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4.3 M EDIDAS DE COMBATE AO INSUCESSO ESCOLAR

PARTE I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

4.3 M EDIDAS DE COMBATE AO INSUCESSO ESCOLAR

Ao longo dos anos registaram-se várias medidas que tiveram como objetivo o aumento das qualificações da população e o combate ao insucesso e abandono escolar. A OCDE, no âmbito das recomendações que vem fazendo a Portugal, “(…) tem insistido na melhoria da educação, pelo aumento da escolarização (em particular no ensino secundário e superior), da qualidade de educação e das vertentes tecnológicas e de formação profissional”. (Rocha, 2014, p.4). Estas recomendações incidem, sobretudo, no capital humano, no abandono escolar precoce e na aprendizagem ao longo da vida, procurando promover cada vez mais qualificações na população e um ensino de qualidade em Portugal, capaz de competir com os restantes países. Indo ao encontro destas e de outras recomendações, foram sendo criadas e implementadas políticas educativas para combater o insucesso e abandono escolar e melhorar as qualificações académicas dos portugueses.

Nas duas últimas décadas do século XX foram adotadas e implementadas várias medidas. Em 1986 foi publicada a Lei nº46/86 de 14 de outubro que determinou que o ensino obrigatório passava a acabar no 9ºano de escolaridade, havendo assim um alargamento da escolaridade básica, passando o jovem a sair da escola só aos 15 anos. No ano seguinte, 1987, foi criado o Programa Interministerial de Promoção do Sucesso Educativo (PIPSE), que tinha como objetivo combater o insucesso escolar. Em 1989, o Decreto-Lei nº43/89, de 3 de fevereiro, estabelece um regime jurídico que dá uma maior autonomia às escolas oficiais do 2º e 3º ciclo do ensino básico e ao ensino secundário. Esta autonomia passava pela autonomia pedagógica, nomeadamente, na gestão de currículos, programas e atividades curriculares e extracurriculares, na avaliação, na gestão do espaço escolar, organização do pessoal docente e definição dos horários escolares. Neste mesmo ano assiste-se ao ressurgimento do Ensino Profissional, com o objetivo de fortalecer a ligação entre a escola e o mundo do trabalho. Surge assim o Sistema de Aprendizagem, que se apresenta como um sistema de formação profissional inicial em alternância que assegura uma certificação escolar. Em 1992 foi criado o Programa Educação Para Todos, realizado em duas etapas, sendo a primeira realizada através do cumprimento da escolaridade obrigatória de nove anos até ao ano letivo de 1994/1995 e a segunda etapa focada para o acesso e frequência do ensino ou formação de nível secundário até A PROBLEMÁTICA DO INSUCESSO ESCOLAR

ao ano letivo de 1999/2000. Em 1996 são criados os Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), sendo estes espaços destinados ao desenvolvimento cultural das populações mais carenciadas através da educação. Ainda nesse mesmo ano, através do Despacho nº22/SEEI/96, são criados os Currículos Alternativos. Estes destinavam-se a alunos do ensino básico que se encontrassem em situações de insucesso escolar repetido, problemas de integração na escola ou risco de abandono escolar e as instituições escolares tinham margem de manobra para praticarem condições pedagógicas diferenciadas, adequando-as às necessidades dos alunos. Em 1997 foi criado o Programa de Integração de Jovens na Vida Ativa (PIJVA), que tinha como objetivos a informação e orientação profissional dos jovens, a formação profissional e os apoios à inserção profissional e o acesso ao emprego. O PIJVA previa a implementação de Cursos de Educação e Formação com a duração de um ano letivo, permitindo aumentar a oferta de formação para jovens que possuíam o 9ºano e criar condições para que todos os jovens pudessem, pelo menos, cumprir a escolaridade obrigatória. Em 1998, através da Resolução do Conselho de Ministros nº75/98, de 2 de julho, foi criado o Plano para a Eliminação de Exploração do Trabalho Infantil (PEETI), que tinha como princípio eliminar situações de trabalho infantil, tentando assim evitar que os jovens abandonassem precocemente a escola para integrarem, precocemente, o mercado de trabalho. No seguimento do PEETI é criado pelo Despacho Conjunto nº882/99, de 15 de outubro, o Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF), numa tentativa de combater as novas formas de abandono escolar, adotando-se medidas dirigidas para a reinserção escolar. O PIEF realiza-se através de planos de educação e formação individuais, orientados para o aluno, que contemplam uma componente de escolarização, uma componente de formação e uma componente de educação para a cidadania. A integração de um aluno no PIEF reflete uma decisão tomada pelos técnicos do PIEC, após uma primeira sinalização feita pelos agrupamentos de escolas. Em 2004, pelo Despacho Conjunto nº453 /2004, de 27 de julho, “(…) foram promovidos Cursos de Educação e Formação, destinados a jovens com idade igual ou superior a 15 anos, em risco de abandono escolar ou que já abandonaram antes da conclusão da escolaridade de 12 anos, bem como aqueles que, após concluírem os 12 anos de escolaridade, e não possuindo uma qualificação, pretendessem adquiri-la para ingresso no mundo do trabalho” (Rocha, 2014, p.26). É também nesse mesmo ano aprovado o Plano Nacional de Ação de Prevenção do Abandono Escolar “Eu não desisto”. Este plano foi o primeiro documento a partir do qual se diagnosticou em que ponto se encontrava a situação portuguesa neste tema e a comparou em termos internacionais, estabelecendo, a partir desta comparação, as metas e objetivos que deveriam ser alcançados. As A PROBLEMÁTICA DO INSUCESSO ESCOLAR

orientações eram sobretudo no sentido de prevenir o abandono escolar, tendo por base diretrizes bastante especificas, como afirmam Coimbra e Fernandes (2013, p.332) “(…) os objetivos do plano eram a integração na escola, o apoio ao desenvolvimento à promoção do sucesso; a atribuição de um sentido de utilidade e de vocação à escola; a valorização social da escola e a promoção da escolaridade mínima obrigatória de doze anos, apoiada numa política de articulação interministerial, de envolvimento da sociedade com o estabelecimento de parcerias.”

Vários autores consideram que a retenção não é, de todo, uma boa estratégia para combater o insucesso escolar e consequente abandono. Autores como Pagani et al. (2001), Xia e Kirby (2009) ou Jimmerson (2001) defendem a criação de estratégias mais eficazes, capazes de substituir a prática da retenção. Darling-Hammond (1998), apresenta quatro estratégias para melhorar o desempenho dos alunos, sendo elas: “(a) desenvolvimento profissional dos professores; (b) reorganização do sistema escolar; (c) serviços e suportes dirigidos diretamente a quem precisa; e (d) melhor uso da avaliação de conhecimentos para apoiar o desenvolvimento de um bom ensino.” Simões et al. (2008) chama a atenção para a forte importância no investimento na formação de professores, não só para que estes estejam aptos a lecionar uma determinada disciplina, mas também para que estão capacitados para lidar com os problemas implícitos no abandono escolar, mais uma vez, localizando assim o foco na importância da figura do professor.

Mais recentemente, no ano escolar de 2017/2018, segundo o Despacho nº 5908/2017, de 5 de julho, foi autorizada pelo Ministério da Educação e Ciência, em regime de experiência pedagógica, a implementação do projeto de autonomia e flexibilidade curricular dos ensinos básico e secundário. Este projeto visa a promoção de melhores aprendizagens, permitindo às escolas a gestão do currículo de forma flexível e contextualizada, contribuindo, desta forma, para a promoção do sucesso escolar.