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I – FLORESTAS TROPICAIS, FRAGMENTAÇÃO DO HABITAT E BIOLOGIA REPRODUTIVA

3. Manejo florestal e biologia reprodutiva

A manutenção da diversidade genética e dos processos a ela associados em populações de árvores em florestas manejadas gerado importantes debates que buscam definir e medir as sustentabilidade do manejo florestal nas florestas tropicais através de critérios e indicadores (Kanashiro et al., 2002). Atualmente, os Planos de Manejo Florestal Sustentado (PMFSs) incorporam poucas regulamentações específicas que resguardem a sustentabilidade das intervenções florestais futuras, tais como a manutenção de árvores porta-sementes (Silva , 2001). Apesar da reconhecida importância das especificidades relacionadas aos padrões reprodutivos das espécies, estes não foram ainda suficientemente estudados e não são considerados nos PMFSs.

A exploração madeireira reduz a densidade de árvores e aumenta a distância entre os indivíduos remanescentes. Caso a mobilidade dos vetores de polinização não possa garantir adequadamente o fluxo de pólen entre os indivíduos remanescentes, o número de árvores doadoras de pólen será reduzido (Roubik & Degen, 2004), ou seja, quanto menor a densidade de indivíduos em florescimento numa população, menor o fluxo efetivo de pólen entre indivíduos (Murawski & Hamrick, 1991). Uma vez que a exploração madeireira aumenta a fragmentação da floresta, espera-se uma redução no fluxo gênico entre diferentes populações. Assim, o recrutamento em florestas fragmentadas pode ser produto de um pequeno número de árvores-mãe. (Aldrich & Hamrick, 1998). Além do mais, as síndromes zoofílicas predominam tanto na dispersão de pólen e sementes nas florestas tropicais, com fortes evidências de casos

de co-evolução entre árvores e polinizadores ou dispersores (Bawa, 1990b), representando elevada especialização que pode ser extremamente sensível a perturbações externas.

3.1. Exploração Convencional Madeireira na Amazônia

O desflorestamento na Amazônia brasileira até 1975 era inferior a 1% de seu território, mas a partir dessa época, a taxa de desmatamento tem crescido exponencialmente (Moran, 1993). Atualmente, a Amazônia apresenta a maior taxa absoluta de desmatamento do mundo, com uma média de até 2 x 106 ha desmatados por ano (INPE, 2002). Essa velocidade de destruição resulta de diversos fatores, dentre as quais se destaca o crescimento populacional, o aumento das indústrias madeireira e mineradora, a abertura de novas estradas permitindo acesso de fazendeiros e colonos, e ainda os incêndios florestais provocados pelo homem ou que ocorrem espontaneamente em áreas onde houve alteração na cobertura vegetal (Laurance et al., 2001).

Figura 3. Exploração madeireira: a) Operador de motosserra (fonte: IPAM); b) Vista aérea de uma floresta após exploração convencional (fonte: FFT).

Os recursos florestais da Amazônia Brasileira constituem cerca de 60 bilhões de metros cúbicos em toras, representando quase 30% das florestas tropicais do mundo (Barros & Veríssimo, 1996). A expansão das atividades madeireiras e da fronteira agrícola na Amazônia Legal ameaça a integridade e funcionalidade da floresta (Gerwing & Vidal, 2002).

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b

Até hoje, a maior parte da exploração florestal na Amazônia ocorre de forma predatória e imediatista, seguindo o modelo da exploração convencional, destruindo profundamente as áreas exploradas. A extração tradicional utiliza maquinaria pesada e remove até 10 indivíduos/ha, danificando 2m3 de madeira para cada metro cúbico extraído (Veríssimo et al., 1992) causando grandes impactos ecológicos, uma vez que remove até 70m3/ha/ano, resultando em até 37% de abertura do dossel, alterando as condições microclimáticas e aumentando o risco de inflamabilidade (Nepstad et al., 1999). Isso favorece o estabelecimento de espécies pioneiras com implicações na estrutura e na composição florística (Gerwing & Vidal, 2002). Essas perturbações geram ainda um tremendo impacto econômico, levando a um intervalo de até 60 anos ou mais entre os ciclos de corte ou podendo até inviabilizar para sempre o corte na mesma área (FFT, 2000).

3.2. Exploração de Impacto Reduzido (EIR)

Dentre os tipos de exploração madeireira na Amazônia Legal (Fig. 3), o corte seletivo ou Exploração de Impacto Reduzido (EIR), também conhecido como Exploração Seletiva de Madeira ou Exploração de Baixo Impacto, é o menos prejudicial à floresta, uma vez que se restringe a espécies de alto valor comercial, sendo retirados de dois a três indivíduos por hectare ou até 19m3/ha, principalmente os de grande porte e fuste reto (Veríssimo et al, 1992). A EIR baseia-se em tecnologia adequada, planejamento, treinamento e desenvolvimento de mão-de-obra especializada, adotando o sistema silvicultural policíclico, levando em consideração a baixa incidência das espécies comerciais (cerca de 80 espécies) de forma a permitir um ciclo de corte de 30 anos, com menores danos ao solo da floresta e maior aproveitamento de madeira (FFT, 2000).

A EIR altera, mas não destrói completamente o ambiente. A remoção de árvores grandes pode favorecer a entrada de espécies pioneiras, aumentando a riqueza local, porém alterando a composição original. O efeito da exploração em invertebrados indicou que, durante a exploração, esses organismos mudam para áreas não-exploradas e depois voltam a colonizar as clareiras, mas a proporção de espécies é alterada devido ao aumento do número de espécies sensíveis ao distúrbio e diminuição do número de espécies de borda ou clareira (Whitmore, 1997). A fragmentação aumenta as taxas de mortalidade de árvores e a formação de aberturas no dossel próximo à borda (Laurance et al., 1997) aumentando a mortalidade de espécies emergentes situadas próximas à borda dos fragmentos (Laurance et al., 2000).

Efeitos de ciclos repetidos de exploração podem ter conseqüências maiores, portanto é preciso intensificar os cuidados na conservação do habitat.

3.3. Manejo Florestal Sustentável: critérios e indicadores

A sustentabilidade ecológica dos planos de manejo nas florestas tropicais deve incluir critérios e indicadores que garantam a manutenção da variabilidade genética das espécies e processos correlacionados. Contudo, conhecimentos básicos sobre os parâmetros que regulam os processos reprodutivos de espécies arbóreas na Amazônia são insuficientes (Kanashiro et al., 2002). Atualmente a legislação que regulamenta os planos de manejo no Brasil vem sendo modificada com o objetivo de incorporar informações sobre aspectos ecológicos das espécies madeireiras, principalmente sobre o ciclo de corte e crescimento, visando garantir a sustentabilidade do manejo (Silva, 1989). O conhecimento da ecologia reprodutiva pode dar embasamento para avaliar a susceptibilidade dessas espécies quanto à exploração florestal, visando a manutenção da capacidade reprodutiva das populações.

A adoção de uma política de desenvolvimento para a Amazônia com foco no manejo florestal sustentável seria a melhor opção de uso da terra em 83% da Amazônia Legal, área com regime de chuvas intenso a moderado, distinto dos demais 17% do território que tem um período de estiagem definido e pode ser destinado a atividades agropecuárias (Schneider et al., 2000).

Uma alternativa que vêm minimizando os danos ao meio ambiente e agregando valor ao produto florestal madeireiro é a Certificação Florestal, que tem como fundamento a garantia de que determinado produto é originário de manejo florestal ambientalmente adequado, socialmente justo e economicamente viável. Os produtos que têm o selo da certificação são aqueles produzidos com madeira de florestas certificadas. O Forest Stewardship Council (FSC), com seu representante no Brasil, Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (FSC – Brasil) é um organismo que define e publica Princípios e Critérios universais, bem como padrões nacionais ou regionais, conforme o tipo de floresta, que abrangem os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Desta forma, os padrões do FSC incluem diferentes perspectivas de diferentes setores da sociedade sobre o que representa o bom manejo florestal, sendo aplicados mundialmente. O Princípio nº 6 do FSC – Impacto Ambiental, preconiza que o manejo florestal deve conservar a diversidade ecológica e seus valores associados, os recursos hídricos, os solos, os ecossistemas e paisagens frágeis e singulares, mantendo, aumentando ou restaurando as funções ecológicas vitais, incluindo a

regeneração e a sucessão natural das florestas; a diversidade genética e a diversidade das espécies e do ecossistema; os ciclos naturais que afetam a produtividade do ecossistema florestal, enfim, a integridade das florestas (FSC – Brasil, http://www.fsc.org.br/index.cfm). No Brasil, desde 1996 a Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS) em parceria com algumas associações do setor florestal, instituições de ensino e pesquisa, organizações não governamentais e com apoio de alguns órgãos governamentais, vêm trabalhando com um programa voluntário denominado Cerflor – Programa Brasileiro de Certificação Florestal, que surgiu para atender uma demanda do setor produtivo florestal do país. A SBS estabeleceu acordo de cooperação com a ABNT para desenvolver os princípios e critérios para florestas nativas (Inmetro – Cerflor, http://www.inmetro.gov.br/qualidade/cerflor.asp)

4. Importância da biologia reprodutiva de espécies arbóreas como base