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DANOS DE FACHADAS

2.2 TÉCNICAS DE INSPEÇÃO

2.2.2 Métodos empíricos de inspeção

Conforme definido por Flores-Colen (2009), as inspeções possuem a finalidade de verificar o surgimento de anomalias, assim como o comportamento em serviço em condições de severa exposição ou mesmo após intervenções ou de examinar eventuais não funcionalidades e o envelhecimento dos elementos.

Os métodos empíricos de inspeção são baseados em experiências adquiridas sobre determinado comportamento em serviço e são fundamentados, exclusivamente, na inspeção visual com auxílio de dados históricos sobre manutenções anteriores, entrevistas com usuários e outras informações que venham a trazer subsídios relevantes à compreensão dos problemas encontrados.

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Flores-Colen (2009) destaca que a inspeção visual é uma das atividades mais antigas do setor industrial, cabendo mencionar que talvez em referência às técnicas de inspeção e é o primeiro ensaio não destrutivo aplicado em qualquer tipo de peça ou componente. Segundo Bertrand e colaboradores (2003), essa técnica é o primeiro passo para a avaliação contínua em edifícios, pois permite que decisões sejam tomadas quanto à necessidade de procedimentos de intervenções em fase de uso. Este tipo de método de verificação caracteriza-se pelo empirismo, pelas experiências adquiridas sobre comportamento e pela coleta de informações em serviço.

Valença (2011) relata que as inspeções visuais na engenharia civil têm um papel cada vez mais significativo e por esse motivo os processos de levantamento de anomalias e do estado de conservação das edificações recorrem a representações detalhadas. Conforme o autor citado, o emprego de imagens no passado servia para auxiliar e documentar as inspeções visuais e que, atualmente, o objetivo dos registros fotográficos não se pode limitar à documentação e arquivo do estado dos edifícios, pois a elevada qualidade das câmaras fotográficas digitais disponíveis no mercado a baixo custo, associada à existência de poderosas ferramentas de cálculo, possibilitaram o desenvolvimento de novos métodos, assim como a aplicação de ferramentas de processamento de imagem existentes, ao serviço da Engenharia Civil e de outras áreas.

A Associação Brasileira de Normas Técnicas possui documento normativo direcionado à manutenção das edificações, intitulado ABNT NBR 5674: 2012. Este documento não discorre sobre a avaliação técnica qualitativa da manutenção e sua aplicação direta na gestão do patrimônio. O Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (IBAPE) criou a Norma de Inspeção Predial Nacional (2012), que classifica não conformidades constatadas na edificação quanto à origem e grau de risco, indicando orientações técnicas necessárias para a melhoria da manutenção dos elementos e sistemas construtivos.

Entretanto, estes aspectos não são relacionados diretamente aos eventuais danos que possam ser encontrados em edifícios, ficando, por exemplo, subjetivo ao profissional responsável pela inspeção avaliar o grau de risco ao qual se encontra a edificação. Outro aspecto importante é que a norma trata da inspeção da edificação como um todo, não apresentando como a inspeção deve ser realizada em função de seus subsistemas: fundação, estrutura, fachada e outros.

A norma americana ASTM E2270: 2005, Standard Practice for Periodic Inspection of Building Facades for Unsafe Conditions, descreve os requisitos e procedimentos para a realização de

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inspeção em fachadas. A norma citada descreve que as inspeções em fachadas podem ser de dois tipos:

• inspeções gerais ou correntes: observação visual dos elementos a partir de uma distância igual ou maior que 1,80 m, com ou sem meios auxiliares de ampliação ótica;

• inspeções detalhadas: observação visual a menos de 1,80 m da fachada com avaliação tátil dos elementos da fachada, incluindo a coleta de amostras ou ensaios não destrutivos.

Em pesquisa desenvolvida em Portugal, Flores-Colen (2009) afirma que a metodologia de avaliações in-situ de fachadas são baseadas, essencialmente, em inspeções exclusivamente por observação visual de anomalias de vários elementos da fachada e confirma que as inspeções visuais permitiram a aquisição do conhecimento sobre o comportamento em serviço por meio da identificação das anomalias e suas possíveis causas. Por outro lado, o tipo de avaliação in- situ tem algumas limitações, destacando-se:

a) a subjetividade da avaliação, que depende da experiência do inspetor;

b) as informações do edifício e intervenções anteriores, que podem ser escassas;

c) a ausência de meios de acesso permanentes no edifício, conduzindo a inspeções da fachada à longa distância ou a partir do pavimento térreo (FLORES-COLEN et al., 2008).

Este tipo de inspeção possui suas limitações porque, em alguns casos, as edificações podem possuir peculiaridades que dificultam o acesso ou alturas consideráveis, dificultando a visualização de todas as suas partes, como, por exemplo, os edifícios multipavimentos. Isso se deve, usualmente, porque as inspeções visuais são geralmente realizadas no nível do piso térreo. Conforme Flores-Colen (2009), as inspeções apresentam as seguintes vantagens:

a) o baixo custo quando comparadas à rapidez da execução;

b) a não utilização de equipamentos complexos ou onerosos, assim como de outros meios complementares de diagnóstico (ensaio in situ, ensaios em laboratórios, etc.);

c) o aspecto de permitir avaliar a necessidade de recorrer a testes complementares.

Barthel e colaboradores (2009) afirmam que é necessário que sejam investigadas as causas das manifestações patológicas para que se evite a repetição dos futuros erros, assim como, também, realizar as etapas de manutenção e recuperação de sistemas. Para Flores-Colen (2009), antes da

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realização da inspeção deve ser realizado um levantamento dos elementos que caracterizem o edifício, relatórios de anomalias e intervenções, uma vez que a análise prévia permite direcionar e preparar a inspeção a ser realizada. A subjetividade, mencionada anteriormente, aparecerá neste instante e será determinada pela capacidade do profissional em diagnosticar, que também estará voltada à sua formação técnica, experiência para distinguir e validar-se de informações realmente relevantes.

Flores-Colen (2009) ressalta que existe outro aspecto importante, que está relacionado à vantagem em se proceder, para cada tipo de situação, a implementação de procedimentos que normalizem a forma de inspecionar as construções e, por fim, reduzir a subjetividade associada ao fator humano, conduzindo a diagnósticos otimistas, que podem ser prejudiciais à segurança dos usuários ou pessimistas, que podem conduzir ao desperdício de recursos econômicos.

A inspeção visual é etapa preponderante para mapeamento de danos em fachadas, apoiando-se sobre instrumentos que possam auxiliar no trabalho de campo, como: representação em desenho das fachadas a serem vistoriadas; instrumentos de auxílio para visualização (binóculos, lupas, dentre outros); e equipamentos de registros (máquinas fotográficas). A quantificação dos danos deve ser realizada junto à caracterização e comentários pertinentes aos mesmos, e identificados nas representações das fachadas.

Em pesquisa realizada por Gaspar (2009), a fase de levantamento dos danos, dentre outras, envolveu a técnica de desenho à mão para representar as anomalias em fachadas. Por meio de esboços esquemáticos, vantagens adicionais do uso da técnica são apontadas pelo autor, como: maior capacidade do inspetor em memorizar o estudo de caso, facilidade em inserir comentários sobre o edifício e os danos no desenho esquemático e organização prévia antes do início dos registros fotográficos (Figura 8).

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Figura 8 - Exemplo de desenho esquemático com indicações escritas complementares

Fonte: Gaspar (2009).

A tentativa é bastante válida na intenção de acelerar a etapa de inspeção, porque em alguns casos não se possui, no instante da atividade, a representação em planta para fazer a reprodução dos danos de forma esquemática, apesar da possibilidade de realizar registros fotográficos. Para determinados danos, como as fissuras, especificar quanto à extensão da abertura por meio de comentários escritos o nível de degradação, assim como, para outras manifestações patológicas, o uso de desenhos à mão livre torna-se imprescindível para a inspeção. Em contrapartida, as etapas posteriores (construção de mapa de danos) necessitarão da presença ou auxílio dos responsáveis pela inspeção para interpretação dos apontamentos por causa da qualidade da representação e da falta de padrão gráfico, pois, como é visto na representação da Figura 9 e Figura 10, há uma variação na forma de representação vista na simbologia das fissuras.

Figura 9 - Registro fotográfico de anomalias em fachadas; Para determinadas ocorrências de fissuras (menores aberturas) e em distâncias específicas, a técnica mostrou-se pouco eficiente

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Figura 10 - Registro desenhado das anomalias em fachadas, correspondente à Figura 9; Registros de fissuras em função da localização, extensão, configuração, padrão e abertura

Fonte: Gaspar (2009).

Apesar de todas as tentativas e avanços voltados à inspeção de fachadas de edifícios, percebe- se alguns limites decorrentes de especificidades das edificações e técnicas de levantamentos dos danos. As técnicas mencionadas apresentariam, quando empregadas, algumas limitações para os edifícios multipavimentos, pois como as inspeções são realizadas, em muitos casos, no nível térreo, registrar as anomalias presentes nos últimos pavimentos é quase que uma tarefa impossível sem o uso de equipamentos ou instrumentos de auxílio. Outro aspecto é o fato de que a precisão alcançada por representações realizadas em desenho à mão livre não é grande, necessitando de registros fotográficos e, talvez, de procedimentos de representação gráfica por meio de programas CAD ou similares para os objetivos almejados.