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Métodos de função de produção

3.4 Métodos de valoração econômica

3.4.1 Métodos de função de produção

Segundo Motta (2006 apud BARCELOS, 2014, p. 78), são os métodos mais utilizados, devido à sua simplicidade, por meio da função de produção. Nesse tipo de método, é observado o valor do recurso R em razão de sua contribuição como insumo ou fator de produção de determinado produto P. São conhecidas duas variantes desse método: o método da produtividade marginal e o método dos bens substitutos. Na aplicação na área de meio ambiente, Motta (2006 apud BARCELOS, 2014, p. 78) utiliza uma função de produção

P = f (Y,R) (5) onde Y corresponde aos insumos privados e R aos recursos ambientais com preço igual a zero. Calcula-se, assim, a variação do produto de P em razão da variação da quantidade do recurso ambiental R utilizada para produzir P. Assim, torna-se possível avaliar o quanto do lucro ou receita líquida de atividade, estimada pela variação do produto P, é resultante da variação de R.

3.4.1.1 Método da produtividade marginal

O método da produtividade marginal parte do principio de que um bem ou serviço, gerado por um recurso ambiental, é conhecido e de que o valor econômico representa apenas valores de uso direto e indireto relativo a bens e serviços ambientais utilizados na produção. (MOTTA, 1997, p. 16)

Sendo assim, o método de produtividade marginal possui a seguinte função de produção: P = f(Y,R), onde o valor econômico de R é um valor de uso dos bens e serviços ambientais. Para calculá-lo, é necessário conhecer a correlação de R em f e, ainda, a variação do nível de estoque e de qualidade de R em razão da produção do próprio P ou de outra

função de produção. Assim, é possível conhecer as funções de dano ambiental ou as funções dose-resposta (DR), onde

R=DR (X1,X2,...,Q) (6) Sendo que Xi representa às variáveis que, junto com o nível de estoque ou qualidade Q do recurso natural, afetam a disponibilidade de R. Assim:

DR = DDR/DQ (7) Debeux (1998 apud FURIO, 2006, p. 27) relaciona as DRs à variação do nível de estoque ou à qualidade de R, onde danos físicos ao meio ambiente são provocados com a produção P ou T, com o sentido de identificar o decréscimo de R para a produção de P.

Motta (1997, p.17) apresenta dois exemplos da aplicação desse método na área de meio ambiente: o primeiro é um estudo econômico sobre produtividade agrícola, a “dose” seria a erosão do solo e a “resposta” o correspondente comprometimento da safra. O outro exemplo apresentado pelo autor permite a visualização do problema em cadeia e pode ser observado na indústria de produção de álcool. Quando a produção de álcool T aumenta o nível de poluição da água Q, que por sua vez afeta a qualidade da água R, comprometendo a produção do setor pesqueiro P. Se a água é utilizada para produzir P, determinada a DR da água pela produção de T, sendo conhecida a função de produção de P, determina-se perda em P.

Furio (2006, p. 28) ainda ressalta que a complexidade da dinâmica dos ecossistemas ainda não é suficientemente conhecida para que se possam estabelecer relações precisas de causa e efeito, o que dificulta a estimação da função de dano.

3.4.1.2 Método de Mercado dos bens substitutos

Outros métodos que utilizam preços de mercado podem ser adotados com base nos mercados de bens substitutos, caso existam variações marginais de quantidade de um produto industrializado. Esses métodos são importantes para os casos onde a variação do produto industrializado não oferece preços observáveis de mercado ou são de difícil mensuração. Esse é o caso dos produtos que são também um bem ou serviço ambiental consumido gratuitamente. É o caso também dos substitutos perfeitos, como o caso do gás liquefeito de petróleo, que pode substituir o gás natural quando há escassez, mantendo o nível de bem estar e expectativa dos usuários. (MOTTA, 1998 apud FURIO, 2006, p. 28).

Debeux (1998 apud BARCELOS, 2014, p. 80) informa que diante da eventual impossibilidade de calcular as perdas das variações de produto e dos recursos ambientais, por

conta da inexistência de preços de mercado, as perdas são calculadas a partir de seus substitutos perfeitos.

Maia (2002 apud BARCELOS, 2014, p.80) afirma que diante da escassez ou perda de qualidade de um bem ou serviço, a procura por substitutos irá aumentar, a fim de manter o bem-estar da população. O autor afirma também que é muito difícil encontrar na natureza um substituo perfeito, sobretudo pela complexidade dos bens e grande variedade de funções, como é o caso da água.

Se uma função da produção P = f (Y, R), R tem em S seu substituto perfeito, a função de produção pode ser demonstrada em

P = f (Y, R+S) (8) onde a perda de uma unidade de R pode ser compensada por uma quantidade constante de S. Sendo P constante, uma unidade a menos de R será compensada por uma quantidade a mais de S e a variação de R passa a ser valorada pelo preço de mercado de S. O P, sendo um bem ou serviço ambiental sem preço de mercado, poderia ser substituído por S, se não houvesse função de produção ou dose-resposta disponível.

Motta (1997, p. 18) apresenta três aplicações do método com base nos preços substitutos:

Custo de reposição: Quando o custo de S representa gastos do consumidor para garantir o nível desejado de P ou R. Esse método se baseia nos gastos necessários para reparação de um bem danificado, para fazer uma estimativa dos benefícios gerados por esse recurso ambiental. O calculo é baseado nos preços de mercado para repor ou reparar o bem ou serviço danificado, observando que o recurso ambiental deve ser substituído. Uma desvantagem desse método é que, por maiores que sejam os gastos envolvidos na reposição, nem todas as complexas propriedades de um atributo ambiental serão repostas pela simples substituição dos recursos. Um exemplo disso é a o reflorestamento de uma área desmatada, que ajuda a ter uma aproximação dos prejuízos econômicos, mas não recupera toda a biodiversidade perdida. (MAIA, 2002, apud BARCELOS, 2014, p. 81)

Custos evitados: Quando os custos de S representam os gastos do consumidor para não alterar o produto P que depende de R. Nesse método, o gasto do valor de um recurso ambiental é medido por meio dos gastos com atividades defensivas substitutas ou complementares, para aproximar o valor monetário sobre as mudanças do atributo ambiental. Um exemplo da aplicação desse método é a escolha do indivíduo em comprar água mineral, presumindo estar

livre dos possíveis males de poluição e, assim, valorando sua disposição a pagar pela água descontaminada. (MAIA, 2002 apud BARCELOS, 2014, p. 81)

Custos de controle: Quando o dano ambiental pode ser valorado pelos custos de controle que empresas ou consumidores realizam para que se evite a perda de qualidade ou quantidade de R. Um exemplo da aplicação desse método é o tratamento de esgoto para evitar a poluição dos rios. (MAIA, 2002 apud BARCELOS, 2014, p. 82)