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Métodos e Técnicas de Pesquisa

2. PROCEDIMENTOS DA METODOLOGIA

2.3 Métodos e Técnicas de Pesquisa

A tarefa do conhecimento científico consiste na "ordenação racional da realidade empírica", ou seja: não se trata de reproduzir em idéias uma ordem objetiva já dada, mas de atribuir uma ordem a aspectos selecionados daquilo que se apresenta à experiência como uma multiplicidade infinita de fenômenos. Gabriel Cohn

O procedimento metodológico que apresento a seguir foi elaborado para atender as especificidades do problema proposto inicialmente.

Realizar uma pesquisa qualitativa numa área de conhecimento do qual os trabalhos científicos produzidos são raros requer do pesquisador uma série de cuidados e um esforço muito grande para evitar que a pesquisa não seja reduzida ao empirismo. Torna-se necessário reunir todos os esforços para que ela não se resuma a apenas um relato de experiência sem que lhe seja dado o formato técnico-científico e metodológico. Com a tomada desses procedimentos poderemos então construir uma base teórica para que o problema estudado construa um novo saber. Estudar a problemática de um grupo singular de idosos a partir da experiência profissional requer a atenção e o cuidado do pesquisador para que ele não perca a objetividade e ao mesmo tempo formule indagações que devam ser respondidas à luz da fundamentação teórica.

Esclareço inicialmente que o conceito de metodologia adotado nesta pesquisa é este:

"Ao contrário da maneira de ver normativa, porém, a metodologia seria a reflexão sobre o caminho ou caminhos seguidos pelo cientista em seu trabalho, nas diversas fases da proposição da pesquisa e de sua realização, em lugar de estar orientada por normas ou valores ideais, estaria orientada pela própria práxis, pela ação do cientista sobre a realidade". (Queiroz, 1991, p. 27)

Fundamentaram e influenciaram minha opção metodológica as seguintes autoras: Eunice R. Durham, Guita G. Debert, Alba Zahar e Maria Isaura P. de Queiroz. Juntas, as autoras me nortearam e dirigiram-me pelo caminho que percorri para

alcançar os fins estabelecidos no início desta pesquisa.

O recurso utilizado para recolher dos entrevistados os significados dados aos animais foi o uso de suas memórias e lembranças. O trabalho da memória é sempre interpretativo e as lembranças evocadas são reconstruções de fragmentos. A memória tece estes fragmentos e os traz ao presente. Lembramos também que a memória é seletiva e quando ela é organizada há uma interpretação da história de vida dada pelo próprio sujeito.

A pesquisa se desenvolveu no município de São Paulo, área da abrangência geográfica da administração pública municipal. Ela se deu junto a um grupo de sete pessoas maiores de 60 anos que foram denunciadas no Centro de Controle de Zoonoses, órgão público da Secretaria Municipal da Saúde. A denúncia foi recebida pelo setor de comunicação, através do telefone, e posteriormente encaminhada para o setor de Vistoria Zoosanitária da Divisão Técnica do Controle da Raiva, obedecendo o fluxo da instituição.

A escolha deste grupo foi feita respeitando-se o critério da idade conforme proposto acima e ainda o número superior de dez animais presentes no domicílio quando da entrevista. Escolhi um grupo de sete pessoas que estão sendo atendidas pelo Serviço Social e Psicologia da Divisão de Controle da Raiva. Lembro que essas pessoas foram encaminhadas para atendimento pelo Serviço Social e Psicologia devido a dificuldades encontradas pelo veterinário que atendeu inicialmente a reclamação para encaminhar a solução do problema apresentado. Quero ressaltar ainda que a denúncia foi considerada procedente pelo veterinário que realizou a visita.

Dos sete idosos participantes da pesquisa um é do sexo masculino e seis são do sexo feminino. Há uma predominância do sexo feminino porque a maioria dos atendimentos feitos pelo Serviço Social e Psicologia, nesta faixa etária, se refere a problemas ocasionados por mulheres.

na Zona Sul, um na Zona Central, um na Zona Leste e dois na Zona Norte. Todos os pesquisados foram denunciados há mais de um ano e estão sendo acompanhados pelos setores correspondentes da instituição.

A forma que escolhi para a coleta de dados foi a entrevista aberta, entendido aqui como uma "conversação continuada entre informante e pesquisador" (Queiroz, 1987, p. 275). A partir da entrevista colhi os depoimentos. No depoimento procurei centrar os relatos a períodos ou temas determinados e de interesse do tema pesquisado, obedecendo o que preceitua a autora citada anteriormente: "da vida do seu informante só lhe interessam os acontecimentos que venham se inserir diretamente no trabalho. (Queiroz, 1987, p. 276). Eu orientei as questões para que o entrevistado discorresse os aspectos que eu esperava.

Para atender melhor ao tema proposto, pesquisei idosos que convivem apenas com cães e outros que possuem somente gatos e, em alguns casos, pessoas que tenham as duas espécies juntas. Isso me ofereceu subsídios para entender a escolha do animal por parte do idoso e os significados que eles têm para essas pessoas. Na maioria das entrevistas os animais estavam presentes. A presença do animal nas entrevistas contribuiu para que eu pudesse observar as interações que se dão entre os entrevistados e os animais.

Para a coleta dos dados usei o gravador. Optei pelo uso do gravador pois ele foi, a meu critério, o instrumento mais eficiente para captar o conteúdo oral da entrevista, evitando os desvios e perdas de palavras e de sentido por parte do pesquisador. Ao mesmo tempo, ele deu condições aos entrevistados do total domínio de seus sentimentos. É bem verdade que devemos ter cuidado no uso dele, pois ao mesmo tempo que ele é indispensável na coleta de dados o seu uso indevido pode tornar um transtorno. Numa das entrevistas usei de forma ineficiente o gravador e acabei perdendo uma pequena parte da entrevista ao não acionar a tecla que inicia a gravação, perdendo algumas falas da entrevista, recuperadas em seguida após perceber o erro. As entrevistas tiveram em média uma hora e meia de duração e foram agendadas após contato e autorização com os entrevistados.

As transcrições das fitas foram feitas por mim mesma "a reprodução, num segundo exemplar, de um documento, em plena e total conformidade com sua primeira forma, em total identidade, sem nada que o modifique" (Queiroz, 1991, p. 88). Isso me permitiu manusear mais facilmente o material coletado e ainda recorrer às partes mais importantes das entrevistas, uma vez que tinha o domínio e conhecimento das falas dos entrevistados. Além disso, pude aprofundar o significado das emoções (choro, risos, irritações), e das mudanças na entonação de voz nas falas. Registro, inclusive, que este processo fez-me ter uma participação íntima com os entrevistados, conforme nos diz Queiroz:

"A associação simbólica e não objetiva que permitiu, pela instalação de laços de quase-identidade e de comunhão entre ambos, o desencadeamento frutífero do processo de rememorar"(Queiroz, p. 88, 1991).

Como técnica de entrevista utilizei inicialmente um contato informal com os entrevistados. Todos eles já me conheciam, uma vez que havia realizado visita em suas casas.

Os princípios filosóficos que orientaram as entrevistas e a relação que obtive com os entrevistados são os mesmos referidos por Denzin (pp. 29-43, 1984):

 processo de compreender uma vida é circular, conduzindo sempre de dentro da vida que está sendo estudada e compreendido apenas nos e dentro dos termos da própria pessoa que é estudada. Ela não pode ser compreendida olhando de fora para dentro.

 Cada vida é ao mesmo tempo singular e universal, particular e, no entanto generalizável. As vidas são a expressão da história pessoal e social: são teias relacionais. As diferenças que encontramos nas vidas que estudamos constituem a singularidade do nosso objeto de estudo.

um conjunto de significados.

 significado do estudo de uma vida está na descoberta da diferença que destaca o sujeito de outros, o que, no entanto, o vincula à linguagem comum que ele partilha com outras pessoas comuns.

 Analítica e sinteticamente, a interpretação deve aglutinar-se numa totalidade significativa que olha para fora a partir da vida interna do sujeito, enquanto situa essa vida dentro da época na qual ela transcorre.

 propósito da investigação da vida é revelar como as pessoas comuns dão sentido as suas vidas dentro dos limites e da liberdade que lhes são concedidos.

As entrevistas foram dinâmicas. Em três delas contei com a participação da minha colega de trabalho e psicóloga que me auxiliou na condução da entrevista. Em cada entrevista uma situação nova se apresentou. A primeira depoente não quis que a entrevista fosse realizada em sua casa. A entrevista foi então realizada no auditório do Centro de Controle de Zoonoses.

Numa outra entrevista, ao chegar na casa da entrevistada ela se mostrou insegura em dar as informações e desistiu na última hora. Posteriormente, voltei a sua casa e pude realizar a entrevista.

Outra entrevista foi feita num asilo onde as irmãs estavam realizando um trabalho artístico de pintura. Na casa delas não havia nenhum lugar em que pudéssemos sentar para coletar os dados.

Após a transcrição das fitas contendo o depoimento dos entrevistados fiz uma análise pormenorizada do conteúdo e estabeleci as relações, semelhanças e opostos que existem nos seus conteúdos e passei então a fazer a análise interpretativa do conteúdo agrupando-os por grupos simbólicos.