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O governo Covas estabeleceu como diretrizes fundamentais de sua administração20 : a austeridade e otimização dos recursos; um governo transparente; a busca por soluções ouvindo a comunidade e o respeito aos compromissos. Traçou, como objetivos principais, a integração e melhoria dos sistemas de transporte coletivo; o combate às enchentes; a regularização dos loteamentos clandestinos e a redução dos déficits educacionais e habitacionais.

À frente da Secretaria Municipal de Educação - SME, foi designada a professora Guiomar Namo de Mello, reputada pesquisadora que, em seu discurso de posse, explanou os seguintes dizeres:

Ao magistério municipal, quero dizer que esta administração fará do atendimento ao professor não apenas uma prioridade,       

20 - PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. O poder em São Paulo: história da administração da cidade, 1554-1992. Co-edição da Prefeitura de São Paulo e Cortez Editora em 1992.  

mas um ponto de honra. Isso não é uma promessa abstrata. Envolve a mudança na atitude de quem se relaciona com o professor na administração direta, passa pelo respeito às entidades do magistério e chega a medidas de maior monta, dentre as quais eu destacaria as seguintes: -o provimento de melhores condições materiais de trabalho nas escolas; - a democratização das relações dentro da escola; - a revisão da carreira de forma a que o professor usufrua de vantagens compatíveis com seu desempenho e tempo de serviço, enquanto professor, sem precisar entrar numa corrida de obstáculos para galgar cargos considerados “superiores”; - a realização de concursos para todas as funções e cargos, aos quais o professor poderá concorrer. O entrosamento dos órgãos executivos e técnicos da Secretaria deve ser tal que, longe de transformar cada instância administrativa em um feudo de poder, tenha como ponto de convergência o melhor atendimento pedagógico da clientela. Participação, democratização e trabalho técnico comprometido com a criança da maioria de nossa população: eis o tripé que deverá orientar a condução desta Secretaria. (Guiomar Namo de Mello. In: (Apud) ZUCHETTO, 2001, p.27)

No entanto, do discurso da posse à efetivação das propostas, houve um processo pouco tranquilo para a APEEEM (hoje SINPEEM). Setores ligados ao PMDB passaram a ocupar cargos no governo municipal por meio de nomeações, existindo, em certa medida, uma baixa no sindicato de parte da militância, ligada ou não ao antigo MDB - inclusive ativistas experientes que haviam participado de todo aquele processo grevista de 1978 e 1979. Por outro lado, a forte polarização da sociedade se expressava também no sindicato dos professores municipais. O que levou o setor majoritário do sindicato a apoiar, por exemplo, os novos delegados de ensino como forma de retirar da Prefeitura as forças ligadas ao PDS. Isso pode ser observado em um dos boletins da entidade:

APOIO AOS NOVOS DELEGADOS:

Foi tirada uma moção de apoio aos novos delegados: DREM – 1 Márcia Eurich Betkowiski

DREM – 2 Midori Sano

DREM – 3 Helena Nazaré Pinheiro DREM – 4 Vera Lúcia Wey

DREM – 5 Vivaldo Paulo dos Santos

A APEEEM acredita que esses nossos companheiros, sintonizados com a proposta de mudança, contribuirão para a implantação de uma ESCOLA verdadeiramente democrática no

Ensino Municipal (APEEEM em ação, Ano I, Abril de 1983, Nº02)

Havia uma grande expectativa em torno do Prefeito Mario Covas e do próprio processo de abertura que se avizinhava. No entanto, os limites da democracia burguesa não demoraram a se explicitar, pois as prioridades das classes sociais são diferentes e, nos governos capitalistas, o direcionamento dos recursos acaba por abrigar, em primeiro lugar, as necessidades advindas das elites.

Pouco tempo depois da posse de Covas a entidade foi dando-se conta dos desafios mesmo sob a égide dos governos democráticos. Neste sentido, é interessante observar um texto produzido pela entidade, meses depois da instalação do governo:

A Diretoria da APEEEM em cumprimento aos princípios do seu programa, entre os quais, a luta intransigente na defesa dos interesses da categoria, participou de uma significativa concentração junto ao gabinete do prefeito e foi recebida pelo Sr. Prefeito e três Secretários Municipais: Administração, Finanças e Educação.

Neste encontro o Sr. Prefeito negou os 34% de complementação salarial e segundo o Secretário da Administração “São negras” as perspectivas salariais para 1984. Este fato coloca a todos nós a necessidade do fortalecimento da nossa organização em conjunto com os outros setores do funcionalismo. Neste sentido temos pela frente uma luta pelo restabelecimento das prioridades da Prefeitura com relação ao orçamento. A dívida externa e interna do Município de São Paulo consome parcela considerável do orçamento, trazendo como conseqüência arrocho aos nossos salários. Nós não fizemos essa famigerada dívida e, no entanto, somos forçados a pagá-la, tendo como preço nossa miséria. (APEEEM em ação, ano I, Setembro de 1983, Nº07).

A Prefeitura de São Paulo, já naquela época, apresentava o discurso da falta de verbas como justificativa para os parcos investimentos na educação. Essa assertiva tornou-se a tônica dos governos até os dias atuais. Para Pablo Gentili (2008):

Durante os anos (19)80, as restrições orçamentárias foram mais notórias nos países que recuperaram a institucionalidade democrática, onde se fortalecia a promessa de escolaridade como oportunidade integradora. Mesmo considerando a educação tão importante para o desenvolvimento, os países latino-americanos não fizeram nada além de ampliar os anos de escolaridade obrigatória. (GENTILI, 2008, p.39)

A realidade mostrou que a democracia burguesa sujeita necessidades humanas importantes, como a educação, aos interesses capitalistas. Lessa e Tonet (2008, p.89) explicam que ”[...] a democracia é uma forma de organização social que, afirmando a igualdade política de todos, reproduz as desigualdades entre a burguesia e os trabalhadores”. De forma que, as classes dominantes, mesmo com o processo de abertura, continuaram a impor para amplos setores da sociedade fortes privações econômicas, sociais e jurídicas. Fato explicitado, por exemplo, quando Covas manda prender funcionários públicos que iniciaram uma greve no dia 18 de junho de 1985 (essa greve durou 10 dias), utilizando-se de leis autoritárias. Assim, a luta histórica pelo direito à educação, saúde, seguridade social foi, e é, tarefa dos trabalhadores, tal como vem ocorrendo na história brasileira.

Na cidade de São Paulo, em todo o período do governo Covas (1983 – 1985), a pressão da sociedade e dos educadores foi fundamental para tencionar o governo municipal no sentido de ampliação das conquistas democráticas. Por outro lado, não se pode negar, também, que o diálogo entre a Prefeitura e os movimentos sociais foi qualitativamente superior.

Empregando atos unificados com o funcionalismo, ou só da categoria dos professores, assembleias com paralisação, a APEEEM foi obtendo conquistas importantes.

Com base na documentação encontrada, pudemos traçar o seguinte quadro:

Principais reivindicações Conquistas

1983 - Aumento salarial de 35% 15% de aumento + abono que depois fora incorporado.

Piso de 2,5 salários mínimos Não conquistado Elaboração de um piso e vínculo

empregatício para o professor comissionado com garantias previstas na CLT

Não conquistado

Conselho de Escola deliberativo Conquistado Concurso para todos os níveis Atendido Participação das entidades de classe no

processo de reestruturação da carreira

Reestruturação da carreira com a Lei 9875/85

Retirada das faltas da greve de 1978 1979 Não encontramos nenhum documento Estatuto do Magistério com jornada,

estabelecimento e delimitações das funções dentro das escolas.

Não conquistado

Regimento Comum das Escolas Conquistado com o decreto 21.811/85

A pressão em conjunto com outros setores da sociedade como, por exemplo, associações de moradores, levou também a conquistas para a educação municipal. Houve um aumento do número de matrículas nas EMEIs.(45%)21; criação do cargo de Coordenador Pedagógico de EMEI; foram acrescentadas às 211 escolas de educação infantil e 282 de primeiro grau, existentes em 1983, mais 74 escolas; 70 creches deixadas pelo ex-prefeito Reynaldo de Barros foram concluídas e iniciou-se a construção de mais 27 unidades.

Nesse sentido, houve na avaliação do sindicato um avanço contraditório, pois ao lado da melhora na relação com a APEEEM, existiu repressão aos movimentos sociais e, em certa medida, uma continuidade do discurso dos governos anteriores, quanto à questão das destinações dos recursos.