• Nenhum resultado encontrado

4 MODERNA TEORIA DE FINANÇAS, DESEMPENHO FINANCEIRO,

4.4 MÉTRICAS DE VALOR DA EMPRESA

É pelas informações contábeis que uma empresa disponibiliza que ela pode ser avaliada (DAMODARAN, 2004). Para o cálculo do valor de uma empresa ou ativo, é necessário recorrer a recursos contábeis. Kayo et al. (2006) descrevem que, convencionalmente, o valor econômico que uma empresa tem no mercado é dado pela soma dos ativos intangíveis com os tangíveis (KAYO et al., 2006). Partindo desse entendimento, de que são os ativos que a empresa possui que as valorizam no mercado, pode-se inferir que a forma de gestão não interfere no valor de uma empresa.

Por outro lado, os mesmos autores argumentam que o tratamento e a utilização atual dos ativos intangíveis têm aumentado sua vantagem competitiva, de retorno e como consequência a valorização dessa mesma empresa no mercado (KAYO et al., 2006). Mas a forma de gestão talvez pudesse ser considerada como um ativo intangível se os resultados são satisfatórios, merecendo ser estudado.

4.4.1 Estudos relacionados à governança corporativa e valor da empresa

O trabalho de Silveira (2002), que procurou identificar em seu estudo se haveria no Brasil uma estrutura de governança corporativa considerada “melhor ou ideal” com base nos códigos de governança da CVM e do IBGC, nas companhias de capital aberto entre os anos 1998 e 2000, também levou em consideração se essas empresas conseguiram maior valor no mercado (SILVEIRA, 2002). O estudo avaliou três variáveis (atributos de governança) independentes: se o presidente do conselho de administração e da diretoria eram as mesmas pessoas; quantas pessoas integravam o conselho de administração e o grau de independência desse conselho (SILVEIRA, 2002).

Silveira (2002) usou a regressão múltipla para as análises estatísticas relacionando com a variável dependente “valor da empresa”. Como resultados: as empresas que têm pessoas diferentes no presidente do conselho e diretor da empresa têm maior valor no mercado; a independência do conselho de administração não teve relações com o valor das empresas analisadas (SILVEIRA, 2002). Como cálculo do valor de mercado da empresa, Silveira (2002) utilizou o Q de Tobin já por ter sido usado por outros autores e porque leva em consideração o valor da reposição dos ativos.

Yu, Li e Yang (2017) analisaram como a concorrência de mercado de produtos afetam a governança corporativa, impactando no valor de mercado de empresas na China. Estudaram empresas privadas, entre os anos de 2003 à 2013 e como variável de valor utilizaram o Q de Tobin. Identificaram que as boas práticas de governança na China aumentam o valor da empresa, mas só em setores competitivos (YU; LI; YANG, 2017). As causas desse aumento de valor das empresas (indústrias) competitivas na China se dá pelas práticas de menos gastos de capital e menos aquisições. Nas indústrias não competitivas, as práticas de governança e seus esforços só funcionarão se a competitividade dessas empresas for fortalecida (YU; LI; YANG, 2017).

Lameira, Ness Junior e Macedo-Soares (2007) analisaram os impactos da governança corporativa no valor das empresas de capital aberto no Brasil, em 64 empresas listadas no mês de abril de 2005 após filtrar empresas que a volatilidade e liquidez fossem diferentes de zero (0), sendo as mais interessantes para investir no momento da pesquisa. Como variável dependente de valor da empresa utilizaram o Q de Tobin (LAMEIRA; NESS JUNIOR; MACEDO-SOARES, 2007). Constaram que o

nível mais alto de governança impacta no valor de mercado da empresa (LAMEIRA; NESS JUNIOR; MACEDO-SOARES, 2007).

Nazir e Afza (2018) analisaram as influências do comportamento gerencial como atenuante das relações entre governança corporativa e valor da empresa no Paquistão. O estudo incluiu 208 empresas listadas na bolsa de valores do Paquistão, no período entre 2004 e 2016 (NAZIR; AFZA, 2018). Verificaram se o comportamento de promover ajustes de julgamento ou alterações nos lucros contábeis (Discretionary

Earnings Management – DEM – ou gerenciamento discricionário de ganhos em

português) proporcionados pelas empresas e seus gerentes, influencia na governança corporativa e no valor das empresas no mercado, essa atitude é condenável pelas boas práticas de governança porque manipulam valores contábeis (NAZIR; AFZA, 2018).

Como variáveis explicadas de valor foram utilizados o ROA e o Q de Tobin, e como variáveis explicativas foram utilizados os atributos da boa governança (NAZIR; AFZA, 2018). Foi constatado que a governança corporativa ajuda a aumentar o valor da empresa com o tempo, transmitindo confiança e credibilidade aos dados financeiros apresentados (NAZIR; AFZA, 2018). As práticas do DEM estão destruindo o valor da empresa no longo prazo (NAZIR; AFZA, 2018). A governança corporativa está combatendo as práticas de ajustes e alterações nos lucros contábeis, promovendo maior credibilidade e confiança nos resultados financeiros anunciados pelas empresas (NAZIR; AFZA, 2018).

Rossoni e Machado-da-Silva (2013) analisaram como a legitimidade sugere o valor de mercado de uma empresa. Utilizaram os segmentos de novo mercado, nível 2, nível 1 e tradicional da B3 como estudo das práticas de governança no Brasil. Foram investigadas 348 empresas no período de 2002 a 2007 (ROSSONI; MACHADO-DA- SILVA, 2013). Como variável de valor foi utilizado o Q de Tobin, utilizada também por Chung e Pruitt (1994), e como variáveis de governança utilizaram dos atributos de governança exigidos para o novo mercado (ROSSONI; MACHADO-DA-SILVA, 2013). Como resultados: a origem da cultura da empresa, bem como as normativas de legitimidade (como o cumprimento das leis, utilização de meios legítimos, padrões utilizados) afetam o valor das empresas nos níveis mais baixos de governança, mas não afetam as empresas listadas no novo mercado (ROSSONI; MACHADO-DA- SILVA, 2013). Como conclusão da pesquisa, Rossoni e Machado-da-Silva (2013)

afirmam que a legitimidade explica a variação de valor das empresas de capital aberto (ROSSONI; MACHADO-DA-SILVA, 2013).

Haryono e Paminto (2015) analisaram as relações entre o valor da empresa e governança corporativa de 14 empresas listadas na bolsa de valores da Indonésia, no período entre 2009 e 2014. Como valor da empresa utilizaram o Q de Tobin e o preço contábil da empresa, as variáveis de governança foram tomadas com base nas recomendações da OCDE para boas práticas de gestão (HARYONO; PAMINTO, 2015). A governança corporativa afetou de forma indireta e significativamente o valor da empresa pelo seu desempenho (HARYONO; PAMINTO, 2015).

Ammann, Oesch e Schmid (2011) analisaram as reações entre governança corporativa e valor, com base no desempenho financeiro de empresas em 22 países desenvolvidos (excluindo EUA), no período de 2003 a 2007, utilizando da regressão com dados em painel. Usaram o Q de Tobin como variável de desempenho e 64 atributos de governança, o tamanho da empresa (ln do total dos ativos), dentre outras (AMMANN; OESCH; SCHMID, 2011). Foi identificado que, quanto maior o número das práticas de governança corporativa são aplicadas na empesas maior é o valor da empresa no mercado (AMMANN; OESCH; SCHMID, 2011).

Ntim, Opong e Danbolt (2010) analisaram 169 empresas de sociedades anônimas pós-apartheid, no período de 2002 a 2007 na África do Sul. Identificaram que a maior aplicação de boas práticas de governança corporativa têm influências positivas no valor das empresas. A avaliação contou com o uso do Q de Tobin como medida de valor (NTIM; OPONG; DANBOLT, 2010).

Para os autores, os resultados podem ajudar na tomada de decisões dos investidores para compensar as empresas com maior aplicação de governança corporativa (com um pagamento maior no preço de suas ações no mercado), aumentando assim o valor da empresa (NTIM; OPONG; DANBOLT, 2010).

Asante-Darko et al. (2018) estudaram as relações entre governança corporativa, liquidez e o valor das empresa listadas na bolsa de valores da República do Gana. Utilizaram de análises estatísticas de regressão com dados em painel e o Q de Tobin como variável para análise do valor da empresa. Verificaram que as estruturas da governança corporativa possuem influência no valor da empresa, mas a alta liquidez é punida pelos acionistas pela discreta distribuição de dividendos (ASANTE-DARKO et al., 2018).

Klotzle e Costa (2006) investigaram as influências de atributos da governança corporativa no valor de 19 instituições bancárias listadas na B3 no Brasil, no período de 1998 até 2003. Os dados foram retirados do Sistema Economática Ltda. e do sistema DIVEXT da CVM. No cálculo do valor da empresa foi utilizado o Q de Tobin pela aproximação sugerida por Chung e Pruitt (1994) (KLOTZLE; COSTA, 2006). Notaram que são mínimas as influências das variáveis de governança corporativa no valor dos bancos estudados, podendo ser explicado pelo fato de que os bancos sofrem influências externas por fazer parte de setores regulados da economia (KLOTZLE; COSTA, 2006).

Com essa revisão verificou-se que são tímidas as aplicações de regras de governança em países como exemplo da África do Sul e também do Paquistão. O quadro 11 apresenta as variáveis de medição de valor utilizados pelos autores e no apêndice 02 um resumo com os tipos de estudo, amostra, resultados e demais informações sobre essas pesquisas.

Quadro 11: Variáveis de valor encontradas na literatura.

Autores Variáveis de valor da empresa Autores Variáveis de valor da empresa (YU; LI; YANG,

2017).

Q de Tobin (soma dos ativos totais menos o valor contábil do patrimônio líquido mais o valor de mercado do patrimônio líquido, dividido pelo total de ativos) (YU; LI; YANG, 2017).

(AMMANN; OESCH; SCHMID, 2011). Q de Tobin (AMMANN; OESCH; SCHMID, 2011). (LAMEIRA; NESS JUNIOR; MACEDO- SOARES, 2007).

Q de Tobin (LAMEIRA; NESS JUNIOR; MACEDO-SOARES, 2007). (NTIM; OPONG; DANBOLT, 2010). Q de Tobin (NTIM; OPONG; DANBOLT, 2010). (NAZIR; AFZA, 2018)

ROA, Q de Tobin, EVA (NAZIR; AFZA, 2018) (ASANTE- DARKO et al., 2018). Q de Tobin (ASANTE-DARKO et al., 2018). (ROSSONI; MACHADO-DA- SILVA, 2013).

Q de Tobin (ROSSONI; MACHADO- DA-SILVA, 2013). (KLOTZLE; COSTA, 2006). Q de Tobin (KLOTZLE; COSTA, 2006). (HARYONO; PAMINTO, 2015).

Q de Tobin e margem líquida

(HARYONO; PAMINTO, 2015). - -

Fonte: Elaboração própria adaptado de Yu, Li e Yang (2017); Lameira; Ness Junior e Macedo-Soares (2007); Nazir e Afza (2018); Haryono e Paminto (2015); Ammann, Oesch e Schmid (2011); Ntim,

Opong e Danbolt (2010); Asante-Darko et al. (2018) Klotzle e Costa (2006).

Nota-se que a maioria dos estudos utiliza o Q de Tobin como variável de verificação do valor da empresa. Com base nas informações, formula-se aqui a terceira hipótese deste estudo: - H3: governança corporativa é positivamente relacionada com o valor da empresa.