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CAPÍTULO II PADRÃO DE ATIVIDADES E DIETA DO MICO-LEÃO-DA-

2. MÉTODOS

2.1 Área de Estudo e Grupos

O trabalho foi realizado em um fragmento de floresta semidecidual da fazenda Barro Branco, Município de Itororó, Bahia. Uma descrição detalhada da área de estudo e informações sobre os grupos estudados (MAN e GRA), encontram-se no Capítulo I.

2.2 Disponibilidade de frutos

Foi realizada uma avaliação da disponibilidade de frutos de espécies arbóreas na mata através do método do ponto quadrante (COTTAN E CURTIS, 1956). Transectos com tamanho entre 150 a 210 metros foram abertos (Fig. 8). A cada 15 metros foram marcadas as quatro árvores mais próximas do ponto central, uma em cada quadrante (Fig. 9). Foram consideradas apenas as árvores com DAP (diâmetro na altura do peito) ≥ 7,5cm. As observações foram mensais, realizadas durante um período de 12 meses consecutivos (outubro/2006 – setembro/2007).

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Figura 8: Localização dos transectos utilizados para observações fenológicas.

Figura 9. Esquema mostrando a metodologia dos pontos quadrantes para marcação das árvores monitoradas para fenologia. Em cada ponto, eram marcadas as quatro árvores mais próximas ao ponto central, uma em cada quadrante. Foram marcadas árvores com DAP ≥ 7,5 cm.

Em cada árvore marcada foi observada, através de binóculos (8x42), a presença de frutos maduros e verdes, de botões e flores, de folhas novas e a cobertura foliar. Para

categorias (de 0 a 4), conforme Fournier (1974), onde: zero representa ausência; 1 indica presença com quantidade variando de 1 a 25%; 2, presença com quantidade de 26 a 50%; 3, presença com quantidade de 51 a 75%; e 4, presença com quantidade de 76 a 100%. O índice calculado representa a proporção do item observado em relação ao total, sendo calculado pela seguinte fórmula: I = Σ Fournier x 100/ 4 x N; onde, Σ Fournier é a somatória dos valores de cada item e N é o número de indivíduos observados.

Dois ambientes foram analisados:

(1) Margem de Riacho/Brejo. No caso dos riachos, que só ficam cheios na época de chuvas, os transectos acompanharam o seu leito, de fundo arenoso. Os brejos eram regiões que ficavam alagadas durante a época de chuvas, porém sem água corrente. Os pontos dos transectos foram marcados no centro do riacho, que pode atingir até cerca de três metros de largura e, em alguns locais, até um metro de profundidade, e no meio dos brejos;

(2) Floresta seca. Foram abertos três transectos na borda mata, que se iniciavam no contato da mata com o pasto e seguiam no sentido borda para o interior da floresta. Outros três transectos foram abertos no interior da floresta. Esses transectos estavam distantes pelo menos 100 metros da borda e dos transectos dos riachos. Essa disposição dos transectos foi escolhida para se ter uma representação de diferentes ambientes da floresta

Os ambientes também foram comparados em termos de altura das árvores e diâmetro na altura do peito (DAP), através do teste T de Student. No total foram monitoradas 440 árvores, sendo 148 em riachos e 292 em floresta seca. Todas as árvores monitoradas foram identificadas taxonomicamente por especialistas e o material foi depositado no Herbário da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC.

2.3 Composição e variação sazonal da dieta

Todos os itens alimentares consumidos pelos grupos foram anotados. Os animais consumidos foram identificados até o nível de Ordem. As espécies vegetais utilizadas na alimentação tiveram ramos (com ou sem flores) coletados e foram identificadas até o nível de espécie, sempre que possível. O material foi identificado taxonomicamente por especialistas e depositado no Herbário da UESC.

Todas as visitas em fruteiras do grupo GRA foram anotadas. Uma visita em fruteira ocorria quando pelo menos um indivíduo do grupo consumia frutos por pelo menos um minuto. Nestas ocasiões, a fruteira utilizada foi marcada e numerada. Foi

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anotado o tempo em que o grupo ficou se alimentando, marcado a partir da entrada do primeiro indivíduo na fruteira até a saída do último, e o número de micos que se alimentou de seus frutos.

No caso de alimentação de frutos de bromélias, o registro desse tempo nem sempre era possível, já que a visibilidade do grupo era muitas vezes prejudicada quando eles entravam dentro da bromélia. Em muitos casos o fruto da bromélia não estava visível, e só era possível saber que um mico alimentou-se de frutos quando estes caíam no chão, já comidos. Quando isso acontecia, era anotada a hora em que o primeiro indivíduo entrou na bromélia e a hora em que o último saiu, o que não necessariamente representava o tempo em que o grupo se alimentou daquela bromélia. Além disso, diversas atividades, além de comer frutos, são realizadas dentro da bromélia, principalmente forrageio por insetos, o que torna difícil o registro do tempo exato que o animal se dedicou a cada atividade, quando estava dentro da bromélia.

As espécies de frutos consumidas em cada mês foram listadas e localizadas em um mapa. Para verificar se houve diferença entre as estações seca e chuvosa, foram comparadas as seguintes medidas, através do teste T de Student: média de fruteiras visitadas por dia e tempo médio de permanência em fruteiras. Essas análises foram feitas para todas as fruteiras, somente para bromélias e somente para fruteiras diferentes de bromélias. No caso de bromélias, pelo motivo apresentado no parágrafo anterior, não foi considerado o tempo de permanência, apenas o número de bromélias visitadas para alimentação de frutos.

2.4 Padrão de Atividades

Para permitir uma comparação mais acurada com os estudos realizados na Reserva Biológica de Una, a metodologia usada para a coleta dos dados comportamentais foi a mesma descrita por Raboy e Dietz (2004). Os registros dos comportamentos de cada indivíduo do grupo foram coletados pelo método de varredura instantânea, ou scan sampling (ALTMANN, 1974), com duração de cinco minutos, a cada 20 minutos. Assim, foram coletados três registros de todo o grupo a cada hora.

Para o cálculo do padrão de atividades, foram utilizados apenas os dias completos de observação. Apenas os dados referentes ao grupo GRA foram analisados, já que o grupo MAN teve poucos dias completos de observação.

Os comportamentos dos indivíduos foram classificados nas seguintes categorias, adaptado do etograma descrito por Raboy e Dietz (2004):

1. Locomovendo - indivíduo se deslocando de um ponto a outro;

2. Parado/Repouso – indivíduo não realiza nenhuma atividade ou deitado em substrato, dormindo ou não;

3. Forrageando ou comendo partes de plantas – indivíduo procurando, manipulando ou ingerindo alimento vegetal;

4. Forrageando ou comendo presa animal – indivíduo comendo e procurando ativamente por presa animal, de forma manipulativa ou visual;

5. Atividade Social – indivíduo em atividade social, como catação, brincadeira, vocalização e marcação com glândula;

6. Outras – quaisquer atividades que não se enquadram nas categorias acima – bebendo água, esfregando corpo em seiva.

Forragear e comer partes vegetais foram agrupados devido à dificuldade de separar esses comportamentos durante a observação em campo. Como os eventos de comer inseto ou outros animais são relativamente rápidos e nem sempre visíveis, o método de varredura utilizado pode não ter sido eficaz para registrar este comportamento. Assim, a categoria “comendo presas” foi tratada juntamente com “forrageando por presas” na análise do tempo dedicado à alimentação.

Os itens ingeridos durante a alimentação (fruto, flor, néctar ou exsudato) e o micro-hábitat de forrageio (bromélias, folhas secas de bromélias, outras epífitas, folhas de palmeira, buraco em troncos, galhos ou outros) foram anotados. O monitoramento dos indivíduos que nasceram durante a pesquisa começou a ser anotado apenas quando estes estavam independentes, isto, é, quando deixavam de ser carregados pelos adultos, o que ocorre com cerca de três meses de idade (BAKER et al., 2002).

Para o padrão de atividades, foi calculada a proporção de cada atividade em relação ao número total de registros, tanto para o período total do estudo como para cada mês separadamente. O ciclo diário das atividades foi realizado do mesmo modo, levando-se em conta cada hora do dia.

Comer exsudatos foi agrupado na categoria “outros comportamentos” nas análises estatísticas, devido ao baixo número de registros.

Para verificar se houve diferenças na proporção dos comportamentos entre as estações, os dados foram agrupados em estação seca e chuvosa e foi realizado o teste do Qui-quadrado. A porcentagem dos registros de cada classe comportamental foi

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comparada entre as estações pelo teste de Mann-Whitney para verificar quais comportamentos apresentaram variação sazonal. Foi realizado o teste de correlação de Spearman entre a proporção de cada comportamento e a (1) pluviosidade; e (2) índice de Fournier para frutos maduros, frutos verdes e flores.

Todos os testes estatísticos foram feitos com o programa SPSS 10.1 e todos foram bilaterais, considerando o nível de significância < 0,05 (ZAR, 1996).

3. RESULTADOS

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