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5 LINGUAGEM SIMBÓLICA: EXPRESSÃO DA CONDIÇÃO

5.2 A MÍSTICA DO MST

O que nos diferencia dos outros seres vivos é justamente a nossa capacidade de ter sentimentos e pensar sobre tudo e o mundo. O humano de nossa existência é apreendido por meio da cultura que estamos inseridos/as, aprendemos a sobreviver e a buscar cuidar das pessoas próximas, os laços afetivos criados e também como uma forma de sobrevivência (mesmo que estejamos inseridos em um modo de vida criado pela modernidade, por meio do capitalismo, que privilegia e incentiva o individualismo, competitividade e desigualdades), notamos que precisamos muito uns dos outros, para poder permanecer vivos e conviver em sociedade.

A coletividade permite a troca de experiências e saberes que produz aprendizagens e esses novos conhecimentos construídos são importantes para o avançar dos sujeitos na história da humanidade, e para sua sobrevivência. Segundo Bogo (2002): “Não somos somente força física e razão. Temos sentimentos que se confundem e se misturam como: paixão, alegria, tristeza, ódios, raiva, etc., que são próprios de cada indivíduo”. (p.28). E esses sentimentos desenvolvidos pelo humano foram e são fundantes para nossa existência.

Esses sentimentos de paixão, alegria, tristeza, ódio, bem como acreditar em algo que não se sabe ao certo se vai acontecer, da forma pensada, ou não, são mistérios, que nem sempre conseguimos explicar claramente, muitas vezes apenas se sente e pouco consegue dizer o porque desses sentimentos. Não é fácil explicar de forma muito precisa, quando e qual foi o momento exato que começamos a gostar de alguém.

Somos movidos por desejos e estes cheios de sentimentos, como explicar a esperança de ter aprovação em uma determinada seleção, seja de trabalho ou de estudo, entre outros. E mesmo com poucas oportunidades, e sabendo que existe uma disputa desigual para se conseguir a vaga em determinado emprego e/ou vaga de estudo, ainda assim, acreditamos que conseguiremos a vaga tão desejada. E ainda bem que conseguimos acreditar e termos um pouco de força e coragem que não se sabe ao certo de onde vem, capaz de nos fazer imaginar no alcance de algum objetivo, para isso, alguns estudiosos dão o nome de mística. “A mística é essa força companheira que nos acompanha. Ela é alimento da imaginação, sem imaginação não há futuro. Sem mística,

as pessoas secam por dentro, como árvores ocas. Perdem a consistência”. (BOGO, 2010. p. 225). Ela nos motiva, por meio da imaginação conseguimos refletir e observar algo que no dia anterior não foi possível notar.

Em muitos momentos percebemos a mística dentro de nós, pois ela é assim mesmo, ousada, que fortalece nossa autoestima, incentiva novos passos, aquece nossos corações e alimenta nossa alma e ideias, nos permitindo caminhar, e mesmo quando o caminhar possa parecer complicado, sofrido e difícil, e por vezes pensarmos em desanimar, ela acende de alguma forma nossas forças. Segundo o MST:

Poderíamos utilizar outras palavras para definir a animação, a persistência, o gosto pela luta e a permanência nela, apesar das dificuldades. Mas nenhuma delas teria a amplitude e o alcance que têm a definição da palavra mística. A mística para os Sem Terra é mais do que uma palavra ou um conceito. É uma condição de vida que se estrutura através das relações entre as pessoas e as coisas no mundo material. Entre ideias e utopia no mundo ideal. Nesta combinação surge o que se caracteriza como “mistério” ou “inexplicável”; porém entendível e compreensível, que se apresenta como identidade desta organização de povo também em construção. Há coisas que se explicam na medida em que são colocadas na esfera racional e há outras que mesmo querendo, não se explicam. Por exemplo, a persistência na luta por longos e longos anos. Embora se tenha alcançado o que é preciso para viver, continua- se lutando sem nunca perder a motivação. [...] Essa força que nasce traz energia. Mantém o lutador do povo ativo e entusiasmado. É o que caracterizamos como “mistério”. Mas não como algo distante; ao contrário, está presente em cada lutador, que sente esta vontade indomável de continuar andando como que ainda não vê, mas sente que existe ali mais adiante. (MST. 2002, p. 227-228).

De fato, como mostra o próprio MST, a mística não representa apenas um momento isolado, ela é mais que uma palavra ou conceito, é um modo de vida, recheado de ideias e utopias, contemplação e reflexão. Segundo Faustino Teixeira:

[...]Os místicos são aqueles que conseguem captar a dimensão de profundidade presente na vida e reconhecer o outro lado das coisas. Em razão de sua experiência de proximidade ao mistério, conseguem com facilidade mover-se e comungar para além das fronteiras de sua inserção particular. [...] Na raiz grega do termo “mística” (mystikós) encontra-se o verbo myein, que significa “fechar os lábios e os olhos”. O místico é alguém familiarizado com a visão interior, que ultrapassa a consciência ordinária, ele vive a radicalidade da presença de algo absolutamente novo e gratuito; vive uma experiência que toca a dimensão profunda e escondida da realidade. “Mística é aquela pessoa que consegue ver na história e em todas as articulações da existência humana este fio condutor divino que tudo une, tudo ordena e tudo eleva”. (TEIXEIRA, 2004, p. 27-28).

Por meio de uma música, palavras de ordem, gestos, poemas, uma representação teatral sobre a realidade vivida e o futuro que se espera, entre tantas outras formas que a mística se manifesta, por meio desses elementos e ações, nos faz refletir sobre a realidade vivida, despertando um sentimento de pertença a determinado grupo, com

também resgata e aprimora a prática do militante. Segundo Bogo: “A mística é essa energia criativa que não cansa, é uma força estranha que faz a gente andar, tornar-se grande, desejar conquistar e cuidar das conquistas”. (BOGO, 2010, p. 224).

Ainda conforme afirma Bogo, existe três maneiras diferentes para olhar o tema da mística:

a) Pela teologia a mística é compreendida como espiritualidade, dentro e fora da prática militante; b) pelas ciências políticas, é compreendida como carisma; manifestação de habilidades, dedicação etc; c) pela filosofia, onde se relaciona a cultura nos seus três aspectos: do pensar, fazer e sentir. Liga-se com os valores (solidariedade, disciplina, companheirismo etc.) a estética, a arte, o cuidado, o trabalho produtivo e voluntário, a educação e formação humana e a luta de classes. (BOGO, 2010, p. 212).

A mística pode ser também entendida pela vertente da solidariedade e do pertencimento que os fazem partilhar a mesma luta, colocando-os num novo patamar de dignidade nunca experimentado pela grande maioria dos Sem Terra; a mística é este novo que ocupa a possibilidade um futuro viável. Para Bogo, a mística precisa alguns meios para se locomover, e três são principais, a imaginação, a esperança e a paixão:

Imaginar é uma tarefa política, sem ela a história não avança com todos os sujeitos e em todas as frentes. Nem sempre a lógica tem razão ela pode ser surpreendida, [...] existem momentos em que as forças da motivação mudam as previsões feitas pela lógica; por isso, as mudanças surpreendem os próprios sujeitos. Avançamos quando imaginamos. [...] imaginar é se deixar desafiar. Desacomodar. Arrancar da ordem a desordem necessária para formar uma ordem superior que ainda imperfeita. [...] Imaginar é uma atitude de vigilância; é uma postura, um estar, uma presença atenta. A mística é a força que faz despertar a atenção, faz gostar de cuidar, não deixa abandonar o posto. [...] procura ainda o que não foi encontrado, para formar por meio de imagens aquilo que ainda não tem forma. Imaginar é querer. [...] Imaginar é futuro. A Esperança [...] Enquanto o “futuro não vem”, espera-se fazendo a sua preparação no presente; [...] Sem sonho não há esperança. Esperança que move aquele astuto cavaleiro, viajando em busca de um sonho ainda por se formar, [...] Quando aprendemos a esperar, crescemos. Tornamo-nos adultos na política. [...] A esperança não é ilusão, iludir- se é enganar-se. A esperança é preparação, é ação que prepara o vir a ser, é participação, é investimento no projeto defendido. Quem tem esperança está radiante, confiante no que virá, ainda que aquilo que se espera nunca se realize na sua totalidade. [...] A Paixão [...] Não cabe à paixão mostrar as deficiências e as fraquezas, sua função é ser a força que empurra em direção ao objetivo. [...] as paixões oscilam entre os sentimentos e a consciência. Quando ela se manifesta pelo sentimento que busca o prazer individual [...] cumpre sempre o papel de estreitar os laços afetivos. Quando a paixão se manifesta pela consciência, fundamentada em ideias, em valores e em razões, ela se torna opção de vida. [...] Nesse caso, a paixão tem o papel de estreitar a afetividade política. [...] A mística é a respiração da paixão e do prazer. [...] a paixão consciente ganha forma e conteúdo da causa política. (BOGO, 2010, p. 226-233).

De fato, a mística tão concreta entre os Sem Terra e difícil de ser traduzida para o mundo moderno, despolitizado e empobrecido de utopias e mitos revolucionários, parece ser a força propulsora que anima e gera a energia suficiente para os milhões de excluídos do

campo se organizarem e acreditarem que a utopia de uma nova sociedade é possível. Neste sentido, Bogo (2002) diz que é no entusiasmo pela busca do novo que se move e desenvolve a mística. A mística é portanto algo que se move. Nos mais sensíveis, aparece como reflexo daquilo que faz e sente. A cada passo revela pedaços da verdade que se escondem por inteiro nas dobras do desconhecido (BOGO, 2002, p. 22-23).

Se a mística é este novo que se move e nele se amplia, ela traz consigo elementos agregadores que mobiliza e apaixona todos aqueles que estão na luta pela terra, construindo uma forte vinculação e um sentimento de pertença à luta e ao Movimento, sendo muito difícil de contrapor com argumentos puramente racionais. Para Leonardo Boff,

A mística não é pois privilégio de alguns bem-aventurados, mas é uma dimensão da vida humana, à qual todos têm acesso, quando descem a um nível mais profundo de si mesmo, quando captam o outro lado das coisas e quando se sensibilizam diante da riqueza do outro e da generosidade, complexidade e harmonia do universo. Todos somos pois, num certo nível, místicos (BOFF, 1998, p. 29).

A mística, tal como o argumenta Leonardo Boff, pode ser entendido, não como um mistério externo que vem de fora e introjeta no ser humano comportamento e ideias, mas sim a busca e o conhecimento profundo de si mesmo e do encontro das possibilidades presentes na dimensão humana.

Ainda em sua obra intitulada: “Identidade e luta de classes” Bogo (2010) mostra a afetividade com um princípio revolucionário que tem consigo elementos que ajuda a fortalecer a mística do Movimento. Segundo Bogo:

A afetividade está na essência do ser humano, o seu oposto é o desprezo e a rejeição. Ela se manifesta de mil maneiras: no olhar, no calar, no ouvir, no pensar, no tocar e no fazer. A natureza humana cria formas diferentes de expressão, em que cada ser se amplia e se torna parte da consciência coletiva. Uma revolução acontece quando os diferentes tipos de forças se sintonizam e se movem de acordo com os princípios estabelecidos. Mas, acima de tudo porque quem a edifica não trai, não se corrompe e cuida de seus semelhantes que andam nas mesmas fileiras. (BOGO, 2010, p. 238).

De fato, não se pode separar a questão da afetividade de uma organização social. É preciso o cuidado com as raízes e manter a causa, o desejo de permanecer nela, mesmo que em muitos momentos devido às grandes dificuldades que se enfrenta, venha a se pensar em desistir, mas a paixão pelos seus e pelo movimento fazem os sujeitos estar teimosamente persistentes e criativos.

A mística é este encontro consigo mesmo, e com o outro, como algo concreto e presente nas vivências dos Sem Terra, quer seja num simples ato, ou numa longa marcha,

ou apenas numa reunião; a mística ora se apresenta por meio de uma poesia, de um gesto, de um grito, e contribui para estabelecer em cada passo um vínculo ideológico e reflexivo nas pessoas. Como fala Bogo, “A mística além de ajudar a perder o medo da morte, deve ajudar a perder o medo da lei e das estruturas de poder” (Bogo, 2002, p. 69).

Portanto, a mística nos convoca para aprender, por meio das marchas, poesias, músicas, encenações, desenhos, palavras, frases, danças e símbolos, nos permite refletir a vida, nos torna inquietos com as realidades, despertando a criticidade necessária para uma nova leitura de mundo. Assim, ao observar a letra de uma música pode-se extrair seu conteúdo e sentido social, discutir cada verso, fazer comparações com experiências já vividas ou apenas vistas, destacar os valores do Movimento, bem como resgatar a cultura local e a dos Movimentos de luta pela vida. A mística alimenta os sonhos e a utopia, educa e conscientiza, por meio das mensagens contidas em cada momento da mística, renova-se as esperanças, faz lembrar seus objetivos e os motivas a ir em busca.

Na mística podemos reivindicar os direitos negados para a classe trabalhadora, como o direito básico de cidadania, a educação e saúde de qualidade, a alimentação e trabalho para todos e todas, condições igualitárias entre gênero, raça e etnia na sociedade, preservar e recuperar os recursos naturais, entre outros princípios básicos do Movimento. Nesse processo, percebemos que a mística possui uma dimensão educativa significante no MST, pois ela mobiliza, conscientiza e anima os sujeitos. Com ela, trabalham-se conceitos, reafirma os valores, e ativa a memória, os motivos por manterem-se ali, lutando em e pela coletividade. Está presente também nos vários tipos de manifestações culturais, sociais e políticas. Segundo Caldart:

A mística é exatamente a capacidade de produzir significados para dimensões da realidade que estão presentes, e que geralmente remetem as pessoas ao futuro, à utopia do que ainda não é mas que pode vir a ser, com a perseverança e o sacrifício de cada um. É uma experiência pessoal, mas necessariamente produzida em uma coletividade, porque o sentimento que lhe gera é fruto de convicções e valores construídos no convívio em torno de causas comuns. Neste sentido, se pode dizer que o MST re-significou a própria experiência da mística, ainda que mantenha sua raiz cultural e utilize símbolos muito semelhantes aos dos grupos que lhe deram origem. (CALDART, 2000, p. 134-135).

Compartilhamos dessa ideia apresentada por Caldart (2000) para com a mística do Movimento, uma vez que, a realidade dos trabalhadores e trabalhadoras rurais Sem Terra são postas e vivenciadas em seu trabalho e vivencias. O que se mostra nas celebrações com a mística, é os seus sacrifícios e perseverança para com sua realidade

no cotidiano. As relações com o outro mostra que a mística é uma experiencia pessoal e coletiva, uma vez que, é produzida por meio da coletividade.

A mística dentro do Movimento Sem Terra foi passando por modificações com o tempo, vivida no início por meio das celebrações religiosas dos membros da Igreja que simpatizavam e participavam da luta do Movimento, ela foi deixando de ser um momento de celebração religiosa e assumindo cada vez mais seu caráter político. A obra intitulada “Brava Gente. A trajetória do MST e a luta pela terra no Brasil”, de João Pedro Stedile afirma que:

[...] Até por influência da Igreja, tínhamos a mística como um fator de unidade, de vivenciar os ideais, mas, por ser uma liturgia, vinha muito carregada. Com o passar do tempo- tudo é um processo de construção- fomos nos dando conta de que, se tu deixas a mística se tornar formal, ela morre. A mística só tem sentido se faz parte da tua vida. Não podemos ter momentos exclusivos para ela, como os Congressos ou Encontros Nacionais ou Estaduais. Temos de praticá-la em todos os eventos que aglutinem pessoas, já que é uma forma de manifestação coletiva de um sentimento. Queremos que esse sentimento aflore em direção a um ideal, que não seja apenas uma obrigação. Ninguém se emociona porque recebe ordem para se emocionar; se emociona porque foi motivado em função de alguma coisa. Também não é uma distração metafísica ou idealista, em que todos iremos juntos para o paraíso. Se for assim, então vamos chorar, como se faz em muitas seitas religiosas. Já os carismáticos, estes usam a mística para um ideal inalcançável. No caso, ela não se sustenta, da mesma forma que esse movimento carismático não dura a vida inteira. As pessoas se darão conta do engodo, que pode até durar 20 anos ou 30 anos, mas não sobrevive na história da humanidade. Diferentemente, fomos construindo maneiras de fazer mística a partir de uma maior compreensão. Antes só imitávamos: “A Igreja usa determinada liturgia mística para manter a unidade em torno do projeto do Evangelho”. Quando forçávamos a cópia, não dava certo, porque as pessoas têm de ter o sentimento voltado para algum projeto. A partir dessa compreensão, em cada momento, em cada atividade do movimento, ressaltamos uma faceta do projeto como forma de motivar as pessoas. [...] É um aspecto interessante que deve chamar a atenção da sociedade. [...] a nossa base usa a fé religiosa que tem para alimentar a sua luta, que é uma luta de esquerda, que é uma luta contra o Estado e contra o capital. A mística faz com que as pessoas se sintam bem. (STEDILE, 2012, p. 132-133).

João Pedro Stedile (2012) nos apresenta de forma explícita a origem e o caminho que foi percorrido da mística no Movimento. De fato, a Igreja levou para o MST muitas contribuições, e a partir das celebrações religiosas, leituras do Evangelho na perspectiva de uma leitura crítica a respeito da realidade, foi tornando cada vez mais próximo dos sujeitos o chamado para participar da luta, despertando uma consciência crítica e reflexiva para com a realidade vivida por meio da leitura do Evangelho e das celebrações que os membros da Igreja organizavam.

Com o apoio de alguns membros da Igreja que simpatizavam e/ou participavam da luta desses sujeitos que tinham seus direitos negados e silenciados, foram percebendo o quanto era necessário para além do estudo, compreender a realidade, para que assim pudessem transforma-la. Nessa direção, segundo o MST, a mística dentro do Movimento surgiu de três vertentes:

1ª Da natureza contemplativa da vida camponesa. Pelo convívio com a natureza, as relações sociais desenvolvidas e as formas de produção, mais o aprendizado histórico basicamente oral, através de contos e fábulas, a relação com as estações do ano e suas respectivas épocas de plantio e colheita, [...] O ato de contemplar leva a compreender o mistério escondido dentro do movimento interno da matéria, aqui representada pela plantação, pela relação da água com a semente, [...] Há contemplação nas reuniões de base quando as pessoas se encontram e como que obcecadas por um mapa invisível, olham todos para o mesmo objetivo, enquanto observam a força que possuem. Há contemplação na espera dos despejos, quando revisa-se as táticas de defesa, enquanto espera a força do latifúndio aparecer. Há contemplação no ouvir atentamente o resultado de uma negociação, onde a praça do acampamento fica em silêncio e a liderança consegue ver apenas as cabeças com os olhos brilhando de tanta avidez por ouvir algo que possa destrancar o grito que quer sair, basta apenas um sinal. [...] 2ª A música e a poesia- A música para os camponeses (embora tenha havido mudanças), na origem está ligada a alguma coisa que tenha relação íntima com sua vida ou o trabalho, a religião, à festa etc. [...] As letras são descritas geralmente na seguinte lógica. Sujeitos, tempo e espaço. Ou seja, a música localiza onde, quando e por que aconteceu determinado fato. Destaca quem é o sujeito, protagonista da história, localiza este sujeito no tempo e no espaço onde se dá o acontecimento. Podemos ver isto claramente nas músicas cantadas por Tonico e Tinoco “Chico Mineiro” e o “Menino da Porteira”. Ou a “Triste Partida” de Patativa do Assaré, cantada por Gonzagão. Assim pode se tomar como referência todas as músicas regionais cuja raízes estão no campo, que se manifestará está lógica. [...] Ao mesmo tempo em que a música leva alegria, também cria a unidade política porque as pessoas se identificam com as mensagens. Há momentos e tensão que são acompanhados de músicas. Para enfrentar a repressão, canta-se muito, para festejar as vitórias, canta-se e dança-se por horas e horas. Há um cerimonial adotado nos funerais de trabalhadores Sem Terra que morrem ou são assassinados. Costumeiramente no momento do Sepultamento lêem-se poesias inéditas feitas para cada ocasião e planta-se na cabeceira da sepultura uma árvore como sinal de renascimento. [...] 3ª A vertentes da devoção- Além da existência da religião, há uma prática religiosa no campo. Esta prática religiosa é cheia de ritos e símbolos; dão unidade às pessoas que se identificam com determinada religião ou devoção mantida viva pela tradição. Estas práticas se transformam em parte da consciência dos indivíduos, que mesmo mudando de organização, carregam consigo ensinamentos e