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Mínimo existencial de normas e competências que devem compor a

7 CONSTITUIÇÃO ELEITORAL SINDICAL: CRIAÇÃO PELA VIA

7.5 Mínimo existencial de normas e competências que devem compor a

Conforme demarcado no capítulo que analisa os delineamentos normativos da República Federativa do Brasil em ponderação com as decisões publicadas na Recopilação das decisões do Comitê de Liberdade Sindical, da OIT, neste tópico, torna-se relevante demarcar sugestões que podem ser aprofundadas por ocasião da elaboração da Constituição Eleitoral Sindical Autônoma, ao lume do Princípio da Liberdade Sindical. Algo que se faz de modo não exaustivo, mas exemplificativo, com fins de colaborar na realização dos trabalhos da assembleia para a criação da norma supraestatutária sobre eleições sindicais proposta nesta obra. Também, para não usurpar as competências estatutárias, ínsitas à plena Liberdade Sindical.

Deste modo, sugere-se a inserção de norma que tenha simetria obrigatória nos estatutos que trate sobre a posse da diretoria eleita em dias anteriores ao término do mandato

308 MARQUES DE LIMA, Francisco Gérson. Liberdade Sindical e autorregulação: pelo assentamento de

princípios e valores sindicais nacionais. 2015. Disponível em:

da anterior, primando-se pelo início do mandato imediatamente após o término do mandato anterior, não se justificando que uma diretoria com mandato expirado permaneça por até trinta dias após o fim de sua gestão.

Torna-se oportuna a inserção de norma vedando que entidades ponham obstáculos à filiação como forma de fragilizar a participação nas eleições sindicais. Com identificação dos autores e, conforme o caso, afastamento da possibilidade de candidatura própria ou de eventuais beneficiados em caso de conluio.

É salutar que conste dispositivo tratando sobre eventuais conflitos e tensões que possam inviabilizar a realização de processo eleitoral legítimo, pautado nas teorias que regem as soluções extrajudiciais de conflitos (conciliação, mediação e arbitragem de matérias coletivas trabalhistas), que dispõem sobre a escolha de pessoa imparcial de confiança das partes. O que pode envolver, inclusive, modos de convocações para novas coletas de votos em razão de não obtenção de quantitativos estatutários exigidos. Assim, envolvendo o modo e o período de extensão para a obtenção do quórum necessário para a obtenção da legitimidade dos eleitos, bem como sobre a solução de casos de empate e processos alternativos em caso de não atingimento do quórum após as primeiras tentativas.

Relevante dispositivo com a determinação da duração máxima dos mandatos sindicais, mitigando eventuais permanências indesejadas e antidemocráticas de grupos no comando das entidades.

Ainda, inserção de dispositivo com a imposição de voto direto, secreto e universal, deixando aos estatutos a decisão sobre votação somente para filiados ou para toda a categoria, desde que previsto, no mínimo, um ano antes da realização da eleição, em conformidade com o Princípio da Liberdade Sindical.

Norma geral que resguarde a votação secreta e direta é salutar e atende ao Princípio Democrático. Apesar de aceito pela OIT, entende-se que deve ser evitada a contabilização de votos por correspondência.

A inserção de norma geral que preveja punição com inelegibilidade por atos de corrupção sindical, tanto no tocante ao patrimônio físico da entidade, quanto aos interesses da categoria, desde que devidamente demarcados em instrumento inscrito e comprovadamente contrariados pelos dirigentes, garantida ampla defesa.

Não se entende invasivo da competência dos estatutos a previsão em norma supraestatutária de que as emendas em normas sobre eleições sindicais devem ser alvo de efetivo e amplo debate envolvendo os membros da categoria.

Para os estatutos, dentre outras competências suplementares, relevante deixar às entidades sindicais, conforme a realidade da categoria, definirem o prazo mínimo, em documento elaborado com a participação dos possíveis concorrentes. No mesmo passo, cabe aos estatutos a determinação do número de dirigentes da entidade sindical, devendo as normas estatais de proteção aos representantes, atenderem à estabilidade conforme o estatuto e este atender à proporcionalidade e necessidade de negociação da base representada.

A iniciativa direta da base representada é algo importante na proposição de alterações tanto na norma supraestatutária proposta quanto nos estatutos, com procedimento a ser delimitado em cada uma das normas em capítulo sobre alteração normativa, adotando modelos paradigmáticos como os seguidos para Plebiscito, Referendo e Iniciativa laboral.

7.6 Conclusões parciais

A proposta de autorregulação pluralista das eleições democráticas em âmbito sindical, conforme demonstrado, pode partir da elaboração de uma Constituição Eleitoral Sindical, com criação pela via autônoma e de modo pluralista.

Para tanto, foram apresentados modos de realização para efetivação da participação pluralista na elaboração e alteração da norma supraestatutária proposta, com nuances sobre a quantidade de representantes na assembleia para a normatização da Constituição Eleitoral Sindical, o modo de realização da assembleia para elaboração da Constituição sobre eleições sindicais.

O que se seguiu a análises sobre a eficácia da Constituição Sindical Eleitoral após elaborada e o mínimo existencial de normas e competências que devem compor a Constituição Eleitoral Sindical (competência suplementar e de interesse particular com os estatutos), objetivando oxigenar o movimento organizado dos trabalhadores para que se garanta um sindicalismo cada vez mais atuante e participativo, vergastando eventuais perpetuações de poder e vedações à Democracia.

Conclui-se que a proposta de elaboração normativa de um Ordenamento Jurídico Sindical, em um microssistema sindical que conviva com o sistema normativo estatal, partindo da elaboração de uma Constituição Eleitoral Sindical, a ser construída, consensualmente, pelas Centrais Sindicais, Confederações não representadas por centrais e Federações não representadas por Central ou Confederação, atende formalmente aos anseios constitucionais, pretendendo seguir uma simetria interpretativa quanto às questões sindicais referentes às eleições.

Por fim, intentou-se, com muito empenho e compromisso, demonstrar todo o ânimo da academia, da doutrina e da jurisprudência com relação a Democracia, com ênfase nas eleições sindicais. Ousou-se trabalhar tema tão longo, mesmo com as limitações inerentes ao ser humano e aos fins do presente trabalho, seguindo-se as lições do Prof. Ruy Velayne Oliveira Moreira309, em saudosa memória, do Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, ao destacar, da obra de Ray Monk310, sobre a obsessão de Wittgenstein pela perfeição e consequente recusa em publicar algo imperfeito, momento em que seu mestre Russel asseverou ao discípulo que é inerente ao conhecimento que se aprenda a escrever coisas imperfeitas.

309 BARRETO, José Anchieta Esmeraldo; MOREIRA, Rui Verlaine Oliveira (Orgs.). Coisas imperfeitas:

escritos de Filosofia da Ciência. Fortaleza: Casa de José de Alencar/Programa Editorial, 1996. p. 33.