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Dando resposta à uma das áreas prioritárias identificadas na Declaração de Beijing, a de criação de mecanismos institucionais para o avanço da mulher, foi aprovada a Política de Género e

Estratégia da sua Implementação em 2006. Esta política marca a base legal para assegurar a

integração do género nos planos sectoriais, assim como a criação de instituições que velam pelas questões de igualdade de género.

Ministério do Género, Criança e Acção Social (MGCAS)

No âmbito da criação de mecanismos de género, o Governo Moçambicano decidiu, em 1995, criar uma instituição que respondesse pelos interesses de promover o avanço da mulher e a igualdade de género, o Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social (MMCAS). Em 2015 adopta a actual nomenclatura, Ministério do Género, Criança e Acção Social. As atribuições do MGCAS na área de género são a “promoção da igualdade e equidade do Género no desenvolvimento económico, social, político e cultural” (Estatuto Orgânico Artigo 2º, alínea a). Fazem parte das suas competências na área de género a elaboração de “propostas de leis, políticas, estratégias, programas e planos de desenvolvimento nas áreas de género, bem como proceder à sua divulgação, controlo e avaliação da sua implementação” (Art. 3º).

O MGCAS beneficia de uma parte pequena do Orçamento do Estado (OE) (em 2013 apenas 3,4% do OGE)34. A atribuição do Estado ao MGCAS corresponde à aproximadamente 90% do seu orçamento. O resto do orçamento é financiado pelos parceiros de desenvolvimento. A indisponibilidade de recursos suficientes para operacionalizar a sua missão é um desafio central. Ao nível distrital, a fusão entre aa áreas da Saúde e Acção Social nos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social (SDSMAS) diminui a dinâmica da promoção da igualdade de género e empoderamento das mulheres nos distritos. Os directores/as dão prioridade às actividades da saúde pública e medicina curativa relegando os assuntos de género para o segundo plano. Dados recolhidos dão conta de que este cenário tem criado constrangimentos na orçamentação adequada das actividades da área da mulher e género. Tão pouco está estabelecido um valor mínimo que deve ser garantido à área de igualdade de género e empoderamento da mulher.

Conselho Nacional para o Avanço da Mulher - CNAM

No âmbito da criação pelo Governo de mecanismos de apoio ao processo de coordenação de acções orientadas para as áreas da mulher, surge o Conselho Nacional para o Avanço da Mulher (CNAM). O CNAM é um órgão autónomo mas, por indisponibilidade de um espaço tem a sede nas instalações do MGCAS e ao nível das províncias está acomodado dentro das direcções provinciais. Ainda a este nível (da província) o CNAM é representando pelos Conselhos Provinciais para o Avanço da Mulher (CPAM) e ao nível dos distritos pelos Conselhos Distritais para o Avanço da Mulher.

Como acontece com o MGCAS, o CNAM tem insuficiência de fundos para a realização de suas funções, o que as vezes resume-se na compilação dos dados recolhidos de outras instituições. Ao nível operacional, os CPAM são compostos por pontos focais de género das diferentes direcções provinciais (o mesmo modelo se aplica ao nível nacional). Informação recolhida dá conta de que os pontos focais nem sempre têm uma descrição das tarefas e das suas funções. Também não são avaliados sobre o próprio desempenho na área de género, sendo esta uma função adicional, e, às vezes, imposta pelos superiores hierárquicos. Por outro lado, os pontos

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focais ao nível provincial não possuem conhecimentos sólidos em matéria de género, porque não são formados na matéria e/ou não se exige esse conhecimento para assumir as funções de ponto focal de género. O que é corroborado pelo facto de muitos pontos focais não conhecerem as estratégias de género dos seus sectores, limitando a sua autoridade para exigir a implementação das políticas e estratégias assumidas nos respectivos sectores para igualdade de género.

No Governo Moçambicano se observam três formas de institucionalizar a figura que coordena as questões de género ao nível dos ministérios (modelo este reproduzido ao nível das províncias), resumido na tabela abaixo. A forma recomendável é a criação de um departamento pois estes têm orçamento próprio e prestam contas ao ministro/a. Não obstante, poucos ministérios adoptaram esta estrutura para integração das questões de género nelas.

Tipo de

estrutura Vantagens Desvantagens

Exemplo de ministérios Departamento Tem orçamento, é avaliado, presta

contas, participa nos espaços de tomada de decisão.

Saúde; Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural.

Unidade Tem parte do orçamento do departamento que a inclui como unidade a prestar contas, pode participar nos espaços de tomada de decisão.

Não tem nenhuma

obrigatoriedade de participar em espaços de tomada de decisão a não ser por convite da liderança.

Educação e Desenvolvimento Humano; Energia e Recursos Minerais. Ponto focal (coordenador/a

Existe uma pessoa que com os recursos suficientes pode coordenar as acções no âmbito da igualdade de género.

Não tem orçamento, dificilmente toma decisões ou participa nos processos de tomada de decisão.

Mar, Águas

Interiores e Pescas.

Oportunidades:

i. Relação de proximidade entre o MGCAS e as OSC, o que permite coordenar as agendas e ao Ministério ter respaldo da sociedade civil quando propõem políticas que visam reduzir injustiças de género.

ii. Existência de um mandato claro por parte do MGCAS e a participação da sua representante máxima no órgão mais alto de tomada de decisão.

iii. Existência das unidades de género e dos pontos focais.

Desafios:

i. Fortalecimento da coordenação entre MGCAS (DPGCAS), INAS e CNAM (CPAM) em relação aos assuntos de género.

ii. Elaboração de estratégias de advocacia e lobbies para o aumento dos fundos para levar a cabo a agenda de promoção de igualdade de género bem como a monitoria e fiscalização da implementação dos instrumentos político -legais. iii. Redefinição dos critérios de selecção dos pontos focais de género (baseando-se,

também em conhecimentos sobre assuntos de género) e conferir maior funcionalidade aos CPAM, através da descrição clara de tarefas dos pontos focais (incluindo ao nível central).

iv. Inserção das questões de género no sistema de avaliação da Função Pública e colocá-las de igual modo como prioridade à semelhança das outras prioridades sectoriais. Fortalecimento das sinergias ao nível nacional (como por exemplo entre o CNAM e instituições de formação) para aumentar os conhecimentos do pessoal sobre as questões de género, incluindo nas províncias.