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Este projeto de dissertação adotará a metodologia baseada em estudo de caso único (YIN, 2005). A pesquisa será conduzida em empresa híbrida do setor bancário. No que diz respeito à obtenção de dados e identidade dos entrevistados, assim como o nome da empresa, serão mantidos os compromissos de confidencialidade. Antes de entrar em aspectos específicos de operacionalização da metodologia é importante fazer algumas considerações epistemológicas presentes neste tipo de pesquisa acadêmica.

3.1 - Considerações epistemológicas

No que diz respeito à pratica de pesquisas em ciências sociais, são reconhecidos dois eixos distintos: o primeiro, baseado em uma abordagem positivista; o outro, em uma abordagem fenomenológica. Como observa Guba (1990), de acordo com Denzin e Lincoln (2003), a abordagem positivista, amplamente utilizada em métodos quantitativos, afirma que existe uma realidade externa para ser estudada, captada e compreendida. Os estudos quantitativos enfatizam o ato de medir e analisar as relações causais entre variáveis e não não os processos que levam aos resultados estudados; o pressuposto é que o trabalho deve ser realizado em um ambiente livre de valores (DENZIN e LINCOLN, 2003). Já a abordagem fenomenológica reconhece a capacidade dos indivíduos em construir socialmente e atribuir significado à realidade (EASTERBY-SMITH et al., 1999).

Este projeto de dissertação, ao escolher uma metodologia qualitativa, se aproxima da concepção fenomenológica. Ao se buscar uma compreensão mais profunda sobre o aparecimento, as implicações e conseqüências de uma abordagem crítica engajada dentro de uma organização híbrida, o foco passa a residir muito mais em processos do que no pressuposto de realidades prontas.

Portanto, a abordagem positivista, isenta de valores, se torna inapropriada para o propósito deste trabalho.

Outro fator que influi nas escolhas das metodologias é a avaliação de suas potencialidades em relação ao fenômeno que se pretende estudar. Os métodos quantitativos, mais próximos do paradigma positivista possuem como principais características: promover ampla cobertura de uma gama de situações, rapidez e economia (EASTERBY-SMITH et al., 1999). Por outro lado, eles tendem a ser demasiadamente rígidos, portanto incapazes de promover a compreensão de processos ou o grau de importância que as pessoas atribuem às ações.

A pesquisa qualitativa é um conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo, neste caso, conversas e gravações. No caso dos métodos qualitativos, mais próximos da fenomenologia, é possível examinar processos de mudança ao longo do tempo e entender seus significados. O quadro abaixo, proposto por Denzin e Lincoln (2003) expõe resumidamente os principais pressupostos epistemológicos das duas abordagens.

Quadro 2: características básicas dos paradigmas positivista e fenomenológico. Fonte: Denzin e Lincoln, 2003.

Como foi possível observar, o paradigma fenomenológico torna-se mais apropriado para o atingimento do objetivo proposto nesta investigação que é compreender como estratégias de RSC são elaboradas dentro de uma empresa híbrida reconhecendo que nem o modelo econômico dominante nem uma abordagem crítica isolada podem contribuir para a formação de gerentes aptos para lidarem com estratégias sociais, e sim, uma abordagem critica engajada. A pesquisa qualitativa garante a riqueza dos dados, permite ver um fenômeno na sua totalidade, bem como facilita a exploração de contradições e paradoxos (VIEIRA, 2006).

E os termos “contradições” e “paradoxos” são fundamentais particularmente nesta investigação, muito embora haja muitas resistências no meio acadêmico à pesquisa qualitativa .Os pesquisadores qualitativos são denominados por muitos como jornalistas ou cientistas das áreas de soft sciences e, os trabalhos qualitativos, são ainda considerados não científicos mas apenas exploratórios ou subjetivos ( HUBER, 1995; DENZIN, 1997, p.258-261). Ainda resiste a concepção de que a pesquisa qualitativa é um ataque às ciências positivistas e a essa tradição, cujos adeptos geralmente refugiam-se em um modelo de ciência objetivista livre de valores.

Por outro lado, a definição explícita das perguntas da pesquisa, dos conceitos e das variáveis envolvidas, assim como descrição detalhada dos procedimentos de campo garantem à pesquisa qualitativa considerável objetivação do fenômeno estudado, permitindo até mesmo sua replicação (VIEIRA, 2006).

Ademais, no caso específico das “estratégias sociais sob as perspectivas econômica e crítica”, é importante observar que, sendo a natureza repleta de valores, é preciso investigar e ressaltar a natureza socialmente construída dessa realidade. De acordo com Rodrigues Filho (2004), Habermas, por exemplo, argumenta que o conhecimento, e os esquemas metodológicos utilizados para persegui-lo, não podem estar separados dos interesses que o orientam. Desta forma, segundo o filósofo, a pesquisa quantitativa serve ao interesse do controle social enquanto a pesquisa qualitativa, metodologia utilizada pelas ciências humanas, é emancipatória. Assim, Rodrigues Filho (2004) pontua que, para

Habermas, o reino da metodologia quantitativa associa-se ao conceito de controle, e metodologia qualitativa é associada à visão de emancipação.

“Para compreender dimensões sociopolíticas do mercado é preciso reconhecer questões de natureza não-econômica e não mercadológica das estratégias corporativas; reconhecer arranjos sociais, políticos e legais que estruturam as interações que ocorrem fora e em conjunção com mercados e arranjos privados”. (BARON, 2006 apud FARIA, 2008 )

É a este propósito que esta pesquisa se alinha.

- Tipo de pesquisa

Seguindo a taxionomia proposta por Vergara (1994), essa pesquisa pode ser classificada:

Quanto aos fins:

Exploratória: será realizada em uma área onde até então se tem pouco conhecimento acumulado e sistematizado como é o caso da Responsabilidade Social Corporativa em empresas de natureza híbrida, onde conteúdos mainstream e críticos, à rigor, seriam gerenciados. O estudo exploratório pode ter razão legítima para não possuir nenhuma proposição (YIN, 2005), uma vez que não tem como objetivo a comprovação ou o teste de teorias estabelecidas, mas sim explorar dimensões não contempladas na literatura dominante em estratégia.

Descritiva: por buscar expor características de uma determinada população, ou seja, gerentes que lidam com as estratégias sociais dentro de uma empresa híbrida do setor

bancário e também expor características de determinado fenômeno, que é a formulação das estratégias sociais dentro desse ambiente híbrido.

Quanto aos meios:

Estudo de caso único (YIN, 2005) conduzido em uma empresa híbrida do setor bancário.

O estudo de caso é recomendado quando se colocam questões: “como?” e “por que?” (YIN, 2005). Além disso, são recomendáveis os estudos de caso quando o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos, como é o caso das pesquisas gerenciais. As opções e as práticas interpretativas a serem empregadas não são definidas necessariamente com antecedência, como observam Nelson et., al.(1992) “As escolhas das práticas na pesquisa dependem das perguntas que são feitas e estas dependem do seu contexto, do que está disponível e do que o pesquisador pode fazer naquele cenário”.

O estudo de caso também deve ser utilizado quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real (YIN, 2005), como é o caso das estratégias de RSC. E ainda: “quando os limites entre o fenômenos e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2005., p.32), como é o caso da RSC dentro de uma empresa híbrida .

Sendo assim o estudo de caso se apresenta bastante adequado para esta pesquisa que tem como objetivo estudar de que forma as estratégias sociais são formuladas dentro de uma empresa híbrida .

Quadro 3: Respondentes da pesquisa de campo.

3.4 - Limitações do método.

A limitação do método está diretamente ligada à seleção dos atores corporativos escolhidos para o propósito desta investigação, até porque, seria impossível entrevistar todos os envolvidos na elaboração das estratégias sociais da empresa em questão. Preocupações como validade externa foram suprimidas já que o objetivo é explorar a interação entre as diversas interfaces envolvidas no processo. Pelo caráter exploratório desta pesquisa, os resultados não poderão ser generalizados (YIN, 2005).

3.5 - Coleta de Dados

Serão utilizadas as seguintes técnicas e acordo com os objetivos da pesquisa: . Pesquisa de campo com entrevistas semi-estruturadas envolvendo membros de diversas áreas em nível de gerência executiva.

As entrevistas semi-estruturadas envolveram funcionários de nível de gerência executiva das áreas de Marcas, Crédito Imobiliário, Responsabilidade Socioambiental, Desenvolvimento Regional Sustentável, Relação com Investidores e Estratégia. As entrevistas foram gravadas, transcritas e posteriormente analisadas e guiadas pelo próprio pesquisador a partir do direcionamento estabelecido pelo orientador acadêmico.

O objetivo da coleta de dados no método de casos não é a quantificação, mas a descrição (tipologia). A finalidade não é obter uma grande amostra representativa em termos estatísticos e o risco de se optar com dados com “baixo” nível de integridade justifica-se pela riqueza contextual daquilo que é apreendido.

“A realidade objetiva nunca pode ser capturada. Podemos conhecer algo apenas por meio de suas representações” (FLICK, 1998 apud DENZIN e LINCOLN, 2003).

- Pesquisa como prática social

A coleta de dados teve seu início em meados do mês de junho de 2008. A escolha pela empresa se deu em função de sua representatividade no campo daquilo que o presente projeto se propunha, ou seja, investigar a dinâmica de formulação das estratégias sociais dentro e uma empresa híbrida.

O acesso aos respondentes foi, em certa medida, facilitado, em função de relacionamentos profissionais do pesquisador, o que foi de fundamental importância, pois, o acesso a gerentes de nível executivo, principalmente dentro de uma estrutura muito burocratizada, levaria provavelmente muito mais tempo. A única condição imposta foi o compromisso de confidencialidade quanto aos nomes dos entrevistados e ao nome da instituição. Sendo assim, ficou convencionado denominar a instituição como o Banco X. Este ponto pode ser considerado muito mais como um facilitador do que propriamente um problema. Isto porque, a partir desta consideração, os entrevistados se sentiram mais à vontade para responder às perguntas da pesquisa. Aliás, o clima de

informalidade marcou, sem exceção, todas as entrevistas e todos os respondentes se prontificaram a responder sem nenhuma ressalva.

Todos os contatos para a marcação dos horários foram feitos por telefone e, como já foi dito, em função da rede de relacionamentos profissionais acessada, os respondentes confirmaram pessoalmente suas participações. A grande dificuldade do pesquisador nesta empreitada foi a questão do deslocamento, pois, as gerências gerais executivas estão sediadas todas em Brasília. Portanto, fazia- se necessário o agendamento de todos os respondentes dentro de uma mesma semana, caso contrário, os custos de realização da pesquisa seriam muito altos.

Assim, houve um intevalo de cerca de quatro semanas entre a aceitação do convite à participação na pesquisa e o efetivo agendamento com os executivos do Banco. As remarcações, a pedido dos entrevistados, ocorreram cinco vezes. Após a confirmação das agendas, o pesquisador se deslocou para a capital do país e lá permaneceu até que a coleta de dados fosse concluída.

As pesquisas foram feitas nas próprias instalações do Banco, em três dos seus Edifícios-Sede, já que as gerências executivas se espalham por todos eles. Todos os respondentes preferiram que as entrevistas fossem realizadas em ambientes reservados, o que contribuiu em muito para que elas transcorressem com relativa calma, com interrupções eventuais de assessores, sempre de maneira discreta, através de bilhetes. Em nenhum momento os entrevistados se ausentaram da sala onde a coleta de dados era feita.

As entrevistas foram realizadas nas primeiras horas da manhã, por volta das oito e meia e também ao final do dia, em torno das cinco da tarde. O objetivo foi minimizar as interrupções, considerando a maior probabilidade de compromissos e solicitações a esses executivos ocorrerem no meio do dia. Apenas o executivo de Relação com Investidores foi entrevistado à hora do almoço, pois, era este o único espaço em sua agenda.

3.7 - As perguntas do questionário e o framework

O roteiro da semi-estruturado para as entrevistas foi elaborado a partir do direcionamento estabelecido no framework. Isso possibilitou que cada pergunta utilizada na principal ferramenta de análise desta investigação fosse ser fiel às “lentes” que as direcionaram, ou seja, o escopo teórico do framework.

Como observado na seção 2.3, o framework se constituiu a partir da compreensão de que a literatura de RSC é polarizada. Em um dos extremos Porter e Kramer (2006) com os então denominados conteúdos mainstream; e em outro, a crítica do CMS. O objetivo proposto nesta investigação, isto é, o de compreender de que forma as estratégias de RSC são gerenciadas reconhecendo que nem o modelo econômico dominante nem uma abordagem crítica isolada podem contribuir para a formação de gerentes aptos para lidarem com estratégias sociais, e sim, uma abordagem crítica engajada, impôs que outras dimensões fossem acrescentadas a este framework. Desta forma, o reconhecimento dos conteúdos plurais e políticos foram fundamentais para que se pudesse estabelecer um continuum teórico ao framework apropriado à investigação. A própria decisão de se resgatar a Revisão de Literatura (capítulo 2) não apenas de uma forma estanque mas, de modo contínuo reconhece a dimensão do desafio de se pesquisar em que medida as estratégias de RSC em uma empresa híbrida podem pender para um viés econômico ou critico buscando compreender suas nuances e variações.

Portanto, as perguntas da pesquisa devem refletir esta intenção e contribuir para realização do desafio proposto neste trabalho. Cada uma das perguntas cumpre um objetivo que está diretamente relacionado a um aspecto de análise evidenciado no framework.

Mas antes de expor cada uma das perguntas que constroem o questionário é importante reconhecer os momentos distintos da história do Banco X aonde essas perguntas se inserem.

A pergunta 1 diz respeito ao entendimento por parte dos gestores executivos do Banco X sobre a natureza híbrida de atuação da empresa onde trabalham. A pergunta 2 reflete a intenção de se investigar se a percepção por parte dos respondentes em relação ao Banco X sofre alguma alteração a partir de uma grande e significativa mudança pela qual a empresa passa: sua transformação em conglomerado financeiro ( 1986). As perguntas 3 e 4 também são relacionadas às conseqüências e implicações deste acontecimento. A pergunta 5 trata do processo de profissionalização da área de RSC pelo qual o Banco X passou. As perguntas 6 e 7 buscam compreender como esses “fatos novos” impactam a visão dos respondentes em relação ao entendimento da natureza híbrida de atuação do Banco X. As perguntas 8 e 9 buscam compreender de que forma RSC passa a ser percebida após os acontecimentos históricos citados.

Finalmente, todas as perguntas buscam refletir o que se estabeleceu como foco de investigação no framework à medida em que se utilizam das categorias de análise que investigam a visão o dos respondentes em relação às estratégias de RSC em uma empresa híbrida, adotada no framework e expostas no quadro 1, a saber: (1) a forma as estratégias são implementadas; (2) o objetivo das estratégias de RSC; (3) os valores envolvidos na estratégias de RSC; (4) a importância atribuída às estratégias de RSC.