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Valor econômico total (VET)

Entre os métodos apresentados de valoração criados no âmbito da economia do meio ambiente, destaca-se o Valor Econômico Total (VET). A composição do valor econômico total não é consenso na literatura, pois alguns consideram que existe um valor de quase-opção e outros consideram que existe um valor de herança. Porém existe uma afirmação que é consenso em toda a literatura: o valor econômico total é formado pela soma do valor de uso com o valor de não-uso (OLIVEIRA JUNIOR, 2003, p. 53). A seguir se encontram as possíveis composições desses dois tipos de valor

VET = VALOR DE USO + VALOR DE NÃO-USO (4) Assim como nas metodologias apresentadas no capítulo anterior, o resultado da valoração econômica de determinado bem é a soma do valor de uso e de não-uso. Por ser o princípio básico da criação das metodologias de valoração ambiental, esse será o princípio adotado nessa dissertação, para fins comparativos de aplicação na área de informação. No VET, o valor de uso costuma ser o resultado de duas variáveis:

Valor de uso: essa variável engloba o uso direto, o uso indireto, o valor de opção e o valor de quase-opção de determinado bem. Mattos (2004 apud SILVA, 2012, p. 81) diferencia o valor de uso de um bem, de seu valor intrínseco. Enquanto o valor de uso é atribuído pelas pessoas que de fato utilizam determinado bem, o valor intrínseco diz respeito a todos os valores potenciais desse bem. Assim, o valor de uso compreende a soma dos valores de uso direto e indireto.

O uso direto diz respeito ao valor que as pessoas atribuem ao bem pelo fato de utilizar dele diretamente, a partir da extração, visitação ou outras atividades de produção e consumo direto (FURIO, 2006, p. 23). Podem-se citar dois exemplos de uso direto: o primeiro diz respeito às comunidades ribeirinhas da Região Norte do Brasil que utilizam os rios em suas atividades diárias, inclusive consumo e limpeza; outro exemplo é o de moradores que utilizam o acervo histórico de uma biblioteca considerada patrimônio cultural. Obara (1999, apud PERRENOUD, 2010, p. 34) diz que, na área de meio ambiente, estão incluídos os produtos extraídos de forma sustentável e que podem ser comercializados legalmente, incluindo os produtos ilegais que foram retidos, além dos benefícios relacionados ao lazer, recreação, prática de turismo, estética da paisagem, valor espiritual, educação e pesquisa, sendo determinado qualitativa e quantitativamente.

O uso indireto diz respeito ao valor atribuído pelo consumo e benefício indireto de determinado bem. Na economia do meio ambiente, isso se exemplifica no uso de funções ecossistêmicas, como a proteção do solo e a estabilidade climática proveniente da preservação das florestas. Obara (1999 apud PERRENOUD, 2010, p. 35) afirma que o valor de uso indireto inclui os benefícios derivados dos serviços que as áreas naturais fornecem como aporte aos bens e serviços de produção, ou seja, os valores estimados no controle da erosão, manutenção da qualidade da água, controle climático, preservação da biodiversidade e do material genético etc.

O valor de opção é atribuído pelo individuo que conhece o valor de determinado bem, mas não o usa e está disposto a pagar pela opção de usá-lo no futuro. Barcelos (2014, p. 74) afirma que valor de opção é atribuído à preservação de recursos que podem ser ameaçados, para uso direto e indireto no futuro próximo; e de Ortiz (2003 apus PERRENOUD, 2010, p. 35) que diz que esse é o valor que o indivíduo estaria disposto a pagar para manter o recurso ambiental para uso futuro. Mota (2001 apud PERRENOUD, 2010, p. 35) enfatiza que, caso o futuro seja certo quanto às preferências do consumidor e às disponibilidades futuras, o valor de opção será zero. Porém, a incerteza do futuro gera expectativas no consumidor, que se declara disposto a pagar um valor no presente, para ter opção de usar o bem no futuro.

Barcelos (2014, p. 75) apresenta o valor de quase-opção, cuja diferença se dá quanto à incerteza de que o bem preservado será útil no futuro. Nessa modalidade, é avaliado o valor de reter as opções de uso futuro, dada a hipótese de que o conhecimento científico e técnico pode crescer e trazer benefícios econômicos e sociais. O valor de quase-opção é importante para demonstrar que as estimativas de valoração podem variar ao longo do tempo,

sobretudo quando as metodologias de valoração incorporam alternativas tecnológicas de prevenção e reparação dos danos causados, bem como se aprimoram técnicas de quantificar os impactos dos danos ao bem valorado (NOGUEIRA et al., 2000; MAIA, 2002; HACKETT, 2009 apud MUÑOZ, 2015, p. 21).

Valor de não-uso ou valor de existência: O valor de existência está dissociado de uso e deriva de uma posição moral, cultural, ética ou altruística em relação à existência de determinado bem ou recurso, sem indicação de uso atual ou futuro pra ninguém (FURIO, 2006, p. 23; BARCELOS, 2014, p.75). Como exemplo, pode-se citar a preservação das espécies em extinção em seu habitat, como ursos e baleias, que habitam regiões totalmente despovoadas e não trariam nenhum benefício direto ou indireto a alguém.

Existe um valor derivado do valor de não-uso, denominado valor de herança e que, segundo Barcelos (2014, p. 75), seria medido pela disposição do individuo em pagar pela preservação de determinado bem, para que as futuras gerações possam ter acesso a ele.

A partir da apresentação das variáveis a serem medidas no VET, Furio (2006, p. 24), salienta a dificuldade para encontrar preços de mercado que reflitam os valores atribuídos pelos indivíduos, principalmente quando se passa do valor de uso para o valor de não-uso. Marques e Comunes (1995 apud BARCELOS, 2014, p. 75) acrescentam que muitos componentes, no caso do meio ambiente, não são comercializados no mercado e o preço dos bens econômicos não refletem o verdadeiro valor dos recursos usados na sua produção. Nogueira (1998 apud BARCELOS, 2014, p.75) complementa que os métodos de valoração tentam obter estimativas plausíveis a partir de situações onde não existem mercados aparentes ou onde os mercados são muito imperfeitos.

Os métodos de valoração apoiam a tentativa de captar as distintas parcelas do valor econômico do recurso. Porém, conforme salientado por Furio (2006, p. 24), cada método apresenta limitações, que quase sempre está associado à sofisticação metodológica, à base de dados exigidos, às hipóteses sobre o comportamento do indivíduo consumidor e aos efeitos do consumo do bem em diversos setores da economia.