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MICROESTRUTURA TEÓRICO METODOLÓGICA DA PESQUISA

No documento fláviagaiogonzaga (páginas 54-58)

CAPÍTULO 1 A PAISAGEM CULTURAL DA VILA DE CONCEIÇÃO DE

1.7. MICROESTRUTURA TEÓRICO METODOLÓGICA DA PESQUISA

No entanto, a partir da estrutura metodológica geral proposta para esta pesquisa, temos uma questão a solucionar: de acordo com a conceituação de paisagem e suas leituras vistas no item 2 deste capítulo, como fica a análise da questão temporal? Como mencionado anteriormente, para Castriota (2009) a paisagem cultural reúne formas criadas em momentos históricos diferentes, que coexistem no momento atual, onde os aspectos materiais e imateriais do patrimônio estão entrelaçados na sua concepção. Como, então, identificar e ainda organizar cronologicamente a produção/ apropriação/ reprodução do espaço através da leitura destas edificações?

Como o modelo de leitura integral LIP aqui proposto se fundamenta no sentido de entender a paisagem como um sistema dinâmico, onde os fatores materiais, sociais e culturais são tratados em conjunto e, além de se influenciarem ainda são determinantes e determinados pela estrutura global, sua associação direta com o método Regressivo- progressivo proposto por Henri Lefèbvre (1991), em seus três momentos, nos auxiliará na compreensão máxima da paisagem cultural do nosso objeto de estudo, a Vila de Conceição de Ibitipoca. Tradicionalmente utilizada para análises de abordagem socioespacial de pesquisas da área da geografia, a metodologia lefebvriana está diretamente ligada ao modo de organização prática da sociedade urbana, levando em consideração toda a dinâmica decorrente do sistema capitalista contemporâneo.

Do ponto de vista teórico, o método permite uma compreensão mais abrangente de como o desencontro de temporalidades ligadas ao tradicional e ao moderno concorre para a dinâmica de uma urbanização relativamente recente, como é o caso do nosso objeto empírico. E isso porque, em termos metodológicos, a perspectiva lefebvriana conduz, em relação ao contexto urbano ibitipoquense, a uma sistematização dos registros históricos que ressaltam a coexistência, no tempo presente, de representações historicamente sucessivas, sejam elas no âmbito do ambiente construído e das relações sociais. O método Regressivo-progressivo visa compreender a gênese do presente, partindo sempre do atual em direção ao passado, não apenas para explicar o passado, mas, sobretudo, para esclarecer os processos em curso no presente que apontam para o futuro. (Lefebvre, 1991)

Poderemos assim vislumbrar a sistematização de uma teoria da composição do ambiente construído sobre a análise da comunidade até há pouco tempo camponesa, a qual compreende a realidade atual dessa comunidade como consequência de uma formação social, sem perder de vista o sentido do processo histórico. Desse modo, de acordo com Henri Lefebvre (1991) o estudo da sociologia histórica requer um movimento dialético entre a pesquisa apoiada sobre a história e aquela sobre a realidade sociológica. Esse movimento consolida a síntese espaço-temporal desta pesquisa apoiada num período de longa duração (desde a gênese da vila até a contemporaneidade), de modo que a ideia de longo aparece aqui como um processo histórico cumulativo na formação da comunidade, a partir de sua organização tradicional.

Sendo assim, para a microestrutura desta pesquisa adotou-se a metodologia lefebvriana na intenção de se fazer um retorno ao passado e, através de uma linha do tempo, voltamos gradativamente ao presente compreendendo a evolução da dinâmica socioeconômica, a transformação dos valores atribuídos por cada um de seus atores dentro de seu contexto histórico-espacial e sua relação com a evolução das técnicas construtivas adotadas na vila, objetivo central deste trabalho. Para esta pesquisa, no entanto, a metodologia complementar escolhida será mais uma vez excepcionalmente aplicada à área do ambiente construído, onde trataremos de analisar os elementos da paisagem sobre nova ótica, a fim de abrangermos não somente o ambiente construído, mas toda a dinâmica das relações humanas, simbólicas, culturais e temporais.

De acordo com a metodologia proposta por Lefèbvre, o caminho proposto para a crítica da vida cotidiana, a qual ele classifica como uma “metafilosofia do cotidiano” possui três momentos de investigação da produção social do espaço: o descritivo, o analítico-regressivo e o histórico-genético. (LEFÈBVRE, 1981). Esses momentos são bem descritos por José de Souza Martins, sendo primeiro deles - o descritivo - relativo à complexidade horizontal da vida, reconhecida sempre na descrição do que é visível, cabendo ao pesquisador reconstruir, identificar e descrever o que vê, a partir de um olhar teoricamente informado. (MARTINS, 1996, p.21)

Já o segundo momento - o analítico-regressivo - propõe uma decomposição da realidade analisada, através da datação exata de cada relação social revelada, podendo ser elemento da cultura material ou espiritual, desvendando o que antes parecia ser simultâneo ou contemporâneo, descoberto então como remanescente de uma época específica. (MARTINS, 1996, p.21)

O reencontro com o presente é dado no terceiro momento - o histórico-genético - onde, através da busca na gênese das suas formações e nos apontamentos de marcos de transformações, sem perder a noção do conjunto, são apresentadas todas as contradições sociais, os desencontros entre temporalidades e espacialidades. “Na descoberta da gênese contraditória das relações e concepções que persistem está a descoberta de contradições não resolvidas, de alternativas não consumadas, necessidades insuficientemente atendidas, virtualidades não realizadas”. (MARTINS, 1996, p.22). Neste momento, deve-se evitar identificar os fatos a partir de etapas históricas, mas realizar a investigação através das temporalidades desencontradas e coexistentes. A intenção, portanto, consiste na aplicação desta metodologia regressivo-progressiva em cada uma das componentes de análise da paisagem proposta no sistema LIP, sendo trabalhadas em cada um dos capítulos subsequentes.

Concluindo, no capítulo 2 desta dissertação nos dedicaremos a análise das conformações materiais presentes – o patrimônio material - e, cumprindo o primeiro objetivo específico proposto, teremos construído uma linha do tempo das edificações levantadas dentro do nosso recorte espacial, comtemplando a componente Arquitetura

Local do modelo LIP. No capítulo 3 analisaremos a reprodução contemporânea do

espaço da vila, com identificação de seus atores e seus campos de poder, contemplando o segundo objetivo específico e, abarcando, portanto, a componente Composição Social

e da metodologia inovada. Já para o capítulo 4 pretende-se, neste terceiro momento da

metodologia LIP, a Percepção Simbólica, elencar os elementos cristalizados no imaginário coletivo e sua relação com o patrimônio imaterial, assim como quais foram e as contribuições relevantes e de importância expressiva na composição da Paisagem Cultural de Ibitipoca, contemplando o terceiro objetivo específico. Por fim no capítulo 5, afim de cumprir o quarto objetivo específico, iremos confrontar os dados encontrados em relação aos marcos históricos captados na dinâmica social aos elementos arquitetônicos predominantes, assim como aos elementos simbólicos cristalizados elencados.

No documento fláviagaiogonzaga (páginas 54-58)