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Para além das questões de dom e vocação

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que envolvem a atividade

musical, a formação do músico abarca os cursos formais de graduação e pós-graduação,

as aulas de instrumento e de teoria musical com professores particulares, em escolas

especializadas ou em cursos de curta duração. Há ainda músicos que, pela vocação e

autodidatismo, atingem um alto grau de eficácia no manejo de instrumentos e na criação

musical, reconhecidos pela qualidade de seus trabalhos, embora isto ocorra de forma

menos usual. A vocação, como o chamamento, busca o ideal da atividade profissional, o

envolvimento da vida com a atividade e a vida dedicada à atividade. A música ocupa

esse lugar devocional de um valor intramundano, da busca da perfeição e do belo na

criação e no tocar. Ao mesmo tempo, solicita do tocador a definição de sua missão

como músico, de bem escolher o que melhor se adapta a um estilo e biótipo.

Seja qual for o caminho percorrido, o músico é um ator social que lida com

o seu fazer musical e com as inferências do mundo social que o rodeia. A imagem do

músico solitário que dedica horas à técnica é, em parte, verdadeira. Por não estar

isolado, mas convivendo em um grupo social, no qual valores, memória e intenções são

manifestas, o músico também deixa transparecer no seu trabalho, as marcas da

sociedade. Parte desse compartilhar encontra-se no entender a importância e a

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Segundo Weber “não dá para não notar que já na palavra alemã Beruf, e talvez de forma ainda mais nítida no termo inglês calling, pelo menos ressoa uma conotação religiosa – a de uma missão dada por Deus – e quanto mais enfaticamente acentuamos a palavra num caso concreto, mais ela se faz sentir (...) e reconhece que o único meio de viver que agrada a Deus não está em suplantar a moralidade intramundana pela ascese monástica, mas sim, exclusivamente, em cumprir com os deveres intramundanos, tal como decorrem da posição do indivíduo na vida, a qual por isso mesmo se torna a sua „vocação profissional‟”. Weber, Max. A Ética Protestante e o “Espírito do Capitalismo”. São Paulo: Companhia da Letras, 2004. 11ª. Reimpressão, p. 71-72. Nas palavras de Bellah et al, citados por Delicado, Borges e Dix, a vocação, ou o chamamento, é “o ideal prático de atividade e caráter que torna o trabalho de uma pessoa moralmente inseparável da sua vida. Incorpora a pessoa numa comunidade de prática disciplinada e julgamento robusto cuja atividade tem significado e valor em si própria no produto ou lucro que dela resulta”. Bellah et all apud Delicado, Ana, Borges, Vera e Dix, Steffen. Profissão e Vocação. Ensaios

sobre grupos profissionais. Lisboa: ICS, 2010, p. 13.

Para Louis Pinto “para se lançar num campo [artístico, religioso, jornalístico] é preciso acreditar na importância das alternativas específicas que ele propõe, dedicar-se a ele, isto é, ter uma espécie de „vocação‟ que permita esperar daí outra coisa que não uma estrita recompensa monetária da „força de trabalho‟ mobilizada: a satisfação de estar em harmonia com as expectativas. Essa crença combina os registros ordinariamente distintos do interesse e da paixão, da ganância e da dedicação, do pessoal e do coletivo, pois quem a possui, quem por ela é animado ou „possuído‟, empenha sua pessoa, suas convicções e seus talentos especificamente diante de indivíduos que têm importância para si, mas sem precisar se impor objetivos de modo consciente, calculado e refletido”. Pinto, Louis. Op. cit., p. 136

necessidade de uma boa e sólida formação, na busca de conhecimento musical e

aprimoramento técnico para o exercício de sua atividade. Formação necessária para

enfrentar um mercado cada vez mais exigente. Esclareça-se, formação e mercado de

trabalho formam a base da preocupação do músico que enfrenta a ausência de regras e

normatizações pouco consolidadas que orientem o exercício profissional. Pois, a um só

tempo, o bem tocar é uma exigência, mas a sociedade, através de suas instituições, não

consegue demarcar o lugar sócio-profissional do músico.

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Parece haver uma barreira

entre o belo e o eficaz para a condução da sociedade. Este preâmbulo permite inquerir

sobre os inúmeros significados do compor e tocar um instrumento, seja em uma audição

solo, de câmara ou orquestral.

Assim, o despertar para a música, as influências familiares e escolares, a

iniciação musical, a descoberta do instrumento, os professores, as escolas frequentadas,

as orquestras jovens, entre outros, são marcos importantes na formação do músico.

Marcos presentes nas trajetórias narradas por flautistas profissionais no Brasil,

conforme revelam as entrevistas realizadas.

São traços característicos de uma formação, longa e contínua, iniciada, em

muitos casos, na infância e que se prolonga por toda vida, muitas vezes intercalada por

uma profissionalização precoce em que o jovem músico é conduzido ao restrito e

competitivo mercado de trabalho sem as ferramentas apropriadas para enfrentá-lo. Ao

falar de ferramentas significa que o flautista ingressa no mercado de trabalho, muitas

vezes prematuramente, sem a prática instrumental em grandes conjuntos musicais como

as orquestras e bandas de música, em estúdios de gravação, eventos diversos, sem ter

acesso a estágios supervisionados em salas de aulas em escolas de música ou mesmo

para dar aulas particulares em casa.

Estas são constatações preliminares sobre o flautista como um trabalhador,

mas que permitem identificar caminhos relevantes para o exercício da atividade musical

profissional no Brasil.

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Apesar da discussão e da falta de consenso em se considerar o trabalho musical como uma profissão (isto é, considerando a força do capitalismo ao longo do século XX, falar em profissão tornou-se quase que somente sinônimo de produção, de um bem de troca que atenda ao mercado consumidor), vale lembrar que considerar-se-ia profissão “não como um conjunto de atributos ou requisitos que devem ser satisfeitos, mas como um processo de construção contínua, no início como ocupação sistematicamente organizada até o reconhecimento institucional”, segundo Nunes e Mello (2011, p. 3), de trabalhadores que se reconhecem como profissionais uma vez que lidam com o imaginário, com a construção de valores, com a memória, com a identificação e a tradução das sensibilidades, dos medos, dos temores e das frustrações como um grupo de atores sociais, bem como pela preparação despendida para a atividade que exercem, pelas responsabilidades advindas desta prática, por ter na atividade o meio de subsistência, dentre outras.

Essas informações basilares abrem este segundo capítulo com a intenção de

discutir a necessidade e a importância da formação para o músico profissional, do

reconhecimento dos pares e do mercado e da busca de conhecimento e aprimoramento

técnico para o exercício da atividade musical.

Formação: caminhos percorridos

São inúmeros os caminhos que conduziram os flautistas brasileiros ao

mundo da música. As motivações para o inicio da vida musical diferem entre os

flautistas e as entrevistas não indicam que haja uma motivação que se sobressaia às

outras.

Alguns relatos soam como um chamamento, algo que circula entre o

fantástico, o sublime e o inexplicável. Hans Hess, flautista alemão, nascido em 1930 e

que se radicou no Brasil em 1957, diz:

– Quando eu era gurizinho, com seis ou sete anos, e naquela época, eu vivi(a) em Wurzburg, uma cidade universitária na Baviera, (...) eu me lembro que eu caminhava nas ruas, às vezes passava aquelas bandas marciais, eu ficava marchando ao lado com, literalmente, os cabelos de pé da emoção que a música me transmitia, o ritmo da música. (...) Eu ficava perto da banda, petrificado, ouvindo o que estava tocando. Então, a música pra mim sempre foi, realmente, um catalisador de sentimentos. (...) ainda hoje quando ouço algumas músicas (...) elas abrem como se fossem um filme, uma fotografia, um filme, um acontecimento que aconteceu há pouco tempo. Mas tão impressionante, com cores tão vivas, que eu me pergunto como isso é possível.283

Para alguns dos entrevistados, a motivação para se aventurar no mundo da

música surgiu por acaso. Segundo Miguel Fabrício,

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flautista nascido em Volta

Redonda, em 1960, a oportunidade de estudar música surgiu de forma inusitada, quando

encontrou um pedaço de jornal jogado no chão contendo o seguinte anúncio: “Pró-

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Hans Hess em entrevista ao programa “Música em Pessoa” em 16 de junho de 2010, da Rádio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: http://programamusicaempessoa.blogspot.com.br/2010/06/hans-hess.html. Acesso em 21 de maio de 2012.

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Vale relembrar que, como foi dito na introdução, nem sempre os nomes dos entrevistados serão apresentados. Em alguns momentos considerei que os comentários poderiam expô-los por algum motivo mais delicado e, em outros, porque nem todos os flautistas autorizaram que seus nomes fossem citados, mas que concordaram que as informações relatadas fossem disponibilizadas.

Música e Seminário de Música. Diante disso, fui lá e me matriculei”. Para Rosana

Araújo, natural de Goiânia, o início de seus estudos de flauta “foi a coisa mais... „puro

acaso‟... do mundo”.

– Eu fazia balé no Teatro Goiânia e aí, aquelas coisas de programa de governo que acaba em 4 anos, o programa do balé acabou e eu fiquei ociosa, não tinha nada pra fazer e o meu irmão tocava violão, estudava no Conservatório, no Instituto de Artes. E ia ter um programa do novo governo que era justamente tentar montar uma Orquestra Sinfônica em Goiânia. que até então não existia . Eles estavam fazendo lá uma palestra, apresentando os instrumentos e tal e o meu irmão me chamou: “vamos lá ver?” Super assim, informal. Ele já estudava violão lá, nesta altura ele também participou dessa palestra e mudou pra viola e eu vi a flauta, vi o professor apresentando a flauta, gostei muito da flauta e resolvi estudar flauta. Depois ainda levou um ano pra eu começar porque eu não tinha o instrumento e o Instituto de Artes também não tinha o instrumento.

Em outros relatos soa como destino,

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como no caso de uma jovem flautista

que relatou:

– Algumas amigas minhas da igreja iriam fazer o teste e no dia do teste eu fiquei sabendo. Quando elas estavam indo, fui só acompanhar. Chegando lá, o guarda me deixou fazer a inscrição, no dia. E de cinco meninas que nós fomos, só eu e mais uma passamos. E essa desistiu com um mês. Então, fiquei só eu.

O fato da música estar presente em vários locais, nas ruas, nos rádios, nas

casas, no grandes auditórios de performance, atua como algo que toca a alma, encanta e

desperta o interesse daquele que poderá se aventurar no mundo da música, a querer

aprender a tocar um instrumento, conhecer e entender a linguagem musical e dominar

esse universo surpreendente e extasiante, por mais longo que seja esse processo.

As práticas sociais e culturais também são significativas. Ter alguém

próximo que aprecia música (toque um instrumento ou cante ou participe de algum

curso de formação musical) pode ser um grande estímulo para despertar o desejo de

participar desse mundo mágico. A presença de bandas,

orquestras e ou pequenos

conjuntos, que de alguma maneira interfere na formação do gosto musical de uma

cidade, pode se refletir nesses processos, que ainda são impulsionados, mesmo que em

menor proporção, pela presença da música na escola regular.

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Mesmo que acaso e destino sejam sinônimos, nas falas elas surgem como distintas. Destino significa uma predestinação e acaso, mero acontecimento.

São cenários que fazem emergir a prática musical e o gosto pela atividade

de modo profissional.

Apesar da relevância das narrativas sobre diferentes fatores estimuladores à

entrada na atividade profissional, há ainda que se considerar os relatos sobre o

importante papel da família para essa escolha e ter parentes, instrumentistas ou cantores,

amadores ou profissionais, constitui-se como um facilitador para a opção pela carreira

musical.

– Meu pai chegou numa época e disse: “bom, vou ensinar música a vocês”. Eu e minhas duas irmãs. Eu deveria ter 10 anos no máximo. Ele fez um quadro com pauta, marcou aulas com giz e deu a 1ª. aula. Fez a escala diatônica de Dó. Mas aí não deu mais aula. Parou... Tudo o que ia estudar tinha que estudar numa banda de música: Sociedade Euterpe Comercial. Ficava lá na rua onde eu morava, lá em cima. (Moarcir Liserra apud SILVA, 2008, p. 173)

– A questão da música que eu ouvi criança era da parte da minha mãe. Ela cantava uns lieder em alemão, Stillernacht, em alemão, e outras coisas de Schubert, popularizado. Meu pai cantava muitas coisas em francês, porque a Ilha Maurício recebia os navios, (no) século XIX, como o Brasil. Então, a música de lá, era uma música mestiça. Música de salão francês com outras contribuições, africana, rítmica, tem umas coisas de Operetas francesas. Então, quando eu comecei a minha vida musical, em casa, não tinha nada, não tinha piano, não tinha toca-disco, não tinha rádio, não tinha piano, nem nada. A minha primeira iniciação musical foi cantada por meu pai. Ele cantava árias de Operetas, declamando fábulas de La Fontaine, esse tipo de coisa assim.

– Minha formação musical vem desde a infância. (...) a gente ficava sempre muito perto do ambiente musical (...), que era o ambiente onde a gente circulava. Entre os professores da Universidade, as famílias daqueles professores, os filhos. (...) a gente tinha um ambiente artístico muito forte. (...) com 18 anos, eu entrei pra faculdade e eu comecei a estudar regularmente com a minha mãe, porque até então eu me virava em casa. Ela me dava uma aulazinha assim quando passava. (...) a gente já fazia muita música de câmara, eu tocava muito com meu irmão, em casa, o Carlos. Fazia com a minha mãe uns duetos. Fui aprendendo assim.

– Tenho influência familiar, porque a minha mãe, hoje aposentada, trabalhou como professora de música, a vida inteira. Então, eu sempre cresci tendo essa forte influência da minha mãe tocando, estudando dentro de casa. E quando eu completei seis anos de idade, ela me colocou numa escola de música, Instituto de Educação Musical, que tem aqui em Salvador, onde comecei fazendo iniciação musical, enfim. Comecei a tocar flauta transversal, ainda nessa escola, quando eu estava com 11 anos de idade e uma escolha minha porque eu sempre gostei do som do instrumento, a sonoridade sempre me atraiu. Escolhi, minha mãe comprou o instrumento e eu comecei a ter aulas. – Na minha família a música sempre esteve muito presente tanto sob forma de música viva, de fazer musical mesmo, como também de escutar gravações e sempre teve presente tanto, digamos assim, a vertente mais eurocentrista da música clássica, como também uma sensibilidade para música popular brasileira e latino americana. (...) Esse traço criativo já era presente na família. Minha mãe, (...) tinha uma voz bem rouca e não conseguia cantar direito, mas ela queria me ajudar, aí, às vezes, ela ia comigo no piano, ela tocava uma melodia de alguma canção bem simples, alguma coisa bem..., no piano, tocava um pedacinho e esperava eu achar aquelas notas na flauta doce.

(...) Agora que me dei conta, mas eu tive uma prática de ditado musical com a minha mãe tocando melodia simples ao piano que eu reproduzia na flauta doce, que era um instrumento que eu não sabia tocar direito, mas já conseguia usar pra fazer alguma música e me divertir.

Não obstante os fatores alinhados que conduziram os entrevistados ao

mundo da música, convém mencionar os que passaram a tocar e cantar por uma

necessidade dos pais de manterem os filhos ocupados enquanto trabalhavam. Nesse

caso, há a influência dos hábitos do Rio de Janeiro e São Paulo, locais nos quais, a

entrada da linhagem musical europeia era mais fértil, e geralmente, refere-se às pessoas

pertencentes à classe média, atuando como funcionários públicos e com mais facilidade

de prover os filhos de outras experiências de aprendizado além do colégio regular.

– Eu comecei a estudar música por necessidade dos meus pais porque eles vieram transferidos funcionários do Governo Federal do Rio de Janeiro pra cá [Brasília]. (...) eles precisavam deixar as crianças na escola e criar alguma atividade pra ter onde deixar as crianças e uma das atividades que eles pensaram foi música. Colocaram a gente na escola de música, meus irmãos com 7, 8 anos, eu com 5. Então comecei a fazer musicalização, aquelas atividades mais voltadas pra criança. E isso com certeza foi o que me levou a despertar pra música.

– Tinha, tinha não, até hoje tem essa bandinha lá, cidade do interior, tradição, e o sonho da minha família, que depois tornou-se pesadelo (risos), era que eu entrasse nessa banda, acho que para ocupar meu tempo, pra não ficar na rua, e eu relutei de início, mas, depois comecei as aulas de teoria musical, isso eu tinha mais ou menos uns 10, 11 anos. 286

Existe, nessa última fala, indícios de que a música, enquanto lazer e

ocupação temporária, era bem vinda, mas, como profissão, pode se tornar um temor

para os pais. Repara-se nesse caso, a preocupação com o salário e a autonomia

financeira do(a) filho(a), dificilmente encontrada na atividade musical.

Escolher um instrumento seja ele piano, violão, viola, violino ou flauta, tem

muita influência familiar que, como se diz no jargão popular “de pequeno é que se torce

o pepino”, também de pequeno é que se conduz a prole para o que é conveniente e

agradável para a família. São caminhos semelhantes.

Eu escolhi a flauta porque meu pai era flautista e compositor. Comecei com meu pai, depois, quando eu devia ter uns oito ou 10 anos meu pai teve uma doença na boca, e arrancou os dentes. Não podia mais tocar. Então, eu comecei... Eu estava em casa, pegava a flauta e começava a soprar. Minha

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Em entrevista realizada em 2012, em Lisboa, a flautista francesa, Sophie Perrier, radicada em Lisboa, relata que seus pais ao identificarem que não teriam que levar os filhos para a escola de música, pela proximidade de casa, e que não teriam gastos extras com isso, resolveram matriculá-los.

mãe me advertia: “olha, cuidado, seu pai chega aí e vê você mexendo na flauta...” Até que fui estudando, estudando....287

– Meu pai João Dias Carrasqueira foi um flautista extraordinário e um grande professor, um homem muito generoso e devotado, um amante da flauta, sabia tudo de flauta, dos grandes flautistas, dos mestres, era impressionante o que meu pai sabia. (...) eu fui aprendendo meio que sem perceber e, quando eu vi, eu já estava tocando, ele já colocando a gente pra tocar, minha irmã é pianista, também. (...) Lá em casa a gente ouvia de tudo.288

– O início musical se deu com o meu pai. Ele tocava saxofone, não era profissional, ele me deu um flautim quando eu tinha uns 12 a 15 anos, mais ou menos, então, eu comecei com o flautim, que era um instrumento menor, talvez ele pensou (ser) mais fácil de pegar pelo tamanho.

– Tive minha iniciação musical com meu pai, que é flautista também, está com 88 anos, mas, atualmente ele diminuiu a possibilidade de tocar, mas sempre muito animado, (vem) da família, meu bisavô, avô dele era flautista, era maestro de banda, essa coisa toda da tradição brasileira.

– Meu pai era flautista amador e naturalmente eu convivi ouvindo meu pai tocando. Ele tocava mais serenatas, valsas, choros, essa coisa toda. (...) Eu, um belo dia minha mãe me perguntou por que eu não experimentava tocar flauta, porque eu já mexia com aquela flautinha de lata. (...) Bom, então, nessa época, 12 anos, eu tocava essa flautinha de lata e um belo dia minha mãe me mostrou a flauta do meu pai e eu comecei a brincar com a flauta. – Eu sempre quis estudar flauta, dessas coisas inexplicáveis da vida porque na minha família, particularmente, eu não tenho ninguém ligado à música erudita, apesar do meu pai ser uma pessoa, um melômano, sempre ouvimos muita música em casa, mas ninguém com formação.

Não se pode omitir as pessoas que foram movidas pela intuição, uma

sensibilidade única que os aproximou do mundo dos sons, por apreciarem ou por

sentirem-se atraídos pela musa Euterpe, a “Doadora de Prazeres”.

Figura 20: Euterpe, de Johann Heinrich Tischbein289

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Moaryir Liserra apud Silva, Andreia Cristina Lopes da. A influência da Escola Francesa de Flauta no

Rio de Janeiro no Século XX. Dissertação de mestrado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2008, p. 173.

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A transmissão oral, mas, também, visual, é uma característica marcante do ensino musical. Observar como se faz os detalhes e ter a possibilidade de ouvir os resultados musicais são condições primordiais no

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