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4 AÇÃO COLETIVA

4.4 TIPOS DE AÇÃO COLETIVA

4.4.8 Mandado de Segurança Coletivo

O mandado de segurança coletivo, disciplinado pela Lei 12.016 de 07 de agosto de 2009, é outra lei extravagante que trata da defesa em juízo de direitos transindividuais (coletivos stricto sensu ou individuais homogêneos). Segundo tal Lei podem ser objeto da ação os direitos coletivos, entendidos como os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base; e os individuais homogêneos, entendidos como tais os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

O mandado de segurança coletivo, tanto quanto o individual, serve para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação a seus direitos ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. A diferença está em que no mandado de segurança coletivo a causa de pedir deve se referir a fatos que denotem situação de transindividualidade e, de outro lado, a legitimidade ativa não é atribuída ao indivíduo.

No que concerne à legitimidade ativa, o mandado de segurança coletivo somente pode ser ajuizado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, um ano, em defesa de direito líquido e certo da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados.

Para qualquer dos legitimados ativos exige-se pertinência temática com o objeto da demanda, ou seja, que a finalidade do autor (associação, sindicato ou entidade de classe) não seja estranha aos interesses defendidos em juízo. A mesma pertinência temática para fins de impetração de mandado de segurança coletivo é exigida dos partidos políticos, pois a lei limita que o objeto da ação se restrinja à defesa dos “interesses legítimos” dos seus integrantes ou relativo “à finalidade partidária”. Observa-se, com esta restrição, que o objeto de mandado de segurança coletivo interposto por partidos políticos deve se limitar às prerrogativas e direitos do parlamentar enquanto tal; tanto é assim que se exige a representação do partido impetrante no Congresso Nacional.

Tal Lei prevê contém prescrições diferenciadas alusivas ao procedimento do mandado de segurança coletivo, a exemplo da impossibilidade de concessão de liminar antes da oitiva do representante judicial da pessoa jurídica de direito público (art. 22, § 2º). Aplicado na sua literalidade, tal dispositivo é inconstitucional porque seria retirado do magistrado o poder de análise inaudita altera pars do periculum in mora da pretensão deduzida em juízo. Com efeito, podem acontecer situações em que a oitiva do representante judicial da pessoa jurídica no prazo de setenta e duas horas inviabilize o

direito material, o que resultaria em decisão final ineficaz e, assim, negação do acesso à justiça. Tal dispositivo merece interpretação conforme, ou seja, no sentido de que sempre que possível, será ouvido o representante judicial da pessoa jurídica de direito público, afinal o dispositivo que condiciona, em qualquer caso, a concessão da liminar em mandado de segurança coletivo à oitiva do representante judicial da pessoa jurídica de direito público pode inviabilizar o próprio mandamus.

No que concerne à coisa julgada, o tratamento é semelhante ao da ação civil pública, ou seja, será limitado aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.

O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, bem como não aproveita aqueles que já ajuizaram ações individuais e não manifestaram interesse em compor o processo coletivo até trinta dias após a ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.

A Lei em foco dispensou, para fins de impetração da segurança coletiva, autorização especial dos membros da pessoa jurídica, entretanto, impende ressalvar que a jurisprudência terá que dar contornos mais precisos do que pode vir a ser essa “ciência comprovada” da impetração do mandamus, bem como estabelecer condições (que a Lei não previu) para que para que não se incorra em burla ao princípio do juiz natural. Como a ação coletiva tem o condão de substituir a ação individual para aqueles que fizerem opção nesse sentido, é possível uma pessoa propor ação individual, aguardar no prazo de trinta dias eventual decisão liminar na ação coletiva para depois decidir se desiste da ação individual ou se adere à ação coletiva.

4.4.9 - A Questão das Ações Constitucionais Abstratas.

Alguns autores confundem ações constitucionais abstratas com ação coletiva. Assim, por exemplo, Gregório Assagra de Almeida considera as ações de controle concentrado de constitucionalidade como ações coletivas de natureza especial, diferenciando-as das

ações coletivas comuns, na medida em que estas encerram conflitos existentes no mundo da concretude, enquanto aquelas se destinariam ao controle abstrato das leis.131

As ações abstratas de controle de constitucionalidade têm objeto específico inconfundível, qual seja suprimir do sistema jurídico emendas constitucionais, leis ou demais atos normativos em desacordo com a Constituição Federal vigente, declará-los em conformidade com tal Constituição, proteger a supremacia dos preceitos constitucionais fundamentais ou sanar omissões constitucionais. Em suma, são “ações especiais que suscitam o controle concentrado-principal têm natureza de ação objetiva que instaura um processo objetivo para se dirimir uma questão constitucional, busca-se aqui a defesa objetiva da Constituição mediante o exame da compatibilidade vertical entre o ato ou a lei e a norma fundamental”. 132

A característica principal dessas ações é que elas encerram um processo objetivo, no qual não se fala em autor e réu como litigantes com interesses contrapostos. É um processo no qual o objeto da lide não é um bem da vida específico, mas sim a coerência e harmonia do sistema jurídico.

O objeto das ações abstratas de controle de constitucionalidade é diferente do objeto das ações coletivas, tendo em conta a diferença do interesse tutelado em juízo. É certo que as ações abstratas de controle de constitucionalidade, numa perspectiva ampla, tutelam direitos coletivos (direito a um sistema coerente, direito à segurança jurídica, etc.), mas não podem ser consideradas como ações coletivas porque estas, necessariamente, têm como objeto um direito/interesse subjetivo.

Assim, considerando que o conflito a ser resolvido mediante ação coletiva deve versar sobre um bem da vida concretamente considerado (meio ambiente, patrimônio artístico, moradia, trabalho, etc.) que se reverta em um benefício direto para a coletividade e que as ações constitucionais abstratas não têm como objeto um bem da vida específico, mas um objeto sem base material, que só se reverte em benefício para a coletividade de forma indireta, não consideramos ser este tipo de ação espécie de ação coletiva.

131

ALMEIDA, Gregório Assagra de. Direito Processual Coletivo. Um novo ramo do direito

processual. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 480.

132

CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Controle de Constitucionalidade : Teoria e Prática. Salvador: Juspodvm, 2006, pp. 159/160.

4.5 OS DIFERENTES TIPOS DE AÇÃO COLETIVA EM FACE DOS INTERESSES