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O magistrado a quo salientou, inclusive, a existência de provas indiretas nos próprios processos de licitação e contratação:

No documento APELAÇÃO CRIMINAL Nº /PR (páginas 114-116)

259. Convocadas mais de uma dezenas de empresas, nas três licitações foram apresentadas poucas propostas, apenas quatro na licitação da UDHT e UGH na RNEST, três na licitação das UDAs na RNEST e duas, na REPAR.

260. Todas as propostas apresentadas pela concorrentes nas três licitações, continham preços acima do limite aceitável pela Petrobrás (20% acima da estimativa) e, portanto, não eram competitivas.

261. As propostas vencedoras e o valor final do contrato, por sua vez, ficaram muito próximas do valor máximo admitido pela Petrobrás para contratação. Na RNEST, na licitação das UHDT e UGH, 18% acima da estimativa. Na RNEST, na licitação das UDAs, 14% acima da estimativa. Na REPAR, 23% acima da estimativa, nesse caso além até do limite máximo. 262. Nas licitações da RNEST, há prova indireta adicional.

263. Nas primeiras rodadas das licitações, tanto da UHDT e UGH e da UDAs, todas as propostas superaram o limite aceitável pela Petrobrás, o que levou a novo certame.

264. A Petrobrás, ao invés de tomar a medida óbvia e salutar de convidar outras empresas para as licitações, renovou os convites somente para as mesmas que haviam participado do anterior.

265. A falta de inclusão de novas empresas na renovação do certame, além de ser obviamente prejudicial à Petrobrás, também violava o disposto no item 5.6.2 do Regulamento do Procedimento Licitatório Simplificado da Petrobrás que foi aprovado pelo Decreto nº 2.745/1998 ('a cada novo convite, realizado para objeto idêntico ou assemelhado, a convocação será estendida a, pelo menos, mais uma firma, dentre as cadastradas e classificadas no ramo pertinente'). A violação da regra prevista no regulamento foi objeto de apontamento pela comissão interna de apuração da Petrobrás (relatório da comissão no evento 5, out3 e out4, item 6.5.)

266. Como consequência da renovação do certame com as mesmas convidadas, na segunda licitação, somente as mesmas empresas apresentaram novas propostas e novamente repetiu-se a vencedora, além da manutenção, salvo pontuais alterações, da mesma ordem de classificação.

267. Esse padrão de repetição de resultados das licitações foi verificado em outras licitações da Petrobrás em obras da RNEST, como consta no relatório apresentado pela comissão de apuração instaurada pela Petrobrás (evento 5, out3 e out4).

268. Acerca desse padrão, a testemunha Gerson Luiz Gonçalves, empregado da estatal que presidiu a aludida comissão interna de apuração, declarou o que segue:

'Ministério Público Federal:- Houve alguma constatação de, salvo engano li o relatório, e tinha umas constatações de, posso dizer, de inexecuções por parte das empresas, desconformidades também por parte de algumas das contratadas, o senhor se recorda alguma coisa disso, algum ato das empresas que também é associado a essa incompetência administrativa da própria empresa, Petrobras, na gestão do contrato?

Gerson:-Eu acho que, que eu recorde, os processos licitatórios eram preços excessivos porque havia uma série de exigências, depois ocorreram procedimentos de, em vez de cancelar um processo e iniciar outro resolveram rebidar que eles chamam, resolveram fazer um novo processo mudando uma série de exigências contratuais e essas mudanças resultaram na diminuição do valor dos contratos, mas mesmo com a diminuição ainda ficavam acima em algumas situações do valor estimado da Petrobras, aí fazia um novo processo, fazendo com que as mesmas empresas tivessem que rebaixar preços. E o que a gente percebeu ao longo, em alguns processos, foi que os preços abaixavam assim de uma forma, uma não ultrapassava a outra.

Ministério Público Federal:- Linear?

Gerson:-Linear. Mas com outro caso, parece que num caso houve uma mudança de terceiro para quarto lugar, mas nas outras era assim, descia quase que linearmente, aí se chegava no limite estabelecido pelas normas da companhia, menos 15 mais 20, uma coisa parecida, em relação a esse fato.

Ministério Público Federal:- Isso, tecnicamente, pela sua experiência de trinta e oito anos, fez parecer que aparentemente poderia haver alguma combinação por parte dos licitantes?

Gerson:-A gente não tem, não pode afirmar isso, isso é difícil afirmar, mas também não pode dizer que sim nem que não, mas o ideal seria que no momento que existiu um processo cancelado, outras empresas também fossem convidadas a participar do certame para evitar, não sei, de repente alguém novo entraria.

Ministério Público Federal:- Algum fato específico em relação ao consórcio Conest que o senhor lembre de cabeça?

Gerson:-O Conest...

Ministério Público Federal:- Odebrecht, OAS...

Gerson:-É. Na Odebrecht e OAS ocorreram coisas nesse sentido assim, foram duas situações, eu acho que duas ou três situações, duas pelo menos, acho que a Odebrecht e a OAS ganharam nesse esquema que eu falei, ela sempre foi a primeira colocada desde o primeiro processo, no segundo processo continuou sendo a primeira, em outros processos ela não foi primeira, mas também foi, outra empresa ganhou e ela foi segunda do início ao fim, ou terceira do início ao fim, coisas nesse sentido assim, mais ou menos.'

269. Registre-se que a análise referida pela testemunha e os gráficos encontram-se no item 6.6 do relatório da comissão interna de apuração da Petrobrás (evento 1, out7)

270. É certo que a repetição do resultado pode ser uma coincidência, mas é improvável que essa repetição tenha se dado apenas por coincidência em pelo menos duas licitações, uma com três rodadas e outra com duas rodadas, indicando que os certames estavam viciados por ajuste prévio entre as partes.

Como se vê, há indícios suficientes da prática do delito antecedente

No documento APELAÇÃO CRIMINAL Nº /PR (páginas 114-116)

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