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V. ATIVIDADE DE NATUREZA CIENTÍFICO-PEDAGÓGICA

5.1. Revisão da literatura

5.1.1. O manual escolar

Etimologicamente o termo manual escolar tem origem em “obra manuseável” (Choppin 1992, citado por Santo, 2006, p. 105). Manual escolar é a designação atualmente utilizada na Educação em Portugal, mas existem outros nomes como “livro” que é usualmente empregue pelos alunos (Santo,

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2006), e ‘compêndio’, ‘seleta’ ou ‘livro de texto’ que já caíram em desuso (Santo, 2013). No Brasil o manual é o ‘livro didático’ (Santo, 2013).

A existência de vários termos para designar o manual escolar contribuiu para dificultar a existência de uma só definição, existindo várias (Santo, 2013). Em Portugal, o manual escolar é entendido como: “o recurso didáctico-pedagógico relevante, ainda que não exclusivo, do processo de ensino e aprendizagem (…) que visa contribuir para o desenvolvimento das competências e das aprendizagens definidas no currículo nacional” (Lei nº 47/2006, artigo 3º).

A importância do manual escolar no ensino.

O manual escolar tem grande importância quer para o aluno, quer para o professor, assumindo diferentes funções no processo de ensino-aprendizagem. Embora atualmente o professor tenha à sua disposição uma grande variedade de recursos didático-pedagógicos, destacando-se os relativos às Tecnologias da Informação e Comunicação, o manual continua a ser um dos recursos mais utilizados (Amoêda et al., 2008; Santo, 2013; Viseu & Morgado, 2011), tanto nas atividades realizadas dentro como fora da sala de aula (Custódio, 2009). Alguns autores consideram que os manuais escolares ainda são importantes no ensino, por serem de fácil uso e disponível a todos (Gök, 2012).

Embora se refira ao manual escolar como sendo um só, existe o manual do aluno e o manual do professor. O primeiro está direcionado para a aprendizagem escolar (Santo, 2006), e é essencial ao aluno por ser um guia na disciplina e por ter influência nas suas expectativas quanto à aprendizagem (Teixeira & Lima, 2010). O manual pode facilitar o acesso ao conhecimento, pela forma como organiza a informação, como pelo índice, glossário, bibliografia e/ou referências, e pedagogicamente, na forma como ajuda o aluno a construir o conhecimento, através de atividades várias incluindo de avaliação, questões, sínteses ou mapas de conceitos (Santos, 2001, citado por Santo, 2013).O manual assume várias funções para o aluno como: 1) transmitir conhecimentos; 2) desenvolver capacidades e competências; 3) consolidar e avaliar os saberes adquiridos; 4) ajudar na assimilação das aprendizagens; e 5) educar social e culturalmente (Gérard & Roegiers, 1998, citado por Santo, 2006).

O manual do professor, por sua vez, complementa o manual do aluno e auxilia o trabalho do professor (Santo, 2006; Teixeira & Lima, 2010). As funções do manual escolar relativo ao professor incluem (1) proporcionar conhecimentos gerais e científicos; (2) facultar formação pedagógica; (3) auxiliar na aprendizagem e gestão das aulas; e (4) ajudar na avaliação dos conhecimentos adquiridos (Gérard & Roegiers, 2001, citado por Figueiredo, 2013; Santo, 2006).

A seleção e a avaliação do manual escolar.

Em Portugal, anteriormente ao 25 de abril de 1974, houve um período na Educação de manual escolar único ou livro único, em que o manual para cada disciplina e ano de escolaridade a ser adotado pelas escolas portuguesas, era escolhido pelo Ministério da Educação (Solé, 2014). Após este período, deu-se com as mudanças políticas e a instauração da democracia, a abolição do livro único,

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passando a escolha do manual a ser da responsabilidade dos professores e das escolas, e existindo por parte das editoras liberdade na sua produção (Moreira, Ponte, Pires, & Teixeira, 2006; Solé, 2014).

Tal como acontece na maioria dos países da Europa, em Portugal, são as editoras que têm o cargo de elaborar os manuais, devendo para isso ter em atenção os objetivos, conteúdos e sugestões metodológicas dos programas curriculares nacionais (Moreira et al., 2006; Viseu et al., 2009). Neste sentido tornou-se pertinente verificar a adequabilidade dos manuais escolares através da avaliação didática e científica dos mesmos (Amoêda et al., 2008). O regime de avaliação, certificação e adoção do manual escolar do ensino básico e do ensino secundário foi definido em legislação própria, na Lei nº 47/2006. Esta lei, no seu artigo 11º estabeleceu os seguintes critérios de avaliação para a certificação dos manuais escolares:

a) Rigor científico, linguístico e conceptual; b) Adequação ao desenvolvimento das competências definidas no currículo nacional; c) Conformidade com os objectivos e conteúdos dos programas ou orientações curriculares em vigor; d) Qualidade pedagógica e didáctica, designadamente no que se refere ao método, à organização, a informação e a comunicação; e) Possibilidade de reutilização e adequação ao período de vigência previsto; f) A qualidade material, nomeadamente a robustez e o peso. (p. 6215)

A importância do manual escolar na Educação em Ciências

A importância crescente da ciência e tecnologia no desenvolvimento económico e na sociedade em geral, e os seus avanços constantes, exige dos cidadãos, conhecimentos científicos e competências várias, como a vontade de aprender e a capacidade de resolver problemas (Parreira, 2012). Por este motivo, desde o final do século XX, a Educação em ciências procura entre outros objetivos, que os alunos, futuros cidadãos, atinjam a literacia científica (Pereira, 2002), que é um dos objetivos que norteiam os programas curriculares das ciências, como o Programa de Biologia e Geologia do 10º/11ºano (Amador et al., 2001).

Os manuais escolares têm um importante papel no ensino das Ciências (Gök, 2012; Härtig, 2014; Henno & Reiska, 2010), e devem apresentar características que promovam este ensino. Atualmente defende-se que a sua elaboração deve basear-se em abordagens construtivistas, atribuindo ao aluno um papel central no processo de ensino-aprendizagem, promovendo a sua autonomia e o ‘aprender a aprender’ (Pires & Gomes, 2010; Rego, Gomes, & Balula, 2012). Em relação ao professor, o manual deve promover no mesmo, um papel de mediador no processo de ensino- aprendizagem (Pires & Gomes, 2010; Silva, 2001). O Ensino Por Pesquisa (EPP), é hoje a abordagem do tipo construtivista que mais se enquadra nas finalidades da Educação em ciência (Cachapuz et al., 2002). Esta perspetiva promove uma visão global da Ciência; valoriza a abordagem de situações- problema do dia-a-dia e de âmbito CTSA (Ciência Tecnologia Sociedade e Ambiente) que relacionam conhecimentos científicos e tecnológicos com a sociedade e ambiente; valoriza a História da Ciência; e defende a importância de atividades inter e transdisciplinares, entre outros (ibid.).

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Na consecução destes objetivos, e de modo a contribuir para a formação de cidadãos dotados de literacia científica, o manual escolar de ciências deve integrar conteúdos científicos corretos e atualizados; promover a aquisição de conhecimento; fomentar o pensamento e a reflexão; incentivar a investigação; integrar conteúdos relativos à História da ciência e que relacionam a Ciência, Tecnologia, Sociedade e/ou Ambiente; (Gök 2012; Udeani, 2013; Vasconcelos & Souto, 2003); promover o questionamento; e fomentar a cooperação entre os alunos (Sanmartí 2000, citado por Alves, 2005). O manual deve ainda ser compreensível para os alunos, e usar uma linguagem cuidada que permita a compreensão dos conceitos (Gök 2012; Henno & Reiska, 2010; Jacques & Filho, 2008).