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CAPÍTULO III O FUNDO DE CULTURA DA BAHIA

3.1.2 O Fundo de Cultura e o acesso aos recursos

3.1.2.3 Manutenção de instituições

Uma das formas de fomentar a cultura é através do apoio a instituições que desenvolvem atividades culturais. Desde que foi criado, o FCBA apoia organizações culturais de grande relevância para a Bahia, muitas delas, inclusive, só conseguem realizar suas atividades por contarem com o apoio do poder público. No entanto, algumas distorções podem ser observadas nessa modalidade de apoio.

Em 2005, 15 instituições receberam recursos para a sua manutenção. Esses recursos somaram cerca de R$ 2,9 milhões, o correspondente a 28,5% do total de recursos do FCBA

daquele ano. No ano seguinte, a quantidade de instituições reduziu para 13 e o recurso destinado a elas passou para R$ 7,5 milhões, ou seja, 30,4% do total. Em 2007, foram 13 instituições e os recursos foram de R$ 7,2 milhões, o que representou 38,5% do total utilizado no ano. Como podemos observar, apesar de ter havido uma redução na quantidade de instituições beneficiadas, o volume de recursos aumentou bastante, inclusive representado uma parte significativa de todo o recurso daqueles anos. No Apêndice C (tabela 24) podemos observar a quantia concedida a cada instituição no período pesquisado. Em 2007, numa tentativa de se estabelecer critérios e de buscar o equilíbrio no apoio a essas instituições, o apoio foi limitado a 80% do valor total das despesas e não poderia ser superior a R$ 400 mil60.

Tabela 14 - Instituições beneficiadas com projetos de manutenção

Instituição/Proponente Total

Museu Carlos Costa Pinto 4.422.674,86

Casa de Jorge Amado 3.893.411,46

Balé Folclórico da Bahia 2.888.421,76

Teatro Villa Velha61 2.614.543,06

Teatro XVIII62 2.526.471,10

Fundação Pierre Verger 2.131.358,85

Casa das Filarmônicas 2.072.651,71

Museu da Misericórdia63 2.015.337,61

Fundação Hansen Bahia 1.717.115,88

Academia de Letras da Bahia 1.703.639,38

Centro Brasileiro de Difusão do Livro e da Leitura 1.285.541,85

Fundação Anísio Teixeira 1.273.435,24

Instituto Geográfico e Histórico da Bahia 941.811,78

Teatro Popular de Ilhéus 765.440,00

Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro – NICSA 500.822,61 Sociedade Musical Oficina de Frevos e Dobrados 24.818,95

Câmara Bahiana do Livro 21.600,00

Total 30.799.096,10

Fonte: Secretaria de Cultura do Estado da Bahia. Elaborado pelo autor.

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Com a assinatura de termos aditivos, oito projetos ultrapassaram o limite de R$ 400 mil.

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Sol Movimento da Cena - Centro de Pesquisa para o Desenvolvimento Cultural.

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Res Inexplicata Volans.

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Dentre as 17 instituições privadas que receberam recursos para sua manutenção, 11 foram consideradas pela Secretaria de Cultura e Turismo como entidades conveniadas (SECRETARIA DA CULTURA E TURISMO, 2005). São elas:

- Casa das Filarmônicas: Organização não governamental que atua na preservação, revitalização e incentivo às sociedades filarmônicas no Estado, executando atividades de recuperação física, aquisição de equipamentos, capacitação e edição de selos editorial e musical.

- Fundação Museu Carlos Costa Pinto: Fundação criada em 1969 para conservar o antigo imóvel pertencente a Carlos e Margarida Costa Pinto e o acervo de arte decorativa do casal. - Fundação Casa de Jorge Amado: Fundação privada criada em 1987 para preservar a memória e o acervo referente à vida e obra do escritor Jorge Amado.

- Centro Brasileiro de Difusão do Livro e da Leitura: Organização privada de difusão tecnológica e científica no uso de recursos naturais renováveis e valorização da educação e da cultura com especial atenção à formação cultural e o incentivo à leitura.

- Fundação Balé Folclórico: Organização privada que tem a finalidade de divulgar e preservar as manifestações folclóricas da Bahia. Principal companhia de dança folclórica do país.

- Fundação Hansen: Instituição constituída para a preservação, restauração e divulgação da obra do gravurista alemão Hansen Bahia.

- Academia de Letras da Bahia: Organização literária criada em 1917, visando ao desenvolvimento de atividades culturais e de pesquisa.

- Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro – NICSA: Fundação privada criada para preservar a memória e o acervo referente à vida e obra do professor José Silveira. Funcionando como centro cultural, com desenvolvimento de atividades artísticas e culturais. - Instituto Geográfico e Histórico da Bahia: Organização civil sem fins lucrativos que tem como finalidade a promoção de estudos, o desenvolvimento e a difusão dos conhecimentos de geografia, história e ciências afins, especialmente da Bahia e do Brasil, assim como a promoção de eventos culturais, a defesa e conservação do patrimônio histórico e artístico baiano e brasileiro.

- Fundação Pierre Verger: Fundação de direito privado, com sede em Salvador, foi criada em 1988 para divulgar a obra de seu fundador, o fotógrafo e etnólogo Pierre Fatumbi Verger. O papel da Fundação é preservar, guardar e abrir à comunidade o acervo do artista, além de possibilitar o acesso a novos conhecimentos e técnicas através de ações culturais.

- Teatro Villa Velha: Espaço cultural que abriga grupos artísticos, realiza apresentações, ensaios, criação e produção de espetáculos, assim como oficinas artísticas e técnicas. Também é responsável por intercâmbios.

Em 2008, por conta de algumas irregularidades identificadas pelo Tribunal de Contas, não houve seleção para esse tipo de apoio. Em entrevista ao Jornal À Tarde, Márcio Meirelles explicou os motivos que provocaram a suspensão.

Assim que assumimos, encontramos um relatório realizado pelo Tribunal de Contas do Estado que apontava irregularidades nos convênios do Fundo de Cultura. [...]. O relatório apontava também uma concentração de recursos em algumas poucas instituições. A Procuradoria Geral definiu que os convênios só seriam renovados após a solução dos problemas. Por isso houve aquele freio de arrumação. [...] a maior parte dos problemas era relacionada ao modelo de prestação de contas. Havia uma informalidade estabelecida pelo próprio Estado. Os produtores dessas instituições não tinham informação ou não eram cobrados para fazer de outro jeito. É bom deixar claro que não havia malversação do dinheiro público (LOPES, 2009, p. 15).

Por conta da redução do apoio em 2007 e da não realização da seleção em 2008, algumas instituições tiveram grandes dificuldades em manter suas atividades. A Fundação Casa de Jorge Amado precisou demitir parte dos seus funcionários e desligar o ar condicionado. O Superintendente de Promoção Cultural da época, Paulo Henrique de Almeida, afirmou que Constituição proíbe que os fundos de cultura repassem verbas às entidades para o pagamento de salários e encargos sociais e que a Fundação precisava buscar outras formas de apoio (FRANCISCO, 2007). Outra instituição que precisou cortar gastos foi o Museu Carlos Costa Pinto. O museu fechou as portas aos finais de semana, suspendeu exposições, palestras, conferências e demitiu 18 funcionários. O valor recebido não representava nem metade dos recursos necessários a sua manutenção (CERQUEIRA, 2009).

Em 2009, a Secretaria de Cultura voltou a selecionar projetos de manutenção de instituições culturais. Esses projetos foram denominados de Projetos de ações continuadas de instituições culturais. Em setembro daquele ano foi publicada a Portaria nº 148 que tornou público os critérios específicos para apresentação, avaliação, execução e prestação de contas. A portaria estabeleceu que poderiam se inscrever Pessoas Jurídicas sem fins lucrativos, que desenvolvessem ações culturais continuadas, tais como: museus, arquivos, teatros e centros culturais. O apoio concedido poderia variar de R$ 150 mil a 550 mil anuais e os projetos deveriam ser concluídos em até dois anos. Foi definido também que o apoio concedido pelo FCBA era de caráter complementar e a instituição deveria apresentar 20% de contrapartida com recursos próprios ou de outras fontes. Em 2010, outra seleção foi aberta destinando de

R$ 1.500.000,00 para projetos de ações continuadas de instituições (Portaria nº 117). Nesse caso, os valores dos apoios variaram de R$ 50 mil a R$ 200 mil. É importante destacar que, mesmo após as mudanças nos critérios, não houve alteração das instituições beneficiadas, apenas a Casa das Filarmônicas, o Centro Brasileiro de Difusão do Livro e da Leitura e o Núcleo de Incentivo Cultural de Santo Amaro – NICSA não voltaram a receber o apoio.