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IDADE ANO ATIVIDADES IMPORTANTES MARCOS LIÇÕES APRENDIDAS Introdução Pré-1995 Sistema de

2.3 EXTENSÃO RURAL

2.3.2 Métodos e técnicas da extensão rural

Após o histórico da extensão rural, descrevem-se, a seguir, os métodos e as técnicas que o extensionista rural, ou seja, os profissionais formados em Agronomia, Veterinária, Zootecnia, Engenharia Agrícola e Engenharia Florestal, bem como os técnicos agrícolas utilizam para produzir e disseminar conhecimento no desempenho de suas atividades em instituições oficiais de extensão rural e pesquisa. O extensionista, no seu processo de capacitação, após o ingresso nas instituições de extensão e pesquisa, além da formação técnica recebida nas universidades, participa do “pré-serviço”, que constitui uma modalidade de capacitação específica para sua iniciação na vida laboral, preparando-o para o serviço de campo. O curso é oferecido no formato de aulas teóricas e práticas (normalmente, com 300 horas aulas) e repassa conteúdos sobre vários temas e facetas de

trabalho, incluindo a metodologia, que proporciona as referências essenciais para o trabalho (SILVA FILHO, 2005).

É preciso destacar que a extensão é um processo educativo informal e, mais que isso, ocorre em um ambiente onde o aprendizado está ligado ao ambiente de trabalho e subsistência do produtor, sem o vínculo de obrigação, relação de emprego, dependência financeira, porém, baseado em uma relação de parceria e confiança.

Como mostrado anteriormente, a extensão rural, dos anos de 1960 à metade dos anos 1980, utilizou amplamente o modelo difusionista, processo típico da Revolução Verde. Porém, essa metodologia não foi abandonada de imediato, persistindo até o início dos anos de 1990 (KARAMIDEHKORDI, 2013). O modelo difusionista tem como característica a linearidade na disseminação de conhecimento, ou seja, o pesquisador gerador de conhecimento transmite ao extensionista e este repassa ao produtor. No sentido inverso desse fluxo, o produtor transmite ao extensionista suas necessidades, dúvidas e preocupações e este busca as soluções em seus saberes explícitos e tácitos, adquiridos em experiências anteriores. Quando esses saberes não são suficientes para a obtenção dos resultados esperados, ele repassa ao pesquisador o questionamento para que este o responda mediante um trabalho de investigação científica (OLINGER, 2006a, FERRÃO NETO, 2007, GUIMARÃES, 2009, BARBOSA, 2009). E reinicia-se o ciclo como se observa na Figura 3.

Figura 3 -Modelo difusionista de fluxo de conhecimento no meio rural

Fonte: Adaptado de Ferrão Netto (2007 apud SILVA; FELICIANO; SOUZA, 2010).

Nos anos de 1980, predominou, na política de extensão rural, a implantação de pacotes tecnológicos, quando o objeto de trabalho era disseminar tecnologia, no qual o extensionista “levava” ao produtor um

pacote pré-fabricado e, muitas vezes, não condizente com suas necessidades (SILVA FILHO, 2010). Corroborando essa afirmação, Silva, Feliciano e Souza (2010, p. 34) colocam que: “neste modelo, reducionista, as soluções são criadas e aplicadas de forma pontual, objetiva, desconsiderando o contexto. Ocorre, claramente, uma hierarquia do conhecimento, cuja face mais danosa se apresenta na desconsideração imposta ao conhecimento tácito do produtor”.

A extensão rural possuía o objetivo de divulgar e fazer com que os agricultores adotassem alguma técnica produtivista, impondo determinados conceitos ao homem do campo, não levando em conta suas experiências, interesses, vivências, conhecimentos, desejos e aspirações dele (LANDINI, 2010, ZUIN et al., 2011).

Na visão de Barbosa (2009, p. 41), “o saber dos agricultores era tido como atrasado e deveria ser combatido”. Paulo Freire faz uma crítica a essa forma de transmissão de conhecimento da extensão rural, ao processo de comunicação que deveria ser libertador e interativo, e não dominante:

subestimar a capacidade criadora e recriadora dos camponeses, desprezar seus conhecimentos, não importa o nível em que se achem, tentar enchê-los com o que aos técnicos lhes parece certo são expressões, em última análise, da ideologia dominante (FREIRE, 2007, p. 36).

O modelo difusionista provocou distanciamento dos atores do fluxo de conhecimento da extensão rural por acreditar que o pesquisador tem dificuldades para adaptar a linguagem científica para linguagem coloquial a fim de difundir tecnologia nas propriedades rurais, devido à crença de que é um recurso humano raro e caro, não devendo, portanto se dedicar a tal atividade por lhe parecer perda de tempo; o extensionista, por sua vez, tem dificuldades em aprender todas as tecnologias sofisticadas e/ou criá-las. O comportamento incutido no extensionista era de que ele deveria identificar- se com o agricultor, com as botas sujas de terra, sem contato com “teorias nebulosas”. “O extensionista não deveria ser homem de laboratório, de pesquisa, da academia universitária ou um pesquisador”, salientam Simon et al. (2005, p. 64).

Como anteriormente citado, com a necessidade do resgate da extensão rural pela nova lei da ATER, progressivamente, surgiu um novo cenário de metodologias mais participativas e inovadoras, onde a interação dos atores e a valorização de todos os saberes passam a ter mais espaço. Esse novo modelo pode ser chamado de “modelo multifuncional de fluxo de conhecimento”. Porém, o antigo modo difusionista de extensão rural não foi abandonado definitivamente, persistindo na mentalidade de alguns extensionistas (SILVA; FELICIANO; SOUZA, 2010).

No novo modelo, os conhecimentos são compartilhados, e não difundidos, não existe a linearidade e a hierarquia de saberes, valorizando- se os saberes pessoais para a construção de um saber mais complexo. Para Coelho (2005) e Lwoga et al. (2010) , o novo modelo quebra o velho paradigma difusionista alterando as funções sociais tanto de técnicos quanto de agricultores, que deixam de ser, respectivamente, meros repassadores de conhecimentos ou meros consumidores de tecnologia.

A valorização do ser humano e seu desenvolvimento é a principal bandeira da linha multifuncional. A comunicação (bidirecional) e não a extensão (unidirecional) seria o método mais recomendado para os extensionistas interagirem com os produtores e suas famílias e a elas passarem novos conhecimentos (ALVES; GAMEIRO, 2011, HUNT et al., 2011).

Assim, a pesquisa e a disseminação de conhecimento deixam de ser atividades exclusivas de um, para ser desenvolvida por todos. No novo modelo, os papéis dos atores da extensão são mais amplos, os extensionistas tornam-se agentes geradores de conhecimento por meio de realização de pesquisa e da validação de tecnologia na extensão; o pesquisador passa a disseminar conhecimento ao interagir com o produtor e com o extensionista nas pesquisas participativas; por fim, o produtor gera conhecimento no intercâmbio com o pesquisador, solicitando esta solução para suas dúvidas e necessidades e com o extensionista, na validação da tecnologia, e também gera conhecimento primário pela experimentação realizada em seu processo produtivo. Esse processo pode ser observado na Figura 4.

Figura 4 - Modelo multifuncional de fluxo de conhecimento no meio rural

Nessa nova realidade, pode-se destacar que a nova postura fundamenta-se numa concepção construtivista que se baseia na interação entre os saberes do cotidiano dos agricultores e o conhecimento científico- técnico e tecnológico (PINHEIRO et al., 2004, COELHO, 2005, THEODORO et al., 2009, JERE et al., 2011). Corroborando esse pensamento, Simon (2008, p. 753) entende que, nesse processo, “não deve haver o agricultor dissolvido em dados feito um catecismo que possui todas as perguntas, nem um extensionista ou pesquisador dissolvido em ciência feito um dicionário que possui todas as respostas”.

Assim, com a diversificação dos saberes e das práticas agrícolas, os extensionistas são cada vez mais reconhecidos como agentes empreendedores, tendo a necessidade de desenvolver novas habilidades e capacidades para orientar os produtores a serem competitivos. Desta forma, o empreendedorismo está, cada vez mais, se tornando um importante aspecto da agricultura moderna (PHELAN; SHARPLEY, 2012).

Esse novo profissional surge com o rompimento de antigos paradigmas. O que se apresenta agora é um cenário com inúmeras oportunidades, onde o conhecimento é essencial para o desenvolvimento de competências que o auxiliem na percepção e no empreendimento das novas oportunidades.