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Mandonismo Local – Coronelismo

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Jaraguá era um município que comandava outras cidades circunvizinhas, e quem estava no poder exercia o mandonismo local ou Coronelismo. Isso pode ser considerado como um mecanismo de controle aos quais a população está submetida e que assegura determinados comportamentos, garantindo a

continuidade de um modelo político e a perpetuação de certas camadas no poder como elementos, grupos, famílias ou oligarquias.

De acordo com Lyz Duarte, o termo coronelismo é de origem ambígua. Pois se remete a patente militar ou pode referir-se a chefe político, proprietário de terras no interior do Brasil.

A correlação entre coronel e proprietário de terras tem uma explicação histórica. De acordo com SODRÉ (1958 p.183):

Criada em 1831... a Guarda Nacional era o poder específico da classe senhorial. Sua organização regional, seu processo de recrutamento, confundindo no titular do comando o titular da propriedade, suas missões taxativas caracterizavam a instituição. Ela se destinava a manter os privilégios da classe dominante e era acionada pelos seus elementos. O poder militar era assumido assim, em cada propriedade, pelo detentor do poder econômico, diretamente.

A esta questão refere-se a participação política da população e o seu envolvimento nas decisões políticas, mantendo uma relação quase que de submissão aos que pertencem à elite, em troca de outros interesses que a favoreçam. Há, portanto, uma troca entre a elite dominante e a população, que aparentemente mostra-se submissa às vontades da elite.

Esses mecanismos de controle podem explicar a permanência de determinados modelos de política, que apesar de excluírem a maioria da

população das principais decisões e de participarem dos benefícios que o poder traz, se mantêm em ações desenvolvidas por essa população.

Em outras palavras, pode-se dizer que é a população, que apesar de excluída das decisões políticas e sem acesso aos benefícios advindos do poder público, sustenta esse poder no sentido de permitir sua continuidade.

No caso de Jaraguá e cidades circunvizinhas, encontraram-se esses mecanismos de controle, primeiramente nas relações de trabalho desenvolvidas dentro das propriedades rurais. Nas primeiras décadas do século XIX, predominaram no campo, as relações de trabalho que permitiam a permanência do lavrador com sua família na propriedade rural e essas relações intensificaram- se com a abolição da escravatura, tornando-se presentes as figuras do agregado e do camarada.

As duas figuras garantiam vínculos econômicos e extra-econômicos entre o patrão e o empregado, pois eles estavam ligados por uma dívida à propriedade do coronel. A população rural, mantida dentro da propriedade, estabelecia vínculos fortes com o patrão. Era comum o apadrinhamento dos filhos do empregado pelo proprietário de terras. Em casos de doenças, enterros e desavenças entre famílias, era o patrão que auxiliava e isto promoveu um respeito e uma dependência ao patrão. Dessa maneira, as formas de pagamento, normalmente seguravam o trabalhador na propriedade, pois não raro, estava sempre em débito com o fazendeiro, pois era ele que fornecia as mercadorias, financiava e estabelecia os preços do trabalho e dos produtos.

Essas situações acabavam por estabelecer um vínculo forte entre o patrão e o empregado, uma vez que o empregado sempre devia ao patrão e a forma de compensação pela dívida era mais trabalho.

Entra nessa relação, o papel da Igreja Católica, que servia também como um mecanismo de controle, pois pregava a tolerância e a concórdia no meio da população, além de valorizar e atribuir encargos a determinados elementos da comunidade. A Igreja mantinha, então, a calma da população, pois pregava que a situação pela qual passavam era uma espécie de dádiva de Deus e que deviam agradecer por terem pessoas que a acolhessem e que lhes dessem proteção e trabalho. Essas argumentações faziam que as relações entre empregado e empregador se estreitassem ainda mais.

É por isso, com o surgimento da Comunidade de Benedicta Cypriano e a pregação de ideais diferentes aos que eram pregados pela Igreja e pela elite dominante que os mesmos revoltaram-se contra Benedicta, pois muita gente saiu de Jaraguá e de outras cidades próximas à região para viver com ela. Muitos venderam tudo que tinham, inclusive, pequenas propriedades de terra, para viverem naquela Comunidade em Lagolândia.

Benedicta pregava que todos tinham direito à terra, logo a uma divisão mais justa dos alimentos e de tudo que fosse produzido na terra, contrariando, assim, o que o coronelismo e os mecanismos de controle pregavam. Dessa maneira, muitos foram percebendo a relação injusta e massacrante a que ficaram durante anos, seguindo um coronel, um proprietário de terras e tendo na Igreja, uma forma de continuação dessas idéias de mandonismo. E dessa forma, buscaram a Comunidade para se juntar à Benedicta Cypriano em busca de uma autonomia, de

uma divisão de trabalho mais justa, sem relações tão expressas de poder e submissão.

Pode-se concluir, que as relações de dominação que conferiam o poder a elementos específicos dentro de uma comunidade implicava no desempenho de papéis tanto de funções de mando como nas subalternas. À medida que as pessoas assumiam e davam continuidade a essas funções, confirmavam o poder. Porém, isso começou a mudar com a formação da Comunidade de Benedicta Cypriano, que foi uma líder revolucionária (grifo nosso), pois começou a pregar o que todos os trabalhadores queriam ouvir a muito tempo, mas não tiveram coragem de enfrentar – pois se mantinham muito ligados ao seu coronel e ao catolicismo.

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