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MAPA DO FIM DA FOME

No documento Mapa do fim da fome II (páginas 33-38)

A pesquisa Mapa do Fim da Fome II foi lançada no dia 16 de abril, em Recife, onde o Professor Marcelo Neri, coordenador do Centro de Políticas Sociais/FGV e da pesquisa, apresentou junto com o coordenador da FGV Nordeste, Jorge Jatobá uma versão da pesquisa para os municípios de Pernambuco e áreas de Recife. O estudo foi viabilizado pelo apoio institucional do SESC-PE, do SEBRAE-PE e do Banco do Nordeste do Brasil através do Escritório Técnico do Nordeste (ETENE). Temos também como parceiro a Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria e pela Vida que patrocinou estudo semelhante para o Estado do Rio de Janeiro. O Mapa do Fim da Fome II é um banco de dados sobre as condições sociais dos municípios pernambucanos e de subdistritos do município do Recife. As informações são georeferenciadas, permitindo a localização física das áreas sujeitas às condições sociais mais adversas. Essas informações constituem um instrumento poderoso para que a sociedade e governos possam elaborar programas bem focados de alívio social, de combate à fome, à miséria e à exclusão social. A pesquisa revela que 53% da população pernambucana vive em situação de miséria, tendo o município de Manari como um dos mais pobres do Brasil com 90% de miseráveis; Fernando de Noronha com 5% de miseráveis e com maior renda do estado (R$1.027,00) aparece como o paraíso dos indicadores sociais do Estado. Ela ainda nos permite analisar, por exemplo, os municípios de Pernambuco que foram recentemente destaque na mídia em função das ações realizadas pelos sem-terra nestas áreas (abaixo a tabela com essas informações), sendo que três desses municípios estão entre os 20 menos miseráveis dos 185 municípios do Estado.

MAPA DO FIM DA FOME

Pernambuco - Medidas de Miséria - Linha de R$79* Áreas que se tornaram objeto de ação dos sem-terra

Transferências Mínimas para Erradicar a Miséria R$ pessoa R$ não miserável R$ miserável

Total da Uf 7,895,042 53.86 23.47 50.87 43.58

Cabo de Santo Agostinho 152,789 54.95 18 23.61 52.42 42.97

Escada 57,218 64.5 66 27.07 76.26 41.97

Jaboatão dos Guararapes 579,825 43.00 8 17.20 30.17 40.00

Moreno 49,112 62.1 46 25.70 67.81 41.38

Petrolina 217,365 47.29 10 19.28 36.58 40.78

Fonte: CPS/IBRE/FGV processando os microdados da amostra do Censo Demográfico 2000/IBGE. Municípios População % Miseráveis Colocação

no Ranking Toritama IATI MANARI # CARNAUBEIRA DA PENHA SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

5.56 5.56 - 50.83 50.83 - 66.05 66.05 - 75.23 75.23 - 90.41 # Fernando de Noronha

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGE

Percentual de Miseráveis por Município Pernambuco Toritama IATI MANARI # CARNAUBEIRA DA PENHA SANTA CRUZ DO CAPIBARIBE

5.56 5.56 - 50.83 50.83 - 66.05 66.05 - 75.23 75.23 - 90.41 # Fernando de Noronha

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGE Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados censo demográfico de 2000/IBGE

Percentual de Miseráveis por Município Pernambuco 61.15 62.15 - 66.65 66.7 - 68.64 68.65 - 69.48 70.48 - 71.39 RPA 03 Casa Forte Parnamirim RPA 02 Beberibe Encruzilhada RPA 01 Aflitos Bairro do Recife RPA 06 Boa Viagem Imbiribeira RPA 05 Afogados Ilha do Retiro RPA 04 Caxangá Torre

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo demográfico de 2000/IBGE

Participação da Renda do Trabalho por Subdistrito Recife 61.15 62.15 - 66.65 66.7 - 68.64 68.65 - 69.48 70.48 - 71.39 RPA 03 Casa Forte Parnamirim RPA 02 Beberibe Encruzilhada RPA 01 Aflitos Bairro do Recife RPA 06 Boa 61.15 62.15 - 66.65 66.7 - 68.64 68.65 - 69.48 70.48 - 71.39 RPA 03 Casa Forte Parnamirim RPA 02 Beberibe Encruzilhada RPA 01 Aflitos Bairro do Recife RPA 06 Boa Viagem Imbiribeira RPA 05 Afogados Ilha do Retiro RPA 04 Caxangá Torre

Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo demográfico de 2000/IBGE Fonte: CPS/IBRE/FGV a partir dos microdados Censo demográfico de 2000/IBGE

Participação da Renda do Trabalho por Subdistrito Recife

9. Considerações Finais

A nova safra de microdados recentemente colhida comprovou que a crise social se instalou nas metrópoles brasileiras. Como exemplo extremo, a taxa de miséria no município de São Paulo aumenta cerca de 50% entre 1991 e 2000. No município do Rio de Janeiro a miséria cai 19% neste período, o que representa uma inversão da decadência de desempenho relativo frente a São Paulo, observada nas décadas anteriores. No período 2000-02 observamos a continuidade desta tendência: a taxa de miséria baseada em renda do trabalho sobe 1,57% no município de São Paulo e cai 1,68% no do Rio. Neste mesmo período a taxa de miséria sobe mais nas periferias destas capitais, 10,4% e 18,3%, o que faz com que o aumento da miséria na Grande São Paulo seja inferior a do Grande Rio, 5,3% contra 7,3% (média móvel de 12 meses segundo cálculos feitos sobre os microdados da Pesquisa Mensal do Emprego (PME/IBGE – vide banco de dados)).

O ônus da crise se concentra no espaço metropolitano, já o bônus dos novos programas sociais se dirige para os grotões de miséria. Isto vale para a implantação de programas Constitucionais como a Previdência Rural e o Benefício de Prestação Continuada; para programas ad-hoc emergenciais do final da década de 90 como as frentes de trabalho contra a seca no nordeste; para as bolsas do projeto Alvorada (Escola, Alimentação etc) implantados a partir de 2000, para as ações do Fome Zero e mais recentemente para o advento do Bolsa Família.

O Fome Zero representa um novo paradigma de como o estado mobiliza a sociedade, aí incluindo ONGs as corporações e mesmo atores estrangeiros. O Bolsa-Família vem organizar o lugar que é do estado no combate à miséria, realizando relevantes upgrades e inovações nas ações anteriores. Agora estes dois programas, assim como os outros citados acima, tem como foco principal as áreas rurais e as cidades de menor porte. Neste ínterim as grandes cidades Brasileiras estão órfãs de políticas integradas. Esta é a perna faltante do tripé, a fronteira a ser explorada pela nova geração de políticas sociais. A natureza dos problemas (e das soluções) das grandes cidades possui características próprias e diversificadas que devem ser objeto de um conjunto de políticas específicas. A começar pela maior quantidade de recursos e tecnologias sociais disponíveis pela sociedade civil.

Os anos 90 constituem a década das reformas liberais, nos quais abertura da economia, privatizações e estabilização ocupam lugar de destaque. Agora quais seriam os impactos dessas reformas no cidadão comum? O banco de dados permite a análise de dados relativos a acesso a bens de consumo duráveis, serviços públicos, moradia entre outros. O período de lua de mel com o Real, apresenta maiores taxas de crescimento anuais de acesso a duráveis. As razões por trás deste avanço parecem estar menos em melhoras na distribuição de renda, e mais na redução das incertezas. Com a estabilização os indivíduos se sentiram mais seguros para tomar crédito e converter poupanças precaucionais em consumo de duráveis. Similarmente, as financeiras se sentiram mais

confiantes em ofertar empréstimos pela facilidade de monitorar potenciais tomadores, relaxando restrições ao crédito. Complementarmente, a abertura da economia aumentou a quantidade e a qualidade dos bens (e seus componentes) disponíveis na praça brasileira. No que tange a oferta a serviços públicos, como acesso a esgoto, água e energia elétrica é importante incorporar o processo de privatização a análise. No caso do telefone particular de serviço público sujeito a racionamento, em um bem durável em franco processo de difusão.

Cabe, por fim, lembrar a operação de efeitos demonstração e de consumo conspícuo atuantes agora em escala global. O crescimento do acesso a bens e serviços não consegue acompanhar o ritmo das inovações observadas nos desejos de consumo. Num mundo globalizado, os Silva e seus vizinhos brasileiros, se sentem compelidos a acompanhar os mutantes hábitos dos Jones e seus vizinhos americanos. A sensação de frustração consumista decorreria mais por não possuirmos o que passarmos a querer , do que por perder o que já possuíamos. De toda forma, na perspectiva do consumidor, os anos 90 não constituíram uma segunda década perdida. Entretanto, o mesmo não pode ser dito no caso do trabalhador, o problema do desemprego e da informalidade é a pior face da década de 90.

Pesquisas de opinião apontam o desemprego e a violência como os dois problemas a ocupar mais os corações e mentes dos brasileiros. Os números do desemprego e da violência brasileira têm a cara dos jovens das favelas e periferias metropolitanas. A taxa de desemprego entre 15 e 29 anos é 22.6%, quatro vezes e meia maior do que as do grupo de 35 a 39 anos de idade. Cabe lembrar que a taxa de desemprego dos jovens quadruplicado entre 1989 e 2001. Apesar do quadro de desespero inercial traçado acima, os novos tempos trazem bons augúrios que talvez permitam à nossa sofrida juventude metropolitana mostrar o seu valor.

De maneira geral, o combate sustentável à pobreza passa pelo reforço do estoque de riqueza dos miseráveis, aí incluindo mecanismos de seguro e crédito. Um modelo de desenvolvimento social não é composto a partir da mera soma de recursos isolados. Neste ponto entra o conceito de capital social, entendido como uma variedade de instituições que potencializam os retornos privados e sociais dos ativos. Por exemplo, a organização dos fatores de produção será uma determinante chave para os retornos obtidos de uma dada quantidade de capital físico e humano acumulados, como no cooperativismo de pequenos produtores. Ou ainda, a capacidade de uma comunidade se organizar frente a uma situação adversa é determinante dos seus efeitos de curto e de longo prazo sobre a sua população. Este processo passa não só pela mobilização interna da comunidade, como pela capacidade de governos articular com as aspirações da comunidade e dos seus membros.

A direção das melhores ações passa pelo diagnóstico das carências e potencialidades da população nos diversos recantos do país, o qual também envolve formidáveis problemas

informacionais. Buscamos suprir algumas destas informações para as localidades do Rio de Janeiro.

A pesquisa contém informações geo-referenciadas e tem como objetivo mapear problemas, informando ao cidadão comum sobre a extensão das carências sociais em sua localidade e dos recursos necessários para aliviá-la. Um banco de dados sócio-demográfico acompanhado de software que permite de forma interativa a geração de mapas, assim como rankings regionais da vasta gama de indicadores gerados podem ser encontrados no

site www.fgv.br/cps. B a r r a da T i j uc a Lag oa T i j uc a 0.005 - 0.166 0.166 - 0.331 0.331 - 0.522 0.522 - 0.751 0.751 - 1.183 Fonte:CPS/IBRE/FGVapartir dosmicrodadosCenso demográfico de 2000/IBGE

R a n k i n g P o r S u b d s i s t r i t o - R i o d e J a n e i r o M é d i a d e A u t o m ó v e l I l h a d e P a q u e t á R o c i n h a J a c a r é z i n h o 50.18 - 50.76 50.76 - 51.78 51.78 - 52.69 52.69 - 54.36 54.36 - 58.06 Maré Guaratiba Tijuca Rocinha Copacabana Botafogo

Ranking por Subdistrito - Rio de Janeiro Proporção de Mulheres

Taxa de Moradores em Favelas por Regiões Administrativas – Rio de Janeiro 0 - 6.046 6.046 - 14.609 14.609 - 31.865 31.865 - 61.187 61.187 - 100

No documento Mapa do fim da fome II (páginas 33-38)

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