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Mais algumas considerações: atuação da sociedade organizada no desenvolvimento local

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 134-139)

PARTICIPAÇÃO E CIDADANIA: planejamento e gestão municipal

3.1 Participação da sociedade organizada no desenvolvimento local: planejamento e gestão municipal com sustentabilidade socioambiental

3.1.3 Mais algumas considerações: atuação da sociedade organizada no desenvolvimento local

Por outro lado, é inadiável o enfrentamento da realidade centralizadora nos marcos da divisão político-administrativa brasileira e sua reversão, uma vez que, enquanto as questões socioeconômicas são concluídas e cada vez de forma mais impactante na realidade local, os municípios na prática se situam no “terceiro escalão” em termos de importância governamental. Acrescento, também, que já está mais do que comprovado a constituição do poder local contemporaneamente na esfera de governo privilegiada, quanto ao equacionamento das necessidades coletivas, corriqueiras, prementes e por vezes mais vitais para as pessoas de modo

geral. É por isso que o Desenvolvimento Local, podendo envolver não só o território municipal, tendo como referência a organização político-administrativa brasileira, representa uma alternativa que merece ser experimentada e aprofundada teoricamente.

Quanto ao anteriormente exposto, é bastante ilustrativo o exemplo da Suécia apontado por Dowbor (1996, p. 27), que diz:

[...] o cidadão sueco participa hoje, em média, de quatro organizações comunitárias. Participa da gestão da escola, do seu bairro, de decisões do seu município, de grupos culturais, etc. A descentralização dos recursos públicos constitui assim um processo articulado com uma evolução do funcionamento do Estado: quando 72% dos recursos financeiros do governo têm a decisão sobre seu uso formulada no nível local de poder, as pessoas participam efetivamente, pois não vão numa reunião política para bater palmas para um candidato, mas sim para decidir onde ficará a escola, que tipos de centros de saúde serão criados, como será utilizado o solo da cidade e assim por diante.

Mesmo cauteloso, o autor, para não apresentar como referência absoluta experiências de sociedades e trajetórias histórico-culturais distintas, considera que elas podem ajudar na definição de caminho, inovador e singular. Assim sendo, o destaque da dimensão “comunitária” da vida social no processo histórico aponta para avanços quanto à importância e ao peso da intervenção efetiva e direta dos cidadãos no “planejamento e gestão local”.

O pressuposto de “gestão” assumido aqui é o da gestão local pública, da “coisa pública”, ou seja, do interesse público, como interesse global, legal e legítimo da comunidade local, o que necessariamente inclui as dimensões do planejamento. No caso, o planejamento como vertente da gestão, deve ser entendido como amálgama das questões “técnicas” com as “políticas”, consideradas como faces da mesma moeda.

O planejamento, não deve ser visto como algo miraculoso, nem como panaceia frente à complexidade apresentada pelas demandas sócio-históricas de todo tipo. Presentes no quotidiano das comunidades locais, as demandas são entendidas como referência à dada comunidade que guarda certa forma de organização sociocultural, abarcando determinada sociedade que é integrada por muitas comunidades, que com certeza mantêm entre si proximidades, singularidades e similitudes. Nas palavras de Leroy (1997, p. 19),

[...] falar de comunidade é também falar de um território, onde a convivência permite o conhecimento mútuo e possibilita a ação conjunta. Na Escala Humana, este é o espaço onde cidadãos podem fazer algo a seu alcance, possível de ser entendido e de produzir efeitos visíveis.

As reflexões aqui travadas na perspectiva do desenvolvimento local, gestão pública e sustentabilidade, como caminho com possibilidades de propiciar modificações importantes tanto na forma como na metodologia para o desenvolvimento integral econômico – socioambiental – político – cultural e, portanto, humano, deixa patente que para seu êxito é indispensável participação ativa da comunidade no processo.

O fato de destacar na abordagem o município como referência socioespacial básica, não implica em uma camisa de força para tratamento e perspectivas do desenvolvimento local, entendido como o envolvimento primordial do interesse público e, portanto, coletivo. Por isso, a presença de parcerias, consórcios, colaborações diversas, comitês, convênios e tantas outras formas de cooperação mútua, entre municípios, localidades e organizações da sociedade civil são de fundamental importância para os resultados que se pretende alcançar.

A radicalização da descentralização entre os entes federados com certeza refletirá favoravelmente na concretização da autonomia local definida constitucionalmente, o que sem dúvida pode refletir ao aprimorar o planejamento e gestão participativa, tendo como marco o desenvolvimento local integrado e sustentável.

Isso coloca urgência e prioridade no investimento à educação para a cidadania e consequentemente, na formação política e assessoramento técnico para que os sujeitos sociais se motivem e se capacitem, visando à intervenção consistente e os destinos locais, participando de conselhos, da formulação do orçamento local, da proposição de políticas públicas e governamentais, da iniciativa de projetos de leis, da elaboração e da execução do plano diretor municipal.

Antes de finalizar destaco o que estabelece o Artigo 182 (Título VII, Da Ordem Econômica e Financeira, Capítulo II - Da Política Urbana – BRASIL, 1988) da Carta constitucional de 1988, a Constituição Cidadã brasileira. O Artigo determina que: “A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes”.

A conquista desse dispositivo da Constituição é em parte fruto da Emenda Popular da Reforma Urbana, e contribui para o avanço da democratização e participação popular no âmbito do planejamento e gestão da administração municipal no sentido do processo constitutivo da cidadania.

Complementar Federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001, reforçando a conquista constitucional, e repercutindo em centenas de municípios de todas as regiões brasileiras, especialmente após a criação do Ministério das Cidades no início de 2003.

Figura 34: Pronunciamento do Prof. Dr. Gabriel Humberto Muñoz Palafox, Pró-Reitor de Extensão, Cultura Assuntos Estudantis da UFU, quando da entrega oficial do Projeto de Lei do Plano Diretor Participativo de Nova Ponte –MG, à Câmara Municipal - 2007.

Fonte: Equipe do PDPNO/UFU, 2007.

Registro ainda que, havendo sensibilidade, motivações vontade política por parte dos atores oriundos dos diversos segmentos sociais e também dos poderes públicos municipais, a prática do planejamento e gestão participativa é uma forma que pode contribuir para a adoção de ações e práticas de desenvolvimento local, buscando soluções para os problemas existentes, levando em consideração as especificidades de cada realidade e das demandas dos diversos setores sociais, sempre na perspectiva do interesse coletivo e portanto da maioria da população .

discutidos pode auxiliar na tecelagem de uma nova cultura política democrática e na adoção de paradigmas inovadores na formulação de procedimentos e práticas de administração, planejamento e gestão tendo em vista o interesse público, e que contribuam para a inclusão social qualificada e portanto cidadã, de amplas parcelas da sociedade.

CAPÍTULO 04

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 134-139)