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CAPITÚLO II A REVOLTA DOS COLONO DE

2.3 Resistência dos colonos

Diante desse panorama de guerra instalado pela CITLA, os colonos começaram a organizar-se e as primeiras contra-ofensivas não tardaram em ocorrer. O primeiro confronto entre jagunços de posseiros ocorreu no município de Verê.

Um grupo de colonos se armou e foi marchando pela avenida principal da cidade, em direção do escritório das companhias. Na frente da multidão vinha um colono forte, conhecido como Alemão . Como fora expedicionário e para mostrar o propósito pacífico da marcha, e assegurar-se que não ia ser baleado, enrolou-se numa bandeira do Brasil. Mesmo assim morreu atravessado pelas balas dos jagunços. [aspas do original]

Isso não intimidou os jagunços, que aumentaram a violência contra os colonos. Em razão do ocorrido, procedeu-se ao desarmamento dos agricultores. O policiamento foi reforçado, deixando claro o posicionamento das autoridades em favor das companhias. Os colonos não se intimidaram com a ação que estavam sofrendo. As notícias da violência dos jagunços eram divulgadas, e isso aumentava a revolta.

a gota d água que fez com que os colonos resolvessem acabar com a ação das companhias de terra, foi a violência praticada pelos jagunços da Companhia Apucarana contra um farrapo Este tentando reagir às investidas dos jagunços foi amarrado, castrado, seviciaram sua esposa e mataram duas filhas de 9 e 11 anos, com atos de estupro, como sempre, a polícia não tomou conhecimento do fato.

O conflito começa a tornar-se mais sério, pois os agricultores, começam organizar-se e a defender-se dos desmandos. No dia 27 de abril de 1957, na localidade de Esquina Gaúcha desentendem-se com uma equipe de agrimensores. Após cerrado tiroteio entre aproximadamente 40 colonos e funcionários da CITLA, dois colonos acabam mortos: Ermindo Vargas e Severino Piedade e feridos houve dos dois lados.

No dia 11 de agosto de 1957, os colonos tentam queimar o escritório da CITLA, em Rio Claro (atual Pranchita). A polícia fora avisada e evita.

No dia 6 de setembro, o gerente da Apucarana, de Lajeado Grande, Arlindo da Silva, foi morto numa emboscada. Seu guarda-costas, Vilmar Pereira foi ferido. Mais ou menos na mesma época, Manuel Alves Machado, funcionário da Apucarana, é ferido gravemente por colonos. Os jagunços, diante dos ataques, pediram apoio à polícia e recuam para Santo Antonio. Os colonos se juntam em Capanema pensando que seriam atacados pelos

58 jagunços. Apesar desse recuo, os jagunços das companhias continuavam na região. Como o escritório situava-se na localidade de Lajeado Grande, tinham que levar e trazer o pessoal das companhias. Nessa época tudo era precário, e os carros que faziam esse trajeto eram poucos, muitas pessoas aproveitavam para pegar carona com as camionetas das companhias, que faziam até questão de levá-las, pois assim pensavam que estariam seguros nessas andanças.

No dia 14 de setembro de 57 no KM 16 da estrada que liga Santo Antonio a Capanema, foi armada uma emboscada. Colonos liderados por Pedro Santin, atacaram uma camioneta. Nessa cilada morreram 7 pessoas, sendo dois jagunços e cinco pessoas que estavam indo de carona. Um dos colonos que morreu era pai de um dos atacantes. Esse fato revoltou mais ainda os agricultores, pois haviam sido ludibriados pelas companhias. Cinco dos mortos foram sepultados em Santo Antonio. Os ânimos ficaram mais exaltados. Os jagunços tomaram conta da cidade. O escritório de Santo Antonio era dirigido por Nilo Fontana e Abes da Cruz, advogado das companhias, tendo como secretário o estudante de direito Luiz Lanzarini. As companhias tinham pressa em fazer com que os agricultores comprassem as terras, pois sabiam que havia fraude e falsificações na concessão que as companhias tinham. Além de serem ilegais, cobravam um preço exorbitante. O preço normal de uma propriedade de dez alqueires custava de 10 a 15 mil, eles cobravam de 60 a 80 mil cruzeiros.

Os colonos tentaram fazer com que o Governo Federal, que tinha como presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, interviesse na questão, mas não obtiveram o seu apoio. Contrataram o advogado Edu Potiguara Bublitz, que sofreu pressões para não defender os revoltosos. Os boatos corriam soltos. Dizia-se que o gerente da CITLA em Santo Antonio falava que era só matar uns vinte ou trinta colonos que os outros correriam para a Argentina. O advogado Bublitz teve que abandonar temporariamente a região por falta de condições de segurança para exercer a sua profissão. Chegaram mais 80 homens da companhia. Eles andavam em jeeps amarelos, fortemente armados, o que criou um clima de terror na cidade.

Os colonos se organizaram e depois de um intenso tiroteio, tomaram a delegacia de polícia. Feriram o delegado especial que havia vindo de Curitiba, a mando do governador Lupion para pacificar os colonos. Nomearam um delegado de confianças dos colonos, o Adão Vasconcelos Vargas, que conseguiu manter a ordem. As autoridades constituídas: juiz de direito, promotor de justiça retiraram-se da cidade. O prefeito Municipal, Armando Facini,

59 refugiou-se em San Antonio, Misiones, Argentina, assim como boa parte da população. Os jagunços das companhias haviam ido a Francisco Beltrão, numa retirada estratégica. O Governo do Estado manda um contingente, noventa soldados, comandados pelo Capitão Ariel Damaceno. Para entrar na cidade, tiveram que negociar com os colonos, para evitar conflito. Algumas pessoas foram presas e levadas a julgamento.

O município de Santo Antonio ficou estagnado por mais de dez anos, ninguém se arriscava a vir morar. Ali havia um ditado que dizia: Visite Santo Antonio antes que as estradas desapareçam. Cinco anos depois da revolta de 1957 é que o problema das terras foi solucionado com demarcação, divisão e o respeito à posse e à decisão dos colonos.

Com o Decreto n

º

51.431, de 19 de março de l962, do presidente João Goulart que criou o Grupo Executivo para as Terras do Sudoeste do Paraná (GETSOP), que mediu, demarcou, dividiu os lotes, respeitando a posse e a decisão dos colonos.