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MANIFESTO À MANEIRA DE QUEM, SAINDO, FICA Todos temos vivido a enorme satisfação de poder estar

construindo, num esforço comum, uma nova proposta pedagógica na Secretaria Municipal de Educação. Não importa que, por nosso compromisso, tenhamos, de vez em quando, experimentado agonias e sofrimentos.

      

39 - SADI, Renato Sampaio. Os condicionantes políticos da formação docente: o debate sobre o

neoliberalismo no jornal do SINPEEM - Sindicato dos Profissionais da Educação Municipal. Dissertação (Mestrado). São Paulo: PUC-SP, (1996, p.72) 

Estou convencido de que as propostas e princípios do PT, a que a prefeita Luiza Erundina dá carne, estão certos. Princípios gerais que constituem a política de governo, de que a política educacional que vimos implementando é um capítulo.

Não estou, rigorosamente, saindo da Secretaria Municipal de Educação ou mesmo deixando a companhia de vocês. Nem tampouco renegando opções políticas e ideológicas antigas, anteriores mesmo à criação do PT. Não imaginava sequer que o PT aconteceria, na minha juventude, mas sentia muita falta de sua existência. Esperei por mais de quarenta anos que o PT fosse criado.

Mesmo sem ser mais secretário, continuarei junto de vocês, de outra forma. Vou ficar mais livre para assumir outro tipo de presença.

Não estou deixando a luta, mas mudando, simplesmente, de frente. A briga continua a mesma. Onde quer que eu esteja, estarei me empenhando, como vocês, em favor da escola pública, popular e democrática. [...] (FREIRE, IN: GADOTTI, 1996, p.103)

Essa emocionante carta apresenta o compromisso de Paulo Freire com a educação, posição que durou por toda a sua vida. Um dos intelectuais mais importantes do Brasil conheceu bem as limitações quando se atua por dentro do estado capitalista. Segundo ele, (Paulo Freire. In: (Apud) PASSETI, 1998, p.72): No governo você tem poder, mas não o poder total.

Nesse sentido, o ensino institucionalizado carrega em seu seio as amarras do capitalismo, que utiliza o estado para manter os interesses de classe. Lenin, em o Estado e a Revolução, explica:

Eis, expressa com toda a clareza, a idéia fundamental do marxismo no que concerne ao papel histórico e a significação do Estado. O Estado é o produto e a manifestação do antagonismo inconciliável das classes. O Estado aparece onde e na medida em que os antagonismos de classe não podem objetivamente ser conciliados. E, reciprocamente a existência prova que as classes sociais são inconciliáveis. (LENIN, 2008, p.50)

Para um educador que pensou um mundo sem opressores e oprimidos, não deveria ser fácil atuar na superação dessa dicotomia por dentro do Estado, que tem, em sua gênese, a manutenção das classes sociais e, portanto, a continuidade do

capitalismo, mesmo manifestando-se, por vezes, de forma democrática. Parece claro que a atuação de Freire caminhou no sentido de democratizar as relações da Prefeitura, escola e sindicato. Algo novo em um país acostumado com um capitalismo em que as instituições políticas tiveram, em grande parte da história, contorno ditatorial. Nesse aspecto, Paulo Freire foi um marco na administração da Secretaria de Educação da cidade de São Paulo.

Com a saída de Freire, assume a pasta da educação Mario Sérgio Cortella, professor do departamento de Teologia e de Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Foi chefe de gabinete da Secretaria de Educação desde o início da gestão Erundina. Nesse momento, segundo o Jornal Folha de S. Paulo, de 26/05/1991, sob a responsabilidade do novo Secretário existiam 678 escolas, com mais de 728 mil alunos, 60 mil deles fazendo curso suplência (hoje se chama Educação de Jovens e Adultos - EJA) de primeiro grau (hoje, ensino fundamental).

Foi no período de Cortella, à frente da Secretaria de educação, que depois de praticamente 3 anos de discussão com as entidades, é aprovado o Estatuto do Magistério Público Municipal, Lei 11. 229 de 26/06/1992. Este é considerado a maior conquista dos educadores da cidade de São Paulo. Em sua página na internet, o SINPEEM afirma que com o Estatuto se assegurou e organizou:

- plano de carreira do magistério; - jornada especial integral;

- investimentos em concursos; - concurso de acesso;

- evolução funcional;

- gestão democrática com conselho deliberativo; - criação de cargo de professor adjunto;

-direito de afastamento sindical para participação da categoria em congressos, reuniões de representantes, entre outros eventos.

A conquista da jornada especial integral foi o resultado concreto da defesa e vitória do SINPEEM pela melhoria da qualidade de ensino. A JEI, implantada somente no município de São Paulo, nada mais é que reconhecimento do trabalho do professor, que envolve a regência e todas as atividades correlatas. Com a medida, o professor passou a cumprir 25 horas em sala de aula e a ter 15 horas para o planejamento de aulas, discussões e desenvolvimento de projetos para melhorar

o ensino público.(www.sinpeem.com.br/materiais.php?cd secao=11&codant 18/05/2010 9h)

Além de estabelecer critérios para o exercício da profissão docente, esse documento possibilita aos professores que participarem de cursos (de curta duração, especialização, mestrado e doutorado) a evolução funcional, o que serve de estímulo para a procura de novas aprendizagens.

Outro ponto é que com o tempo de 15 aulas para dedicar-se a planejamento, discussões e projetos o docente obteve mais espaço para potencializar suas aulas e sua própria formação. Destaca-se também que o Estatuto assegura o critério de concurso para ingresso ou de pontuação para os contratados, o que eliminou a possibilidade do apadrinhamento político, prática constante na história do ensino municipal.

Essas políticas trouxeram alguns resultados significativos quanto a aprendizagem, evasão, repetência, número de matrículas. Para os professores, além do Estatuto do magistério e a democratização da relações no interior da escola, houve também aumento real de salários. Alguns números dessas transformações qualitativas e quantitativas são explicitados no livro Educação e Democracia: A práxis de Paulo Freire em São Paulo.

Temos, portanto, a partir do governo democrático popular de Luiza Erundina de Souza, um novo patamar de relações de trabalho dos professores. A construção deste novo momento foi resultado de relações ora tensas, ora mais convergentes com os movimentos sociais. E em particular, com o SINPEEM que, ao longo de sua história de embate com os governos, ajudou a formar quadros, a frutificar ideias que, depois, redundaram em conquistas relevantes para a educação no município de São Paulo.

CAPITULO 4 - SINPEEM E A DIFÍCIL TRAJETÓRIA NOS GOVERNOS MALUF e