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O Paraíso Sonho Arquetípico da Humanidade

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3. A PRESENÇA VIVA DE DICA HOJE

3.1. O Paraíso Sonho Arquetípico da Humanidade

Jung (1994) desenvolveu um estudo voltado para a abordagem simbólica e para a hermenêutica, analisando mitos, lendas e sonhos. Dentro de suas observações, destacam-se seus estudos sobre o inconsciente coletivo, a presença nele de estruturas arquetípicas, e a concepção de si como ponto central da personalidade. Assim, as principais instâncias desse sistema, ou da psique

interagindo, estariam o eu, o inconsciente pessoal com seus complexos e o inconsciente coletivo com seus arquétipos.

Desde a infância, Jung mantinha um contato com a natureza e com os livros da biblioteca de seu pai, lendo textos de filosofia e teologia. Formou-se em Medicina e dedicou-se à psiquiatria. Teve contato com a obra de Freud, principalmente, no tocante à interpretação dos sonhos, porém alargou mais seus estudos para encontrar elementos que realmente dessem conta dos fenômenos com os quais se defrontava no tratamento de psicóticos, principalmente, esquizofrênicos.

Jung desenvolveu estudos de alquimia, mitos e lendas na busca de elementos que contribuíssem para a elucidação das questões levantadas pela clínica da psicose. Foram principalmente essas questões que o fizeram demandar outras perspectivas de análise, tais como a abordagem simbólica e a hermenêutica. Com o instrumental teórico oferecido por esses métodos, identificou nos mitos, lendas e processos alquímicos, a estrutura e a dinâmica psíquica por ele encontrados na clínica da psicose.

A partir dessa verificação, são fundadas as bases que Jung afirma que essa estrutura, enquanto forma, seria um componente da psique, presente em todos os indivíduos desde o nascimento, chegando então a sua hipótese mais sublimada – a da existência de um substrato desconhecido na mente humana, responsável pelo lado obscuro da psique, denominado de inconsciente coletivo.

O inconsciente coletivo é a dimensão objetiva da psique e contém o aprendizado resultante das experiências humanas, em todos os tempos, herdadas pelo indivíduo como disposições ou virtualidades psíquicas. Ele é dotado de

propósito ou intencionalidade, cuja força energética repousa em elementos primordiais ou arcaicos denominados de arquétipos, é determinante dos fatos psíquicos.

Jung considera que é a psique coletiva, no seu embate com o ambiente externo e suas exigências, que gera o que ele denominou de inconsciente pessoal, e não as vicissitudes da pulsão como postula a teoria freudiana.

Dessa maneira, dentro do inconsciente coletivo existem estruturas psíquicas ou Arquétipos. Tais arquétipos são formas sem conteúdo próprio que servem para organizar ou canalizar o material psicológico. Os arquétipos são formas que existem antecipadamente ao conteúdo. Arquetipicamente existe a forma para colocar Deus, mas isso depende das circunstâncias existenciais, culturais e pessoais.

Jung também denomina os arquétipos de imagens primordiais, porque eles correspondem freqüentemente a temas mitológicos que reaparecem em contos e lendas populares de épocas e culturas diferentes. Os mesmos temas podem ser encontrados em sonhos e fantasias de muitos indivíduos. De acordo com Jung, os Arquétipos, como elementos estruturais e formadores do inconsciente, dão origem tanto às fantasias individuais quanto às mitologias de um povo.

A história de Santa Dica é uma boa ilustração de um arquétipo. É um motivo tanto mitológico quanto psicológico, uma situação arquetípica que lida com o relacionamento de um povo, de uma cultura.

Percebe-se que os estudos de Jung têm uma atitude mística na condução dos elementos psicológicos. Ele adota uma postura empirista, encaminhando para

uma abordagem fenomenológica do fato psíquico, com sustentação no método hermenêutico.2

Como a dimensão do inconsciente da psique é inacessível a um exame direto, o modo possível de investigação da realidade psíquica estaria fundado no exame e na interpretação dos seus produtos. Essa interpretação é amplificadora, finalista, prospectiva e sintética.

Portanto, é do somatório de dados empíricos obtidos na observação clínica, e de dados subjetivos, obtidos de sua experiência interna (análise de seus sonhos e fantasias inconscientes) que se origina o conceito de inconsciente coletivo, que se constitui de conteúdos pré-existentes em relação à consciência, que são impessoais e comuns a todos os homens.

Dentro do conceito de inconsciente coletivo surge a noção de arquétipo conceituado como possibilidades, pré-disposições do ser humano a reagir de certa maneira, frente a certas situações de vida. É uma virtualidade que se atualiza na imagem arquetípica, ocorrendo como símbolos, fantasias, sonhos e situações vitais, cuja energia impõe à consciência reflexão.

Entretanto é nos mitos, que ocorrem a melhor expressão dos arquétipos do inconsciente coletivo, comprovando sua universalidade. Os mitos encontram-se da mesma maneira em todos os povos e culturas de todos os tempos.

Um desses mitos é a representação do Éden como a esperança de um novo paraíso terrestre e como esta esperança laiciza-se para dar corpo à noção de progresso. Os estudiosos dos movimentos milenaristas e messiânicos são os

2 A hermenêutica é a ciência da compreensão da interpretação que constituem a especificidade das ciências do espírito.

grandes defensores de que há um paraíso terreal semelhante ao paraíso adâmico. Eles vêem na tradição apocalíptica a terra da felicidade após a tempestade. Dessa forma, historicamente, presencia-se diversas comunidades que são criadas e que acreditam que eles vivenciam o tempo em que os santos julgarão o mundo e virão florescer uma nova cidade santa, “onde florescerá a árvore da vida e de onde será expulso o que é impuro e profano” (DELUMEAU, 1997, p.362).

Segundo Delumeau há um outro traço marcante nos movimentos milenaristas que é o de acreditar em um paraíso terrestre perdido que se procura renascer na outra extremidade da aventura humana. É, portanto, a esperança de um paraíso que fez os milenaristas ocidentais recusarem o pessimismo do Velho Mundo.

Logo, a busca pelo sonho, pela construção de um paraíso é o desejo de vários milenaristas que “queriam realizar na terra um primeiro esboço da cidade celeste, fazer surgir nela o máximo de felicidade e de fraternidade” (DELUMEAU, 1997, p. 368). Vejamos como esse mito foi construído no Brasil.

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