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Existe um intenso embate entre os estudiosos das ciências naturais e das sociais sobre a efetividade dos métodos de pesquisas por eles adotados, onde os pesquisadores das ciências naturais trabalham com objetos que estão ausentes a capacidade de interpretação, ao passo que os cientistas sociais lidam com o objeto interativo por natureza, inserido em um ambiente dinâmico, necessitando de um maior suporte teórico e metodológico, que se ajuste ao objeto em análise.

Nesta linha, a maioria dos trabalhos abordam como contrapostas a pesquisa qualitativa da quantitativa, porém estas não se excluem como bem ressaltam Neves (1996, p.2), baseado nos trabalhos de Pope e Mays (1995).

Embora difiram quanto à forma e à ênfase, os métodos qualitativos trazem como contribuição ao trabalho de pesquisa uma mistura de procedimentos de cunho racional e intuitivo capazes de contribuir para a melhor compreensão dos fenômenos. Pode-se distinguir o enfoque qualitativo do quantitativo, mas não seria correto afirmar que guardam relação de oposição.

Em linha com a própria definição de cientificidade, que na visão de Minayo (2002) é reconhecida como uma ideia reguladora de alta abstração, em contraponto a noção costumeiramente adotada de sinônimos de modelos e padrões a serem seguidos.

Dentro desta orientação a autora enfatiza que o trabalho científico é desenvolvido em duas direções, uma responsável pela elaboração de teorias, métodos e princípios e no outro direcionamento pode assumir um maior grau de liberdade para reordenar seu caminho. O que não se pode excluir, é que nestes trajetos a orientação fundamental que todo conhecimento é aproximado, resultado de construção. Assim a realidade social transcende a riqueza de qualquer teoria (MINAYO, 2002).

Nesta visão Granger (1994) ao abordar sobre o rigor científico, o relaciona diretamente com a cientificidade da pesquisa, ressalvando que a evolução do conhecimento mostrou que uma exagerada exigência no rigor científico pode restringir a construção do conhecimento. Para o rigor científico cumprir seu papel, deve-se atentar a necessidade de adaptação às condições do objeto de estudo, aliado a própria dificuldade de realização da pesquisa, reconhecendo que as dificuldades não estão nas teorias ou no método, mais sim na natureza do objeto. Para Granger (1994, p. 45) deve sobressair-se a condição que “existem alguns métodos científicos, mas um espírito e um só tipo de visão propriamente científica.

Nas ciências sociais para Pereira, Godoy e Terçariol (2009, p. 423-424), o método deve ser subordinado “à condição primordial de o objeto de estudo ser não apenas falante como pensante, modificando a si e ao meio”, por esta assertiva relaciona o objeto à interpretação das circunstâncias, assim a compreensão do conhecimento humano adquire uma visão integradora para ciências sociais.

Após estas considerações a pesquisa qualitativa é indicada para estudos que visam o aprofundamento nos fenômenos sociais, neste aspecto a natureza metodológica da pesquisa que se apresenta a seguir tem em parte um caráter qualitativo.

Nesse sentido, a escolha do método qualitativo se torna adequado no presente estudo, pois está alinhado com a proposição teórica do neo-institucionalismo, que considera a realidade das organizações moldadas a estruturação do seu ambiente institucional, constituindo assim um fenômeno organizacional complexo, por estudar a relevância dos fatores cognitivos que atuam na percepção dos atores organizacionais na construção de sua realidade.

Por sua vez o método quantitativo para Richardson (1989) é caracterizado tanto pela coleta de informações, quanto para o tratamento das variáveis em observação. Neste sentido, inclui-se desde as variáveis mais simples as mais complexas. No âmbito deste cenário, os estudos que utilizam o método quantitativo são estruturados a partir da formulação de hipóteses sobre as variáveis a serem observadas, gerando informações quantificáveis que permitam verificar ou não a ocorrência das situações hipóteses.

Pois bem, tendo como pano de fundo o contexto delineado anteriormente, esta pesquisa também é quantitativa, tendo em vista que será realizado um panorama geral das contratações do objeto de estudo de 2012 a 2016, levantando desde os prazos de execução ao quantitativo de processos que foram efetivados no período observado, além da necessidade de se tornar conhecido o volume de recursos canalizados por cada modalidade licitatória.

Para classificação deste estudo, toma-se por base a taxonomia apresentada por Vergara (2011), dividindo a metodologia quanto aos meios e aos fins.

Quanto aos fins é uma pesquisa descritiva aplicada. Neste sentido Vergara (2011, p. 42) entende que:

A pesquisa descritiva expõe características de determinada população ou de um determinado fenômeno. Pode também estabelecer relações entre as variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso de explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação.

É descritiva por buscar identificar as características ambientais da Universidade envolvida, estabelecendo relações com os processos em análise, também adquire característica aplicada dado à possibilidade de contribuição prática com o ambiente organizacional em estudo, visto proposição de um fluxo para otimização da atividade de compras da IFES em estudo.

Quanto aos meios, é um estudo de caso em uma organização governamental específica, em um contexto delimitado, com a utilização de diversos instrumentos de coleta de dados, dentre os quais: a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental e a realização de

entrevistas semiestruturadas, com a triangulação das informações para maior embasamento empírico.

A pesquisa é bibliográfica dada à relevância de se construir um referencial teórico que sustente o problema de pesquisa, aliado a própria necessidade de constituição do arcabouço legal que normatiza a atividade de compras.

O estudo também será documental, visto serão coletados dados secundários de documentos internos da Instituição, consulta aos documentos públicos da União como o Portal Comprasnet, consulta ao regimento e estatuto da IFES, oferecendo mecanismos que detalhem as especificidades dos processos analisados.

Tendo em vista que o pesquisador também é servidor da Instituição desde 2014 e está inserido no contexto em análise, atuando como agente de compras governamentais é utilizada a observação participante, juntamente a aplicação de entrevistas semiestruturadas que foram aplicadas nos meses de novembro e dezembro de 2017 aos sujeitos desta pesquisa, no intuito de compreender a dinamicidade do ambiente institucional.

O estudo de caso foi adotado para realização da pesquisa, tendo em vista a possibilidade de reunir diversas técnicas adicionais para análise do objeto em estudo, o que permite reunir um maior volume de dados com o foco na resolução do problema de pesquisa.

Baseado em diversas fontes de informações, o estudo de caso se sustenta nas proposições teóricas pré-estabelecidas para condução da coleta e análise dos dados, nesse sentido a teoria serve como modelo de análise que possibilita generalização empírica, por isso a estratégia de estudo de caso requer uma delimitação teórica prévia e uma apresentação rigorosa dos dados, sendo entendida não simplesmente como uma maneira de se coletar evidências, mas como a chance de aprofundamento e compreensão do objeto de estudo, marcando um estudo intensivo em um contexto específico (YIN, 2001).

Nesta linha do rigor na condução do estudo e na variabilidade de fontes Goode e Hatt (1973) caracterizam o estudo de caso como uma forma de organizar dados e informações, o mais detalhado possível, de modo a preservar o caráter unitário do objeto de estudo.

Neste método é fundamental a sustentação teórica, onde o papel da teoria não é deformado nem há negligência “a crítica epistemológica dos problemas e conceitos”, de forma a mitigar esses riscos é imperativo que o estudo não se limite a descrições e ilustrações, mesmo que sejam completas, mais sim que sejam orientadas por hipóteses, sustentado em conceitos e que a coleta de dados seja direcionada por esquema teórico (BRUYNE; HERMAN; SCHOUTHEETE, 1977, p. 227).

Triviños (1987) indica que o estudo de caso como possivelmente um dos mais relevantes tipos de pesquisa qualitativa, ao considerar a orientação e a reflexão sobre uma cena, evento e situação, gerando como resultante uma análise crítica, que leva o pesquisador a própria tomada de decisões ou a propositura de ações transformadoras.

Com base em Eisenhardt (1989) o foco do estudo de caso deve ser pautado na construção teórica sobre uma lógica indutiva de construção de teorias, com uma análise mais profunda que não se limite a meras ilustrações, esta perspectiva é reconhecida como a estratégia mais utilizada no campo da administração e gestão.

Portanto, assume-se como um dos pressupostos básicos dessa técnica é a possibilidade de triangulação de evidências de diversos métodos adicionais, sendo legitimada como método de análise dentro da pesquisa institucional, onde para Seifert e Machado-da Silva (2007) e Cochia e Machado-da-Silva (2004) a análise documental é um recurso adicional ao estudo de caso muito utilizado para investigação de elementos institucionais.

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