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Métodos e técnicas de recolha e análise de dados

3. ESTUDO EMPÍRICO: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3.4. Métodos e técnicas de recolha e análise de dados

Neste tópico, apresentam-se as técnicas de recolha utilizadas: pesquisa documental, observação naturalista e entrevistas semiestruturadas, bem como a forma como os dados recolhidos foram analisados.

3.4.1. Pesquisa documental

A pesquisa documental consiste na leitura de documentos com uma finalidade, sendo complementada por uma fonte de informação paralela e simultânea, a fim de permitir a contextualização dos dados contidos nos documentos (Souza, Kantorski & Luis, 2011). Este método tem como vantagens, segundo os autores, a estabilidade das informações e não modificar o ambiente ou os sujeitos.

Neste estudo, realizou-se uma pesquisa e análise documental aos processos existentes nas escolas (quando existem) das crianças envolvidas no estudo, para obter mais informações acerca das mesmas, com respetivo consentimento dos envolvidos.

3.4.2. Observação naturalista

A observação é uma técnica que permite analisar determinados aspetos, factos e fenómenos da realidade, através da utilização dos diversos sentidos (Gerhardt, Ramos, Riquinho & Santos, 2009). Esta constitui um método importante no estudo de crianças com PEA, principalmente quando não utilizam comunicação oral (Kangas et al., 2012).

A observação foi realizada nos contextos educativos, durante as rotinas habituais, para que os comportamentos fossem os mais naturais possíveis. A observação foi não participante, ou seja, a investigadora não se integrou no grupo de crianças, observando de fora o que aconteceu sem participar ou se envolver na ação (Gerhardt et al., 2009). Selecionou-se este tipo de observação, a fim de possibilitar maior liberdade e espontaneidade das brincadeiras, no sentido de irem ao encontro dos desejos e vontades das crianças. Todavia, apesar de a observação ter sido não participante, a investigadora respondeu quando as crianças falaram diretamente para a mesma e interveio em situações que punham em causa a integridade física das crianças e integridade dos materiais presentes no contexto educativo.

29 Para se concretizar as observações, recorreu-se à filmagem das brincadeiras através de tecnologias móveis, o que possibilitou rever várias vezes as imagens gravadas e a visualização de aspetos que podiam ser passados despercebidos inicialmente (Pinheiro, Kakehashi & Angelo, 2005). Segundo os autores, o vídeo é um método importante nos estudos qualitativos. Contudo, deve-se ter em conta as questões éticas, daí em primeiro lugar solicitar-se o consentimento das partes intervenientes.

Com a elaboração das filmagens, obtiveram-se oito vídeos por criança, com um total de cerca de 8h27m34s, sendo que os vídeos terminavam quando as crianças paravam de brincar, saiam do contexto por períodos prolongados (e.g., ir ao wc) ou a educadora dava como terminado o tempo de brincadeira e pedia para arrumar. Tentou- se que os vídeos tivessem tempo mínimo de cinco minutos e de máximo 20 minutos. Posteriormente à realização das filmagens, os acontecimentos dos vídeos foram transcritos para facilitar a sua análise. Os vídeos foram analisados tendo em conta três dimensões: os brinquedos utilizados, as interações estabelecidas e as modalidades de brincadeira, incluindo os comportamentos de não-brincadeira.

A análise dos dados relativos à utilização dos brinquedos baseou-se numa análise categorial, através da observação do tempo total de cada vídeo, considerando dois aspetos: o contexto (interior e exterior) e com ou sem disponibilização do kit (1 e 2, respetivamente). Os diversos brinquedos observados foram incluídos em categorias de acordo com a sua natureza, criando-se as seguintes categorias com base na revisão da literatura: natureza sensorial, psicomotora, funcional, construtiva, simbólica e diversa. A categoria «natureza diversa» engloba materiais que não se incluem em nenhuma das restantes categorias e que a sua funcionalidade não está associada culturalmente ao brincar, tais como livros, mesas, cadeiras, bonés, etc. No anexo L encontra-se um exemplo de uma análise de brinquedos utilizados durante as observações.

Os dados relativos às interações estabelecidas também se analisaram de forma categorial, observando a totalidade dos vídeos e estruturando-se de acordo com dois aspetos: o contexto (interior e exterior) e a disponibilização ou não do kit (1 e 2, respetivamente). No processo de análise foram registados todos os comportamentos de interação que envolviam a criança analisada e a frequência dos mesmos. Os comportamentos observados foram categorizados, considerando se estes envolveram

30 interações negativas e positivas, adultos ou crianças, se foram por iniciativa pessoal ou de outros. Por outras palavras, foram criadas as seguintes categorias para as interações positivas e negativas: com o adulto e decorrentes da iniciativa de outros, com o adulto e decorrentes da iniciativa pessoal, com crianças e decorrentes da iniciativa de outros e com crianças e decorrentes da iniciativa pessoal. No anexo M apresenta-se um exemplo de uma análise das interações estabelecidas durante as observações.

No que diz respeito aos dados referentes à dimensão relativa às modalidades de brincadeira e comportamentos de não-brincadeira, a análise baseou-se na escala POS, mas com algumas adaptações. Esta escala analisa os comportamentos de brincadeira, subdivididos em brincar social e brincar cognitivo, bem como os comportamentos de não-brincadeira (Rubin, 2001). De acordo com o autor, o brincar social é composto por brincar solitário, paralelo e em grupo, enquanto que o brincar cognitivo se divide em brincar funcional, construtivo, exploratório, dramático e jogos de regras. Os comportamentos de não-brincadeira, segundo a escala POS, envolvem comportamento desocupado, observação, transição, conversação ativa, agressão, interação física com crianças (tradução de rough- and-tumble), comportamento ansioso, comportamento não codificável e fora da sala (Rubin, 2001). Sentiu-se necessidade de modificar o item da conversação ativa, fragmentando-a em conversação ativa com adultos e crianças. Para além disso, acrescentou-se a interação não-verbal com crianças e adultos, de modo a categorizar todos os comportamentos de interação que surgiram sem comunicação verbal, designadamente abraços, beijos, oferecer brinquedos, entre outros.

Com recurso a esta escala, observou-se cinco minutos de vídeo e cotou-se cada intervalo de 10 segundos, tendo em conta o comportamento predominante e seguindo uma hierarquia que a escala POS sugere: comportamentos em grupo (dramático, construtivo, exploratório, funcional), seguido de conversação ativa, brincar paralelo (seguindo a mesma hierarquia cognitiva referida anteriormente), brincar solitário (seguindo a mesma hierarquia cognitiva referida anteriormente), observação, comportamento desocupado e transição (Rubin, 2001). Para melhor compreensão, apresenta-se um exemplo de uma cotação, segundo a escala POS, no anexo N, bem como um exemplo de uma folha de registo (adaptada da original), no anexo O.

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3.4.3. Entrevistas semiestruturadas e questionários sociodemográficos

A fim de se obter mais informações acerca do brincar das crianças envolvidas no estudo, realizaram-se entrevistas semiestruturadas a mães e educadoras de infância, e preencheram-se questionários sociodemográficos destas participantes. A entrevista é uma técnica com diálogo, em que uma das partes intervenientes procura obter informações, enquanto que a outra se apresenta como a fonte das mesmas (Gerhardt et al., 2009). Para entrevistar, é necessário ter escuta ativa, aprofundando o que o entrevistado diz e demonstrando atenção aos detalhes importantes, porém, sem influenciar o seu discurso (Belei, Gimeniz-Paschoal, Nascimento & Matsumoto, 2008).

Na entrevista semiestruturada, a investigadora elabora um guião com um conjunto de perguntas sobre o tema, mas o entrevistado pode falar sobre assuntos que considere relevantes (Gerhardt et al., 2009; Fylan, 2005; Longhurst, 2016). Neste tipo de entrevista, as perguntas são abertas e a ordem para serem questionadas pode variar (Fylan, 2005), decorrendo de forma semelhante a um diálogo (Longhurst, 2016).

No caso da presente investigação, a entrevista aos pais estrutura-se em 11 questões e visa conhecer as perceções dos pais relativamente às características das brincadeiras em que o seu filho com PEA/DT se envolve, compreender como brincam os pais com o seu filho com PEA/DT e identificar os brinquedos que o filho com PEA/DT utiliza nas suas brincadeiras. A entrevista estrutura-se em cinco blocos: enquadramento da entrevista, características das brincadeiras, brincadeiras com os pais, brinquedos utilizados e conclusão da entrevista. Tal como referido anteriormente, o guião da entrevista aos pais encontra-se no anexo G.

A entrevista às educadoras de infância é constituída por nove questões e tem como objetivo caracterizar as brincadeiras em que a criança com PEA e os seus pares com DT se envolvem, identificar os brinquedos que a criança com PEA e os seus pares com DT utilizam nas suas brincadeiras no jardim de infância e identificar as semelhanças e diferenças existentes entre o brincar das crianças com PEA e os seus pares com DT. A entrevista às educadoras de infância engloba quatro blocos: enquadramento da entrevista, características das brincadeiras, brinquedos utilizados e conclusão da entrevista. O guião da entrevista às educadoras está no anexo F.

32 As entrevistas foram gravadas (apenas áudio), com a devida autorização das participantes antes da realização das mesmas. Posteriormente, as entrevistas foram transcritas e sugeriu-se a possibilidade de se efetuar alterações à transcrição. Porém, nenhuma mãe ou educadora pretendeu fazer a revisão da transcrição da sua entrevista. A transcrição das entrevistas permitiu uma análise categorial, tendo-se definidos as seguintes categorias: brinquedos preferidos, principais locais de brincadeira, interações estabelecidas, brincadeiras preferidas, com a família e outras, envolvimento nas brincadeiras e tempo de brincadeira. No anexo P está um exemplo da fase 1 da análise de uma entrevista, seguindo-se de um exemplo da fase 2 no anexo Q.

No que diz respeito aos questionários sociodemográficos, estes foram realizados após as entrevistas, sendo os itens questionados e registados pela autora do estudo. Os questionários às mães são constituídos por dados relativos ao género, identificação do agregado familiar (idade dos elementos), estado civil do encarregado de educação e habilitações literárias, situação laboral e profissão dos pais. O questionário às educadoras de infância é composto pela identificação do género, idade, situação profissional e experiência profissional geral, no jardim de infância atual e com crianças com PEA. Tal como referido anteriormente, o questionário sociodemográfico às educadoras encontra-se no anexo H, e o questionário aos pais está no anexo I.