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5. DIÁLOGO ENTRE FORMADOR E FORMADOR DE FORMADORES: A REFLEXÃO EM CONJUNTO

5.1 A formação reflexiva: uma proposta dialogada entre formador e participantes da formação.

5.1.1 Mapear as necessidades

Antes de apresentar as reflexões e análise dos encontros é importante entender o grupo e suas necessidades, nesta seção discorreremos sobre o primeiro encontro e a função do levantamento dos conhecimentos prévios em um processo formativo.

O primeiro encontro foi destinado à apresentação da proposta da pesquisa, das questões norteadoras, das características do portfólio reflexivo e da pesquisa- formação. Cada participante recebeu um caderno e um convite a registrar, ao longo

do percurso, suas impressões, questionamentos, dúvidas e o que considerasse relevante. Assim o referido convite foi feito por meio da literatura:

A função da arte/1

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: — Me ajuda a olhar!

(GALEANO, 2002, p.16)

A reflexão proposta por Galeano, coaduna com a nossa intenção de olhar juntos e colaborativamente para o projeto de formação que almejamos desenvolver e construir ao longo dos encontros subsequentes.

Nesse diálogo inicial, ponderamos sobre temas, dúvidas e assuntos a serem estudados que poderiam contribuir para o desenvolvimento profissional, valorizando o pessoal e possibilitando a reflexão que pudesse, mais tarde, subsidiar a ação formativa dos envolvidos. Assim como relata uma formadora em seu portfólio:

Discutimos várias coisas sobre a formação do coordenador pedagógico e finalizamos estabelecendo pautas para os futuros encontros. Este momento foi interessante por permitir posicionamentos quanto ao mesmo assunto. Falamos sobre o fato de levar tudo mastigado para o professor como ideia positiva e como isto pode ser negativo, por propor prática sem embasamento teórico. (Trecho de portfólio reflexivo da Formadora 1, 2019)

A experiência com o portfólio, o diálogo sobre as vantagens da reflexão na formação, a relevância do registro evidenciando o percurso formativo, o caráter colaborativo da pesquisa, orientou o levantamento das seguintes temáticas, que serão descritas exatamente como sugeridas pelas formadoras:

Momentos boas práticas; troca de experiências entre os professores; formação – conceitos; atividades reflexivas em HTPC; como envolver todos os professores; visitas e observação de aulas; quebra de resistência; estratégias diversificadas em sala de aula; fazer com que os professores usem jogos; a necessidade de cada estudante para elaborar atividades; questão da comunicação – coordenador e professores; instrumentos de avaliação – observação, registros e critérios na avaliação; o uso do registro; a sondagem – análise e avanços; “transformar” professores em alfabetizadores (despertar respeito, compromisso para a profissão); a BNCC como implementar? (rotina, planejamento e habilidades), principalmente, para a Educação Infantil; rotina; envolver os professores de áreas específicas no HTPC.

Ouvir os participantes, além de indicar caminhos para a construção colaborativa de um plano de formação, também constitui oportunidade de mapeamento dos conhecimentos prévios do grupo, entendemos por conhecimentos prévios das PCP e formadoras suas concepções sobre suas funções junto aos seus respectivos grupos, uma vez que seus apontamentos de necessidades formativas carregam indícios sobre tais concepções, evocando aquilo que entendem como parte de suas atribuições na escola ou na Casa do Professor.

Para analisar as concepções das formadoras recorremos aos estudos sobre a função do CP, que trazem contribuições para compreender sua atuação e definir especificidades, uma vez que a coordenação é marcada por diversificadas e numerosas atividades atribuídas a ela e de natureza também diversas, são pedagógicas, pois é o gestor do PPP, é o apoio aos professores e ainda, são burocráticas/administrativas, já que auxilia o diretor naquilo que é solicitado.

Do ponto de vista da atuação do CP, seu papel é imprescindível ao espaço escolar e, ainda que lhes sejam atribuídas diversas tarefas e conferidas funções de diferentes naturezas, consideramos seu papel sob a tríplice dimensão da articulação, formação e transformação.

A literatura especializada aponta o CP como o principal responsável pela formação e mediação do desenvolvimento profissional dos docentes e da contínua reflexão crítica das suas práticas. A articulação do PPP, no que diz respeito ao trabalho pedagógico, a maneira como é desenvolvido e organizado, das relações escolares com vistas à melhoria dos processos de ensino, que conduzem à transformação, tendo em vista a busca por novas formas de pensar e fazer a ação educativa para a melhoria da aprendizagem dos estudantes.

Embora as três dimensões aqui apresentadas sejam próprias do trabalho do coordenador pedagógico, não são exclusivamente sua responsabilidade, já que o trabalho na escola só faz sentido no coletivo e na articulação de todos para a consecução de objetivos comuns expressos no projeto da escola, definido e defendido coletivamente. Entendemos que esta tarefa é atribuição da equipe gestora e percebemos que ainda há uma sobrecarga no exercício do CP devido à equivocada interpretação de que só depende dele o trabalho pedagógico na unidade escolar.

Placco e Souza (2010) ao abordarem as aprendizagens necessárias ao exercício da coordenação pedagógica recorrem ao conceito de mediação com base no psicólogo russo Vygotsky: “processo que caracteriza a relação do homem com o

mundo e com outros homens”. Desse modo a mediação pode ser pensada como intervenção, uma vez que propicia a transformação de dadas funções psicológicas pela ação do outro (pessoas de nossas relações).

Assim o CP:

É o profissional que deve ter acesso ao domínio das produções culturais gerais e específicas da educação, sobretudo as relativas ao ensino e à aprendizagem, apresentando-as aos professores, debatendo-as, questionando-as, com o intuito de transformar o modo como os professores pensam e agem sobre e com elas. Logo, a forma de funcionar dos professores entendida, como memória, pensamento, consciência, imaginação, criatividade, linguagem etc., transforma-se, por meio da intervenção do coordenador, em novos modos de funcionar, ampliados pela experiência mediada. (PLACCO e SOUZA, 2010, 51)

Nesse aspecto a ação articuladora está relacionada à formadora, mas só será alcançada mediante a transformação do fazer pedagógico do grupo de professores, práticas mais efetivas e melhor qualidade de ensino e aprendizagem.

As formadoras demonstram preocupação pela ação dos professores em sala de aula e se sentem responsáveis por seus ‘novos modos de funcionar’, conforme Placco e Souza (2010), logo explicitam o desejo de estudar formas de apoiar os professores em estratégias diversificadas em sala de aula, no uso dos registros e instrumentos de avaliação, análise e avanços das sondagens, considerar a necessidade de cada estudante para elaborar atividades, a rotina e ainda a implantação da BNCC.

Outra prática educativa também conferida ao coordenador é desenvolver ações que promovam as interações entre os diversos grupos existentes no contexto escolar: entre professores e professores, entre professores e direção, entre professores e pais, entre professores e sistema de ensino, entre professores e estudantes. Têm ciência desta atribuição e indicam a necessidade de estudos sobre a comunicação entre coordenador e professores, como envolver a todos os professores, inclusive os de áreas específicas nas reuniões pedagógicas, oportunizar momentos de trocas de experiências e boas práticas.

A formação também é considerada no diálogo, pois apontam a importância do estudo sobre os conceitos, mas concebem que a formação precisa ser reflexiva, assim direcionam a como desenvolver atividades reflexivas em HPTC e a observação de aula, como instrumento de transformação da prática docente.

Considerando que no exercício da função o CP se depara com uma realidade que apresenta entraves e dificuldades de diferentes naturezas, o grupo aponta em suas sugestões uma questão presente nas relações que são estabelecidas no processo de formação, a resistência dos professores, esta muitas vezes manifestada na oposição à realização de práticas variadas em sala de aula, tais como uso de jogos, ou mesmo na demonstração de compromisso com a aprendizagem de todos os estudantes e ainda na dificuldade de estabelecer a comunicação entre coordenador e professores.

Sendo assim, coordenar implica articular vários pontos de vista ou atividades com vistas a um objetivo comum, explicitado no PPP, construído por um coletivo, para a transformação de uma realidade, dado um determinado contexto.

A seguir discorreremos sobre o percurso formativo distribuído em eixos temáticos, relacionando os dados coletados à luz da teoria que sustentou esta pesquisa, bem como objetivos, estratégias e reflexões provocadas no grupo.