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A temática e seus desdobramentos

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 72-78)

construindo “ lugares”

2.1 Falando “desenhando” e construindo cidade(s) e campo(s)

2.1.1 A temática e seus desdobramentos

A consigna Desenhe a cidade em que você vive e a cidade que gostaria de construir foi pensada e definida no conjunto dos estudos e desdobramentos após muitas rodadas de conversas durante os meses que antecederam a realização da Ação e tem em sua proposição algumas possíveis entradas.

Inicialmente, houve uma provocação e um chamamento para um ato – desenhe. “Desenhar é desenhar-se” e o Projeto pediu atos de “desenhamentos” de uma Cidade no Cerrado; pede pela imagem, as condições de vidas-em-vivência, quer dizer, uma vida que se percebe, para a qual se olha sobre a qual se pensa e que se faz desenhar e, pelo desenho se faz ver, vida sentida significativamente. Ainda, para instituições e entidades, encaminham-se as solicitações dos desenhos-desenhados, que são algumas possibilidades de melhorias de vida. “Desenhamento” é uma condição de uma pessoa que se desenha e, ao se desenhar, desenha as inter-relações com outras pessoas e com o mundo percebido, vivido e “julgado” crítica e propositadamente.

O tema A cidade em que você vive propôs uma ação “determinada” por nós, chamando um desenhador para um ato de desenhar a cidade atual, na qual se está imerso enquanto “pessoalidade” e “pessoalidades” e, concomitantemente, uma cidade do imaginário coletivo sociocultural. “Desenhador”, quer dizer, no projeto, aquele que desenha por vontade, por se sentir seduzido pela proposta do tema, podendo ser qualquer pessoa de qualquer idade, uma vez que a praça é espaço público. “Pessoalidade” é a maneira de uma pessoa se constituir, com sua personalidade, suas maneiras, seus sonhos, suas raivas, suas ancestralidades, suas perspectivas e suas ousadias.

Na sequência do tema, existia outra proposição – a cidade que se gostaria de construir – convocando-se para um ato de desenhar proposições, tendo-se a vontade e o desejo já instalados anteriormente.

Figura 17: Ação nas praças, Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado: “Desenhe a cidade que você vive e a cidade que gostaria de construir”. Projeto Oficina de Desenho Urbano: As Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado – ODURB. Uberlândia, 30 de Setembro de 2001.

Fonte: Acervo do Projeto ODURB, 2001.

Do meu jeito eu ando

Do meu jeito observo as coisas Do meu jeito eu sinto

Do meu jeito desenho

o caminho que percorro todos os dias o céu , o concreto e as pessoas

o calor , a alegria , o cheiro , a melancolia desse lugar ...

Figura 18: Ação nas praças, Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado: “Desenhe a cidade que você vive e a cidade que gostaria de construir”. Projeto Oficina de Desenho Urbano: As Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado – ODURB. Uberlândia, 30 de Setembro de 2001.

Fonte: Acervo do Projeto ODURB, 2001.

Não só eu moro aqui A igrejinha da praça A praça do bairro O bairro da cidade

Também moram dentro de mim Verônica de Moraes Sampaio

Desenhe a cidade em que você vive e a cidade que gostaria de construir é uma temática de muitos possíveis – marcas-desenhantes, registros e pegadas de uma pessoa, de espaços coletivos e de ideias culturais, de contextos e de situações. Nesse sentido, algumas pessoas – tanto oficineiros quanto desenhadores –, entenderam como sendo “chamados” dois desenhos; outras, privilegiaram uma das partes do tema ou fundiram os dois em um; e outras, ainda, fizeram seus desenhos “guardados” enquanto vontades, desvinculados – pelo menos à primeira vista – do tema proposto. A ambiguidade do tema foi objeto de ampla discussão. Entendendo que as pessoas encontrariam maneiras de, com a linha-desenhante, falar de suas percepções e proposições para a Cidade no Cerrado – Uberlândia e seus distritos, mantivemos propositadamente a condição do ambíguo, inclusive como um mote duplo, de provocação: irritação ou sedução.

O tema proposto convidou a uma criação propositiva, criando, para as crianças e para os jovens, a oportunidade de desenhar a partir de suas vivências e anseios. Se, para alguns, a frase propunha situações distintas, separando presente e futuro, para outros ela combinava essas dimensões temporais, o que levou a uma diversidade riquíssima de desenhos nos quais a compreensão da temática é retratada com razão, emoção, sonhos e utopias.

A aparente dualidade quanto à temática não causou problema metodológico. Pelo contrário, enriqueceu a proposta inicial, abrindo caminhos para a criatividade e subjetividade. Tal diversidade veio ao encontro das concepções do Projeto, uma vez que o mesmo se apresentou aberto à multiplicidade teórico-conceitual relativa à cidade e ao urbano.

Todos os desenhos entregues foram aceitos, independentemente de idade. Todas as pessoas que quiseram os materiais para desenhar vieram às praças, os tiveram. Sabíamos que, ao chamar as crianças e os jovens, estávamos chamando as famílias, os “tomadores de conta”, as turmas, as comunidades circunvizinhas das praças.

Os desenhos-desenhados (2.833 desenhos, no total) mostram “muitas cidades” no Cerrado de Minas, com inúmeras solicitações, muitas delas reafirmando as vontades faladas e verbalizadas em diversas situações. No entanto, a condição humana é aspecto que aparece somente nos desenhos-desenhados.

Figura 19: Ação nas praças, Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado: “Desenhe a cidade que você vive e a cidade que gostaria de construir”. Projeto Oficina de Desenho Urbano: As Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado – ODURB. Uberlândia, 30 de Setembro de 2001.

Fonte: Acervo do Projeto ODURB, 2001.

Sinto uma brisa no meu rosto Ouço as folhas das árvores Olho a rua e as pessoas ao redor E tudo se mistura na minha imaginação Verônica de Moraes Sampaio

Conforme Forin (1977), os desenhadores mostram, pelas imagens, seus gostos, suas maneiras de ser e seus sonhos, gostos de um sujeito do “gosto” que possui a paixão pela diferença. Os sujeitos-pessoas-desenhadoras possuem e nos mostram as suas paixões citadinas.

Figura 20: Ação nas praças, Desenhando e Construindo a Cidade no Cerrado: “Desenhe a cidade que você vive e a cidade que gostaria de construir”. Projeto Oficina de Desenho Urbano: As Crianças, os Jovens e a Cidade no Cerrado – ODURB. Uberlândia, 30 de Dezembro de 2001.

Fonte: Acervo do Projeto ODURB, 2001.

O que tenho nas mãos? Sonhos

Vontade Papel e caneta E um monte de ideias

na caixinha encantada da memória... Verônica de Moraes Sampaio

Após o evento na praça, cuidamos da realização dos seminários. Foram quatro dias, sendo dois deles realizados pelos coordenadores do projeto e dois com as palestrantes convidadas, professoras ligadas à arte pública6: Lilian Amaral e Ana Mae Barbosa.

A artista plástica Lilian Amaral sugeriu que, no seminário, se fizessem vários outdoors criados pelos oficineiros do projeto. No dia 09.11.2001, após o seminário sobre Arte Pública, os oficineiros desenharam o tema “a cidade em que se vive e a cidade que gostaria de construir” em papel branco no tamanho de outdoors convencionais e tinta preta PVA.

Neste seminário, foram abordados os possíveis diálogos entre Arte, Publicidade e Cidade. Os participantes entraram em contato com os percursos da Arte Pública ao longo da história e tiveram oportunidade de ampliar as suas relações e o seu imaginário dentro do contexto urbano. A cidade foi enfatizada como local de informações, espaço “comunicante”, onde a sua dinâmica envolve uma diversidade de imagens e de símbolos que se movem, se modificam e que também nos transformam num ritmo acelerado.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (páginas 72-78)