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3 O POSICIONAMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

3.2 Mapeamento da experiência do Superior Tribunal de Justiça brasileiro

de 2007 e 2017

Em razão do elevado número de processos que estão em curso ou que já tramitaram nas instâncias inferiores acerca da temática em estudo, a investigação se limitou a mapear experiências do STJ brasileiro na apreciação de casos de sequestro e de disputa de guarda internacional entre 2007 e 2017, o que reduz drasticamente o volume de demandas, de aproximadamente 400 casos, para 11 casos (BRASIL, 2017). Cumpre destacar que a realização dessa pesquisa quantitativa não irá se ater apenas ao número de julgados, visto que isso pode ser obtido por uma simples consulta no site oficial do STJ, mas também realizará uma triagem do contexto em que se insere essas contendas judiciais.

Como explanado no tópico anterior, decidiu-se por delimitar a pesquisa jurisprudencial entre os anos de 2007 e 2017, uma vez que a Convenção sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional, de 1980, só foi ratificada pelo Brasil no ano 2000, através do Decreto Lei nº 3.413. Por essa razão, após o país ter se tornado signatário da aludida Convenção, o primeiro caso que tinha como objeto o sequestro internacional de crianças chegou ao STJ em 2007, apesar de, em 1989, ter ocorrido, no tribunal superior, o julgamento de um processo que tratava sobre a temática em tela.

Nessa fase da pesquisa, utilizou-se os recursos de busca jurisprudencial do site oficial do STJ, com o preenchimento no campo de pesquisa livre das expressões “sequestro internacional de crianças” e “sequestro internacional criança”. Com a primeira opção, obteve-se como resultado 26 acórdãos, sendo um referente a conflito de competência, de 1989, e os demais, datados a partir de 2007, dos quais apenas 12 correspondiam a Recursos Especiais. Dos outros 13, seis eram agravos, havendo um embargo de declaração (todos como desdobramentos dos recursos especiais ou conflitos de competência), uma homologação de sentença estrangeira, quatro conflitos de competência e um recurso ordinário de habeas corpus, o qual não tinha nenhuma relação com a temática pesquisada.

Para facilitar a compreensão, formulou-se um gráfico com os dados obtidos (BRASIL, 2017). Observa-se:

Gráfico 1 - Processos com a expressão Sequestro internacional de crianças

Fonte: Autora. Dados da pesquisa, 2018.

Com a utilização da segunda expressão (“sequestro internacional criança”) no campo de pesquisa livre, obtive-se um total de 28 acórdãos, sendo um conflito de competência, de 1989, um conflito negativo de competência em tráfico internacional de criança, de 1999. Os demais, datados a partir de 2007, referem-se aos mesmos 12 casos de Recursos Especiais obtidos com a pesquisa anterior, sete agravos, um embargos de declaração, quatro conflitos de competência, uma homologação de sentença estrangeira e um recurso ordinário de habeas corpus. Esses dados podem ser visualizados de forma mais clara no gráfico a seguir11:

11 A quantidade de processos foi obtida através de consulta no site oficial do STJ. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?tipo_visualizacao=RESUMO&livre=SEQUESTRO+ INTERNACIONAL+CRIAN%C7A&b=ACOR&p=true&t=JURIDICO&l=10&i=10>. Acesso em: 03 out. 2017. 0 2 4 6 8 10 12 Conflito de competência Recursos especiais Agravos Embargos de declaração Homologação de sentença estrangeira Recurso ordinário em habeas corpus

Processos encontrados com a pesquisa da expressão

"sequestro internacional de crianças"

Gráfico 2 - Processos com a expressão Sequestro internacional criança

Fonte: Autora. Dados da pesquisa, 2018.

Ao analisar os dados obtidos, justifica-se a necessidade de concentração da pesquisa jurisprudencial entre os anos de 2007 e 2017, uma vez que os processos localizados antes dessa data, além de serem quase inexistentes e pouco representativos, são anteriores à ratificação da Convenção de Haia, de 1980, pelo Brasil. Dentre os resultados encontrados, foram selecionados apenas os Recursos Especiais, por se tratar do principal instrumento recursal endereçado ao STJ, o qual tem previsão constitucional no artigo 105, inciso III, e possui como principal fim o exercício da “função paradigmática na interpretação jurisprudencial e na manutenção da legislação federal infraconstitucional” (ALMEIDA, 2015, p. 63).

No entanto, é importante ressaltar que, apesar de terem sido localizados, nas referidas buscas, 12 recursos especiais julgados pelo STJ, o último deles (Recurso especial nº 1698691/BA, processo originário nº 2017/0122219-7, ministro relator Og Fernandes, data do julgamento - 07/12/2017, segunda turma do STJ) não teve como objeto a manutenção da criança no Brasil ou a devolução para o país de residência habitual. Sendo assim, não servirá de parâmetro para a realização deste estudo.

O mencionado recurso, a despeito de se tratar de um caso de sequestro internacional, teve como único objeto a discussão sobre quem deve arcar com os custos da perícia psicológica, se o genitor que a solicitou ou se a União. Nesse caso, a título de informação, traz-se que a decisão do STJ foi no sentido de atribuir essa obrigação ao Estado brasileiro, que, por força do art. 26 da Convenção de Haia, na

0 2 4 6 8 10 12

Processos encontrados com a pesquisa da

expressão "sequestro internacional criança"

condição de país contratante, deve assumir as despesas relacionadas à solução de sequestros internacionais.

Após identificar os casos de sequestro internacional e consequente conflito referente à guarda de crianças e adolescentes que foram apreciados pelo STJ entre 2007 e 2017, far-se-á uma análise para constatar se o STJ, ao julgar tais situações, costuma assumir uma postura estritamente legalista, que se apega ao fato do Brasil ser um país signatário da Convenção de Haia, que prevê, logo em seu 1º artigo, que, em caso de transferência de crianças de forma ilícita (sem autorização de um ou de ambos os genitores) para outro país contratante ou nele retidas de forma indevida, devem retornar imediatamente para a localidade que residia habitualmente; ou se há uma preocupação se essa medida atenderá aos preceitos do melhor interesse desses seres em desenvolvimento. Para isso, foi eleita como critério de análise a extração de dados de cada caso. Esses dados foram elencados e analisados em conformidade com os principais pontos de discussão sobre a aplicabilidade da Convenção de Haia (1980) e a proteção dos direitos das crianças e adolescentes no ordenamento jurídico brasileiro.

3.3 Análise de casos julgados pelo Superior Tribunal de Justiça entre 2007 e