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3. ESTUDO EMPÍRICO: METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

4.2. Discussão dos resultados

4.2.3. Relativamente às interações estabelecidas

Verifica-se que o contexto exerce alguma influência nas interações que são estabelecidas com adultos e crianças. Em ambos os grupos surgiram com mais frequência interações positivas com crianças no recreio. No que diz respeito às interações positivas com adultos, nas crianças com DT ocorreram com mais frequência na sala, mas nas crianças com PEA surgiram preferencialmente no recreio. As interações negativas com crianças revelaram-se nas crianças com DT, maioritariamente, na sala, sendo que as crianças com PEA revelaram frequência semelhante nos dois contextos, mas prejudicada no recreio pela presença do kit 2. Assim, surgiram mais interações negativas com adultos no recreio, principalmente com a disponibilização do kit 2. Pode-se então inferir que o recreio pode ser um contexto facilitador de interações positivas com crianças em ambos os grupos, e com adultos, nas crianças com PEA. Nas crianças com DT, a sala parece facilitar as interações positivas com adultos.

Quanto à influência da disponibilização dos kits nas interações com as crianças e adultos, nas crianças com DT e PEA, verifica que as interações positivas com crianças aumentaram nas crianças com DT e diminuíram nas crianças com PEA, sugerindo que os kits facilitaram a interação com crianças nas crianças com DT, não ocorrendo o mesmo efeito nas crianças com PEA. Por outro lado, as interações negativas com crianças aumentaram com a disponibilização dos kits, nas crianças com DT.

Com a disponibilização dos brinquedos do kit 1 na sala, as interações positivas com adultos diminuíram nas crianças com DT, mas aumentaram nas crianças com PEA. Para além disso, surgiram menos interações negativas com adultos nas crianças com

86 PEA, e esse tipo de interações não ocorreram nas crianças com DT. Estes dados sugerem que a disponibilização do kit 1 na sala parece ter facilitado o estabelecimento de interações com o adulto nas crianças com PEA, verificando-se o aumento de interações positivas e a diminuição de interações negativas. Por outro lado, as crianças com PEA diminuíram as interações com crianças, quer negativas quer positivas. Os resultados sugerem que a introdução dos brinquedos do kit 1 diminui as interações estabelecidas entre as crianças com PEA e os seus pares com DT.

Com a apresentação dos brinquedos do kit 2, as interações positivas com adultos aumentaram em ambos os grupos de crianças. Contudo, o facto de o kit ser apresentado a um maior número de crianças simultaneamente aumentou as interações negativas com crianças em ambos os grupos, nomeadamente devido às dificuldades em partilhar. Consequentemente, aumentaram também as interações negativas com adultos em ambos os grupos, pelo facto de as crianças serem repreendidas por estes. Importa realçar que no caso do C., criança com PEA, o kit 2 não provocou alterações a nível da sua interação com crianças (positiva e negativa), pois esta criança no recreio tendia a afastar-se, particularmente com a quantidade de crianças a rodear os recursos do kit 2.

De realçar também que as crianças com DT apresentaram maior frequência de interações positivas e negativas com crianças. Por outro lado, as crianças com PEA manifestaram maior frequência de interações positivas e negativas com adultos. Observou-se existir uma diferença importante relativamente à frequência de interações positivas nas crianças com DT e PEA. Estes resultados vão ao encontro do referido por Hampshire e Hourcade (2014) e Kangas et al. (2012), nomeadamente quando afirmam que as crianças com PEA têm dificuldades na interação social com os pares e, segundo Wolfberg (2004), em socializar com os pares. Para além disso, as dificuldades na interação social constituem um dos critérios de diagnóstico das crianças com PEA (APA, 2013), sendo estes resultados, portanto, expectáveis.

Em relação às pessoas com quem brincam as crianças com PEA e com DT, segundo os dados obtidos nas entrevistas às mães, não se verificam diferenças relevantes entre os grupos, sendo que ambos brincam com mãe/pais e sozinhos. As diferenças observadas entre os dois grupos prendem-se com o facto de ter sido referido com mais frequência a brincadeira com os pais nas crianças com PEA, enquanto que as

87 mães das crianças com DT relataram que estas brincam com crianças mais velhas e irmãos e, no caso das crianças com PEA apenas uma das mães referiu que esta brinca com o primo. É de referir que M. e C. (crianças com PEA) não têm irmãos, sendo que L. (criança com PEA) tem uma meia-irmã com 8 meses (aquando a entrevista), o que também pode influenciar que estas crianças brinquem maioritariamente com os pais e sozinhos.

Foi referido pelas educadoras maioritariamente aspetos positivos relativamente à interação das crianças com DT com os pares, sendo que estes, de uma forma geral, preferem brincar acompanhados do que sozinhos e têm vários amigos como parceiros de brincadeira. Relativamente às crianças com PEA, são referidos aspetos positivos no caso do M. relativamente à interação com pares, sendo que o facto de não falar influencia a interação com estes, o que vai ao encontro do afirmado pela mãe. No caso da criança C., a educadora menciona apenas aspetos positivos, com aproximação pontual a meninas. Porém, no caso da criança L. são referidos inúmeros comportamentos de interação negativa, nomeadamente agressões e dificuldade em partilhar, o que também foi dito em conversas informais e verificado ao longo das observações, apesar de a educadora também mencionar que tem melhorado a este nível.