisa não se limita a uma forma de ação (risco de ativismo): pretende-se aumentar o conhecimento dos pesquisadores e o conhecimento ou o “nível de consciência” das pessoas e grupos considerados”.

As intervenções e a produção do conhecimento são interrelacionadas na pesquisa- ação. Destarte, o autor sugere que haja um equilíbrio na demarcação dos objetivos práticos (aqueles que conduzem à solução) e dos objetivos de conhecimento (identificação de representações, habilidades, entre outros, que contribuirão para a elucidação do problema e conduzirão às ações transformadoras). Desta forma, é possível que se definam objetivos mais instrumentais, voltados para a resolução de um problema, além de objetivos educacionais, que devem levar à tomada de consciência e à produção de conhecimentos relevantes. A partir de um amadurecimento metodológico e respeito aos contextos socioculturais, é psssivel o alcance de tais objetivos de maneira simultânea. Portanto, é necessário que a ação seja definida em função dos interesses das partes envolvidas na situação, que devem ser previamente consultadas (Toledo & Jacobi, 2013, p. 158).

49 De acordo com Koerich, Backes, Sousa, Erdmann e Alburquerque (2009, pp. 718- 719), a PA é compeendida por:

abarca um processo empírico que compreende a identificação do problema dentro de um contexto social e/ou institucional, o levantamento de dados relativos ao problema e, a análise e significação dos dados levantados pelos participantes. Além da identificação da necessidade de mudança e o levantamento de possíveis soluções, a pesquisa-ação intervém na prática no sentido de provocar a transformação. Coloca-se então, como uma importante ferramenta metodológica capaz de aliar teoria e prática por meio de uma ação que visa à transformação de uma determinada realidade.

Ainda, segundo os autores, a PA tem como meta o fornecimento dos meios para que os pesquisadores e os grupos sociais sejam capazes de responder, com maior eficácia, aos problemas da situação que vivenciam, o que deve acontecer por meio de estratégias de ação transformadoras. Além disso, esse procedimento contribue para a busca de soluções aos problemas para os quais os métodos tradicionais pouco têm contribuído.

Quanto ao planejamento, segundo Thiollent (2011, p. 55), a pesquisa-ação apresenta uma sequencia temporal, porém, em seu desenvolvimento, ou seja, durante o processo, a dinâmica se mantém bastante flexível, tendo definido um ponto de partidade e de chegada, o que torna possível transitar pelas fases intermediárias, visando atender as adaptações que podem acontecer em função das circunstâncias e acontecimentos internas do grupo de pesquisadores com o problema investigado. Conforme o autor, as fases da pesquisa podem ser divididas em: a fase exploratória; o tema de pesquisa; a colocação do problema; o lugar da teoria; hipóteses; seminário; campo de observação, amostragem e representatividade qualitativa; coleta de dados; aprendizagem; saber formal e saber informal; plano de ação e divulgação externa.

Porém, apesar da flexibilidade anunciada por pelo autor anterior, Barbier (2007) referênciado por Rufino e Darido (2012, p. 5), alerta para uma série de “rigores” que devem ser considerados na PA, como:

o rigor do quadro simbólico (no qual a expressão do imaginário e do desdobramento da implicação podem se produzir); o rigor da avaliação permanente da ação; o rigor dos campos conceituais e teóricos; o rigor da implicação dialética do pesquisador (pois o pesquisador está ao mesmo tempo presente com todo o seu ser emocional, sensitivo, axiológico, na pesquisa-ação e presente com todo seu ser dubitativo, metódico, crítico, mediador enquanto pesquisador profissional); dentre outros.

Ainda buscando referência às contribuições de outros autores, no que diz respeito a PA, Franco (2005) citado por Rufino e Darido (2012, p. 3), alega que:

a característica mais importante da pesquisa-ação é propor um processo integrador entre pesquisa, reflexão e ação, retomado continuamente sob forma de espirais

50 cíclicas, de modo a propiciar adequados tempos e espaços para que a integração pesquisador-grupo possa se aprofundar.

O caráter pedagógico de tal investigação é uma permanente reflexão sobre a ação. Pois, é precisamente nesse processo de reflexão contínua que se abre o espaço para a transformação dos sujeitos pesquisadores. Sobre esse aspecto, Franco (2005, pp. 498-499) destaca que as espirais cíclicas possuem fundamental importância na pesquisa-ação, pois funcionam como:

 “instrumento de reflexão/avaliação das etapas do processo;  instrumento de autoformação e formação coletiva dos sujeitos;

 instrumento de amadurecimento e potencialização das apreensões individuais e coletivas;

 instrumento de articulação entre pesquisa/ ação/reflexão e formação”.

Sendo assim, o propósito da escolha do método desta pesquisa teve como intenção fomentar um progressivo desenvolvimento da cultura reflexiva, por parte dos envolvidos, visando promover mudanças atitudinais capazes de re-siginificar suas contribuições e participações sociais através de um contínuo processo de reflexão-ação-reflexão.