• Nenhum resultado encontrado

Mídia-Educação como uma nova maneira de aprender

CAPÍTULO 1 — USO CRÍTICO DA MÍDIA

1.2. Mídia-Educação como uma nova maneira de aprender

A mídia-educação pode ser definida como um método de ensino- aprendizagem que envolve especialmente os diferentes tipos de mídias, como:

videogame, rádio, internet, televisão, entre outros. No entanto, mídia-educação não

é um termo novo e nem recorrente em documentos oficiais como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) ou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei 9.396/1996. Mesmo assim, ao longo dos últimos anos, vem sendo cada vez mais destacada em estudos que unem tecnologia e educação, bem como em livros, artigos, blogs na internet, eventos acadêmicos, páginas de organizações não governamentais em todo o Brasil (SIQUEIRA, 2008, p. 4).

O termo mídia-educação pode ser definido como:

[...] o estudo, o ensino e a aprendizagem dos meios modernos de comunicação e expressão, considerados como parte de um campo específico e autônomo de conhecimentos, na teoria e na prática pedagógicas, o que é diferente de sua utilização como auxiliar para o ensino e a aprendizagem em outros campos do conhecimento, tais como a matemática, a ciência e a geografia. (UNESCO, 2013 apud BÉRVORT; BELLONI, 2009, p.1086).

Mídia-educação, portanto, é considera como um campo específico de aprendizagem, não como um auxiliar para que esta ocorra. Em termos gerais, a mídia-educação pode ser também definida como sendo “a formação para a leitura crítica das mídias em geral, independentemente do suporte técnico (impresso, rádio, cinema, televisão)” (BÉVORT; BELLONI, 2009, p. 1086).

A abordagem pedagógica mídia-educação possibilita ampliar conhecimentos, elevar a comunicação e modernizar a prática pedagógica. Trata-se de um elemento que faz parte da cultura contemporânea, estimula a criatividade e reflexão, tendo elementos fundamentais para ampliar o processo de produção, reprodução e

transmissão de diversos tipos de culturas, sendo subsídio para a formação e o exercício da cidadania (BELLONI; BÉVORT, 2009).

A mídia-educação, também tem sido entendida como todo método de ensino- aprendizagem que envolva as mídias e que tenha como resultado o letramento e a alfabetização midiática.1 Possuindo para isso, o objetivo de desenvolver a vivacidade

dos jovens ao lidar com textos midiáticos, permitindo que eles se tornem mais criativos e envolvidos, tendo como suporte diversas correntes pedagógicas, principalmente as transformadoras (BUCKINGHAM, 2003, p. 5, tradução do autor).

Por ser um tema novo, voltado para a interdisciplinaridade, possui ainda desafios para que possa, de fato, consolidar na educação práticas mais relevantes. Para tanto requer que a formação inicial e continuada de professores possa ser realizada de forma a promover maior qualidade de ensino. Pode-se dizer que há cinco obstáculos que impedem o desenvolvimento da mídia-educação, no que toca a formação docente (BELLONI; BÉVORT, 2009, p. 1.082):

[...] i) - ausência de preocupação com a formação das novas gerações para a apropriação crítica e criativa das novas tecnologias de informação e comunicação (TIC); ii) - indefinição de políticas públicas e insuficiência de recursos para ações e pesquisas; iii) - confusões conceituais, práticas inadequadas, “receitas prontas” para a sala de aula, em lugar da reflexão sobre o tema na formação de educadores; iv) - influência de abordagens baseadas nos efeitos negativos das mídias que tendem a baní-las da educação, em lugar da compreensão das implicações sociais, culturais e educacionais; v) - integração das TIC à escola de modo meramente instrumental, sem a reflexão sobre mensagens e contextos de produção (BELLONI; BÉVORT, 2009, p. 1082-183).

Cada um desses obstáculos deve ser analisado de forma centrada pelos educadores, pois acontece de maneira diferente nas várias regiões e países no mundo, tendo apenas algumas particularidades e similaridades. Essas dificuldades podem comprometer a formação do professor e, ainda, a utilização da mídia- educação.

De certa maneira, as propostas de mídia-educação, diversificam-se na forma como são empregadas. Esta abordagem pedagógica deve ser considerada como uma proposta importante para o processo de ensino-aprendizagem e a formação da

1 — Alfabetização midiática – Segundo Jane Tallin, trata-se da “capacidade de manipular e analisar

as mensagens que informam, entretêm e são vendidas para nós todos os dias. É a capacidade de fazer com que recursos de pensamento crítico sejam aplicados a todas as mídias: de vídeos musicais aos ambientes da web, da colocação de produtos em filmes às exposições virtuais (...). Trata-se de fazer as perguntas pertinentes sobre o que está sendo exibido e observar o que está faltando" (FANTIN, 2007, p.7-8).

opinião crítica dos cidadãos. O termo empoderar é um dos propósitos dela, o qual se refere a encorajar cidadãos a usar criticamente a mídia, discernindo como as mensagens são construídas. Desse modo o processo de autonomia é criado no cidadão crítico, e ele pode ter vontade própria, ou seja, escolher o que lhe agrada ou não, se aceita ou não, o que é repassado na mídia indiretamente que antes ele não percebia. Essa é a essência da leitura crítica (SIQUEIRA, 2008, p.5).

No entanto, Kellner e Share (2008) chamam a atenção para a implementação das propostas de mídia-educação nas escolas, uma vez que é necessário levar em consideração cinco características fundamentais para que isso ocorra:

1) o reconhecimento da construção da mídia e da comunicação como um processo social, em oposição a aceitar textos como transmissores isolados de informações, neutros ou transparentes; 2) algum tipo de análise textual que explore as linguagens, gêneros, códigos e convenções do texto; 3) uma exploração do papel das audiências na negociação de significados; 4) a problematização do processo da representação para revelar e colocar em discussão questões de ideologia, poder e prazer; 5) análise da produção, das instituições e da economia política que motivam e estruturam as indústrias de mídia como negócios corporativos em busca de lucro (Kellner & Share, 2008, p. 690-691).

É possível notar que o autor deixa evidente que esses cinco elementos básicos são fundamentais para que os projetos de mídia-educação aconteçam, uma vez queampliam as diferentes noções de alfabetização midiática e fundamentam o potencial de alfabetização. Isso cria oportunidades para que aconteça a análise crítica das diferentes linguagens midiáticas.

Com essa análise, torna-se clara a importância para que este tipo de projeto aconteça, já que o aluno é favorecido e estimulado a criar seus diferentes tipos de mensagens, sejam elas midiáticas ou não. (KELLNER & SHARE, 2008, p. 691)

Por fim, pode-se ressaltar que a mídia-educação deve ser tratada como uma porta para novos conhecimentos, para isso, deve ser integrada ao currículo escolar nacional, em especial, ao ensino médio. Este, além de ser parte fundamental desta pesquisa, pode ter na mídia-educação um auxílio para formar competências referentes aos valores pessoais, comunicativos e investigativos que o aluno necessitará para sua vida (SIQUEIRA, 2008, p.6).

Mediante a concretização da utilização da mídia-educação, torna-se importante abrir um parêntese para apresentá-la historicamente, tendo como base Inglaterra, Estados Unidos e Brasil. Neste aspecto, podem ser analisados exemplos

que identificam as possibilidades de melhor entender essa abordagem pedagógica que une tecnologia e educação.

1.3. Panorama histórico da Mídia-educação — Inglaterra, Estados Unidos e