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Apêndice II – Quadro de entrevistados

2. Procedimentos metodológicos 25

2.1 O sistema de produção 78

2.1.1 Manejo e comercialização do sisal 78

Considerando que a interação entre os sistemas existentes na unidade de produção é um dos elementos presentes e característicos da agricultura camponesa, encontramos na atual condição do cultivo do sisal um exemplo de integração entre os sistemas de cultivo e de criação. O sisal, como um cultivo voltado prioritariamente para a comercialização, é um dos fatos que também nos ajuda a refletir sobre a relação do camponês com o mercado de fibras naturais.

A experiência aqui descrita foi observada na propriedade de Seu Antonio no município de Pocinhos, uma propriedade de 10 hectares onde ele cria bovinos e ovinos, mantêm um campo de sisal de cinco hectares, planta palma, milho, feijão e fava. Segundo ele, toda a produção está interrelacionada e as atividades são complementares. Iniciando a observação pela lavoura perene (o sisal), ele fala que o retorno deste cultivo só ocorre após o terceiro ano do plantio, mas que daí em diante todo ano obtém recurso desta cultura. Como ele nos dizia, o retorno é pouco, cerca de R$ 0,25 (vinte e cinco centavos) por quilo de fibra

de sisal seca, o que lhe dá em torno de R$ 1.250,00 (um mil duzentos e cinquenta reais) por ano. Para ele a vantagem desse sistema é não precisar de manejo constante. Após o início de sua fase produtiva são poucos os gastos de recursos financeiros ou de investimento da mão de obra familiar para mantê-lo produzindo, a “lavoura praticamente se mantém” e ainda contribui para a manutenção dos ovinos que usam esta área da lavoura como pastagem. A presença dos ovinos diminui a necessidade de trabalho humano para fazer o desbaste da cultura, ou seja, diminui a demanda por mão de obra para retirar as brotações que nascem no bulbo da planta mãe e que, se não forem tiradas, acabam adensando o plantio a ponto de inviabilizar a passagem de pessoas ou animais entre elas, diminuindo também a qualidade da fibra produzida. A foto 6 ilustra a situação descrita.

Foto 6 - Pastagem em meio ao sisal

Fonte: Pesquisa de campo, 2009

Os ovinos22, ao se alimentarem dos brotos, ao mesmo tempo em que se nutrem, colaboram para impedir a superpovoação do campo de sisal. Alimentando-se também da vegetação que cresceria entre as plantas de agave diminui a necessidade de roços. Desta forma, os custos com as lavouras de sisal só ocorrem a cada dez anos quando há a necessidade de refazer o campo trocando as plantas velhas por novas, no intuito de manter a área em produção. Nessas ocasiões, enquanto não há o crescimento das mudas de sisal plantadas, a área é cultivada com lavouras de milho, feijão e fava. (Nos deteremos ao manejo destas

22 Como atentam os zootecnista, existe uma preocupação técnica com o crescimento da ovinocultura na região de

caatinga, devido ao fato de esses animais pastarem arrancando as plantas, situação que pode conduzir à insustentabilidade dessa atividade, se não observadas práticas de manejo como as rotações e a capacidade de para tal rebanho.

lavouras em espaço destinado aos cultivos anuais). Outra vantagem destacada pelo Sr. Antonio é a adubação da terra realizada diretamente pelos animais enquanto eles pastam e a utilização dos restos da cultura deixados no campo após a retirada da fibra. Dessa forma, não há gastos com adubos químicos para manter a lavoura de agave produzindo.

Observando-se que esta lavoura já foi uma das principais atividades econômicas da região, atualmente esta atividade se destacou no município de Pocinhos, porém, restrita a uma área de 1.500 hectares (IBGE, 2008). O presidente da Cooperativa Mista de Pocinhos LTDA (CAMPOL) contestou esses dados e estimou a existência de mais de 4.000 hectares de sisal no município. A atual importância econômica e ecológica desta atividade é justificada pela adaptabilidade ao clima e aos solos regionais estando os cultivos de sisal instalados em áreas com solos de má qualidade, pouco propícios aos cultivos anuais. Como lavoura perene, não sendo necessária a abertura anual de novas áreas para o plantio, a manutenção da lavoura de sisal significa também a conservação da cobertura vegetal do solo, não sendo previstas a retirada ou a queima desta vegetação, pelo menos durante o tempo em que se mantém o seu ciclo produtivo – cerca de dez anos.

Entre os municípios pesquisados encontramos em Pocinhos a maior área cultivada com sisal e a organização de uma cooperativa em torno dessa atividade. Após a quase extinção da cultura sisalina no início da presente década (2000), trinta e seis agricultores iniciaram um trabalho de organização social que resultou na formação da CAMPOL, por meio da qual foram negociados recursos com os Bancos do Nordeste (BNB) e do Brasil (BB) para a estruturação da cooperativa e para a revitalização do cultivo no município.

Ampliando o grau de envolvimento institucional em torno desta atividade, a cooperativa conseguiu, junto ao governo do estado, a concessão para uso das instalações e equipamentos da antiga Cooperativa de Sisal (COOPERSISAL), que já fora a maior cooperativa comercializadora de sisal da Paraíba. Nestas instalações, a CAMPOL tem realizado suas operações de beneficiamento e comércio da fibra do sisal produzida pelos associados. A foto 7 mostra um dos equipamentos da cooperativa em operação utilizado para desembaraçar e limpar a fibra adquirida dos produtores.

Foto 7 - Batedores de sisal

Fonte: pesquisa de campo, 2008

Após o beneficiamento, a fibra é comercializada com indústrias de tapetes de João Pessoa. Segundo o presidente da CAMPOL, para manter um beneficiamento de 40 toneladas de sisal por semana, são gerados aproximadamente 300 postos de trabalho e uma movimentação financeira de cerca de um milhão de reais por ano, para custear as despesas – pagamento dos fornecedores e dos trabalhadores assalariados. Para ele, essa é uma quantia elevada de recurso financeiro que circula no mercado local, quando se considera que, no município, o principal empregador é a prefeitura municipal. De acordo com dados disponíveis no site Transparência Brasil (2010), o orçamento advindo de repasse governamental em 2009 foi da ordem de aproximadamente 11 milhões de reais, ou seja, o volume de recurso movimentado pela cooperativa chega a gerar um valor de aproximadamente 10% de toda a receita da prefeitura municipal.

É significativo verificar que a presença dessa cooperativa tem resultado tanto no incentivo à recuperação do sisal quanto na valorização da fibra, comprada em 2008 com valores entre R$ 0,90 a R$ 1,10 (noventa centavos a um real e dez centavos) por quilograma de fibra. Dados do IBGE (2006) mostram que o cultivo do sisal é a principal, quando não a única, lavoura permanente existente nesse e nos outros municípios pesquisados.

Como pudemos compreender, a forma como esta atividade vem sendo mantida no município, a produção de sisal, associada à criação de pequenos animais e à organização cooperativa, se apresenta como uma alternativa econômica viável para os camponeses na cidade de Pocinhos, principalmente por possibilitar o retorno econômico com o uso de áreas que, provavelmente, não seriam destinadas a outra atividade agrícola.