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MAPA COGNITIVO E UTILIZAÇÃO DE IMAGEM SATÉLITE 85

No documento UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB (páginas 100-105)

CAPITULO 4 APRENDER COM OS PRODUTORES 82

4.1 MAPA COGNITIVO E UTILIZAÇÃO DE IMAGEM SATÉLITE 85

O mapa cognitivo permite concretizar em um mapa a visão que o produtor e sua família têm da utilização do espaço a nível da propriedade ou comunidade, localizando as informações de maior importância (GEILFUS, 1997). Esta informação representada graficamente considera os aspectos de maior relevância da área, como os limites, a divisão das zonas locais, os recursos hídricos (rios, lagoas, córregos), o relevo e as vias de comunicação entre outros (COX, 1996). A nível de grupo (comunidades ou família) foi feito o mapa, onde coletivamente (grupo focal ou família) se localizaram os elementos do espaço na discussão entre os participantes.

Inicialmente se fez nas comunidades de Benjamin Constant (São João e Tupi I) durante as oficinas participativas, o mapa cognitivo das comunidades e da localização espacial dos recursos naturais. Como iniciativas da comunidade de São João, fizeram dois mapas, um da estação de seca e outra da estação de chuva, permitindo identificar a distribuição das culturas, capoeiras e florestas para cada estação (figura 45 e 46). Dado que durante a cheia a água inunda as zonas de várzea, os espaços onde se localizam as culturas ficam reduzidos obrigando aos produtores a fazer atividades diferentes em cada estação.

Figura 45 - Construção coletiva do mapa cognitivo. Comunidade de Tupi I, município de Benjamin

Figura 46 - Mapa da comunidade de São João - Município de Benjamin Constant-AM.

Realizado em 11.01.06

Desta maneira se obtiveram para as duas comunidades de Benjamin Constant, mapas da utilização atual do espaço e seu território a partir das percepções dos atores sociais; como informações sobre os elementos espaciais relevantes do sistema, numa escala local (da comunidade), permitindo criar uma representação coletiva. Neste espaço identificaram-se os principais elementos da paisagem com seus nomes, os tipos de coberturas e usos do solo. Em São João numa segunda visita de campo levaram uma imagem de satélite da região onde se localizava sua comunidade, para que na reunião participativa os atores reconhecessem e explicassem o espaço e limites da comunidade, e numa escala maior seu contexto dentro da região (Figura 47). Tanto o mapa como as observações da imagem de satélite converteram-se em ferramentas para identificar todos os elementos presentes dentro da paisagem, complementando-se entre elas e permitindo identificar os recursos que possui cada comunidade já que a imagem por si mesma e pela escala não permitia identificar os usos dos solos, o que acontece geralmente a escala da propriedade com as culturas anuais.

Figura 47 - Apresentação da imagem de satélite na comunidade de São João

Realizado em 17.07.06

Porque a idéia principal das oficinas foi de identificar junto com os atores sociais os componentes espaciais de suas comunidades, se utilizou o mapa como referência inicial e base para a aplicação de outras ferramentas, como a chuva de idéias que se apresenta mais adiante. Nesse sentido o mapa além de permitir entender e identificar a utilização do espaço de acordo com a dinâmica da precipitação, foi uma base para introduzir outras ferramentas e apoiá-las.

Por outro lado em Benfica por meio da entrevista semi-estruturada a nível da propriedade, cada produtor e sua família desenharam sua propriedade, especificando posteriormente a evolução temporal da mudança da cobertura e usos do solo, num mapa histórico falado, focalizado na implantação das pastagens, como principal transformador da cobertura de floresta. Durante o desenho do mapa o produtor relatou a história de sua chegada, o estado inicial de sua propriedade e as razões pelas quais ele implantou pastagens. Assim, durante o desenho que o produtor fez de sua propriedade foram-se identificando os elementos presentes dentro da propriedade e a evolução das coberturas desde sua chegada à região (Figura 48).

Figura 48 - Desenho do mapa da propriedade de uma família na comunidade de Benfica. Realizado

em 14.03.06

Segundo um produtor de Benfica entrevistado em março de 2006, desde sua chegada em 1995, num lote de 12 alqueires (aprox. 60 hectares) coberto em sua totalidade pela floresta, a queimada e derrubada foram feitas, inicialmente para a plantação de arroz e capim. Assim foi derrubando ano após ano, iniciando em 1996 até 2003, na média de 1.4 alqueires/ano. Como apresentado na figura 49 o produtor começou plantando culturas anuais e capim para colocar gado a meia e gado obtido pelo crédito (PRONAF), posteriormente ao desmatar toda a floresta, somente fez manejo de gado e alugou maquinaria de arroz aos outros produtores como entrada econômica. Este padrão de aumento de pastos e diminuição de floresta se manteve desde sua chegada, atualmente o produtor não tem mais floresta, mas reconhece que os principais problemas que possui com os pastos são as secas e a super- pastagem para a produção pecuária. Este produtor escolheu uma estratégia orientada á pecuária, para aumentar seu capital, num ritmo de estabelecimento de pastos muito rápido, onde se cultiva arroz para seu consumo e venda do excedente, mantém-se como um pecuarista que deu valor a sua terra através do estabelecimento de pastagens.

Figura 49 - Mapa histórico contado por um produtor em Benfica-Itupiranga (PA)

Fonte: Vieira Pak

Desta maneira se obtiveram informações essenciais para conhecer a lógica que o produtor tem no momento de estabelecer pastagens e sua localização dentro da propriedade, já que as perguntas feitas na entrevista enfocaram-se nas razões pelas quais o produtor derruba certa quantidade de floresta, divide as pastagens, faz rotação do gado, coloca cerca, estabelece pastagem em certo espaço de sua propriedade e as mudanças que aconteceram nos últimos anos. Esta informação, complementada com outro tipo de instrumento como o calendário agrícola que se apresenta a continuação e em seu conjunto oferecem a espacialidade e temporalidade que o produtor maneja e, as decisões que toma dentro de sua propriedade.

É interessante notar que os mapas feitos nas comunidades foram feitas a escala da comunidade, enquanto que o desenho do mapa junto com a evolução histórica desenhado em Benfica foi feita à escala da propriedade. Como foi explicado anteriormente, isto foi feito porque as decisões que os produtores tomam, são feitas de maneira individual em sua propriedade, contrário ao manejo que os caboclos ou indígenas fazem de seu território, ainda que cada terra tenha seu dono, não existe uma delimitação visual desta, como de uma propriedade agrícola delimitada por cercas e todos sabem o que os outros fazem. Segundo os produtores das comunidades, antes existiam as roças comunitárias, mas agora cada ano as pessoas mantêm as mesmas roças que utilizam por 3 anos e deixam descansar por 5 anos.

No documento UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UnB (páginas 100-105)