• Nenhum resultado encontrado

5 RESULTADOS DA PESQUISA

5.2 Estratégias nodais

5.2.1 Métricas nodais com nós do tipo 21 – relações interdisciplinares

Uma das primeiras recomendações de Nooy (2003, p. 319) na reconstrução de um campo através de redes é que “pesquisadores podem usar os dados de relações intersubjetivas para acesso ao montante e a distribuição de uma determinada espécie de capital”.

R2– Centralidades nodais X Conceito CAPES

Administração Engenharia de Produção Engenharia Mecânica

Gráfico 5. Comparativo longitudinal entre as estratégias relacionais dos PPGs da Administração (ADM), Engenharia de

Produção (EP) e Engenharia Mecânica (EM) – com 21

A primeira observação que fazemos é que apenas a área de conhecimento Administração (ADM) manteve um certo padrão relacional ao longo dos três triênios analisados aqui, com moderada correlação. Observamos que as métricas com forte correlação com os conceitos obtidos junto à CAPES, são Out- degree, Betweeness, Eigenvector e Auto Valor. Para a interpretação das métricas nodais, são três estruturas relacionais que devemos levar em consideração, (i) as relações com os nós do tipo 21 – 𝑃𝑃𝐺𝑠𝑜𝑢𝑡, (ii) as relações entre 𝑃𝑃𝐺𝑠𝑖𝑛, e (iii) as relações 𝑃𝑃𝐺𝑠𝑖𝑛 e CAPES. Assim, podemos interpretar

regulamentações do campo. Com efeito, uma regulamentação é a indução da mobilidade docente. Outro aspecto é o caráter hierárquico da CAPES. Com isso podemos interpretar o out-degree como uma estratégia de afiliação – para acesso a informações e recursos.

Quanto ao Betweeness, ou intermediação, podemos dizer que talvez se refira ao prestígio do PPG como intermediário para PPGs sem acesso à CAPES. Todo 𝑃𝑃𝐺𝑠𝑖𝑛com alto betweeness tem acessos e recursos desejáveis por outros atores que compõem o objeto - 𝑃𝑃𝐺𝑠𝑖𝑛. O Eigenvector, ou influência, é uma métrica de certa forma complementar a intermediação, pois se refere a atores do campo que estão diretamente ligados aos nós de maior centralidade, que são os comitês e conselhos do sistema de avaliação da CAPES. Assim, o acesso a recurso, a intermediação e a influência sobre a CAPES se apresentam como propriedades da ação estratégica eventualmente pautada numa agenda política dos PPGs da administração.

Já a área de conhecimento Engenharias III (ENGIII) não apresenta o mesmo padrão que a Administração – ver a comparação entre estratégias relacionais no Gráfico 5. Podemos afirmar que há uma preocupação maior da Engenharia Mecânica (EM) em apresentar-se como fonte de recursos. Observe que gradativamente o in-degree dos PPGs da EM vem incrementando e não reduzindo como o ocorrido com na ADM. Com respeito a ENGIII, e diferente da ADM, não podemos afirmar que acesso a recurso, a intermediação do campo e a influência sobre o agente regulador referem-se a propriedades de ação estratégica para a ENGIII. Certamente são propriedades de alguma ação não necessariamente pautada por uma agenda política sobre o sistema de avaliação.

Uma observação importante a ser feita é a natureza da área de conhecimento da Engenharia de Produção EP. Estes resultados mostram a EP como área de interface entre Engenharias e Administração, a EP como área de conhecimento aparentemente não tem estratégia de ação política. Os dados longitudinais deste estudo mostram que se trata de uma área de conhecimento que existe intersticialmente no cenário de ação estratégica da ENGIII.

Se pensarmos que EP e EM são duas áreas de conhecimento em uma única área de avaliação – ENGIII, então há a constituição de um padrão fundamentado em acesso a recurso, intermediação do campo e a influência sobre o agente burocrático. Porém, são áreas de conhecimento de naturezas distintas, se

buscam atuação conjunta é interessante interrogar, como conciliam suas agendas de trabalho junto ao agente burocrático?

Há também a natureza pública/estatal – Gráfico 7 (pág. 78) – das instituições onde os PPGs se encontram afiliadas, pois os PPGs da EM e EP são predominantemente organizações públicas . Eventualmente exista uma lógica de ação distinta entre organizações públicas e privadas. Pois está bem evidente a distinção entre uma área de avaliação onde predominem organizações privadas – ADM e organizações públicas – ENGIII.

Neste ponto talvez possamos afirmar que na área de conhecimento ADM há um campo de ação estratégica, porém na área de conhecimento de ENGIII não podemos afirmar o mesmo. A predominância de atores estatais na ENGIII, submetidos a uma normativa própria, confere uma natureza estruturante mais macrossocial que meso-social. Não podemos descartar a influência de uma visão de estratégia contingencialista. O cosmos na ENGIII é construído sobre modelos onde a racionalidade encontra vazão na eficiência de processos (ZILBOVICIUS 1999, p. 55-59). Já a racionalidade da ADM é atrelada à escola de negócios – estratégia é vista sob vários aspectos, e contextualização faz parte de seu escopo. Produzir modelos de competição onde a agenda política é um recurso está muito mais próximo da ADM, que da ENGIII. Assim, a resposta natural da ENGIII é buscar variáveis controláveis na produção, para então formular modelos.

“[A]cho que tem a ver com a métrica [de avaliação que privilegia a produção quantitativa]. A métrica favorece um certo tipo de produção científica, na minha visão. Se a gente analisar todo esse campo aí como um modo de produção, porque eu acho que ele é um lugar onde se produz alguma coisa, tangível, intangível às questões da economia de troca simbólica, mas ele é um campo de produção. E o que tá sendo a moeda que valoriza isso e desvaloriza aquilo, ela tendeu, eu não acho que é uma conspiração nem nada disso, mas ela acabou favorecendo alguns em detrimentos de outros. ” Entrevistado da área de engenharia de produção

Os critérios de indexação de periódicos e suas consequências na conceituação CAPES dos PPGs através de seu QUALIS é um debate recorrente na Engenharia de Produção. Há evidências nos periódicos onde

a engenharia de produção faz suas publicações. Na sua interseção com os periódicos da administração e o QUALIS da engenharia de produção, não apresenta a mesma qualificação dos mesmos periódicos no QUALIS da administração – com prejuízo para a Engenharia de Produção. Regras do campo que são ditadas pelos atores dominantes no campo.

Com isso, talvez possamos considerar que o jogo nas ENGIII seja independente de relações políticas com a CAPES no que toca ao sistema de avaliação, e mais dependente de relações políticas com outros sistemas, ou até mesmo em outros campos – como o da inovação. Se tomamos o PNPG 2011-2020, o papel da indução é traduzido em programas para redução das assimetrias regionais, indução de áreas de conhecimento e indução em áreas estratégicas. Vejamos um programa em particular, o Pró-engenharias. Não há um programa semelhante para a administração. Ao contrário, a Administração compete pelo PROEX com todas as demais áreas de conhecimento.

A métrica nodal do In-degree é um exemplo interessante neste sentido, pois na ADM esta propriedade relacional como estratégia de competição é nula, enquanto que na EM esta estratégia é progressiva. Buscar o controle das regras do jogo num campo é uma das principais características para a emergência de um campo de ação estratégica.

Podemos então afirmar que a segunda parte desta proposição tem fundamento, ou seja, o controle sobre as ações da CAPES está em adquirir domínio das regras.

Proposição 1. O sistema de avaliação da CAPES é um campo político, cujo poder regulatório sobre

atores do campo é o principal ativo estratégico. Atores do campo que obtiverem maior controle sobre as ações da CAPES terão maior domínio sobre as regras no campo.

Vimos também que uma reação estratégica foi a mobilidade interdisplinar, o que faz sentido. Pois, sem uma linha própria de recursos, a Administração deveria integrar-se com outras áreas de conhecimento. O mesmo se passa com as Engenharias III, porém as engenharias são objeto de desejo e talvez por isso tenham um in-degree crescente.