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Mais-valias e constrangimentos à integração de um projeto de comunicação

Capítulo 4 – Conclusões

4.1. Mais-valias e constrangimentos à integração de um projeto de comunicação

A escolha da IC para a elaboração deste relatório não foi inocente. Este conceito relaciona-se com o entendimento mútuo entre falantes de línguas diferentes, através do recurso a conhecimentos prévios de vária ordem: linguísticos, comunicativos, pragmáticos e culturais. Da interação entre estes saberes desenvolve-se a CPP, uma competência única a cada indivíduo e em cada ato comunicativo, também transversal a todo o programa da nossa turma de intervenção. Entre os projetos desenvolvidos no âmbito desta abordagem, após análise dos seus princípios e objetivos, optámos por integrar a IC com a participação numa sessão da plataforma Galanet. Como vimos, a opção por esta plataforma prende-se com o facto de a sua filosofia de trabalho se coadunar com os objetivos deste programa curricular de ELE. A parte prática do nosso trabalho foi planificada de forma a criar condições pedagógico-didáticas para a participação dos alunos em interações plurilingues virtuais, na sessão “Poliglotta? No, plurilingue!”. Assim, trabalhámos conteúdos e competências previstos na unidade “Cidadãos europeus”, com recurso a conteúdos e à realização de tarefas nesta sessão, bem como recorrendo a outras sessões.

Durante as aulas, os alunos foram deixando alguns indícios em variados registos que nos auxiliaram na averiguação das potencialidades da integração deste projeto em aulas de ELE. De facto, fomos notando um crescente envolvimento de alguns alunos ao longo

das sessões Galanet e o desenvolvimento da sua consciência, quer relativamente às aprendizagens efetuadas quer aos recursos mobilizados (linguísticos, metalinguísticos, culturais, cognitivos e pragmáticos). Pela análise dos resultados do inquérito aplicado ao grupo, percebemos que os alunos compreenderam vantagens na sua participação em Galanet para a aprendizagem de ELE.

Também nos foi possível encontrar indícios de outras vantagens do desenvolvimento de um trabalho em IC em contexto educativo que vão ao encontro do discutido no nosso enquadramento teórico e de algumas conclusões que constam no relatório elaborado no âmbito do lote 7 do projeto MIRIADI, em 2014. Assim, pudemos verificar que, além de este projeto ter auxiliado os alunos na tomada de consciência de algumas pontes e diferenças entre as línguas presentes na sessão Galanet, potenciou o conhecimento de culturas com as quais não contactam formalmente. Estas possibilidades não só desenvolvem competências comunicativas e cognitivas, como promovem a compreensão das línguas como veículos de conhecimento, hábitos e tradições, auxiliando-os no seu crescimento enquanto mediadores linguísticos e culturais. Em termos sociais, isto significa que a participação neste projeto em IC tornou os alunos mais conscientes da globalidade e da multiculturalidade, promovendo-se, assim, a igualdade e o respeito pelo Outro. Se por um lado isto denota que a IC torna possível um trabalho mais colaborativo e interdisciplinar dentro dos departamentos de línguas, igualmente revela possibilidades de organização e implementação de projetos em IC envolvendo diferentes áreas curriculares. De facto, alguns dos trabalhos que integraram o dossiê de imprensa indiciam a possibilidade do desenvolvimento de projetos de turma envolvendo a realização de trabalho colaborativo entre diferentes disciplinas. Esta potencialidade é também visível na variedade de temas propostos para discussão nos fóruns e nos trabalhos que integraram o dossiê de imprensa. Assim, com a devida articulação, podemos dizer que a IC permite o desenvolvimento de projetos coletivos, inclusivamente com outras instituições, tirando partido da especificidade e dos conteúdos das diferentes disciplinas enquanto torna mais percetível ao aluno o papel que as línguas podem desempenhar no seu percurso de vida.

Contudo, também identificámos constrangimentos, entre as quais dificuldades de ordem técnica. Dentro do grupo que integrou esta investigação, um aluno referiu problemas de acesso à Internet, um alegou indisponibilidade na hora dos chats e outro mencionou não ter computador. Embora saibamos que a generalidade destes alunos não realiza tarefas escolares regularmente fora da sala de aula, não nos pareceu que a pouca colaboração extra-aulas fosse voluntária. Pelo que sabemos do contexto socioeconómico

Capítulo 4 – Conclusões

da maioria, mais alunos não tinham acesso à Internet fora da escola ou este era muito limitado.

Também nós encontrámos algumas dificuldades na implementação das atividades que envolviam a participação individual na plataforma Galanet. Em virtude de não haver salas de informática disponíveis e apenas quatro computadores portáteis da escola disporem de ligação wireless, estas atividades decorreram na biblioteca. Embora este fator não fosse impeditivo da sua realização, implicou a mudança de espaço durante as aulas, causando sempre alguma instabilidade, pois a generalidades destes alunos manifestava dificuldades de concentração. Ainda dois trabalhos se perderam por desconhecermos que a plataforma Galanet não suporta ficheiros em formatos mais atuais42. No entanto, ressaltamos que tal se deveu também à irresponsabilidade dos alunos envolvidos, visto terem sido posteriormente alertados para depositarem novamente os seus trabalhos. Também o cronograma da sessão em que participámos levou à necessidade de efetuar algumas adaptações na planificação de forma a permitir a realização do trabalho final, já que os calendários escolares dos diferentes países não são, evidentemente, coincidentes. Assim, ao aplicar um projeto deste género, o professor deve estar aberto à necessidade de possíveis alterações na sua planificação inicial, deve cuidar a facilidade e a fiabilidade do acesso às TIC no seu contexto de intervenção, bem como estar consciente previamente das possíveis limitações das ferramentas de suporte.

Resumindo, embora o número de participantes e a complexidade da temática não nos permita tirar conclusões absolutas nem generalizáveis, os resultados apresentados permitiram-nos atingir os objetivos propostos, indiciando que a participação neste projeto colaborativo plurilingue em IC entre locutores romanófonos:

 potenciou o desejo de interagir com o Outro e de mostrar a sua cultura;

 permitiu que os alunos valorizassem os seus repertórios linguísticos para comunicar com participantes de línguas que não dominam ou desconhecem;

 tornou-os cidadãos mais abertos a outras culturas e às diferenças, numa perspetiva intercultural;

 permitiu trabalhar conteúdos e competências previstos na disciplina de Espanhol, em consonância com as diretrizes do QECR e, assim, desenvolver as suas CPP e competência intercultural.

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Lembramos que esta plataforma foi construída entre 2001 e 2004 e que, desde então, houve evolução ao nível de aplicações como Word e PowerPoint, cujos formatos atuais não são suportados pela plataforma. Acresce, também, que a Galanet não suporta os novos modos de acesso à Internet, nomeadamente as plataformas móveis (IPad e smartphones, por exemplo). Assim, cremos que se a plataforma Galanet não for tecnologicamente atualizada, corre o risco de se tornar obsoleta, colocando a sua sobrevivência em risco.