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A música, enquanto arte, seguindo as palavras de Arnold Hauser, é

“representação de fantasias e desejos que ultrapassam o âmbito das coisas cotidianas”.

50

Ela lida com o imaginário, os sonhos, as lembranças, cria e recria imagens sensíveis. E

ao lidar com as sensibilidades a música carrega consigo, assim como a História

Cultural, a questão do indivíduo, a subjetividade e as histórias de vida através das quais

os homens aprenderam a sentir, a pensar, a traduzir o mundo e os sentimentos por meio

de sensações, emoções e valores pessoais, conforme nos diz Sandra Pesavento.

51

Segundo Wolney Unes, não há como negar a importância da música, suas

atribuições, seus usos e suas funções e falar sobre música não é só refletir sobre

resultados sonoros, sobre a realização e o fazer musicais e ou sobre o fascínio que ela

exerce sobre o homem.

52

É falar sobre as práticas culturais, sobre os “modos de fazer” e

os “modos de ver” dos homens em uma sociedade, enquanto sujeitos produtores e

receptores de cultura, pensadas não apenas em relação às instâncias oficiais de produção

cultural, às instituições várias, às técnicas e às realizações, mas também em relação aos

usos e costumes que caracterizam a sociedade, conforme José D‟Assunção Barros.

53

Talvez por possuir a particularidade da produção imaterial, o som, de

significado ilimitado, a música é, muitas vezes, incompreendida. Incompreendida

pricinpalmente por aqueles que não conhecem a sua linguagem e seus diversos sotaques

(erudito, popular, folclórico), suas particularidades e suas regras composicionais

utilizadas através da reunião de sons e silêncios combinados em tempos e ritmos

variados, com frases, harmonias, consonâncias e dissonâncias que carregam

características individuais e coletivas de diferentes sociedades, lugares e de tempos

variados.

54

50

Hauser, Arnold. A arte e a sociedade. Lisboa: Editorial Presença, 1984, p. 18.

51

Pesavento, Sandra Jatahy. História e História Cultural. 2ª. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2008, p. 56- 57.

52

Unes, Wolney. O enigma da música. Ensaios sobre a dicotomia prática ou reflexão musical. Jornal de Resenhas, São Paulo, n. 9, 2010, p. 19.

53

Barros, José D‟Assunção. História Cultural: um panorama teórico e historiográfico. Revista Textos de História, v. 11, n. 1/2, 2003, p. 157.

54

Pierre Bourdieu cita que “a apreensão e a apreciação da obra [de arte] dependem tanto da intenção do espectador que, por sua vez, é função das normas convencionais que regem a relação com a obra de arte em uma dada situação histórica e social, como da aptidão do espectador em conformar-se a estas normas, vale dizer, de uma competência artística”. Bourdieu, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2004, p. 271.

Uma incompreensão que se reflete na atividade do músico que é traduzida e

vista, em muitos casos, como de passatempo ou de diversão,

55

do “tempo não

ocupado”,

56

e que é marcada por preconceitos, estereótipos e juízos negativos, presentes

também na vida do artista brasileiro.

Curiosa e felizmente, música e sociedade são noções que não podem ser

dissociadas. A música não existe meramente como página impressa, pois pressupõe

executantes e ou suportes para que ela seja realizada. Não há música sem músico e este

tampouco sem ouvinte. Para Marcos Napolitano, quando se dirige à música popular

cantada, mas que se aplica perfeitamente à música instrumental, não há “„contexto‟

separado da „obra‟, „autor‟ (e artista) separado(s) da „sociedade‟”.

57

A música só pode

existir na (e para a) sociedade a qual, segundo Raynor, sempre foi responsável por criar

condições para que o músico “atue o melhor que possa”,

58

e está presente em nossas

vidas cotidianamente, desde os momentos mais solenes (missas, cultos, concertos, etc.)

aos mais informais (em casa, nas festas, nos bares, a caminho do trabalho, etc.).

59

Porém, a música, muitas vezes, é vista como uma arte meramente

contemplativa ou de caráter puramente de entretenimento e lazer,

60

“algo que flutua no

ar, exterior e independente das vidas sociais das pessoas”, segundo Nobert Elias.

61

Conceitos que marcam a atividade do músico, visto como alguém destinado a produzir

entretenimento.

A vida do músico transita em limites muitos tênues entre o prazer

proporcionado pela música e pelo fazer musical e as dificuldades inerentes à atividade

laboral. E aquilo que em algum momento pode aparentar facilidade e alegria, pode

encobrir uma vida de dificuldades diante dos obstáculos que o mundo do trabalho

musical reserva ao músico.

55

Coli, Juliana Marília. “Vissi d’arte” por um amor a uma profissão (um estudo sobre as relações de

trabalho e a atividade do cantor no teatro lírico). Tese de Doutorado em Ciências Sociais na

Universidade Estadual de Campinas. Campinas, 2003, p. 5.

56

Mello, Maria Thereza Ferraz Negrão de. “Canta que a vida é um dia”. Memórias, paisagens sonoras e

cotidiano na era do rádio. In: Brito, Eleonora Zicari (org.), Pacheco, Mateus de Andrade (org.) e ROSA,

Rafael. Sinfonia em Prosa, Diálogos da História com a Música. São Paulo: Intermeios, 2013, p. 88.

57

Napolitano, Marcos. História e Música. 3ª. ed. São Paulo: Autêntica, 2005, p. 8.

58

Raynor, Henry. História Social da Música. Da idade média a Beethoven. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981, p. 20.

59

Seja nas caixas de som dos inúmeros veículos que circulam pela cidades ou em celulares as músicas são reproduzidas muitas vezes em volumes absurdos, nem sempre desejadas por quem está ao lado desses ouvintes, e que deveriam estar confinadas aos ouvidos de quem as desejam escutar.

60

Para Eric Hobsbawn entretenimento “significa qualquer talento pessoal ou dom vendido para o público ver, ouvir ou usufruir de alguma outra forma, do corpo para a alma”. Hobsbawm, Eric J. História social

do jazz. São Paulo: Paz e Terra, 1990. 6a. edição revista e ilustrada. 4a. impressão, p. 262.

61

É o que acontece com o músico que se vê (como um trabalhador) e vê a

música (como trabalho) cercados de estereótipos e preconceitos, e que se defronta

cotidianamente com expressões, brincadeiras e piadas que, apesar de serem vistas pelas

pessoas que as utilizam como algo sem maldade, são muitas vezes carregadas de

imagens negativas e pejorativas sobre o músico e sua atividade.

É certo que não apenas o músico deve conviver com brincadeiras e piadas

sobre as atividades que exerce. Outros trabalhadores devem vivenciar situações

semelhantes,

62

especialmente aqueles cujas atividades não estão carregadas de status ou

que não sejam consideradas como mais importantes pela sociedade.

63

No entanto, aparentemente, algumas palavras do mundo da música foram

apropriadas e que vieram compor o cotidiano da linguagem das ruas, do uso e do falar

comum, gírias, como cita Raul Pederneiras,

64

e que assumiriam lugar de destaque

também nas páginas impressas.

Quem nunca ouviu alguém dizer que vai “botar a boca no trombone”,

quando ameaça contar algo que alguém quer esconder e que todos gostariam de

escutar?

65

Ou que o dia está ou foi tão pesado e que se sente cansado como se tivesse

acabado de “carregar um piano”? Ou quando alguém grita “chora cavaco!”, trazendo a

imagem do início de uma roda de choro, samba, pagode de fundo de quintal ou desfile

de uma escola de samba no carnaval? Ou quando encontramos alguém em momentos de

paz, lazer e descanso, e dizemos: isso é que “levar a vida na flauta!”

Tomemos como base a última expressão, “levar a vida na flauta”. Ela

remete à vida boa, à vadiagem, ao não fazer nada, e traz à luz a representação do

flautista como alguém que fica à margem do trabalho e da atividade musical como algo

oposto ao que se considera como trabalho.

São gírias e expressões da linguagem utilizada nas ruas, mas que, de alguma

forma, deixam marcas nas imagens construídas sobre os músicos e sobre a atividade

musical, muitas vezes estereotipadas e ou preconceituosas.

62

Um rápido olhar em páginas de busca na internet é possível encontrar piadas sobre várias profissões, como, por exemplo, no sítio http://www.osvigaristas.com.br/piadas/. Acesso em 20 de dezembro de 2013.

63

Vale ressaltar que, felizmente, estamos distante do Rio de Janeiro do século XVI, época em que “os artistas de teatro sequer eram enterrados em solo consagrado (...) e os atores falecidos tinham os corpos atirados na vala comum dos escravos”, conforme Márcio Souza. Entretanto, o autor ainda levanta dúvidas sobre se mudou alguma coisa a respeito. Souza, Márcio. Fascínio e repulsa. Estado, cultura e sociedade

no Brasil. Rio de Janeiro: Edições Fundo Nacional de Cultura, 2000, p. 32.

64

Pederneiras, Raul. Geringonça carioca: verbetes para um dicionário da gíria. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1922, p. 3.

65

E é sobre essas representações e imagens

66

construídas pela sociedade sobre

o músico

67

na forma de expressões, termos, piadas e brincadeiras, que nos

debruçaremos agora. Lançaremos ainda os olhos às indagações, reflexões e

sensibilidades resultantes da vivência e da experiência pessoais desses músicos que se

angustiam e se entristecemcom os problemas e com as dificuldades da vida profissional

e que buscam, com seriedade, o prazer e a realização pessoais.

Para isso propomos a análise de quatro pontos importantes para essa

discussão:

– O músico e a atividade musical: entre preconceitos e estereótipos.

– Músico: erudito?

– A atividade musical é trabalho?

– Levar a vida na flauta: considerações sobre a expressão.

1.1 – O músico e a atividade musical: entre preconceitos e estereótipos

Apesar de intensa, a atividade musical no país, em sua grande maioria, é

marcada pela precarização das condições de trabalho, instabilidade, insegurança,

incerteza, individualidade, informalidade.

68

Desenvolveu-se estruturada nos hábitos familiares, na educação, na igreja e

nos espaços destinados ao lazer e ao entretenimento, como uma forma integradora da

vida social, considerada mais como uma atividade de caráter lúdico e festivo do que

propriamente profissional.

Tem-se ainda, na imaginação popular,

69

um conceito romântico sobre o

músico como herói, mito, filho da natureza, revolucionário, mágico, um ser

sobrenatural, sublime e único, como cita Anne-Louise Coldicott.

70

66

Imagens como um acessório da autoridade e da identidade que não devem nunca ser lidas como a aparência de uma realidade e que podem tornar uma realidade liminar, segundo Bhabha (Op. cit., p. 85- 86).

67

Aqui entendido como o artista que tem domínio de seu ofício e de sua arte e que tem na atividade musical sua principal fonte de renda, de sustento e de sobrevivência, de prazer e realização.

68

Condições que veremos no decorrer dos capítulos do presente trabalho.

69

Para Flausino “o imaginário é uma força coletiva, um elemento fundamental da consciência, um poder mediante o qual produzimos representações globais da sociedade e de todo aquele que nela se relaciona, mas é também, principalmente, um fator de inserção da atividade imaginante individual em um fenômeno

Muitas vezes o próprio músico tem uma visão romântica sobre a atividade e

sobre ser músico como relata um dos flautistas entrevistados.

– Eu imaginava o músico como ser humano totalmente diferente, mais evoluído espiritualmente, mais do que isso um ser humano sem pecados (risos).71

Também é comum encontrar representações e imagens tecidas sobre o

músico associadas, entre outras coisas, à boa vida, à boemia, à vida noturna, ao ócio. De

que o músico é um artesão, genioso, um vagabundo que vive de noitadas e dorme o dia

inteiro. Ou, segundo Carpentier,

72

de que é “uma profissão [a do compositor]

socialmente inútil” ou “o trabalho de quem diverte os outros”, nas palavras de

Macêdo.

73

Relaciona-se, ainda, o músico ao homossexualismo, às drogas e ao

alcoolismo.

Há sentimentos negativos, discriminatórios até, tecidos pela sociedade no

que diz respeito à escolha da profissão musical, quanto ao futuro financeiro, ao sucesso

profissional (em toda a subjetividade do termo), aos locais de trabalho e de que o

trabalho musical não é trabalho.

Talvez a fala de “Lucy”, na imagem abaixo, de que os músicos não são

pessoas reais, direcionada ao jovem pianista “Schroeder” (que em muitos quadrinhos

aparece tocando um piano de brinquedo), ambos personagens de Charles Schulz,

traduza um pouco o que as pessoas possam pensar a respeito do músico como uma

pessoa que viva alheia a tudo e a todos.

coletivo”. Flausino, Márcia Coelho. A voz rouca das manchetes. Como Veja mostrou os sem-terra em

suas capas. In: Costa, Clélia Botelho da e Machado, Maria Salete Kern (orgs.). Imaginário e História.

Brasília: Paralelo 15, 1999. p. 44.

70

Coldicott, Anne-Louise. Avaliações Póstumas: o “herói romântico”. In: Cooper, Barrya (org.).

Beethoven: um compêndio. Guia completo da música e da vida de Ludwig van Beethoven. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 1996, p. 338.

71

Vale lembrar que estabelecemos o uso do travessão como um sinal identificador das falas dos flautistas entrevistados, conforme dissemos na introdução deste trabalho.

72

Carpentier, Alejo. O músico em mim. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 304.

73

Macêdo, Kátia Barbosa (organização). O trabalho de quem faz arte e diverte os outros. Goiânia: PUC Goiás, 2010, p. 24.

Figura 1: Quadrinho de Charles M. Schulz. 74

É comum observar um ar de espanto nas pessoas ao descobrir que a

atividade musical é fonte de renda, de sustento e de sobrevivência, que pode ser e é uma

atividade de prazer, de realizações pessoais, artísticas e profissionais. Mas, é preciso

dizer que o mundo da música também é um local de frustrações, de decepções, de

desilusões e de insatisfações, sejam elas materiais ou não.

É nesse momento em que a pergunta, “você vive do quê?”, vem à tona na

vida do músico. Pergunta fruto do desconhecimento, do distanciamento e da

incompreensão sobre a especificidade do trabalho do músico e do mundo da música.

Consulte um músico profissional se ele já ouviu alguma vez essa pergunta?

Provavelmente ele responderá que sim e inúmeras vezes. É muito provável que algum

dos leitores deste texto já tenha feito essa pergunta a um músico, e muitas vezes sem

maldade ou pré-conceitos, sobre sua atividade laboral. Mas, também, é provável que

muitas vezes ela tenha exatamente a intenção contrária de quem a profere.

Porém, essa pergunta não é a única presente na vida do músico. Geralmente

ela vem precedida da também famosa “você trabalha com quê?”, que por sinal é muito

próxima à anterior.

O diálogo abaixo, narrado por Miguel Fabrício, um dos flautistas

entrevistados, é bem representativo de uma situação muitas vezes vivida pelos músicos:

– Mãe, esse aqui é o Miguel.

– Oi, Miguel, tudo bem? O que você faz? – Ele toca flauta. Ele estuda flauta.

– Muito lindo, que bonito. Mas, o que você faz mesmo?

74

Schulz, Charles M. Disponível em: http://www.pinterest.com/pin/173107179398883949/. Acesso em 20 de dezembro de 2013.

– Mãe, ele toca flauta.

– Eu sei, mas o que ele faz? Qual é a profissão dele?

O que chama a atenção é que perguntas e diálogos como esses não são

particulares dos músicos brasileiros

75

(e não somente do músico, uma vez que ela

também se aplica aos que exercem outras manifestações artísticas e culturais). O título

do livro de Thorsby e Thompson, “But what do you do for a living?” (o que você faz

para viver?), publicado na Austrália, por si só é significativo e representativo pelo que

passa o artista e sua atividade laboral. Mas os autores chama a atenção para algo a mais:

“A escolha do título do presente relatório reflete mais uma vez a questão

frequentemente colocada em prática aos artistas profissionais pelas pessoas que não

conhecem a natureza de uma carreira profissional séria nas artes”.

76

No prefácio deste

mesmo livro os autores citam outro trabalho, que retrata a ocupação e o emprego

artísticos australianos, e que recebeu um título muito representativo de como a atividade

artística é vista: “When are you going to get a real job?”.

77

Recorremos ao cartunista argentino Quino, que, ao trazer a luz a

representação de uma caçada de animais desenhados por um homem de um tempo

distante, morador de uma caverna, traduziu de forma esplendorosa como as

características da atividade artística são desconhecidas e incompreendidas.

75

Em conversas e entrevistas realizadas com músicos em Portugal foi comum ouvir que situações como essas são muito comuns por lá.

76

Thorsby, David e Thompson, Beverley. But waht do you do for a living?: a new economic study of

Australian artists. McMahons Point, Sydney: Australia Council, 1994, p 2.

77

Os autores referem-se a Thorsby, David e Mills, Devon. When are you going to get a real job?: an

Figura 2: Charge de Quinto78

Alguns títulos de livros e artigos também chamam a atenção sobre o mundo

do trabalho artístico e do próprio artista. Um deles é o livro do espanhol Guilhermo

Dalia com o título “Como ser feliz se eres músico o tienes uno cerca”.

79

Outros títulos

bem representativos do mundo do trabalho musical e artístico, publicados no Brasil, são

os artigos de Liliana Segnini, “Criação rima com precarização: análise do mercado de

trabalho artístico no Brasil”,

80

e de Márcia Kuyumjian (2012), “O trabalho na sombra da

música”

81

e os livros “O trabalho de quem faz arte e diverte os outros”, de Kátia

78

Quino (Joaquín Salvador Lavado). Ni arte ni parte. Buenos Aires: Ediciones de la Flor, 1988, p. 3-7. Também disponível em: http://pt.slideshare.net/Jackiecienta/quino-ni-arte-ni-parte#. Acesso em 14 fevereiro de 2014.

79

Grifo do autor. Este livro trata sobre o que acontece ao redor da vida do músico, desde a formação ao decorrer da vida profissional, e dos relacionamentos com professores, com a sociedade, com a família, do vínculo de amor e ódio que surge com seu instrumento, mas também de suas esperanças e decepções.

80

O objetivo deste trabalho é analisar as relações sociais observadas no mercado e nas relações de trabalho em arte no Brasil, destacando música e dança, privilegiando as categorias analíticas da divisão internacional do trabalho, do mercado de trabalho, das condições de trabalho e relações de gênero. Disponível em: http://www.sbsociologia.com.br/portal/index.php. Acesso em 3 de setembro de 2011.

81

Neste artigo a autora discute o trabalho que, como o título anuncia, vive à sombra da música, aparece subordinado ao campo musical. Para uns a música surge como deleite. No entanto, para outros ela é um espaço de muito trabalho em que “a constante músico é acompanhada pela constante incerteza, pois as ambiguidades que permeiam o mundo do trabalho como um todo estão também presentes na categoria do trabalho do músico”, e “que sofre todas as inquietações em termos de relação trabalhista, de qualidade e de reconhecimento social e institucional”. Kuyumjian, Márcia de Melo Martins. O trabalho na sombra da

música. In: Brito, Eleonora Zicari (org.), Pacheco, Mateus de Andrade (org.) e Rosa, Rafael. Sinfonia em Prosa. Diálogos da História com a Música. São Paulo: Intermeios, 2013, p. 127-129.

Macêdo

82

e “Vida de músico não é fácil”, de Bohumil Med,

83

entre outros.

Por outro lado, mesmo diante das dificuldades do mundo da música, alguns

livros trazem no título e ou em seu conteúdo o encantamento com a profissão musical,

tais como o de Juliana Coli, “Vissi D’Arte: por amor a uma profissão”,

84

“Viver de

Música. Diálogos com artistas brasileiros”, de Ricardo Taubkin,

85

ou mesmo “Uma

história de amor à música”, de Scalzo e Nucci.

86

Outro título que chama a atenção é o artigo do então reitor João Cláudio

Todorov e da professora de piano Jaci Toffano, ambos da Universidade de Brasília,

“Levar na flauta ou carregar o piano?”, publicado no jornal Correio Braziliense, em 19

de Outubro de 1995. Ao contrário do que parece ser, o artigo reforça o pensamento

sobre as dificuldades da vida do músico. Porém, ao final do artigo os autores reportam a

uma importante e significativa expressão para o flautista:

Cabe lembrar que, na Universidade de Brasília, a arte contemporânea amplia e preserva seu papel de agente transformador da sociedade com a produção e a transmissão de conhecimentos. Carregamos o piano com tanta arte que às vezes parece que estamos levando tudo na flauta.

Sim, carregar o piano é um trabalho hercúleo, se não impossível, que não

cabe a uma pessoa realizar sozinha, mesmo diante do humor e da imaginação do

cartunista, que consegue fazer com a situação do pianista pareça simples quando se trata

de transportar seu instrumento de trabalho.

82

Este livro, fruto de um projeto de pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), o qual gerou dissertações de mestrado e teses de doutoramento, é composto por uma coletânea de autores diversos os quais discutem o trabalho, o prazer e o sofrimento do profissional do mundo do trabalho artístico.

83

O autor, trompista, ex-professor de música da UnB, também se intitula empresário, editor e escritor, fala de assuntos diversos que surgem no decorrer da vida do músico (da formação à profissionalização) e narra uma pequena autobiografia que inclui a sua vinda da República Tcheca para o Brasil, onde vive até hoje.

84

Publicado em 2006, este livro é fruto de uma tese de doutorado, já citada acima, e trata sobre o mundo do trabalho de cantores líricos no interior de organizações do espetáculo lírico (Teatro Municipal de São Paulo e uma alusão ao Teatro Municipal do Rio de Janeiro) e das relações de trabalho musical erudito na

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