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5.1. Caracterização do contexto de observação

A presente investigação iniciou-se em janeiro de 2016, tendo sido definido o tema, bem como o título do trabalho. Inicialmente, para além de se proceder a uma recolha e análise de documentos e obras bibliográficas sobre os temas tratados no Capítulo I, procedeu-se ainda a uma recolha e análise de dados relativos às ocorrências de furtos de cortiça, registadas pela GNR no período compreendido entre 2011 e 2016, pois segundo Ferreira (2008, p. 116), “em termos estatísticos, a identificação e caracterização de uma tendência criminal exige dados relativos a cinco ou mais observações (anos) ”57.

Assim, após a referida análise, delimitou-se o estudo às ZA dos DTer Santiago do Cacém58 e do DTer Montemor-o-Novo59, considerando ainda o facto de ambos os DTer terem implementadas medidas de prevenção e combate aos furtos de cortiça.

Em maio de 2016 iniciaram-se os contactos com os comandantes de ambos os DTer, bem como os Chefes das SOTRP dos CTer Évora e Setúbal. O objetivo inicial dos contactos passou por recolher alguma informação sobre as medidas tomadas até então.

No verão de 2016, com o alargamento das medidas de prevenção ao DTer Grândola60 (e consequente constituição do Programa “Cortiça Segura” do CTer Setúbal), houve a necessidade de alargar o estudo à referida ZA, pelo que o estudo se encontra delimitado pelas ZA dos três DTer da GNR anteriormente referidos61.

5.2. Procedimentos, métodos e técnicas de recolha de dados

Para Quivy & Campenhoudt (2008, p. 20) “não há métodos (de recolha de informações62) melhores do que outros: tudo depende dos objetivos, do modelo de análise e das características do campo de análise”.

57 Ferreira (2008, p. 113) refere que “Estes dados não são (…) representativos da designada criminalidade real mas sim da maior ou menor disponibilidade das vítimas para participarem às autoridades os crimes de que foram alvo”. 58 Vide Apêndice D - Figura n.º 4.

59 Vide Apêndice D - Figura n.º 5. 60 Vide Apêndice D – Figura n.º 6. 61 Vide Apêndice D – Figura n.º 7.

62 Segundo Sarmento (2013, p. 16) a informação “é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que apresentam uma alteração (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema que a recebe”.

CAPITULO 5 – MÉTODOS E MATERIAIS

Após terem sido recolhidos os dados secundários63 (dados relativos às ocorrências de

furtos de cortiça, registadas pela GNR no período compreendido entre 2011 e 2016), verificou-se que teriam de ser recolhidos dados primários64, “uma vez que os dados secundários não permitem a informação necessária à prossecução dos objetivos da investigação” (Sarmento, 2013, p. 16).

Assim, optou-se por recorrer a duas fontes primárias: inquéritos por questionário e entrevistas.

5.2.1. Entrevistas

As entrevistas “distinguem-se pela aplicação dos processos fundamentais de comunicação e interação humana”, sendo que permitem conseguir “informações e elementos de reflexão muito ricos e matizados” (Quivy & Campenhoudt, 2008, p. 22).

Deste modo, e com vista a obter tais “informações e elementos de reflexão”, no período compreendido entre 12 de janeiro e 27 de março de 2017, foram realizadas 17 entrevistas semiestruturadas65, 16 individuais e uma grupal, sendo que 14 entrevistas foram realizadas a entidades da GNR e três a entidades externas à instituição66.

Foram criados guiões de entrevista iniciais, tendo sido validados pelos orientadores do presente trabalho de investigação (Professora Ana Neves e Tenente-Coronel Rogério Copeto), bem como pelo Tenente Luís Maciel e o Tenente Tiago Fernandes (comandantes do DTer Santiago do Cacém e DTer Montemor-o-Novo, respetivamente); tendo os contributos dos mesmos permitido que “as perguntas estejam corretamente formuladas e em conformidade com os objetivos e hipóteses da investigação” (Sarmento, 2013, p. 35), constituindo-se assim a “entrevista pré-definitiva”.

Após o pré-teste realizado a algumas das entidades, elaborou-se então o guião de entrevista (GE) definitivo67. É ainda de referir que, antes da realização de cada uma das entrevistas, foi solicitada autorização ao respetivo comandante de Unidade (no caso das

63 Dados secundários são dados já existentes e que foram recolhidos e registados por outrem, “para o mesmo fim ou para outros fins, diferentes do propósito específico da presente necessidade de informação (Sarmento, 2013, p. 16). 64 Dados primários “são pesquisados pelo investigador, com vista a satisfazer uma necessidade de informação presente e específica” (Sarmento, 2013, p. 16).

65 O modelo de entrevista semiestruturada permite que “o entrevistado responde às perguntas do guião pela ordem que entender, podendo também falar sobre outros assuntos relacionados” (Sarmento, 2013, p. 34). Pelo facto de se tratarem de entrevistas semiestruturadas, e dada a delimitação de páginas que nos é exigida, a transcrição integral das entrevistas não se encontra no corpo de trabalho.

66 Vide Apêndice E.

67 O facto de o fenómeno abranger várias ZA, e as entidades pertencerem a diferentes instituições (ou terem funções diversas dentro da instituição), dificultou a tarefa de criar um guião de entrevista. Deste modo, foi criado um guião de entrevista geral, no qual as entidades respondem às questões que mais se enquadram nas funções por si desempenhadas- Vide Apêndice F.

CAPITULO 5 – MÉTODOS E MATERIAIS

entidades da GNR) e às direções das entidades das quais dependiam as restantes entidades. Para a solicitação de tal autorização, foi elaborada uma carta de apresentação68.

No início de cada uma das entrevistas foi solicitada autorização à respetiva entidade para proceder à gravação áudio69 das mesmas, tendo sido posteriormente transcritas e remetidas via correio eletrónico para a respetiva entidade, por forma a verificar e validar a mesma.

5.2.2. Inquéritos por questionário

Os inquéritos por questionário consistem em colocar “a um conjunto de inquiridos, geralmente representativo de uma população, uma série de perguntas relativas à sua situação social, profissional ou familiar” (Quivy & Campenhoudt, 2008, p. 20).

Assim, no período compreendido entre 6 de janeiro e 6 de abril de 2017 foram realizados 68 inquéritos por questionário, todos eles anónimos. Pela dificuldade em obter contributos de produtores de cortiça, foi pedido a diversas associações de produtores de cortiça70, que solicitassem a resposta ao questionário aos seus associados. Para facilitar tal procedimento, resolveu-se elaborar o questionário por forma a possibilitar duas formas distintas de resposta: resposta via Internet71, através da aplicação informática Google Docs, e resposta em papel.

Inicialmente foi elaborado um questionário preliminar, que foi validado (sendo posteriormente reformulado de acordo com as alterações sugeridas) pelas mesmas entidades que validaram as entrevistas, juntando-se ainda ao painel três produtores de cortiça72. Os

mesmos três produtores, por fazerem parte da amostra, fizeram parte do pré-teste realizado ao questionário pré-definitivo, o que possibilitou a elaboração do inquérito definitivo73.

68 Vide Apêndice G.

69 Através da Aplicação “Dictafone”, num Apple iPhone 6s.

70 Tais associações têm como associados produtores de cortiça dos Distritos de Setúbal, Évora, Beja, Santarém, Portalegre e Castelo Branco.

71 Sarmento (2013, p. 99) refere que “o recurso à Internet tem elevada taxa de respostas e tem baixo custo”. 72 Segundo Sarmento (2013, p. 94) “o número de validadores depende obviamente do conteúdo da investigação, mas geralmente são 6 a 12 pessoas”. Um dos objetivos foi obter a aprovação de um produtor de cada uma das regiões em estudo. Assim participaram a ANSUB (representando a região de Santiago do Cacém e Grândola), o Senhor Manuel Miguéns (representando a região de Montemor-o-Novo e Vendas Novas) e optou-se ainda por incluir a AFLOSOR (representando as regiões que também têm incidência da criminalidade, sem ter medidas efetivas de prevenção do fenómeno criminal aplicadas – neste caso, a região de Ponte de Sôr).

CAPITULO 5 – MÉTODOS E MATERIAIS

5.3. Caracterização da amostra

Dado a população em estudo ser muito volumosa, abarcando todos os produtores de cortiça, os militares da GNR das áreas afetadas pela problemática (bem como os militares dos CTer e do CO com responsabilidades no assunto) - aos quais se juntam as associações de produtores e demais empresas e instituições com implicações diretas no mercado da cortiça - resolveu-se “estudar uma amostra representativa da população” (Quivy & Campenhoudt, 2008, p. 19).

No que diz respeito às entrevistas, a escolha dos entrevistados deveu-se à necessidade de obter diversas perspetivas, desde o nível estratégico até ao nível tático da GNR, culminando com a perceção que os produtores de cortiça (através das associações de produtores), bem como as grandes empresas de transformação de cortiça, têm do problema.74

No que diz respeito aos inquéritos por questionário, optou-se por abarcar o maior número de produtores de cortiça possíveis, tendo por base três áreas territoriais distintas: produtores de cortiça da ZA do Dter Santiago do Cacém ou do DTer Grândola; produtores de cortiça da ZA do DTer Montemor-o-Novo; e produtores de cortiça de outras áreas com incidência da referida criminalidade (remanescente dos distritos de Setúbal e Évora, bem como dos distritos de Portalegre e Castelo Branco). Importa referir que os quatro distritos dos quais resulta a amostra dos inquéritos por questionário abarcam 67 % das ocorrências de furtos de cortiça registadas pela GNR no período 2011-201675.

Por impossibilidade de definir o tamanho da população, torna-se “impossível de se obter amostras probabilísticas” (Sarmento, 2013, p. 83), pelo que se recorreu a uma amostragem não-probabilística, mais especificamente à “amostragem por conveniência ou voluntária”76, sendo que se “as características da variável em investigação forem as mesmas na população e na amostra, então pode-se considerar que este tipo de amostragem é equivalente a uma amostragem probabilística” (Sarmento, 2013, p. 83).

5.4. Técnicas de tratamento e análise de dados

A análise das entrevistas seguiu a metodologia de Sarmento (2013). Dado todas as questões serem de resposta aberta, procedeu-se a uma análise de conteúdo, com o objetivo

74 Vide Apêndice E.

75 Gráfico n.º 1- Capítulo 1 e Figura n.º 2 - Apêndice B.

76 Segundo Sarmento (2013, p.84) a amostragem voluntária ou por conveniência “ocorre quando a amostra é constituída por indivíduos que voluntariamente se disponibilizaram para a integrar ou a amostra é recolhida na parte acessível da população”.

CAPITULO 5 – MÉTODOS E MATERIAIS

de organizar e estabelecer o sentido dos dados das entrevistas (Sarmento, 2013). Inicialmente constituíram-se as unidades de contexto (UC), através da diferenciação de segmentos, marcando-se a cores distintas as unidades de registo (UR) e procedendo-se à codificação das mesmas.

Posteriormente, elaborou-se uma matriz das unidades de contexto e de registo por cada questão, o que levou à elaboração da matriz de análise de conteúdo, que para além das UR engloba ainda as categorias (Cat.), as subcategorias (SubCat.) e as unidades de enumeração (UE); o que nos leva à conclusão da respetiva questão (Sarmento, 2013).

No que diz respeito aos inquéritos por questionário, os dados recolhidos foram analisados recorrendo ao programa informático International Business Machines Statistical

Product and Service Solutions (IBM SPSS) Statistics version 21. Através do recurso a este

programa foi possível verificar a fiabilidade do inquérito por questionário, mediante o cálculo do Alpha de Cronbach.

Para além do cálculo da fiabilidade, o recurso ao IBM SPSS possibilitou ainda uma análise estatística ao nível das frequências das respostas de cada questão. De tais frequências resultaram os gráficos (elaborados com recurso ao Microsoft Office Excel – versão 2013) e as tabelas elaboradas (com recurso ao Microsoft Word – versão 2013).

No que respeita às tabelas elaboradas, importa ainda referir a existência de dois tipos de tabelas: tabelas resultantes das frequências provenientes da análise através do IBM SPSS e as tabelas resultantes das tabelas anteriormente referidas, tendo como única destrinça o facto de as frequências se encontrarem repartidas por áreas nas quais se encontram as propriedades dos produtores inquiridos (propriedades das áreas abarcadas pelo Programa “Cortiça Segura”, abarcadas pelas medidas vigentes no DTer Montemor-o-Novo e outras áreas)77.

Por último, os dados secundários foram analisados, tendo as suas tabelas e gráficos sido obtidos com recurso às mesmas ferramentas utilizadas nos inquéritos por questionário.

77 As referidas tabelas foram elaboradas apenas para determinadas questões, questões essas nas quais se considerou relevante verificar as diferenças nas respostas obtidas, consoante as propriedades dos produtores inquiridos se localizassem nas áreas nas quais a GNR tem aplicadas medidas concretas de prevenção a esta criminalidade ou fora delas.

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