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1 INTRODUÇÃO

2.3 Sensemaking organizacional

Em qualquer contexto pode haver as mais variadas proposições subjetivas, dissonantes entre si ou não. O que irá determinar o acordo em torno de uma proposição subjetiva é a construção social em torno desta proposição. Para Weick (1995, p. 72s) há dois estados de um contexto organizacional, um estado quando as lógicas e regras do contexto respondem aos estímulos externos, e outro estado quando as lógicas e regras do contexto já não são mais suficientes para dar respostas às condições ambientais. Mas em todo tempo há uma tensão entre intersubjetividade e subjetividade genérica. O que determinará a predominância entre um e outro recurso de sentido para a ação é o estado do contexto.

Weick (1985, p. 51) chama de "cosmos" as representações de eventos por um conjunto de suposições que lhes dão significado.

Como Weick (1993, p. 633; tradução nossa) cita “emprestei o termo ‘cosmologia’ da filosofia e estiquei-o. Cosmologia refere-se a um ramo da filosofia frequentemente subsumido sob a metafísica que combina especulação racional e evidência científica para entender o universo como uma totalidade de fenômenos. A cosmologia é a última perspectiva macro, dirigida a questões de tempo, espaço, mudança e contingência, em relação à origem e estrutura do universo. “

Por outro lado, Weick (1985) chama de “caos” a falta de representações por perda súbita de significado. Quanto é necessário decifrar enigmas e então atores sentem que é necessário sair em busca por respostas, Weick (1985) denomina tal momento de “episódio cosmologia”.

“Um episódio de cosmologia ocorre quando as pessoas sentem repentinamente e profundamente que o universo não é mais um sistema racional e ordenado. O que faz esse episódio tão fragmentado é que tanto o sentido do que está ocorrendo, quanto os meios para reconstruir esse sentimento se esfacelam. ” (WEICK, 1993, p. p. 633, tradução nossa)

Em ambientes instáveis o processo de aprendizagem está ligado à díade ação e reação. Os atores aprendem sobre os eventos quando estimulam o ambiente e presenciam o que acontece. “Muitas vezes as pessoas dizem: ‘Como posso saber o que penso até ver o que eu digo? ’ As pessoas descobrem o que está acontecendo primeiro fazendo algo acontecer. Fazer algo é a chave.” (WEICK, 1985, p. 52, tradução nossa).

Para Weick (1995) a produção de sentido é individual e social. O princípio é de que tanto o arranjo social quanto o indivíduo são compostos da mesma substância. É uma forma de explicar o conceito da imersão, porém o indivíduo não é apenas um receptáculo, mas também interage com o ambiente e é transformado por ele e também o transforma. O mecanismo para o processo de organizar, proposto por Weick (1995), pode ser entendido como um movimento entre intersubjetividade e subjetividade genérica. É um processo onde atores interagem face-a-face ou interagem simbolicamente em torno de proposições subjetivas. Isto porque os atores aprendem sobre eventos através da comparação de suas experiências com as experiências de outros. O processo é intersubjetivo, pois estes atores negociam entre si alguma versão mutuamente aceitável do que realmente está acontecendo. Isto se passa porque a vida organizacional tem um caráter altamente simbólico e se faz necessária uma construção coletiva da realidade para estabilizar alguma versão do "o que realmente está acontecendo" (WEICK, 1985). Weick (1985) chama este processo social de afiliação. Atores em um contexto instável buscam afiliações com intuito de decifrar enigmas.

A triangulação é outro recurso para interpretação do contexto e suas novas especificidades. Atores aprendem sobre as respostas a um evento quando aplicam várias medidas diferentes, considerando que

cada uma das medidas tem um conjunto diferente de falhas. As respostas que sobreviverem em comum entre as várias medidas, é algo que é sensível, não fantasioso e tornam-se legitimadas pelo meio. O princípio é que a triangulação envolve medidas qualitativamente diferentes e comparações dentro de um conjunto de medidas (WEICK, 1985).

“Quando as percepções são confirmadas por uma série de medidas cujas imperfeições variam, as pessoas aumentam a confiança nessas percepções ou suas conclusões sobre elas. Por exemplo, relatórios de comitês, demonstrações financeiras e impressões de computador não são suficientes por si mesmos para fornecer dados inequívocos sobre a eficiência das operações. As conclusões desses dados precisam ser verificadas em relação a fontes qualitativamente diferentes, como visitas de campo formais e informais, entrevistas de saída, conversas de refeições na cafeteria da empresa, queixas telefônicas para um número 800, conversas com clientes e a velocidade com que os memorandos internos são respondidos. Esses vários ‘barômetros’, cada um dos quais apresenta seu próprio problema único de medição, começam a convergir para uma interpretação. “ (WEICK, 1985, p. 53, tradução nossa) Teste, triangulação e afiliação são recursos que atores adotam com o objetivo de compreender “o que realmente está acontecendo”. Porém, o que diferencia a composição de sentidos que se tornarão genéricas a uma organização ou contexto é a capacidade de convergir intersubjetividades em subjetividades genéricas por força de decreto (enactment). O processo ou o recurso que altera o estado de uma organização ou contexto é a capacidade de construção de uma realidade através de atos de decreto (WEICK, 1995, p. 30s). Tais atos podem estar associados a inovações, assim como ao controle do contexto. A medida que tais atos são debatidos e há convergência social, há uma tendência de que haja consenso sobre certas direções a serem tomadas.

O processo de produção de sentido não é um processo que tem início e fim. Trata-se de um processo em contínua ocorrência. O sentido de Weick (1995) para a identidade é que por se tratar de um processo fundamentado coletivamente, um ator que produz sentido estará sempre buscando representar a

identidade de um coletivo. Assim, ao congregar personalidades, uma maior diversidade de sentidos pode ser interpretada e imposta em qualquer situação (WEICK, 1995, p. 24).

Finalmente quando um ator é capaz de ligar pontos e decifrar enigmas para si e para a organização, a capacidade de controle do campo estará restaurada. O modelo acima nos indica que os detalhes geralmente vêm de uma perspectiva macro. Neste sentido estaremos associando a cosmologia aos fenômenos produzidos por uma estrutura que chamamos de campo de ação. Entender como os atores constroem e sustentam estruturas relacionais, enfim se constroem as estruturas que neste estudo foram postas em evidência. Entendemos que, somente pela ação de afiliação tal articulação já se justifica, uma vez que se trata de uma busca por respostas a partir de relações imediatas. Os testes e triangulações estarão presentes em narrativas como estratégias de deliberar o sentido a ser dado.

2.4 Objeto de estudo – Áreas de conhecimento da Administração, Engenharia de Produção e