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TRABALHO DOCENTE.

O presente capítulo tem o objetivo de mapear o campo de pesquisa desse trabalho, compreender sob a perspectiva das relações étnico-raciais e todo o seu arcabouço histórico e cultural, como está caracterizado o campo de atuação dos professores participantes dessa pesquisa. Mais do que isso, pretendemos aqui, conjecturar o bairro/comunidade do Curuzú a partir de sua realidade étnica, social e cultural, nesse sentido pensamos que conhecer a comunidade é conhecer a escola. Com isso podemos conseguintemente analisar o trabalho docente sob uma ótica maiscompleta e aprofundada, pois escola e comunidade caminham juntas e estabelecem contato e trocas estimuladas pela dinamicidade do cotidiano.

Segundo Zygmunt Bauman (2003), a noção de comunidade pressupõe um lugar confortável e aconchegante, lócus de compreensão e comunicação, dinamizado por características e identidades próprias que apesar da liquides da sociedade, digo, sua dinamicidade de trocas e interações que podem levar inclusive a um processo de homogeinização, mantém uma lógica própria que a define e lhe define em meio às diferenças.

Acreditando que a interação escola/comunidade é constante, seja de forma consciente e planejada através de projetos de articulação e outras medidas nessa direção, ou de forma inconsciente, através da incessante fluidez do cotidiano e das relações sociais, das demandas sociais e culturais que adentram aos muros da escola sem pedir licença através dos alunos, professores e funcionários que vivenciam o bairro. Ou seja, ainda que não tenhamos uma desejosa interação plena e planejada entre escola e comunidade como prega por exemplo uma extensa bibliografia e até mesmo a LDB através da Lei (9.394/96)22, essa relação acaba por acontecer de forma involuntária, esses dois lócus acabam se encontrando e interagindo, forjando laços de solidariedade.

Assim, de acordo com o que foi exposto, apesar do eixo condutor dessa pesquisa é a experiência docente diante da lei 10.639 e seus mais de dez anos de promulgação, podemos conceber esse esforço de conjecturar o bairro/comunidade como

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Em seu artigo 12º, inciso VI diz que os estabelecimentos de ensino têm a incumbência de “articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola”.

58 muito pertinente para o desenvolvimento desse trabalho. Os caminhos dessa pesquisa nos levarão a seguinte direção: Comunidade - Escola - Docentes, por sugerir que esse percurso pode nos oferecer uma compreensão mais ontológica, portanto, mais completa do fenômeno estudado.

2.1: A comunidade do Curuzú e suas peculiaridades

Será que você não viu Não entendeu o meu toque

No coração da América eu sou o jazz, sou o rock Eu sou parte de você, mesmo que você me negue Na beleza do afoxé, ou no balanço no reggae Eu sou o sol da Jamaica

Sou a cor da Bahia

Sou sou você e você não sabia

Liberdade Curuzu, Harlem, Palmares, Soweto...

Lazzo Matumbi

O Curuzú hoje é considerado um bairro-distrito da Liberdade por seus moradores, segundo os mesmo, o local possui uma identidade própria caracterizada pela dinâmica e ligações fraternais entre os membros da comunidade. Em termos oficiais, o Curuzú é considerado parte do grande e afamado bairro da Liberdade, um dos mais populosos de Salvador, porém para os moradores mais antigos e arraigados na comunidade, o Curuzú possui vida própria, uma pulsação intensa movida dentre outros aspectos, pela herança afrodescendente, marca indelével desse centro cosmopolito.

A história da comunidade se confunde com a de outras histórias de bairros populares em Salvador, onde a população socialmente debilitada, em sua grande maioria negra, foi obrigada a se alocar em espaços tipicamente negativados. Esse processo que podemos chamar também de guetização, de acordo com a Escola de Chicago e seus estudos sociais aplicados, foi e ainda é responsável por processos de

59 exclusão social, principalmente no que tange a população negra em países marcados pelo preconceito racial. ( GADEA, 2013, p.74)23

Palco de ocupações imobiliárias ilegais, característica de grande parte dos bairros populares de Salvador, o Curuzú guarda em suas travessas e vielas histórias e tradições contadas por uma população eminentemente desfavorecida socialmente, porém, resguardada por um patrimônio histórico e cultural de grande relevância. Esse patrimônio simbólico confere a essa comunidade grande visibilidade no que concerne a resistência da cultura afro-brasileira em Salvador.

Estamos diante de uma comunidade reconhecida mundialmente por seus traços identitários de ligação com a história e cultura negra, reduto de uma das maiores populações negras fora do continente africano, sede de um dos grupos afros de maior representatividade nacional o Ilê Aiyê, sede de importantes terreiros de candomblé como o Ilê Axé Jitolu e o Vodum Zôo,e finalmente reconhecido pelo Programa Brasil Patrimônio Cultura do Ministério da Cultura no ano de 2002, como um território cultural afro-brasileiro, a afamada ladeira do Curuzu é reconhecida como importante sítio histórico afro-brasileiro e o Terreiro de Mãe Hilda, o Ilê Axé Jitolu, como lugar sagrado. ( RAMOS, 2011, p. 124)

Como base no que foi exposto aqui, a ligação da comunidade do Curuzú com a negritude perpassa as características fenotípicas do que é ser negro, que chamamos de afrodescencia, pois alcança espaços simbólicos de representação e autoafirmação direcionadas a uma ancestralidade africana, um modo de vida e organização especifica de um povo.

Marco Aurélio Luz (2013) chama a atenção para esse processo de identificação e continuidade de traços civilizatórios do continente africano para o Brasil através dos negros da diáspora e seus descendentes, esse fenômeno que o autor chama de “processo histórico negro-africano” é responsável por engendrar um forte elo de ligação entre os negros e sua ancestralidade africana. Sobre esse processo vivenciado no Curuzú e em outras comunidades no Brasil, explica Luz em sua obra Ágada: Dinâmica da Civilização Africano-Brasileira

O que caracteriza o processo histórico negro-africano é o fato de notarmos uma linha de continuidade ininterrupta de determinados princípios e valores transcendentes que são capazes de engendrar e estruturar identidades e relações sociais. Esses princípios caracterizam a afirmação

23Segundo Gadea, da mesma maneira que o Gueto segrega, ele cria condições e dispositivos institucionais

60 existencial do homem negro e constituem a sua identidade própria. (LUZ, 2013, p. 29)

Tais atributos nos leva a acreditar que estamos diante dos espaços que mais representam a negritude na Bahia, quiçá no Brasil. Tal constatação, parcial, porém com fundamentos, é resultante do estudo da história que emana dessa comunidade e pode ser ressaltada também através da observação de qualquer estudioso curioso ao olhar cuidadosamente para o Curuzú e sua população, a primeira vista é inegável não notar a influência africana nesse espaço cravado no Brasil.

Essa comunidade carrega consigo elos e símbolos que a identificam, percebe-se que a negritude em seus sentidos estéticos, culturais e políticos se faz presente em larga escala ao comparado com outras comunidades igualmente negras em Salvador. A negritude é certamente um dos mais importantes fatores de agregação e identificação do Curuzú. Sobre a relação entre negritude e comunidade Carlos Gadea nos apresenta uma explanação muito pertinente, que ilustra de forma coerente o que observamos na comunidade do Curuzú24

Negritude, então, como aquilo próprio de um “passado ancestral”, que se assume, inevitavelmente, “na comunidade”. Trata-se, conseguintemente, de uma recuperação que apela a uma forma de sociabilidade e a um conjunto de valorações (éticas, religiosas, estéticas) que se ressignificam a coletividade, o “estar junto”, a incorporação da população negra a um “grupo de pertença” que a liga de uma maneira clara ao “ser negro” (GADEA, 2013, p.82). Historicamente, o Curuzú é um maiores redutos de resistência e autoafirmação da população negra no Brasil, principalmente desde a década de 1970 com o surgimento do bloco afro Ilê Aiyê que segundo Hilda dos Santos ( Mãe Hilda), trouxe vigor e autoestima para a população negra, que passou a ser reconhecer como tal, e deixou de ser esconder por de trás de inúmeros adjetivos que conotavam pigmentações como “moreno”, “moreninho”, “mulatos” e até “achocolatados” ( LIMA, 2002)

O significado histórico e cultural que o Ilê Aiyê representou para a comunidade do Curuzú e do bairro da Liberdade em geral foi realmente algo sem precedentes na história da população negra em Salvador, segundo Maria Estela Rocha Ramos, “ O Ilê Aiyê, como bloco mais expressivo, representa uma síntese dos elementos simbólicos da população negra que estavam latentes, demonstrando a pertinência da identidade negra,

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Apesar desses traços de identificação serem perceptíveis no plano visual e discursivo ao observar e conversar com pessoas da comunidade, é pertinente refletirmos sobre a profundidade dessa caracterização da negritude no Curuzú, ou seja, refletir de uma maneira mais apurada como e de que forma essa negritude é representada nos dias atuais, trataremos mais adiante desse assunto.

61 do caráter político e da organização comunitária de um bairro de pessoas trabalhadoras. (RAMOS, ANO 2003, p.125)

De fato podemos afirmar que o grande legado do bloco afro para a comunidade do Curuzú foi a sua atuação no fortalecimento de uma identidade até então negada. Porém da década de 1970 do século passado para os dias atuais, esse forte processo de identificação e influência entre Ilê Aiyê/ comunidade do Curuzú vem gradualmente se enfraquecendo, isso se deve principalmente a crescente abertura do bloco para uma lógica mais comercial e rentável a medida que vai fechando as suas portas para a sua própria comunidade, que lhe conferiu legitimidade e representação, segundo o depoimento de Célia Mercês, funcionária da Escola Celina Pinho e moradora do Curuzu a mais de quarenta anos

O ilê já foi da comunidade, hoje em dia não, é totalmente fechado para nós daqui e aberto para os turistas. Nós temos que pagar para entrar nos eventos, nem todo mundo tem como pagar, acho que o acesso deveria ser preferencial para os moradores. Além disso, eu acho que o Ilê deveria dar mais atenção aos jovens da comunidade, tem os projetos lá, mas as vagas são pouquíssimas, muito difícil de conseguir. Mas o Ilê é quem manda aqui, para você ver... (pausa), até o nome do posto médico aqui foi alterado para o nome da fundadora do Ilê25, pergunte se pediram a nossa opinião, do pessoal que mora aqui, nada. (Célia Mercês).

Ao observarmos o espaço geográfico do Curuzú percebemos sem dificuldade, imponente na famosa Ladeira do Curuzú, a sede do bloco afro, de portões cerrados para a sua comunidade. A impressão que temos é de frieza e distância entre o bloco e sua comunidade, uma distância perturbadora, pois sabemos do potencial desses dois espaços. Sabemos também que o Ilê Aiyê se criou a partir do Curuzú, e o Curuzú por

A unidade de pronto atendimento Mãe Hilda Jitolu leva o nome da fundadora do bloco afro Ilê Aiyê a cerca de seis anos, a alteração no nome do posto ainda suscita reclamações por parte de alguns moradores.

62 sua vez, ganhou visibilidade e teve no Ilê Aiyê a força motora que difundiu e fortaleceu a identidade afro-brasileira naquele espaço principalmente nas décadas de 1970 e 1980.

Alertamos para o infortúnio que direciona a relação entre a comunidade do Curuzú e Ilê Aiyê nos dias atuais a meros interesses mercadológicos. Que muito além do interesse em “exportar” a cultura afro-brasileira através da musicalidade, estética, e religiosidade, tenhamos nessa relação um sentido implicado e politizado, consciente da importância que possui para a resistência da população afro-brasileira no Brasil.

Segundo a Fundação Gregório de Matos, estima-se que o Curuzú tenha hoje cerca de 23.108 habitantes, é o bairro com maior concentração de população afrodescendente no Brasil. Concebemos a afrodescendência para além de suas atribuições étnicas a fim de alcançar também dinâmicas históricas e praticas culturais que podem caracterizar determinada população, no caso Curuzú, estamos diante de uma comunidade que possui organizações e lógicas próprias, potencializadas dentre outros fatores por suas condições sociais e étnico-raciais. Quero dizer que os atores sociais que dinamizam tal comunidade possuem conhecimentos, etnométodos26, ligados as suas características sociais e culturais.

Dentre as principais características que caracterizam tal comunidade, destaco a forte relação da mesma com as africanidades, o encontro entre afrodescendência e africanidades na comunidade do Curuzú e em outras comunidades com as mesmas características populacionais e culturais, flui na direção da reafirmação de valores e identidades do povo negro, calcado na ancestralidade africana e na história e cultura dos negros pós diáspora. ( Cunha Jr. 2001)

Vale aqui a ressalva que apesar de estarmos diante de uma comunidade eminentemente negra no que tange a sua condição étnica e cultural27, também estamos diante de um caldeirão de diversidade, outros grupos e identidades se fundem e dinamizam umas das comunidades mais populares e interessantes de Salvador. Onde o antigo, as tradições, os traços da cultura e da resistência negra de tempos atrás, se fundem com o novo, com as novas dinâmicas culturais, com outros grupos, e por que

26 Formas do indivíduo ou grupo representarem –se no meio social, métodos utilizados para interpretar e

construir as suas concepções de mundo cotidianamente.

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Essa eminência emerge não só por conta da esmagadora população do Curuzú se constituir de negros, mas principalmente pela grande maioria dessa população se conceber enquanto tal, além de caracterizar essa identidade através de traços estéticos e culturais. Apesar do continuo processo de hibridização de culturas e identidades a que estamos sujeitos na contemporaneidade, o Curuzú pode certamente ainda hoje ser classificado enquanto uma das comunidades mais negras do Brasil.

63 não, com novas formas de representar e reivindicar a identidade negra que lhe trouxe repercussão mundial.

É justamente sobre essas novas dinâmicas que vamos alicerçar essa parte do trabalho, nos interessa saber como hoje, a negritude flui nessa comunidade e como a escola transversaliza esse processo. A emergência da Lei. 10.639 de 2003 teoricamente encontraria um campo fértil de aplicabilidade nessa comunidade marcada por características étnicas e culturais negras? Para além dos estereótipos, como podemos conceber a negritude que hoje emana dessa comunidade, sem cair nas banalizações de conclusões de outrora? Para nos aproximarmos dessas questões é imprescindível que mergulhemos no cotidiano dessa comunidade, trazendo a tona, as pessoas, os atores sociais que dinamizam esse processo.

A observação do cotidiano do bairro e sua dinâmica e as entrevistas realizadas com moradores mais antigos e com os mais novos, como os próprios estudantes da escola Celina Pinho, assim como as entrevistas realizadas com lideranças da comunidade, darão o tino a essa parte do nosso trabalho. Pretendemos com isso nos aproximar da comunidade para além dos estereótipos já conhecidos. Sendo assim, ouvir os moradores dessa comunidade e vivenciar o cotidiano da mesma são procedimentos

Sine Qua Non para alcançar os nossos objetivos nessa parte desse trabalho.

Para tal, lançar mão do amparo e apropriação de uma estrutura teórica e metodológica consistente que nos permita a aproximação e o acesso a esses atores sociais, assim como das nuances do cotidiano da comunidade do Curuzú são fatores fundantes para alcançar a nossa percepção da realidade da forma mais fidedigna possível. O quadro teórico-metodológico que direciona o trabalho do campo e interpretação de dados dessa pesquisa é composto principalmente pela Fenomenologia crítica, Etnometodologia,Etnografia, além de outros suportes teóricos que nos auxiliam a compreender a conjuntura histórica, política, social e cultural dos fenômenos estudados.

2.2 OS Caminhos teóricos e metodológicos de uma pesquisa radicalmente contextualizada.

Essa pesquisa qualitativa se sustenta essencialmente em bases epistemológicas oriundas das ciências humanas e na tradição fenomenológica da filosofia. Buscamos o compromisso com um olhar radicalmente contextualizado para o campo da pesquisa, esse aspecto nos permite alcançar e vivenciar nuances especificas que emanam do

64 cotidiano da comunidade aqui em foco. Aqui os sujeitos envolvidos, ganham status de protagonismo de suas próprias vidas, e dão sentido e vida aos lócus sociais a que pertencem, seja na comunidade do Curuzú, seja na escola Celina Pinho, esse sujeitos serão concebidos aqui enquanto atores sociais, sujeitos ativos e fundadores de suas realidades.

Para alcançar tal percepção da realidade, onde procuramos conceber os sujeitos envolvidos nessa pesquisa enquanto verdadeiros atores da vida social, seres ativos e produtores de sentidos em seus círculos sociais. Longe de negar que esses atores sociais são influenciados pelos contextos nos quais estão inseridos, queremos aqui chamar a atenção para a valorização do protagonismo individual e social desses sujeitos, ou seja, valorizar as suas concepções de mundo, para então compreender como esses atores sociais dinamizam o seu contexto.

O contexto é essencial, assim como os protagonistas que o dinamizam, nessa pesquisa procuramos compreender a realidade e o fenômeno estudado partindo dessa relação constante. Como já foi colocado aqui, nos interessa nessa pesquisa chegar ao nosso fenômeno que é a experiência dos professores de História diante da Lei. 11.645, por via de um caminho epistemológico onde esse mesmo fenômeno seja contextualizado, dessa forma, o trabalho docente não deve ser dissociado do universo escolar, que por sua vez não pode ser pensado fora de sua comunidade.

Nesse sentido, Macedo (2006) nos chama a atenção para a importância de contextualizar o fenômeno estudado, concebê-lo em uma teia de relações e interpretações, pois dessa forma podemos concebê-lo mais significativamente, fugindo ao máximo de generalizações e banalizações rotineiras.

Para executar esse tipo de pesquisa, devemos assumir o risco de lidar com as realidades humanas, dinâmicas e imprevisíveis por natureza, longe da conformidade proposta pelo positivismo. A pesquisa qualitativa pressupõem essa consciência e adaptação por parte do pesquisador, segundo Macedo

(...), para o olhar qualitativo, é necessário conviver com o desejo, a curiosidade e a criatividade humanas; com as utopias e esperanças; com a desordem e o conflito; com a precariedade e a pretensão; com as incertezas e o imprevisto. Acredita-se, dessa forma, que a realidade é sempre mais complexa que nossas teorias, que não cabem em um só conceito. É interessante frisar que o olhar qualitativo não estranha as sutilezas paradoxais da cotidianidade. (MACEDO, 2007, p.38-39).

Nesse sentido, o uso dos artifícios teóricos e metodológicos advindos da tradição fenomenológica são de grande relevância num processo de aproximação e

65 compreensão do fenômeno estudado. Através do olhar minucioso da fenomenologia, podemos nos aproximar do fenômeno situado, o fenômeno em seu lócus, em suas particularidades, ou segundo Macedo (2007), o pesquisador tem a possibilidade de “mergulhar nas coisas mesmas” e alcançar a nossa compreensão da realidade.

2.2.1 A Fenomenologia crítica e o mergulho nas coisas mesmas

O modo fenomenológico de pesquisar se apresenta enquanto uma estratégia muito peculiar de aproximação com o fenômeno ou realidade pesquisada, essa peculiaridade reside principalmente na maneira com que o pesquisador fenomenológico tende a se aproximar do seu objeto de estudo, e da forma com que o pesquisador concebe a realidade, ou melhor, as realidades humanas. Para a tradição crítico- fenomenológica a realidade é polissêmica, são vários os sentidos que podem emanar do campo de pesquisa, dessa forma o pesquisador ao se aproximar dos fenômenos deve ter consciência desse caráter mutável, fugindo assim de banalizações.

De acordo com Martins e Bicudo (1994), o pesquisador deve conceber a realidade em termos de possibilidades, dirigindo-se aos fenômenos tendo consciência do seu caráter polissêmico. (GAMBOA, 2003). Nesse caso, ao lidar com a experiência docente dos professores de História da escola Celina Pinho, estaremos diante de “compreensões de compreensões” , segundo a fenomenologia, ou “ciência compreensiva” (GAMBOA, 2003), a realidade é perspectival, avilta-se assim nessa pesquisa o ideal generalizante e simplificador clássico da ciência positivista. Macedo resume essa característica da fenomenologia da seguinte maneira

Para a fenomenologia, a realidade é o compreendido, o interpretado e o comunicado. Não havendo uma só realidade, mas tantas quantas forem suas interpretações e comunicações, a realidade é perspectival. Ao colocar-se como tal, a fenomenologia invoca o caráter de provisoriedade, mutabilidade e relatividade da verdade; por conseguinte, não há absolutismo de qualquer perspectiva.

A tradição crítico-fenomenológica tem como princípio elementar o rigor que conclama uma proposta de desvencilhamento dos preconceitos por parte do pesquisador, no intuito de se abrir ao fenômeno, ou “mergulhar nas coisas mesmas”, nos remetendo a ideia do époche (MACEDO, 2010, p. 16). Longe de negar as subjetividades dos sujeitos, o rigor fenomenológico se justifica no sentido de descrever e compreender os fenômenos da forma mais autêntica possível, princípio defendido desde a fundação da fenomenologia por Edmund Husserl.

66 Outro ponto a ser destacado, é que a partir da fenomenologia buscamos alcançar o fenômeno da forma mais autentica possível a partir de sua essencia, porém tendo

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