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Fonte: Coleção da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro- RJ.

No ano de 1761, a Vila da Mocha foi elevada à categoria de cidade e capital da Capitania do Piauí, condição na qual permaneceu até o ano de 1852, quando ocorreu a transferência da capital do Piauí para a cidade de Teresina. Dessa forma, após ser

77 SOUSA, Talyta Marjorie Lira. Filhos do Sol do Equador: as vivências e experiências cotidianas de

trabalhadores negros na sociedade teresinense no final do século XIX. Dissertação (Mestrado em História do Brasil) - Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012. p.31.

contemplada com o título de capital do Piauí, a cidade recebeu o nome de Oeiras em homenagem a Sebastião José de Carvalho Melo, à época, conde de Oeiras, logo depois conhecido também como Marquês de Pombal. Pretendendo instituir certa urbanização e construir sua marca política, o presidente da Província começou logo a construção dos primeiros prédios públicos na cidade de Oeiras. A elevação da Vila da Mocha para Oeiras, capital da Província de São José do Piauí, foi uma calculada engenharia pombalina no centro das antigas terras jesuíticas.

Sobre essa questão e a precariedade da região, o Ouvidor Durão destacou em sua Descrição da Capitania de São José do Piauí que:

Fica esta cidade no meio da Capitania; é situada numa baixa com inclinação para o poente e cercada de montes. Daquela parte banha o Ribeiro da Moxa que deu nome à povoação enquanto villa; dele se bebe porque em toda a sua circunferência, não tem fonte alguma. Não tem relógio, casa de câmara, cadeia, açougue, ferreiro ou outra alguma oficina pública. Serve de Câmara umas casas térreas de barro e sobre que corre litígio. A cadeia é coisa indigníssima sendo necessário estarem presos em trocos e ferros, para segurança. A casa do açougue é alugada e demais coisa nenhuma. As casas da cidade todas são térreas até o próprio palácio do Governo. Tudo o mais são nomes supostos; o de cidade verdadeiramente só goza o nome.78

Aos olhos de Ouvidor Durão, a cidade de Oeiras não apresentava condições estruturais e sociais para ser indicada como o centro de poder do Piauí. A distância que viviam os moradores, isolados nas matas e vivendo próximo aos indígenas da região proporcionava, segundo ele, um verdadeiro ambiente de incivilização e não modernidade.

Ao que parece, o restante do território, que aos poucos iria se desenhando e formando o Piauí, vivenciou a mesma realidade da capital. As outras vilas e cidades que foram fundadas no Piauí no decorrer de todo o processo de colonização também apresentavam as precariedades citadas pelo Ouvidor Durão em relação à cidade de Oeiras, mesmo aquelas que se destacaram na criação e venda do gado vacum e cavalar, como Campo Maior e Parnaíba. A bibliografia consultada e os documentos analisados mostram que todas as vilas instaladas naquele período tiveram sua origem na fazenda de gado propriamente dita ou em alguma atividade que girava em torno daquela atividade principal.79

78 DURÃO, Antonio José de Morais Durão. Descrição da Capitania de São José do PIAUI. In_ MOTT, Luiz R.

B. Piauí Colonial: população, economia e sociedade. Teresina: Projeto Petrônio Portela, 1985, p. 30.

79 NUNES, Maria Célis Portella; ABREU, Irlane Gonçalves de. Vilas e cidades do Piauí. IN: SANTANA,

Já se tem certeza que a pecuária teve seu principal foco de irradiação na Bahia, mais precisamente na cidade de Salvador, centro agrícola fundado em 1549 com o objetivo de se constituir como sede do governo geral. Das cercanias desse núcleo urbano partem os primeiros criadores tocando seus gados e instalando currais80 rumo ao interior do território brasileiro, em áreas antes somente habitadas pela população nativa, a qual passa a ser perseguida com a entrada dos colonizadores. É nessa área que vai constituir-se o território piauiense.

Ao tratar da colonização do sertão e das características da sociedade sertaneja, Capistrano de Abreu, que se propunha a escrever uma história do sertão que até então fora renegada a um segundo patamar de interesse, expõe a seguinte argumentação:

De couro era a porta das cabanas, o rude leito aplicado ao chão duro, e mais tarde a cama para os partos; de couro todas as cordas, a borracha para carregar água; o mocó ou alforge para levar comida, a mala para guardar roupa, mochila para milhar cavalo, a peia para prendê-lo em viagem, as bainhas de faca, as bruacas e surrões, a roupa de entrar no mato, os banguês para curtume ou para apurar sal; para os açudes, o material de aterro era levado em couros puxados por juntas de bois que calcavam a terra com seu peso; em couro pisava-se tabaco para o nariz.81

O Piauí também se fez presente nesses moldes. A civilização do couro, foi gerada nas entranhas de um processo de conquista do sertão na qual o gado foi seu principal elemento. Como vimos, é consenso em praticamente toda a historiografia piauiense82 que a produção pecuarista alicerçou os fundamentos da economia do Piauí desde o início da colonização, permanecendo dessa forma como atividade econômica central até a segunda metade do século

80 No período colonial, curral apresentava uma conotação diferente de fazenda. Era um tipo de estabelecimento

pecuarista característico da fase de penetração do gado para o interior do Nordeste, ou seja, possuía um caráter essencialmente itinerante, pois para montar uma fazenda era necessário possuir o título da terra, que somente era adquirido em momentos posteriores à conquista da terra. In: BARBOSA, Tânya M.B. A Elite Colonial

Piauiense: Família e Poder. Doutorado, FFLCH-USP, 1993.

81 ABREU. Capistrano de. ―Capítulos de História Colonial & Os Caminhos Antigos e o Povoamento do Brasil‖.

Ed. da Univ. de Brasília, 1963, pág. 149.

82 Ver, por exemplo, os trabalhos de: ALENCASTRE, José Martins Pereira. Memória cronológica, histórica e

corográfica da província do Piauí. 2.ed. Teresina: COMEPI, 1981; CHAVES, Joaquim. A escravidão no Piauí. Teresina: Comepi, 1975; FALCI, Miridan B. K. Escravos do Sertão: demografia, trabalho e relações sociais. Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves, 1995. LIMA, Solimar Oliveira. Braço Forte: trabalho escravo nas fazendas do Piauí. 1822-1871. Passo Fundo: UFP, 2005; NUNES, Odilon. Súmula para a história do Piauí. Teresina: Editora Cultural, 1963; BRANDÃO, Tanya Maria. O escravo na formação social do Piauí: perspectiva histórica do século XVIII. Teresina: Editora da Universidade Federal do Piauí, 1999; NUNES, Odilon. Pesquisas para a história do Piauí. Teresina: Imprensa Oficial, 1996. v. 1, 2, 3 e 4; PEREIRA DA COSTA, F. A. Cronologia história do estado do Piauí: desde seus tempos primitivos até a Proclamação da República. Rio de Janeiro: Artenova, 1974; PORTO, Carlos Eugênio. Roteiro do Piauí. Rio: Artenova; QUEIROZ, Teresinha. Economia Piauiense: da pecuária ao extrativismo. 3.ed. Teresina: Edufpi, 2006; MOTT, Luiz. O Piauí Colonial. População, economia e sociedade. 2 ed. Teresina: APL;FUNDAC; DETRAN. 2010.

XIX, quando entra em profunda crise sendo a partir desse momento substituída pelo extrativismo que passou a ser considerada a principal atividade econômica daquele período no Piauí.83 Mesmo sofrendo um processo de estagnação nesse período, a pecuária não sai de cena, sua produção continua existindo em menor escala. Ao lado dessa produção, desenvolvia-se o trabalho escravo que adquiriu outras características diferentes daquela desenvolvida na região da plantação da cana de açúcar, havendo uma diversificação de tarefas, pois, os escravos eram inseridos não só na criação do gado como também em outras atividades.

Luiz Mott vislumbra, por seu turno, os aspectos geomorfoclimáticos que favoreceram a criação de gado no Piauí.

Possuindo grande parte de seu território ocupado por caatingas e cerrados, dispondo de poucos rios perenes e baixa pluviosidade, o Piauí, se de um lado representava fracas possibilidades para o desenvolvimento de uma agricultura exportadora, veio a transformar-se na principal área pastoril do Nordeste, sendo considerado durante séculos como o curral e açougue das áreas canavieiras.84

Dessa forma, o gado, portanto, abriu os caminhos para o desenvolvimento do Piauí e da sociedade que se formou a partir desses moldes. Como afirma Carlos Eugênio Porto, tudo o que diz respeito à história do Piauí está intrinsicamente ligado à sua pecuária e aos produtos que dela derivavam.85 Além da historiografia aqui apresentada, os relatos dos viajantes86 que passaram pelo Piauí tanto no período colonial como no imperial, também destacaram em seus escritos a importância dessa atividade econômica para a região e para o Brasil de forma geral.

As mais terras desta villa de Moucha athé a parnahiba não tem outra conveniência mais, que a de pastos para os gados de que estão povoados e se vão povoando e não tem outra cultura mais que em algumas partes alguma farinha e milho e são essas poucas ahonde se acha de venda e em muitas fazendas nem pouca nem muita se acha ainda para o preciso sostento das criadores e fabrica da fazenda. Asentado pões que este certões não podem preduzir outra utilidade mais que a dos gados e cavalos; o remédio para se

83 QUEIROZ, Teresinha. Economia Piauiense: da pecuária ao extrativismo. 3.ed. Teresina: Edufpi, 2006. p. 15. 84 MOTT, Luiz. Piauí Colonial: população, economia e sociedade. Teresina: FUNDAC - Coleção Grandes

Textos, 2010. P. 172.

85 PORTO, Carlos Eugênio. ROTEIRO DO PIAUÍ, Rio, Artenova, 1974. p. 143.

86 MACHADO, Francisco Xavier. Memória relativa das Capitanias do Piauhy e Maranhão. Revista do IHGB,

Tomo 17, 1854, p.56-69. SPIX & MARTIUS. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, 4ª edição.

aumentarem hê povoarem-se de gados, e de fazendas todos estes certões e não haver terras devolutas daquelas. 87

A expansão da pecuária a partir do litoral para o sertão nordestino e, no caso do Piauí, a partir do Rio São Francisco, proporcionou diretamente a apropriação da terra, o que ocorreu por meio de uma política de extermínio dos povos nativos para fazer surgir uma época do couro. Paralelamente, a Casa da Torre e os sesmeiros de Olinda e Salvador iam aos poucos tomando e senhoreando as terras desses povos, dividindo-as, formando, assim, grandes latifúndios que serviram para instalação dos currais de gado bovino e cavalar. As fazendas no decorrer de sua instalação iam engolindo as terras de posseiros e eliminava os pequenos proprietários. Desse modo, os posseiros que primeiramente ocuparam o Piauí e que detinham de fato a terra eram obrigados a se agregarem aos proprietários, onde fixavam a pastagem de animais e cultivavam agricultura de subsistência. Esse modelo de apropriação do território também definiu as bases de estruturação da sociedade, proporcionando a concentração de grandes extensões de terras nas mãos de um grupo dominante que detinham o poder econômico e político no Piauí.

De fato, acreditamos que o desenvolvimento de uma economia pecuarista baseada na produção extensiva foi importante não apenas para a consolidação da economia, mas também para a determinação das relações sociais que se desenvolveram no sertão pastoril no decorrer dos séculos XVII, XVIII e XIX. Nesse sentido, essa atividade e as relações sociais dela originadas provocaram diversas tensões e conflitos causados, especialmente, pela concentração da terra, da produção e do poder. Dessa forma, a concentração de poder, terra e renda e automaticamente a não criação de seguimentos sociais capazes de estimular uma economia sustentável, baseado no consumo interno, possibilitou a insurgência de conflitos e contribuiu para que a região fosse se tornando um local conhecido como do ―atraso‖.

Inicialmente, o gado era comercializado vivo, somente na segunda metade do século XVIII é que começa o comércio do charque, a carne seca. Em 1762 foi criada a Vila de São João da Parnaíba. Lá foi construída uma oficina de charque. E a Vila era possuidora do único porto da capitania, que recebia uma média de 10 embarcações por ano, que transportavam as mercadorias para Bahia, Rio de Janeiro e Pará. Nesse período, eram abatidas uma média de

87 MACHADO, Francisco Xavier. Memória relativa das Capitanias do Piauhy e Maranhão. Revista IHGB, Tomo

13.000 cabeças de gado. Já em 1771, eram abatidas 40.000 cabeças de gado anualmente, e Parnaíba era responsável pela comercialização de um quarto desse total.88

O gado do Piauí era enviado para os mercados do Maranhão, Bahia e Pernambuco. Sabe-se de algumas transações feitas também com a província de Minas Gerais. Francisco Xavier Machado, em seus relatos de memória sobre o Piauí e Maranhão, destaca as características das fazendas e do gado do Piauí. O autor afirma que ―o gado é geralmente de grande tamanho, mas as cores muito variadas, conquanto predomine o tom pardo. Os chifres são longos, pontudos e espalhados‖.89

Além do gado vivo, desenvolveu-se também no Piauí a produção de charque que permaneceu como uma atividade de extrema importância até as três primeiras décadas do século XIX. Durante esse período, a cidade de Parnaíba ganhava destaque como uma das mais importantes cidades da capitania. Além do gado e seus derivados, outros produtos produzidos no Piauí eram despachados pelo porto: fumo, algodão, borracha, carnaúba e outras matérias- primas. Essas mercadorias eram produzidas ou exploradas sem os fazendeiros deixarem de lado a criação do gado, pois representava uma renda extra.

Mesmo sendo a pecuária uma atividade central no Piauí colonial e imperial, é importante ressaltar que também existiram as atividades econômicas secundárias geradas diretamente da criação de gado como, por exemplo, a produção de couros, de solas, a venda de gado vivo, as charqueadas, entre outras atividades que permaneceram ativas até o século XIX. Sabe-se também que nas rotas abertas pelo gado bovino e cavalar durante todo o século XVII e XVIII eram trazidos os escravos negrosnegociados principalmente nos mercados do Maranhão, da Bahia e de Pernambuco para onde eram levados o gado e os produtos extraídos do mesmo.

No que se refere à população escrava, ainda no início do século XVIII, existiam cerca de aproximadamente 4.644 escravos de ambos os sexos, o que correspondia a 38,72% de toda a população do Piauí que totalizava 11.993 habitantes.90Deste modo, o Piauí mantinha-se como um corredor transacional de pessoas, animais e produtos, ou seja, naquele contexto, ele era um território de fronteira. Aos poucos essa população foi crescendo, principalmente com a chegada de mais africanos e crioulos, quando os sujeitos passaram a se fixar no território, que aos poucos foi ganhando suas características e se transformando em região produtiva. Sobre os africanos que passaram a se instalar no Piauí, o autor do relato Roteiro do Maranhão a

88 MAVIGNIER, Diderot. No Piauí, na terra dos Tremembés. Parnaíba: 2005.

89 MACHADO, Francisco Xavier. Memória relativa das Capitanias do Piauhy e Maranhão. Revista IHGB, Tomo

17, 1854, p.56.

Goiaz pela Capitania do Piauí apresenta em seu texto suas apreciações acerca da população escravizada que chegava ao Piauí.

É a introdução dos escravos que se deve o grande aumento que tem tido esta Capitania na Cultura dos gêneros comestíveis, eles não só chegam para sustentar a parte da Povoação, que tem crescido com a mesma introdução e com a concorrência da Metrópole; mas para sustentar a parte dos índios tirada das suas povoações e ocupada nos referidos objetos do Governo.91

O autor que escreve em pleno século XVIII, apresenta, já naquela época, a importância da presença dos trabalhadores escravizados no território do Piauí. Estes trabalhadores vieram para o Piauí e desenvolveram tarefas diversificadas. Entre outras atividades, eles também desenvolviam aquelas relacionadas à agricultura.

A este respeito, podemos afirmar que a agricultura manteve-se por muito tempo como uma atividade econômica secundária, mas presente durante toda a história do Piauí. Considerada como uma produção de subsistência e para o consumo interno, não gerava assim um comércio externo profícuo, embora reconheçamos que existia uma diversidade econômica a partir do século XIX. Portanto, a agricultura, desenvolvida nos latifúndios pecuários à margem da atividade pecuarista, também não deixa de ser uma importante referência para se pensar a formação do Piauí no que se referem às questões sociais, políticas, culturais e econômicas.

Analisando esta atividade e relacionando-a com nossa temática de trabalho, vimos à partir das listas de classificação92 que a maior parte dos escravos que viviam no Piauí tinham a profissão de lavradores e roceiros, o que significa que essa atividade também corroborou para a vinda da mão de obra escrava para o Piauí, assim como para a sua reprodução endógena.93 A produção realizada na agricultura também remete à origem de parte dos escravos que vieram para o Piauí, através do Maranhão. Grande parte eram produtores de arroz e, chegando ao Piauí, se deparavam com uma prática comum às suas experiências na África, sendo utilizados como mão de obra no cultivo desse produto e de outros que foram desenvolvidos no Piauí.94

91 Anônimo. ―Roteiro do Maranhão a Goiaz pela Capitania do Piauí‖. IN_ . IHGB, tomo 62, parte I, 1900. P.154. 92 Arquivo Público do Estado do Piauí. Listas de Classificação de escravos de vários municípios. Anos: 1871-

1887.

93 FALCI, Miridan Britto Knox. Escravos do sertão: Demografia, trabalho e relações sociais. Piauí (1826-1888).

Teresina: Fundação Cultural Monsenhor Chaves. 1995.

94 Ver: JUNIOR BARROSO, Reinaldo dos Santos. O arroz de Veneza e os trabalhadores de Guiné: A lavoura de

exportação do Estado do Maranhão e Piauí (1770-1800). Revista Outros Tempos. Volume 8, número 12, dezembro de 2011 – Dossiê História Atlântica e da Diáspora Africana.

Os produtos mais comuns que foram cultivados no Piauí e tiveram sua produção intensificada até o século XIX eram o arroz, o feijão, o milho e a mandioca.

Todos os viajantes, memorialistas e homens públicos que escreveram sobre o Piauí na época Colonial são unânimes em referir-se ao descaso com que os sertanejos tratavam esse tipo de trabalho. Duas seriam, segundo eles, as principais causas do desprezo que relegavam o setor agrícola: a primeira de ordem ecológica, ou seja, as más condições climáticas, a ausência de chuvas regulares, a constância das secas, a pobreza dos cursos d‘água, a natureza arenosa e lajeada da grande parte do território. […] Por mais que o Governo insistisse em estimular o desenvolvimento agrícola, o resultado sempre foi decepcionante. As tentativas realizadas por volta de 1798 visando a divulgação do uso do arado, redundaram em fracasso, pois segundo disseram os lavradores, após terem experimentado este instrumento, constataram que seu uso era impraticável, devido à natureza do solo quase todo composto de caatingas, chapadas e matos, preferindo os agricultores mudarem de terreno quando este se esgotava, em vez de utilizar o arado a fim de tentar revolver a terra e continuar a plantar no mesmo chão. A segunda explicação pelo descaso com que tratavam a agricultura está na vantagem econômica e na excelência que os piauienses atribuíam a pecuária.95

Nesse contexto, a análise do atraso da agricultura no Piauí, nos períodos relacionados, está intrinsicamente vinculada ao exame básico da economia piauiense, a criação extensiva de bovinos, já que foi esta que determinou em grande parte a distribuição demográfica, a disponibilidade de mão de obra, capitais e a própria estrutura fundiária. Da criação extensiva, podemos aferir que derivaram três fatores impeditivos do desenvolvimento das atividades agrícolas: a concentração da propriedade da terra – processo que marcou a formação do Piauí -; a destinação da terra para os pastos com o desenvolvimento da pecuária e a ausência de um mercado interno abundante. Certamente esses três fatores agiram combinadamente e não podem ser visto em separado. No entanto, como afirma Solimar Lima, ao passarmos para o século XIX, houve certa tentativa de passar para uma produção agrícola mercantil96. Neste caso, o principal produto que surgiu foi o algodão.

Dessa forma, a produção do algodão juntamente com a criação de gado passou a ser uma importante atividade econômica, contribuindo profundamente para o aumento da arrecadação das receitas provinciais97. O incremento da produção algodoeira no Piauí e o aumento nas exportações se deram também devido à Guerra de Secessão nos Estados Unidos. As principais cidades que se tornaram referência nesse tipo de produção foram: Teresina,

95 MOTT, Luiz. O Piauí Colonial. População, economia e sociedade. Teresina: APL/FUNDAC/DETRAN, 2010.

p. 67.

96 LIMA, Solimar Oliveira. Fazenda. Pecuária, agricultura e trabalho no Piauí escravista (séc. XVII-XIX).

Teresina: EDUFPI, 2016. p. 89.

Parnaíba, União e Barras. Cabe ressaltar que em consequência dessa produção, nessas cidades

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