• Nenhum resultado encontrado

MACROESTRUTURA TEÓRICO METODOLÓGICA DA PESQUISA

No documento fláviagaiogonzaga (páginas 51-54)

CAPÍTULO 1 A PAISAGEM CULTURAL DA VILA DE CONCEIÇÃO DE

1.6. MACROESTRUTURA TEÓRICO METODOLÓGICA DA PESQUISA

Assim, como vimos anteriormente, a complexidade da compreensão da paisagem em questão e sua abrangência de valores vem requerer abordagens teórico- metodológicas com enfoques diferenciados e até inovadores, para fins de uma maior compreensão, sendo esta a proposta deste trabalho. Para isto, a base metodológica inicial adotada neste estudo partiu de proposições teóricas do Manual de Aplicação em Educação Patrimonial: inventários participativos (IPHAN, 2016), a partir do momento que sua dinâmica foi definida em campo, de acordo com as necessidades e observações diretas. A base metodológica proposta pelo manual consiste na “mobilização e sensibilização da comunidade para a importância de seu patrimônio cultural, por meio de uma atividade formativa que envolve produção de conhecimento e participação”. (IPHAN, 2016, p.6). Esta metodologia proporciona a identificação do problema dentro de um contexto social e/ou institucional, o levantamento de dados relativos ao problema e a análise e significação dos dados levantados.

A condição inicial para que a metodologia desta pesquisa partisse de “inventários participativos” deu-se a partir do momento em que se fez necessário um mergulho nas práxis do grupo social em estudo, do qual extraiu-se as perspectivas latentes e onde pode-se perceber necessidades de mudanças negociadas e geridas no coletivo. Nessa direção, a ferramenta de Educação Patrimonial possibilita uma interação direta com atores locais e uma consequente conscientização sobre o que é patrimônio cultural, assim como estimula que a própria comunidade busque identificar e valorizar as suas referências culturais.

O percurso requer o registro metódico dos dados, através da realização de entrevistas e preenchimento das fichas propostas pelo inventário. Para esse trabalho, portanto, faz-se necessário um diário de campo, ou seja, um instrumento capaz de documentar os dados recolhidos durante todo o processo de pesquisa, de forma a objetivar o vivido e o compreendido. A dinâmica de coletar os dados e registrá-los coletivamente, discuti-los e contextualizá-los foi o caminho para a construção de novos saberes e/ou teorias científicas. Esse processo, entendido como compartilhamento dialético, possibilita a produção de conhecimentos novos e contribui na formação de

sujeitos críticos e reflexivos. A partir desta perspectiva circular e dinâmica que a metodologia proposta pelo IPHAN em 2016 encontra ressonância e sustentação para a conquista de um novo espaço ou a conquista de um novo conhecimento no contexto do ambiente construído, tornando-nos clara a maneira por qual iremos abordar cada ator e toda a sua bagagem de conhecimento, fundamental à nossa pesquisa histórica e simbólica.

A metodologia acima citada, no entanto, nos auxilia nas formas da coleta dos dados necessários à pesquisa, colocando-nos próximo ao universo do objeto, mas não na sua forma de apreensão e organização das informações coletadas de acordo com os objetivos específicos desta dissertação. Assim, na intenção de complementar a metodologia dos inventários participativos, iniciou-se uma busca a um método que estivesse mais especificamente relacionado a leituras de paisagens, uma vez que verificamos que as metodologias propostas nos manuais dos inventários não nos auxiliariam diretamente em uma leitura sistêmica e interligada, portanto integral, nos âmbitos socioespacial, socioeconômico e sociocultural.

Assim, optou-se por uma abordagem teórica de análise da produção da paisagem inspirada no modelo tripolar interativo GTP (Geossistema, Território e Paisagem), elaborado pelo geógrafo Georges Bertrand. Segundo o autor, trata-se de três entradas ou três vias metodológicas que correspondem à trilogia fonte / recurso / aprovisionamento e que são baseadas em critérios de antropização, de artificialização e de artialização (termo usado pelo autor para expor o aspecto subjetivo da paisagem, uma vez que a arte é vista e praticada de maneira particular, por cada pessoa. (BERTRAND; BERTRAND, 2007).

A inspiração na proposta teórico-metodológica de Georges Bertrand (2007) - para a leitura dos fenômenos geográficos – nos aproximam da certeza de que a multiplicidade de acontecimentos, fenômenos, temporalidades e espacialidades inerentes à paisagem cultural em estudo permitirão superar métodos unilaterais, conceituações estanques e procedimentos rígidos caso queiramos, de fato, dar conta de compreender ao menos um pouco da realidade da Vila Conceição de Ibitipoca.

Através da proposta de um sistema tripolar, tomamos o espaço da vila como uma mercadoria, onde a complexidade da vida cotidiana, retratando as diferenças e particularidades contextuais, nos auxilia no entendimento das dinâmicas e

ordenamentos territoriais, sendo que estão presentes inúmeros agentes e seus poderes, relacionando-se uns com os outros. (BERTRAND, 2007). Assim, podemos perceber o caráter estruturante que as intenções dos agentes produtores do espaço, através de sua dinâmica sobre o plano material (arquitetura local), assumem na análise da paisagem sob sua dimensão socioeconômica e ainda sociocultural. Agindo de forma holística e integradora, o modelo proposto tem a intenção de permitir uma interação com as especificidades locais, e por isto a escolha desta “lente” para nosso olhar analítico.

Desta forma, para a proposta da macroestrutura teórico-metodológica desta pesquisa, portanto, definiremos para simplificar o sistema tripolar LIP – Leitura Integral da Paisagem, abordando a Arquitetura Local, a Composição Social e a Percepção Simbólica – na intenção da reaproximação destas três conceituações para analisar como funciona uma determinada paisagem cultural em sua totalidade, apreendendo as interações entre seus diferentes elementos constitutivos (Figura 10).

Figura 10: Representação do sistema LIP – Leitura Integral da Paisagem, conforme a proposta de inovação metodológica. Desenho: GONZAGA, F.G.

Em nossa inovação metodológica a um sistema holístico, entendemos que cada uma das componentes do tripé funcionará como um layer de leitura da paisagem; como camadas ou “lentes” de análise que se sobrepõem e se interagem apresentando, assim se espera, os resultados que o cruzamento das informações será capaz de apresentar. Assim, a primeira componente física do sistema tripolar é a Arquitetura Local, referente ao patrimônio material, a dimensão tangível da paisagem, a componente socioespacial; a segunda componente abarcará a análise da Composição Social, a ação dos atores e seus campos de poder, a componente socioeconômica; já a terceira componente referente à Percepção Simbólica, será relacionada ao seu aprovisionamento sociocultural, o patrimônio imaterial enquanto saber-fazer, a dimensão do intangível tanto das apreensões e sentimentos topofilicos captados de seus diversos atores, como das manifestações simbólicas através da identidade e linguagem arquitetônica retratadas historicamente na Vila Conceição de Ibitipoca.

No documento fláviagaiogonzaga (páginas 51-54)