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O Programa Novos Talentos e a mídia-educação para a sustentabilidade

CAPÍTULO 4 — UNINDO EDUCAÇÃO PARA A MÍDIA E EDUCAÇÃO PARA A

4.1. O Programa Novos Talentos e a mídia-educação para a sustentabilidade

A proposta desta pesquisa de mestrado, como já foi informado na introdução, é testar em sala de aula o material do projeto Mídia-educação para a sustentabilidade, desenvolvido por professores do grupo de pesquisa Educação, Mídia e Novas Cidadanias da UFTM, no escopo Programa Novos Talentos da Capes. Diante dessa realidade, pretende-se aprimorar a proposta original, criando atividades e matérias adicionais, tutorias e uma sala de aula virtual que possa integrar estudantes que tenham em comum o interesse por questões ambientais. O compromisso vai além, busca também avaliar o impacto da iniciativa em uma escola pública de ensino fundamental de Uberaba.

A educação para a mídia tem sido objeto de projetos realizados na UFTM desde 2010, quando começaram as atividades do projeto Mapeamento de serviços públicos locais para celular e internet: unido a inclusão digital, aprendizagem da

língua e exercício da cidadania em atividades extracurriculares, financiado pelo primeiro edital do Programa Novos Talentos.

Este primeiro projeto era composto de três atividades (SIQUEIRA, 2012):

Atividade 1 — Uso de ferramentas web 2.0

O objetivo era explorar diversas ferramentas web 2.0 úteis à produção de conteúdo, produzindo texto, áudio, vídeo e foto sobre temas sociais relevantes para os estudantes, tais como direitos do jovem trabalhador, programas de saúde sexual e reprodutiva, liberdade de expressão, prevenção da violência e participação política.

Atividade 2 — Leitura crítica da mídia

O objetivo era aprender técnicas de produção jornalística e avaliar o resultado da produção em termos de linguagem e representação.

Atividade 3 — Produção e compartilhamento de conteúdo sobre cidadania

Esta atividade ensinou a produzir conteúdo em texto, foto, áudio e vídeo sobre serviços públicos oferecidos na cidade para o público jovem nas áreas de educação, saúde e cidadania. Esses conteúdos foram depois publicados no site Redeci, especialmente desenvolvido para a atividade, disponível no endereço www.uftm.edu.br/redeci.

A proposta de 2010 tentou estabelecer um diálogo com as chamadas novas formas de leitura (STREET, 2008, p. 3-14), que devem ser compreendidas em contraste com as formas tradicionais, ainda muito presentes nas escolas.

Enquanto a abordagem tradicional se orienta por usos padronizados da língua falada e escrita, a nova se ocupa em compreender e promover usos socialmente contextualizados de diversos recursos de linguagem. Na prática da sala de aula, é possível falar em um letramento escolar predominantemente verbal, centrado no texto impresso, que está cada vez mais distante das práticas de leitura comuns às comunidades digitais criadas e mantidas pelos jovens, que mesclam as linguagens do texto, da fotografia, do áudio, do vídeo e do hipertexto.

Os resultados do projeto sugerem que se trata de uma abordagem que funciona com os jovens, visto que eles se engajam na realização das tarefas,

desenvolvem habilidades de leitura e escrita usando as múltiplas linguagens e ganham confiança para discutir assuntos de interesse público, tais como prevenção da violência doméstica e direitos sexuais.

Neste aspecto, foi possível verificar

[...] que a mídia-educação tem potencial para promover inovações nas metodologias de ensino e aprendizagem, em especial no que se refere ao desenvolvimento de habilidades críticas de seleção e análise de informações, manipulação de ferramentas digitais, articulação do pensamento e exercício da liberdade de expressão (SIQUEIRA, 2012, p. 3).

Em 2013, a Capes lançou novamente o edital Novos Talentos, e a mesma equipe propôs uma continuação das ações de mídia-educação. O novo projeto se chamava Mídia-educação para a sustentabilidade — usando ferramentas web 2.0 para produzir conteúdo engajado no biobairro.

Os pontos em comum das propostas dos editais de 2010 e 2013 são continuar usando os fundamentos da mídia-educação, dos chamados New literacy

Studies, do material multimodal já produzido e testado nas oficinas e das

ferramentas web 2.0 para edição e remix de conteúdo.

A novidade da proposta foi a temática geral das oficinas

[...] enquanto na primeira versão o foco do estudo e da produção foram serviços públicos disponíveis aos jovens dentro de uma visão de Estado fundamentada na democracia representativa (isto é, posto que votaram em seus representantes, os estudantes iriam verificar de que modo os serviços públicos geridos por esses governantes atendiam às suas necessidades), na segunda versão o foco será o estudo dos espaços públicos do bairro onde se encontram as escolas participantes (...) (FERNANDES et al., 2012, p.5).

O objetivo geral do projeto era desenvolver com estudantes e professores do ensino médio uma ação educativa de médio prazo que os habilitasse a prospectar problemas de caráter ambiental que afetam suas vidas no bairro onde moram e estudam, levando-os a investigar soluções para esses problemas e compartilhar suas ideias na rede. Para isso, foram desenhadas três oficinas com o seguinte conteúdo (FERNADES et al., 2012, p. 7-8):

Atividade 1 — Uso de ferramentas web 2.0

O objetivo é aprender a usar ferramentas de produção, remix e compartilhamento de conteúdo digital multimídia sobre a temática ambiental. O proposito foi adquirir conhecimento sobre questões relevantes e atuais no campo da sustentabilidade aplicadas ao contexto local.

Atividade 2 — Leitura crítica da mídia

Nessa atividade, os estudantes fazem exercícios diversos de acesso, análise crítica e reutilização de informações disponíveis na mídia sobre o tema da sustentabilidade em ambientes urbanos. O objetivo é a familiarização com a linguagem dos meios de comunicação, em especial no uso de imagens.

Atividade 3 — Produção e compartilhamento de conteúdo digital multimídia sobre sustentabilidade

Nessa atividade, usando tablets, os alunos fazem o registro em foto, áudio e vídeo para depois construírem narrativas que deem significado aos problemas ambientais que queiram explorar.

4.2. Material didático mídia-educação para sustentabilidade

Para dar suporte às atividades, foi desenvolvido um material didático multimodal com propostas que têm como objetivo engajar e estimular alunos e professores para propor soluções para problemas presentes no seu cotidiano escolar ou em suas comunidades. Problemas que possam ser solucionados, ou, pelo menos, amenizados.

O material tem quatro unidades que, em conjunto, ensinam os alunos a identificar problemas, imaginar soluções e transformar esses problemas e possíveis soluções em histórias que possam ser compartilhadas na rede usando diversas linguagens. Ao fazer isso, acredita-se que eles desenvolvem habilidades críticas de uso das linguagens midiáticas, desenvolvem habilidades de pensamento autônomo, aprendem a solucionar problemas e se engajam em questões do seu cotidiano (SIQUEIRA; BERARDI; MARTINS, 2014).