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PROJETO 2 – EDUCAÇÃO SEXUAL: CONTRACEÇÃO NA ADOLESCÊNCIA

2. Métodos contracetivos

2.3 Métodos de barreira

Os métodos de barreira referem-se a diversos produtos, nomeadamente o preservativo masculino, preservativo feminino e o diafragma (que deve ser sempre usado com um espermicida, considerado um método de barreira químico). Dada à fraca presença no mercado português do preservativo feminino e do diafragma, foi apenas abordado o uso do preservativo masculino (PM), embora os outros dois tenham sido apresentados aos alunos como uma opção.

2.3.1 Preservativo masculino

O PM, se usado isoladamente, não é dos métodos mais eficazes disponíveis. No entanto, é a única opção que efetivamente previne contra as IST, sendo fulcral transmitir aos adolescentes a importância do seu uso em combinação com um outro método contracetivo – a chamada “dupla proteção”. O PM é o método mais usado pelos jovens portugueses na faixa etária dos 15 aos 19 anos 78, com 68,5% dos jovens de 10º ano que já tinham tido relações sexuais a relatar o uso de PM na última relação sexual 89. O PM está amplamente disponível em farmácias, parafarmácias, centros de saúde e outras superfícies comerciais, sendo o método mais facilmente acessível à população. Aconselhar sobre o seu correto uso é fundamental para aumentar a eficácia do método, que é muito dependente da forma de utilização e da experiência dos utilizadores.

O PM pode ser usado com segurança por todos, exceto nos indivíduos com alergia ao látex, que pode variar desde uma irritação ligeira até a uma reação alérgica grave. Em alguns casos, mudar a marca do PM pode resolver a situação; noutros casos, poderá ser necessário evitar PM com látex. Existem, como alternativas, preservativos de poliuretano e outros plásticos, mas geralmente apresentam um custo maior, menor proteção contra IST e uma taxa de rutura e deslocação superior aos de látex 73.

O PM atua formando uma barreira que evita o contacto direto com sémen, lesões genitais e com corrimentos penianos, vaginais ou anais. Relativamente à proteção contra IST, é relevante referir, aquando do aconselhamento, que o uso de PM reduz imensamente a transmissão de infeções como gonorreia, clamídia, tricomoníase, hepatite B e infeção pelo vírus da imunodeficiência humana. Contudo, no que concerne infeções transmitidas através da pele e mucosas (como é o caso das infeções pelo vírus do herpes simples e vírus do papiloma humano, sífilis e cancroide, por exemplo) é importante acautelar que o PM só funciona caso cubra a área infetada 90.

Existem várias estratégias efetivas na promoção de um correto uso do PM, que vão desde aconselhar sobre o seu uso correto e consistente, qualquer que seja a natureza do ato sexual (vaginal, anal ou oral), até incentivar utilizadores com pouca experiência a treinar em modelos 90. É ainda importante informar que os PM de látex podem ser usados com lubrificantes à base de água e com uma grande maioria dos lubrificantes à base de silicone, mas que lubrificantes à base de óleo e preparações medicamentosas de base oleosa podem reduzir a integridade dos PM de látex, facilitando a sua rutura 90.

34 2.4. Contraceção de emergência

A CE é o único método que pode evitar uma gravidez indesejada após uma relação sexual não protegida (RSNP) ou indevidamente protegida, estando, portanto, indicada nesses casos ou em casos de crime contra a autodeterminação sexual numa mulher que não use métodos contracetivos hormonais 91.

Em Portugal, existem disponíveis três opções para a CE: o DIU, o acetato de ulipristal (AUP) e o LVNG. Estes (excetuando o AUP) são disponibilizados gratuitamente nos centros de saúde, no seu funcionamento normal, nas consultas de planeamento familiar, nas consultas de ginecologia e obstetrícia dos hospitais e nos centros de atendimento de jovens protocolados com o SNS, segundo disposto na Lei n.º 12 de 29 de maio de 2001 92. Nas farmácias, o AUP e o LVNG podem ser comprados sem necessidade de prescrição médica, sendo que as formulações contendo AUP correspondem a MNSRM-EF.

2.4.1 DIU

O DIU é, de todos os disponíveis, o método de CE mais eficaz, com uma taxa de falha de 0,04 a 0,19%, já que atua na fase pré-ovulatória, ovulatória e pós-ovulatória, ao impedir a fertilização e criando condições adversas para a implantação do ovo 91, como já discutido em 2.2.2. É particularmente indicado para mulheres que usam repetidamente a CE, já que pode ser mantido como método contracetivo normal até 10 anos depois da sua inserção 91. O DIU pode ser usado nos 5 dias (120 horas) após a RSNP, sendo a sua eficácia semelhante ao longo deste período.

2.4.2 Acetato de ulipristal

O AUP é um MNSRM-EF usado como CE quando administrada uma dose única de 30 mg por via oral. Trata-se de um modulador seletivo do recetor de progesterona, funcionando como um agonista parcial nos recetores de progesterona 74,sendo que o seu mecanismo de ação está relacionado com a inibição ou atraso da ovulação através da supressão do pico de LH 93. O AUP atua quer na fase inicial quer tardia do pico pré-ovulatório de LH, podendo atrasar a ovulação por um período de 5 dias, correspondente ao tempo médio de vida dos espermatozóides no trato genital 91. É considerado o segundo método de CE mais eficaz, podendo ser usado nos 5 dias (120 horas) após a RSNP, sendo que a sua eficácia se mantém praticamente a mesma dentro desta janela temporal. O AUP não deve usado se a mulher estiver sob terapêutica crónica que aumente o pH gástrico (tais como antiácidos, antagonistas dos recetores H2 ou inibidores da bomba de protões), se a mulher sofrer de asma grave tratada por um glucocorticóide, ou no caso de uma terapêutica atual ou nos 28 dias anteriores com medicamentos indutores da CYP3A4 91, 93.

2.4.3 Levonorgestrel

O LVNG é usado como CE quando administrado como uma toma única de 1,5 mg por via oral. Sendo um progestagénio, atua na fase pré-ovulatória precoce por inibição da libertação de LH hipofisária, não tendo qualquer efeito se já se tiver iniciado o pico de LH 91. De todos os métodos de CE é o menos eficaz, sendo tanto menos eficaz quanto mais tempo se tenha passado desde a RSNP, podendo ser administrado no máximo de 72 horas após a RSNP 91.

35 2.4.4. Aconselhamento farmacêutico e dispensa de CE

A indicação farmacêutica para a CE oral deve ser feita aquando de qualquer pedido de CE ou após um pedido de ajuda relativo à possibilidade de ocorrência de uma gravidez não planeada, incluindo situações de falha na contraceção. Cabe ao farmacêutico identificar a utente, a situação e detetar eventuais situações que requeiram referenciação à consulta médica, como uma potencial gravidez, historial de gravidez ectópica, asma grave tratada com glucocorticóides orais, doença hepática grave, síndromas de má absorção severos e patologia de coagulação 94. Caso se possa prosseguir com a dispensa, o farmacêutico deve selecionar a CE oral mais adequada tendo em conta a informação sobre a paciente e o tempo decorrido desde a última RSNP.

Mais importante que a dispensa do medicamento em si, é a informação que o farmacêutico deve partilhar relativamente à CE. A CE é segura de ser usada por todas as mulheres que obedecem aos seus critérios de administração – incluindo adolescentes 95. Não é necessário realizar qualquer exame antes de usar a CE nem nenhuma consulta após o uso da mesma 91. Alguns dos efeitos adversos que poderão ocorrer após a toma de CE oral são cefaleias, vómitos, tonturas, náuseas, sensibilidade mamária e dores pélvicas, pelo que no caso de vómitos que ocorram 3 horas após a administração de CE deve-se repetir a toma, antecipada por um antiemético 91.

Relativamente à repetição do uso de CE, a mesma deve ser usada sempre que existir um risco de uma gravidez indesejada, não havendo evidências de dano resultante do seu uso repetido 95. O uso de LVNG é seguro e pode ser repetido no mesmo ciclo, dado que tenham passado 72 horas desde a última toma 91. Quanto ao AUP, deve-se evitar repetir a sua toma no mesmo ciclo, pelo menos, mas pode ser repetido com segurança no mesmo ano 91.

É importante informar a mulher de que poderão haver alterações relativamente ao próximo ciclo menstrual, podendo atrasar, adiar ou não sofrer alterações. Deve, ainda, ser aconselhada a realização de um teste imunológico de gravidez após 3 semanas de amenorreia depois da toma de CE 91.

Apesar de ser segura, a CE não deve ser usada como contraceção regular, devido à sua baixa eficácia. A dispensa de CE é um momento-chave para promover um correto uso dos métodos contracetivos, especialmente se a dispensa de CE for recorrente para determinada utente. Após a toma de LVNG, a mulher pode retomar a contraceção no mesmo dia (exceto o SIU), devendo associar um método de barreira durante os 2, 7 ou 9 dias seguintes, conforme a utente habitualmente tome COP, contraceção hormonal combinada exceto Qlaira® ou Qlaira®, respetivamente. Após a toma de AUP, deve-se esperar 5 dias antes de retomar qualquer método contracetivo e associar método de barreira nos 14 dias seguintes 95.

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