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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.2 Mapa 2 : sujeitos e bares

ILUSTRAÇÃO 2 - Mapa 2: sujeitos e bares Fonte: Elaborado pelo pesquisador

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O mapa anterior foi se configurando a partir do terceiro momento da entrevista, após a confirmação que aquele sujeito tinha uma relação de frequentação a bares. Essa confirmação se deu no tópico do roteiro das entrevistas em que os jovens relatavam suas vivências de lazer, seguindo uma relação de atividades e lugares (apêndice), onde comentavam, ou não. Todos os convidados para as entrevistas relataram que freqüentavam bares. Diante disso, participaram também da construção do Mapa Sujeitos e Bares.

O mapa foi configurado em cinco tópicos que se apresentaram relevantes nos relatos dos sujeitos. O primeiro estaria ligado à localização do bar, ou seja, se esse local era um facilitador para a frequentação desses jovens, ou teria outras coisas que atraiam os jovens para os bares.

[...] não sou muito seletiva nesse ponto não, aonde todo mundo vai a gente acaba indo ou, porque tem uma coisa diferente no bar um dia, mas não é muito pelo bar, pelo nome pelo evento que tem lá naquele dia. (S.2, 29/09/2011).

O segundo tópico observado seria a iniciação à frequentação a bares. Como se deu essa aproximação, através de quais instâncias sociais, família, amigos jovens, ou outras.

[...] eu não tinha hábito, eu tinha certa recessão com relação a isso, falava de bar, ah já me vinha isso, não coisas agradáveis, muito na cabeça não. E assim eu nem tinha muito contato com isso, nem sabia que era muitos jovens que iam a bar e tudo. Aí foi mais a questão assim, da influencia das pessoas mesmo, mais no sentido de, não propriamente de ver eles indo e eu querer ir, é claro que a curiosidade ela ti move um pouco. Mas assim, além de ser movida por essa curiosidade, por eu perceber que não é aquela coisa assim sabe, fora do comum, não , é um espaço agradável, um espaço muito bom sabe, que cê ta com os amigos, principalmente as pessoas é que eu tenho convívio assim, especifico aqui do cefet e da militância né, sobretudo da militância também que o pessoal gosta muito de ir em barzinho. O pessoal aqui do cefet tem essa característica mesmo, e foi pelo cefet mesmo, pelo cefet. (S.8, 30/09/2011).

O terceiro está ligado aos elementos que se apresentavam aos jovens quando freqüentavam bares. Podemos destacar a bebida, os jogos, a música e a galera como elementos significativos nos relatos dos jovens.

[...] sinuca eu não gosto, eu ia pra tomar cerveja. Os caras que iam pra jogar uma sinuquinha lá era só pra status, com certeza. Tem uns caras que sai do cefet vai no bar joga duas partidinha de sinuca, volta pro cefet, não bebe faz nada, só pra falar que foi no bar. (S.6, 28/09/2011).

O quarto tópico refere-se a aspectos mais subjetivos desses jovens, seriam as sensações. O que esses jovens sentem quando vão os bares? Diante disso, procuro trazer os

relatos que considerei relevantes, as palavras originalmente pronunciadas pelos jovens, como “prazer”, “descontração”, “interação”, “autonomia”, e outras.

[...] sensação de rir à toa, eu acho que, tipo assim, às vezes lá, não pela bebida, mas acho que, eu já fui muitas vezes em bar, antes assim e não bebia. E acho que é a simplicidade, cê ta lá, cê sente aquela coisa ta tudo muito simples, não precisa de nada mais sofisticado, qualquer coisa sabe, ta bom a gente se vira. E acho que essa sensação de simplicidade de, ah ta tudo bem, ta tudo ótimo, é isso que faz ter vontade de ir ao bar. (S.7, 30/09/2011).

Desse modo, optei em trabalhar com a palavra sensação, pois aparece nos relatos dos jovens, cujo entendimento perpassa pelos significados atribuídos pelos entrevistados nas suas percepções subjetivas acerca do que seria estar no bar. Mas, o que entendo por significados? Diante desses questionamentos, Vygotsky (1993, p. 125) nos auxilia com seu estudo sobre pensamento e linguagem:

[...] o sentido de uma palavra é a soma de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias zonas de estabilidade desigual. O significado é apenas uma das zonas do sentido, a mais estável e precisa. Uma palavra adquire o seu sentido no contexto em que surge; em contextos diferentes, altera o seu sentido. O significado permanece estável ao longo de todas as alterações do sentido. O significado dicionarizado de uma palavra nada mais é do que uma pedra no edifício do sentido, não passa de uma potencialidade que se realiza de formas diversas na fala.

Contudo, só foi possível compreender o significado das vivências pensando outra ciência, ou seja, o rompimento com a ciência clássica, com o determinismo científico. Aos poucos, passa-se entender o mundo dividido em dois, o mundo dos objetos e o mundo dos sujeitos. Com esse movimentar da ciência, o sujeito se encontra novamente problematizado. Morin (1996, p.46) nos traz a noção de um sujeito com auto-organização, uma autonomia, um sistema que constrói a sua autonomia:

[...] é necessário que este sistema extraia energia do exterior; isto é, para ser autônomo, é necessário depender do mundo externo. [...] essa dependência não é só energética, mas também informativa, pois o ser vivo extrai informação do mundo exterior a fim de organizar seu comportamento.

Nessa linha, para Morin(1996), a sociedade é produto de interações entre indivíduos. Essas interações, por sua vez, criam uma organização que tem qualidades próprias, em particular a linguagem e a cultura. E essas mesmas qualidades retroatuam sobre os indivíduos desde que vem ao mundo, dando-lhes linguagem, cultura, etc.. Desse modo, “os indivíduos produzem a sociedade, que produz os indivíduos”(MORIN, 1996, p.48).

Pretendo entender a subjetividade de uma forma mais ampla, através dos princípios de inclusão e exclusão, apontados por Morin (1996, p. 51), considerando a noção de sujeito cerebral, e sem cometermos o erro de reduzir a subjetividade, seja à afetividade e à contingência, seja, à consciência.

O sistema neurocerebral forma tanto o conhecimento quanto o comportamento, enlaçando a ambos. Manifesta-se nele um nível de subjetividade diferente do nível imunológico, ainda que ambos os níveis, certamente, se comuniquem. Ou seja, temos um sujeito cerebral que é um sujeito no ato mesmo da percepção, da representação, da decisão, do comportamento. E notamos que no mundo animal e, em particular, no dos mamíferos, a afetividade se desenvolve ao mesmo tempo que o sistema cerebral; a afetividade, sim, que para muitos de nós aparece como único rasgo constitutivo do sujeito (porque, corretamente, quando dizemos que algo é “subjetivo” aludimos ao que está ligado à emoção, ao sentimento, e se refere sempre a algo que tem um aspecto contingente e arbitrário), (MORIN, 1996, p. 52).

Outra categoria apresentada nas falas dos jovens entrevistados da pesquisa é a liberdade. O que é a liberdade? Diante desse questionamento, Marcellino (1995) partirá de duas definições de lazer:

[...] é um conjunto de ocupações as quais o individuo pode entregar-se de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação desinteressada, sua participação social voluntaria ou sua livre capacidade criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais. (DUMAZEDIER, 1973, p.34).

[...] como uma ocupação não obrigatória, livre escolha do individuo que a vive, e cujos valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social. (REQUIXA, 1980, p.35).

Segundo Marcellino (1995), nessas definições, percebe-se no lazer o seu caráter liberatório como resultado da livre escolha, ainda que esta não deva ser entendida de forma absoluta, porém marcada pelos condicionamentos socioeconômicos.

O fato é que o lazer supõe obrigações, ou seja, para que ele exista é necessário que elas cessem. Outro traço definidor do lazer é o seu caráter desinteressado, [...] os dois autores colocam, ao mesmo tempo, o que entendem por suas funções: o descanso, tanto físico quanto mental; o divertimento, como superação da monotonia cotidiana verificada nas tarefas obrigatórias; e o desenvolvimento da personalidade e da sociabilidade. [...] assim, busca-se um estado de satisfação pessoal que engloba toda a personalidade do individuo. (MARCELLINO, 1995, p. 25).

Para Morin (1996, p. 53), a liberdade é a possibilidade de escolha entre diversas alternativas, e complementa:

[...] a liberdade supõe duas condições, [...] uma condição interna, a capacidade cerebral, mental, intelectual necessária para considerar uma situação e poder estabelecer suas escolhas, suas apostas.[...] suas condições externas nas quais essas escolhas são possíveis. Certamente que se alguém está no cárcere pode conservar bastante liberdade interior, mental, mas não pode escolher onde passar as férias, o lugar onde exercer sua profissão, etc.

Diante do exposto, para os jovens entrevistados, o lazer é entendido como um momento de escolhas, como também um tempo que não é totalmente livre, mas que traz sensações de liberdade, ou seja, uma busca de liberdade. Essas escolhas aparecem nas várias possibilidades de apropriação dos espaços bares por esses sujeitos. Constatei nas entrevistas que alguns buscam as bebidas, outros os jogos, outros apenas estar com amigos, e aqueles que buscam tudo que é possível no bar; ou seja, um espaço e tempo de escolhas.

O último tópico seria as ações, ou o que se faz efetivamente quando frequentam esses espaços. Para todos os entrevistados, a vivência de beber cerveja apareceu em todas as entrevistas como sendo algo comum entre os jovens. Como relatou o Sujeito 6 (28/09/2011), “pra mim não existe você ir no bar e não tomar cerveja, não existe! Se vai no bar pra bate papo fica em casa”.

Dessa forma, esses mapas foram importantes para analisar os dados, pois ajudam quando comparamos, complementa as informações entre os dois mapas, bem como, ajudou- me a compreender os significados atribuídos pelos sujeitos jovens aos momentos de lazer, tanto nos espaços de fora como os de dentro do muro da escola.

Sendo assim, no próximo item apresento algumas categorias que emergiram no estudo.