• Nenhum resultado encontrado

1.4 Ações em espécie: aspectos históricos, conceituais e essenciais

1.4.2 Mandado de segurança coletivo

No ordenamento jurídico brasileiro, o mandado de segurança, segundo ensinamento de Brandão (2008, p. 111), “é também um direito fundamental, por opção do legislador constitucional, desde a Constituição de 1934”, estando atualmente inserido na Constituição Federal de 1988, no Título “Dos Direitos e Garantias Fundamentais”.

Nesse sentido também leciona Ferraresi (2009, p. 240), afirmando que o mandado de segurança coletivo “é remédio16 de direito constitucional, que se inclui entre os direitos e as garantias fundamentais, e, por essa razão, tem aplicabilidade

16

Ferraresi (2009) afirma que o termo “remédio” é empregado em razão da função saneadora do mandado segurança como dos demais instrumentos a que se utiliza o referido nome.

imediata. Caracteriza-se como norma de eficácia plena17 e auto-aplicável (art. 5º, § 1º, CF/88)”.

Aplicam-se ao mandado de segurança coletivo os dispositivos da Lei nº 12.016, de 07 de agosto de 2009, que recentemente revogou a Lei nº 1.533/51, estando garantido tal remédio no art. LXX do art. 5º da CF/88, o qual prevê que o mandado de segurança coletivo é uma garantia constitucional que visa proteger interesses difusos e coletivos.

Alonso Jr. (2006, p. 213) ressalta que é constitucionalmente possível aos legitimados, via mandado de segurança coletivo,

proteger direito líquido e certo da sociedade, obtendo-se, verbi gratia, anulação de um licenciamento ambiental obtido sem os devidos trâmites legais, pois direito de todos (inclusive dos legitimados) ver incidir as regras preventivas dentro do princípio da legalidade, objetivando evitar impactos ambientais; [...].

O direito líquido e certo, mencionado por Alonso Jr, consiste em requisitos do mandado de segurança coletivo, assim como na sua forma individual. Tais requisitos estão presentes quando na inicial o autor demonstra o certo no que se refere aos fatos, embasado em prova documental (FERRARESI, 2009).

Ferraresi (2009, p. 242) afirma que o mandado de segurança coletivo “é uma espécie de gênero mandado de segurança; possui a natureza de ação civil, de eficácia potenciada, e é destinado a proteger direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (direitos supra-individuais).”

Também importante mencionar o posicionamento de Moraes (2005, p. 147), o qual destaca que o mandado de segurança coletivo surgiu para permitir o acesso à justiça, “permitindo que pessoas jurídicas defendam o interesse de seus membros ou associados, ou ainda da sociedade como um todo, no caso dos partidos políticos,

17

A eficácia plena tem aplicabilidade direta (significa que a norma não depende de qualquer vontade para ser aplicada ao caso concreto), imediata (quando ela se aplica ao caso previsto por ela independentemente de qualquer condição e integral (significa que ela não poderá ser excepcionada, não pode sofrer restrição).

sem necessidade de um mandado especial”. Com isso, evita-se o ajuizamento e tramitação de inúmeras demandas idênticas, o que ocasionaria uma prestação jurisdicional mais morosa. Ademais, salienta que tal remédio constitucional também fortalece as organizações classistas.

Com a Lei nº 12.016/2009 há legislação infraconstitucional também a respeito da matéria, a qual estabelece que os direitos protegidos por meio do mandado de segurança coletivo são os direitos e interesses coletivos nos termos do art. 21, § único da referida Lei:

transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica”, além dos interesses individuais homogêneos, compreendidos como “decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

A legitimação para impetrar mandado de segurança coletivo está estipulada no art. 21 da Lei nº 12.016/2009, sendo que poderá ser impetrado

por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Serão beneficiários de decisão proferida em mandado de segurança coletivo todos os que comprovarem a filiação ou associação ao impetrante, não sendo necessário constar na petição inicial o nome de todos os filiados e/ou associados, bastando, portanto, comprovar tal condição quando da execução do julgado (MORAES, 2005).

A sentença no mandado de segurança coletivo, nos termos do art. 22 da Lei nº 12.016/2009 “fará coisa julgada aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante”. No entanto, o indivíduo que interpôs demanda individual será beneficiado da decisão coletiva, a não ser que requerer a desistência do mandado de segurança individual no prazo de 30 dias, a contar da ciência da impetração da

ação coletiva, ciência que deverá ser comprovada conforme dispõe o §2º do artigo anteriormente mencionado.

Em matéria ambiental o mandado de segurança coletivo é um instrumento que pode ser utilizado em situações em que figurem no polo passivo da ação autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, isso porque, tal instrumento somente pode ser utilizado se configurado abuso de poder de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público ou quando a ofensa for proveniente de abuso de poder (FIORILLO, 2006).

Tais fatores bem como a necessidade de prova pré-constituída acerca da certeza e liquidez do fato, restringem a utilização do mandado de segurança em prol à defesa do meio ambiente a casos específicos, como anteriormente mencionados.