• Nenhum resultado encontrado

Como a região além rio, ou seja, as terras brasileiras eram ricas em erva mate. Antonio vai a Curitiba e compra uma propriedade que fica em frente a propriedade que possuía na Argentina. Suas terras ficam divididas pelo rio Santo Antonio: metade no Brasil e metade na Argentina. E assim sem muita cerimônia é feita a integração. A fronteira fica sendo uma mera ficção: Logo começa fomentar o comércio com o Brasil, e o rio Santo Antonio vê cruzar impassível, milhares de toneladas de erva mate. (p. 40) O interesse na colheita da erva mate faz com que a idéia de fronteira fique diluída. É uma região selvagem, esquecida pelos dois países, há pouco controle sobre o território.

36 O mapa localiza os locais onde se passa o romance. Antonio andou por dois países e três estados: Argentina e Brasil; Província de Misiones, Paraná e Santa Catarina.

Nomeiam um coletor do lado brasileiro. Ele tem uma filha, Laura, que acaba casando-se com o viúvo. Como ele tinha mais idade que ela, o namoro gerou comentários: Ese hombre podía ser el padre de Laura. (1953, p. 51). Há uma verdadeira pressão psicológica para impedir o casamento dos dois, o que demonstra a preconceito quanto à idade limitando as relações de gênero.

Quando se pergunta a um filho (Miguel) o que ele acha da nova mãe ele diz: Laura es una buena muchacha. Además, todo esto necesitaba del cuidado de manos femeninas. Vê-se que a nova geração aceitava essa diferença de idade como algo que supria uma necessidade, não via nada de anormal e ao mesmo tempo demonstrava que assimilara o estereótipo usando a metonímia mãos femininas para deixar as coisas do lar em ordem, ou seja, o lugar de mulher era no lar.

Antonio constrói uma casa no lado brasileiro. Quando chega a notícia de que a Coluna de Prestes está se dirigindo a Santo Antonio, fogem para a Argentina e alojam-se debaixo de barracas, onde nasce mais um filho Eduardito. Ficam na casa, do lado brasileiro uns homens para enfrentarem a Coluna:

Y allá, a varios kilómetros de distancia, la casa de Antonio ha sido transformada en cuartel y se está librando en las cercanías una batalla contra los valientes que se han quedado para hacer frente a los revolucionarios.

37

Éstos han arrasado con todo, con el hermoso jardín y la Quinta, ya las plantaciones han sido destrozadas por los cascos de los caballos. Las habitaciones están atestadas de cadáveres. (1953, p. 55)

Nota-se que o romance desenvolve-se nos dois lados da fronteira. A fronteira é algo que existe na hora do perigo, pois se refugiaram com a família em território argentino na hora em que se sentem ameaçados pela Coluna. Pensando que assim estarão protegidos homens da coluna de Prestes.

Esse incidente também é narrado por D. Tula Conceição de Moraes que ouviu seu pai contar quando ainda era menina:

A casa de Afonso Arrechea era uma espécie de bodega transformada em salão de baile. Era uma casa alta, serviam de alicerces, grossos troncos de árvores falqueados. Nas paredes também foram usadas pranchas, lascadas pelos empregados de Arrechea que construíram a mesma. A cobertura era de tabuinhas de pinheiro. A construção era a única a ter sido pintada naquelas paragens, por isso a denominavam Casa Branca. Certa noite, os homens de Prestes entraram na Casa Branca atirando, com cobertura na retaguarda... Os que se jogavam pela janela, eram mortos pelos que cercavam a casa. No final do tiroteio os mortos eram em número de catorze, os feridos, muitos. O tenente Antenor Augusto Araújo, estava com um grave ferimento na garganta, este foi levado, às pressas por Arrechea e seus homens, para San Antonio, no outro lado do rio.Quando o tenente conseguiu falar, pediu que caso não resistisse, que sepultassem seu corpo no território brasileiro, caso não fosse possível, então que abrissem uma cova e jogassem solo brasileiro sobre o seu corpo. [ ] colocaram o corpo do tenente Antenor Augusto Araújo dentro de uma cova aberta na margem direita do rio Santo Antonio no território brasileiro. [ ] os corpos dos catorze homens, militares e civis, mortos no ataque da coluna de Prestes à Casa Branca, foram enterrados na mesma vala, atrás da Casa...

A Coluna por onde passava deixava muito medo. Havia um verdadeiro pavor, pois apesar das ordens de Carlos Prestes, cometiam-se muitos abusos corporais. Requisitavam-se animais e alimentos para abastecer os seus componentes, além de forçar as pessoas a se juntarem às forças rebeldes. A Coluna Prestes não conseguiu vencer a visão conservadora do povo.

O romance Amor a la tierra narra que alguns componentes da coluna entram no território argentino. Um único policial argentino, que havia na região, tenta detê-los. Não respeitam as suas palavras. Ele então tem uma idéia:

38

Ve con sorpresa que no lo escuchan y viéndose perdido tiene una idea salvadora. Con voz recia exclama:

¡No den un paso más! ¡A mí podrán matar, pero el refuerzo que viene atrás, dará cuenta de ustedes!

Los revolucionarios atemorizados, se vuelven rápidamente al Brasil y Ramirez se cubre de gloria por su valor y patriotismo. Los refuerzos del valiente, eran como los molinos de Quijote, hijos de la fantasía, como ya lo habrías imaginado. (1953, p. 56)

Essa liberdade no ir e vir fez com que os homens da coluna, tentassem penetrar em terras estrangeiras para perseguir os refugiados. Há uma intertextualidade. A autora cita

molinos de Quijote, que também foram frutos da imaginação de D. Quijote como foi o reforço

que nunca iria chegar. A fronteira é algo que existia mais nos mapas que no dia a dia das pessoas que viviam nas terras divididas pelo rio Santo Antonio.

Os argentinos exploram a região em busca de erva mate e compram terras em Campo Erê/SC a 100 km de Santo Antonio. A colheita era levada no lombo de burros até San Antonio e transportadas até Posadas ou Buenos Aires. A região era selvagem. Havia animais carnívoros que causavam estragos nos rebanhos. Uma noite:

En esse momente se oyen fuertes rugidos. ¿Qué será eso? pregunta Antonio.

Debe ser el tigre dice Gino, el hermano de Laura.

No cabe dudas agrega Sebastián, que en ese momento hace su entrada al comedor.

En poco tiempo se ha comido quince animales comenta Laura. (1953, p. 67)

Na região não existem tigres. Havia onças pintadas e pumas, mas popularmente tigres. Como o prejuízo era grande, e o perigo também, fizeram uma espera sobre árvores para matar o animal. Ante el asentimientote todos, se dirigen a la tarima , donde se ubican esperando al manchado. Para distraerse narran en voz baja historias de cazas (1953, p. 69). Pelo adjetivo manchado deduz-se que era uma onça pintada. É comum contar histórias de caçadas para matar o tempo. Conta-se causos de outros tempos, os perigos e a quantidade de caça obtida varia segundo cada contador. É comum nessa região, caçar com a ajuda de cachorros que são soltos para correrem a caça .

Los perros permanecen quietos y silenciosos al pie del árbol. Hasta que al cabo de unos tres cuartos de hora, comienzan a ladrar temerosos y levantan la vista a la copa del árbol como buscando protección. El olfato no los ha engañado. La fiera se acerca con paso de gacela.

Los hombres están tensos esperando poder afirmar su puntería.

Los perros avanzan para volver, acobardados y llorosos, pues de un zarpazo ha despantuzurrado a uno de ellos.

39

Al enfocar sus linternas, el animal se encandila y simultáneamente se oyen dos detonaciones que han iluminado fugazmente la oscura noche.

Es el pulso certero de Gino el que ha dado cuenta des animal. Éste lanza unos bramidos terribles, se revuelve en la hierba, en una agonía desesperada. (1953, p. 69)

É a luta do homem contra a natureza. É uma luta desigual, com cachorros que são expostos para atrair a onça e alertar os homens de sua presença, facilitando assim o uso das armas de fogo. Usam as lanternas para ofuscá-la e fazer pontaria. Não há como escapar, a natureza é vencida pelo homem.

Laura, acompanhada de alguns empregados, vai de San Antonio/Santo Antonio a Campo Erê/SC em dois dias de viagem (100 km). Encontram-se com Antonio e seguem a Clevelânia/PR mais dois dias de viagem, pois lá mora o pai Laura, coletor aposentado. No encontro temos o discurso dele:

¡Hija! ¡No olvides nunca que la única felicidad de la vida consiste en mirarnos el alma y sentirnos bueno, por la fuerza que nos dan los lazos indestructibles que unen a la familia. Cuando hay ternura en la mirada de los hermanos y el regazo del abuelo es un nido blando y tibio, los pueblos, se vuelvan prósperos y las naciones libres.

Tienes razón, papá; si todos los padres hablaran a sus hijos como lo haces tú, el mundo sería mejor y la vida más llevadera. Sólo es necesario, como dicen las Sagradas Escrituras un poco de buena voluntad. (1953, p. 72)

Um discurso moralista nas palavras proferidas pelo ancião. Existe a crença de que a família é a mola que move a humanidade de forma harmônica. A autora usa o texto bíblico para dar mais consistência a argumentação moralizadora.